quarta-feira, 22 de janeiro de 2014



    

Circular Técnica, 62 - Embrapa Hortaliças
Brasília, DFJulho, 2008

Autores

Welington Pereira -  Eng. Agr., PhD, Embrapa Café Brasília-DF


Werito Fernandes de Melo -  Eng. Agr., MSc,.Embrapa Hortaliças Brasília-DF



     Plantas invasoras ou ervas daninhas são termos que têm sido muito empregados na literatura agrícola e botânica brasileira, gerando confusões e controvérsias a respeito de seus conceitos. Em um conceito amplo, planta daninha refere-se a “toda e qualquer planta que ocorre onde não é desejada”. Esta definição ampla inclui as soqueiras ou plantas voluntárias de certas culturas, como por exemplo, batata e batata-doce que crescem em outras culturas implantadas em sucessão. Em termos agrícolas, planta daninha pode ser conceituada como “toda e qualquer planta que germine espontaneamente em áreas de interesse humano e que, de alguma forma, interfere prejudicialmente nas suas atividades agropecuárias”.

     Em termos agroecológicos, plantas ou ervas espontâneas e plantas invasoras são as espécies de plantas que se originam na área de cultivo, podendo ser espécies nativas ou exóticas já estabelecidas. As espécies nativas referem-se àquelas que se  apresentam naturalmente na região, originárias da própria área, ao passo que espécies exóticas são as espécies introduzidas na região, que não são nativas ou originárias da própria área. A Instrução Normativa nº 007 do MAPA, de 17 de maio de 1999, adota, entre outras normas disciplinares para a produção vegetal orgânica, o termo plantas invasoras, sendo, entretanto, muito comum o uso do termo plantas espontâneas nos sistemas de produção orgânica.

     Uma das diferenças fundamentais do sistema orgânico em relação ao convencional é a promoção da agrobiodiversidade e da manutenção dos ciclos biológicos na unidade produtiva, procurando a sustentabilidade econômica, social e ambiental da unidade, no tempo e no espaço. Neste contexto, a flora presente assume grande importância quando as espécies da comunidade atuam como protetoras do solo, como hospedeiras alternativas de inimigos naturais, pragas, patógenos ou como mobilizadoras ou cicladoras de nutrientes, competição por água, etc. (Figura 1).

                                Foto: Gilmar Henz

Fig. 1. A manutenção da biodiversidade é muito importante na agricultura orgânica.


     O uso do termo “plantas daninhas” (Figura 2) não é apropriado para a agricultura orgânica, pois leva em conta apenas os efeitos negativos que elas causam sobre a produção agrícola, ignorando os seus efeitos positivos. É muito importante considerar a maneira pela qual as plantas interagem com seus vizinhos no agroecossistema, uma vez que há vários tipos, maneiras e graus de intensidade da interação entre elas. Assim, tem-se a protocooperação como o tipo positivo de interação ou associação, onde os dois parceiros são estimulados quando estão próximos o bastante para participar na interação. A associação de insetos benéficos com as plantas invasoras e as culturas representa provavelmente o exemplo mais conhecido de protocooperação na agricultura. Por outro lado, as plantas cultivadas e silvestres são hospedeiras de grande número de pragas e patógenos, servindo também de abrigo e fonte de alimento para os insetos benéficos. É importante observar que o conceito de planta daninhas é relativo, pois muitas delas podem trazer vantagens ao homem pelo enriquecimento da fauna benéfica, apesar de danificarem a produtividade biológica em determinadas fases dos cultivos.

                                Foto: Gilmar Henz

 Fig. 2. Em agricultura orgãnica, o uso do termo “plantas daninhas” não é apropriado.

  
     O crescimento das plantas espontâneas ao redor das hortaliças ou o estabelecimento de áreas ou faixas de vegetação espontânea, fora da área cultivada comercialmente, tem a vantagem de preservar ao máximo os aspectos naturais estabelecidos pelo ecossistema local.
     Na divisão dos talhões de cultivo, deve-se deixar as faixas de vegetação espontânea, também chamadas de corredores de refúgio (Figura 3), de 2 a 4 m de largura, para abrigar a fauna local benéfica. Em complemento, deve-se realizar o manejo da vegetação espontânea por meio de capinas em faixas para as culturas com maiores espaçamentos nas entrelinhas e a manutenção da vegetação entre os canteiros. Estas técnicas têm a vantagem de promover uma maior estabilidade do sistema produtivo, reduzindo normalmente os problemas com pragas e doenças. Sistemas diversificados podem diminuir a incidência de pragas e aumentar a atividade de inimigos naturais. Entre outras vantagens, a vegetação espontânea pode colaborar para a ciclagem de nutrientes de fácil mobilidade e, por cobrir o solo, pode protegê-lo contra a erosão.

                               Foto: Gilmar Henz
Fig. 3. Faixas de vegetação são importantes em agricultura orgânica como corredores de refúgio.


     Algumas plantas espontâneas podem ser indicadoras de solo pobre ou com  desequilíbrio de nutrientes (Tabela 1).

Tabela 1. Plantas espontâneas indicadoras de solos pobres ou com desequilibrio de
                 nutrientes.

Planta Espontânea
Características Indicadoras
Amendoim bravo ou leiteiro                        (Euphorbia heterophylla)
Desequilíbrio entre nitrogênio (N) e micronutrientes, sobretudo molibdênio (Mo) e cobre (Cu)
Azedinha (Oxalis oxyptera)
Solo argiloso, pH baixo, falta de cálcio (Ca), falta de molibdênio
Barba de bode (Aristilla pallens)
Terra de queimadas, pobre em fósforo (P), cálcio e potássio (K), solos com pouca água
Cabelo de porco (Carex spp.)
Pouco cálcio
Capim amargoso ou capim açu                     (Digitaria insularis)
Solos de baixa fertilidade
Capim caninha ou capim colorado
(Andropogon incanis)
Solos temporariamente encharcados, periodicamente queimados e com deficiência de fósforo
Capim-arroz (Echinochloa crusgalli var. crusgalli)
Solo rico em elementos tóxicos, como o alumínio na forma reduzida
Capim marmelada ou papuã                       (Brachiaria plantaginea)
Típico de solos constantemente arados, gradeados, com deficiência de zinco (Zn)
Capim rabo de burro (Andropogon sp.)
Indica solos ácidos com baixo teor de cálcio, camada impermeável entre 60 e 120 cm de profundidade
Capim-amoroso ou carrapicho                     (Cenchrus ciliatus)
Terra de lavoura empobrecida e muito compacta, pobre em cálcio
Caraguatá (Erygium ciliatum)
É freqüente em solos onde se praticam queimadas,com húmus ácido
Carrapicho-de-carneiro                    (Acanthosperum hispidum)
Deficiência em cálcio
Cavalinha (Equisetum sp.)
Solo com acidez de médio a elevado
Guanxuma (Sida spp.)
Quando tem um baixo crescimento, indica que o solo é pouco fértil
Mio-mio (Bacharis coridifolia)
Deficiência de molibdênio
Nabo (Raphanus raphanistrum)
Deficiência de boro (B) e manganês (Mn)
Picão branco (Galinsoga parviflora)
Solo com excesso de nitrogênio e deficiente em micronutrientes. É beneficiado pela deficiência de cobre
Samambaia (Pteridium auilinum)
Solo com altos teores de alumínio tóxico
Sapé (Imperata exaltata)
Solo ácidos. Ocorre também em solos deficientes em magnésio (Mg)
Tiririca (Cyperus rotundus)
Solo ácido, com carência de magnésio
Urtiga (Urtica urens)
Carência em cobre



      Entre as plantas indicadoras de solo fértil (Figura 4), pode-se citar a beldroega (Portulaca  oleracea), a chirca (Ruppatorium sp), o dente-de-leão (Taraxum oficialis) e a guanxuma  (Sida spp).

                                Foto: Gilmar Henz


Fig. 4. A beldroega (A) e a guanxuma (B) são indicadoras de solo fértil.


     Já o capim amargoso (Digitaria insularis) e o carrapicho (Cenchrus ciliatus) são  indicadores de solos de baixa fertilidade. Outras plantas predominam em áreas de queimadas, como barba-de-bode, capim colorado e o caraguatá, além de solos com desequilíbrio de nutrientes ou muito ácidos.
     A incidência das plantas espontâneas nas áreas de cultivo depende de vários fatores, que variam de acordo com o tipo de hortaliça, uma vez que são cultivadas em  diferentes espaçamentos, arranjos, densidades populacionais e ciclos culturais. Além disto, as hortaliças apresentam diferentes taxas de crescimento e arquitetura (Figura 5), que resultam em diferenças nos índices de área foliar, cobertura do solo e graus de interceptação da luz solar, fator essencial para o estímulo, germinação de sementes e ocorrência das plantas espontâneas.

                          
                                                Foto: Gilmar Henz


 Fig. 5. O milho-verde interfere na incidência de plantas espontâneas devido à arquitetura das plantas e sua velocidade de crescimento.



     As hortaliças que conseguem cobrir mais rapidamente o solo geralmente reduzem a incidência das plantas espontâneas na área cultivada.


O que é alelopatia?

     O termo alelopatia, segundo o interesse específico da área de manejo de plantas invasoras, se refere aos efeitos biológicos negativos das plantas de uma espécie vegetal sobre o desenvolvimento e o crescimento de plantas de outra espécie, por meio da  liberação de substâncias químicas orgânicas no ambiente comum. Assim, algumas plantas (cultivadas ou não) complementam sua agressividade pela liberação de substâncias tóxicas ou substâncias inibidoras de crescimento chamadas de aleloquímicos, por meio de exsudações pelas raízes (Figura 6) e lixiviação da matéria orgânica produzida.
     Em geral, quando essas substâncias são absorvidas por outras espécies, modificam o seu crescimento, reduzindo ou eliminando sua habilidade de competição. A  comprovação dos efeitos diretos dos aleloquímicos nas condições de campo é difícil, devendo, portanto, ter-se o cuidado de separar a alelopatia de outras formas de interferência negativa, especialmente a competição. Vários trabalhos na literatura demonstram que as hortaliças são bastante suscetíveis aos aleloquímicos. As leguminosas mucuna-preta e feijão-de-porco têm-se mostrado eficientes no processo de competição, alelopatia e, conseqüentemente, na redução do banco de sementes do solo.

                               Foto: Gilmar Henz

Fig. 6. A tiririca e o trevo são plantas espontâneas de difícil manejo na agricultura orgânica.


Redução de plantas espontâneas no início do cultivo das hortaliças

     A presença das plantas espontâneas no início do cultivo das hortaliças pode ser reduzida por meio de técnicas de manejo em pré-semeadura ou transplante da mudas. Também se pode planejar o uso de glebas associado a um programa de solarização dos talhões no período de altas temperaturas e antecipado aos plantios. O preparo do solo (Figura 7) e a pré-irrigação estimulam a germinação e o desenvolvimento das plantas invasoras. Recomenda-se fazer o preparo do solo de três a quatro semanas antes do plantio para permitir a germinação, o crescimento inicial e o controle pós-emergente das plantas emergidas ou em processo de germinação, por meio de capina manual, gradagem ou encanteiramento, todos de forma superficial para evitar revolver muito o solo novamente e provocar novos estímulos de germinação das sementes. O controle das plântulas espontâneas pode ser também feito com o uso do fogo, por meio de bicos aplicadores a gás, contribuindo assim para reduzir a presença das plantas espontâneas emergidas ou em processo de germinação, no início ou por ocasião do primeiro cultivo da hortaliça.
            

                               Foto: Gilmar Henz


Fig. 7. A aração e a gradagem são práticas agrícolas que interferem no ciclo de vida das plantas espontâneas.



Capina seletiva

     A capina seletiva consiste em arrancar aquelas plantas espontâneas que vêm amadurecendo, tendo já cumprido com o seu papel ecofisiológico, mantendo apenas as plantas jovens. A capina seletiva deve eliminar somente as espécies mais agressivas e/ou que estejam interferindo biologicamente. A matéria orgânica capinada é deixada sobre o solo.
     A análise do período em que as espécies de plantas invasoras competem com as hortaliças pelos fatores de crescimento é importante, sendo que a época e a duração do período em que a cultura e as plantas espontâneas coexistem influenciam na intensidade da interferência biológica.


Fontes de sementes de plantas espontâneas

     O uso de suplementos orgânicos, como o esterco de gado, pode constituir-se em fonte de plantas invasoras ou espontâneas, sobretudo quando o esterco de gado não tenha sido tratado suficientemente antes da sua aplicação no solo. Por exemplo, cerca de 20% das sementes de ançarinha-branca (Chenopodium album) permaneceram viáveis após a ingestão e obtenção do estrume curtido de gado. Em 1 kg de esterco foram contadas 42 sementes viáveis. O uso de compostagem pode aliviar esse problema, pois, as temperaturas normalmente alcançadas durante o processo de compostagem são suficientemente altas para matar a maioria das sementes (Figura 8). Assim, a perda total da viabilidade das sementes de várias espécies foi observada após a compostagem do esterco de gado por quatro semanas, alcançando temperaturas de 55 ºC a 65 ºC. Para alcançar uma redução significativa na viabilidade das sementes, a temperatura requerida deve ser acima de 46 ºC, sendo o tempo de compostagem menos importante do que a temperatura requerida.

  

                                              Foto: Gilmar Henz


Fig. 8. Solarização e coberturas inertes reduzem a incidência de plantas espontâneas.



Banco de sementes

     O banco de sementes do solo (BSS) consiste na reserva de sementes e propágulos vegetativos presentes na superfície e no interior do solo, composta das novas sementes produzidas anualmente, bem como das sementes “velhas” que persistem vivas no solo por vários anos ou mesmo décadas (Figura 9). O banco de sementes no solo representa um “arquivo de informações” das condições ambientais e das práticas culturais usadas, sendo também um fator importante da avaliação do potencial de infestação das plantas invasoras no presente e no futuro. O seu estudo permite estabelecer as relações quantitativas entre as populações de plantas presentes, sendo muito importante para os programas de manejo integrado. Práticas inadequadas de manejo tendem a aumentar o banco de sementes das plantas invasoras no solo agravando ainda mais o problema em cultivos sucessivos.
     Estima-se que somente 1 a 9% das sementes viáveis produzidas em um determinado ano germinam naquele mesmo ano, ficando, portanto, a grande maioria das sementes com germinação escalonada nos anos subseqüentes, dependendo do nível de  dormência, da distribuição no perfil do solo e dos estímulos recebidos para germinar.
     O tamanho e a composição botânica do BSS variam de acordo com os sistemas de cultivos. As sementes de espécies cultivadas geralmente não são muito competitivas porque apresentam baixa longevidade e rápida germinação.
     A grande diversidade de espécies de plantas espontâneas que infestam as áreas de cultivos de hortaliças está normalmente associada a ambientes com distúrbios constantes.
     Isto ocorre devido principalmente às suas características biológicas e reprodutivas que promovem elevada produção de sementes, eficiente dispersão de algumas espécies, dormência e longevidade das sementes e sobrevivência das plantas. Estas características, aliadas às peculiaridades do manejo realizado, normalmente, contribuem na geração de grandes bancos de sementes no solo, o que garante o potencial regenerativo de várias espécies. Assim, o BSS constitui–se na principal fonte das plantas espontâneas que ocorrem nos sistemas agroecológicos.
     Vários autores relataram que a rotação de culturas e o uso de adubos verdes reduzem o tamanho do banco de sementes no solo. As seqüências de cultivos propiciam diferentes modelos de competição, alelopatia e distúrbios do solo, com variação da pressão de seleção para plantas invasoras específicas. Isto se deve ao fato de que cada cultura apresenta uma gama de plantas ‘associadas’ variando normalmente com a localização geográfica. O uso de adubos orgânicos e a água de irrigação podem constituir em fonte de introdução sementes ou propágulos vegetativos de plantas na área cultivada.

                                           Foto: Ronessa Souza


Fig. 9. A compostagem reduz a viabilidade das sementes presentes nos estercos.


                   
                                Foto: Gilmar Henz

Fig. 10. O ‘Banco de Sementes no Solo (BSS)’ é a reserva de sementes e propágulos vegetativos das plantas na superfície e no interior do solo.


                                          Foto: Gilmar Henz

Fig. 11. Técnica corrente na agricultura convencional, o uso de herbicidas e dessecantes é expressamente proibido na agricultura orgânica.



Manejo da vegetação espontânea no cultivo orgânico

Em conformidade com a Instrução Normativa nº 007 do MAPA, de 17 de maio de 1999, o manejo das plantas invasoras deverá ser realizado mediante a adoção de uma ou mais das seguintes técnicas:

• emprego de cobertura vegetal, viva ou morta, no solo;
• meios mecânicos de controle;
• rotação de culturas;
• alelopatia;
• controle biológico;
• cobertura inerte, que não cause contaminação e poluição, a critério da certificadora;
• solarização;
• sementes e mudas isentas de plantas invasoras.





Circular Técnica, 62

Exemplares desta edição podem ser adquiridos na:  Embrapa Hortaliças
Endereço: BR 060 km 9 Rod. Brasília-Anápolis C. Postal 218, 70.531-970 Brasília-DF
Fone: (61) 3385-9115 ; Fax: (61) 3385-9042

1ª edição
1ª impressão (2008): 1000 exemplares

Comitê de  Publicações
Presidente: Gilmar P. Henz
Editor Técnico: Flávia A. Alcântara
Membros: Alice Maria Quezado Duval Edson Guiducci Filho Milza M. Lana

Expediente
Normalização Bibliográfica: Rosane M. Parmagnani
Editoração eletrônica: José Miguel dos Santos




Ferreira On 1/22/2014 10:15:00 AM 1 comment LEIA MAIS

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014


Autor: Donato Lucietti, engenheiro-agrônomo, Epagri/Escritório Municipal de Nova Veneza, SC                     E-mail: donato@epagri.sc.gov.br

Publicação:  O trabalho faz parte do Boletim Didático nº 88 “Produção orgânica de hortaliças no litoral sul catarinense” publicado pela Epagri. Interessados em adquirir a publicação completa e ilustrada com 205 páginas, devem entrar no site: www.epagri.sc.gov.br e acessar  os link “Publicações” e “Boletim didático”.

  
De maneira geral, as hortaliças têm desenvolvimento e rendimento muito influenciados pelas condições de clima e de umidade do solo. A deficiência de água no solo é, frequentemente, o fator mais limitante para a obtenção de altos rendimentos. O excesso pode, também, ser prejudicial por favorecer o desenvolvimento de doenças.
No Estado de Santa Catarina, a ocorrência de chuvas, muitas vezes, é irregular, na média dos meses e anos. É frequente a ocorrência de deficit ou excesso hídrico por curtos períodos que prejudicam consideravelmente a produtividade e a qualidade das hortaliças. Esses prejuízos são quase sempre irreversíveis, pois a maioria das hortaliças é de ciclo curto e muito sensível ao desequilíbrio hídrico.

Importância da água nos vegetais
A água é o principal componente dos vegetais. Não acontece nenhum processo de transformação no vegetal se não houver a participação da água. Ela está ligada a germinação, respiração, crescimento, desenvolvimento do caule, folhas e frutos, controle da temperatura das plantas e outros. As plantas chegam a absorver de 300 a 600 litros de água para formar um quilo de matéria seca. A maioria das hortaliças possui mais de 90% de seu peso fresco em água e possuem baixa capacidade de extração de água do solo. Isso faz com que pequenos períodos de estiagem representem seca agronômica para essas culturas.

Funções da água nas plantas

            Diluidora de nutrientes
A água dilui os nutrientes para serem processados na fotossíntese.



• Veículo de transporte
A água serve de veículo de transporte dos nutrientes para as diversas partes da planta.




            • Firmeza da planta
A água dá consistência, deixa a planta flexível e dá resistência à quebra.




   • Reguladora da temperatura da planta
A água, ao passar pela planta e perder-se na atmosfera, reduz a temperatura da planta.

Consumo de água pelas plantas
O consumo total de água é influenciado pelo tipo de cultura e estágio de desenvolvimento, pelo clima (temperatura, umidade relativa do ar, radiação solar, ventos), pelo tipo de solo, pela cobertura e coloração do solo. O consumo de água pelas plantas pode ser considerado como:
Evapotranspiração = evaporação + transpiração.

Evaporação
É a água que se perde diretamente da parte superficial do solo e das plantas para a atmosfera. Em dias quentes, ventosos e com umidade relativa baixa a evaporação é alta. A cobertura morta do solo evita o seu aquecimento, diminuindo a perda de água. Quanto mais coberto o solo, menos água se perde por evaporação. As irrigações superficiais fornecem água só para a parte superior do solo e muitas vezes se perde essa água por evaporação.

Transpiração
É a água absorvida pelas raízes que circula na planta e transpira (evapora) pelas folhas. Da água que se coloca no solo, parte se perde por infiltração e parte por evaporação, sendo aproveitada pela planta apenas a água que é absorvida pelas raízes. A cada 100 litros de água que são absorvidos pelas raízes das plantas, apenas um a dois litros são aproveitados e o restante apenas passa pela planta e é transpirado.

Evapotranspiração
É a soma da água que evapora diretamente do solo e da água que evapora (transpira) depois de passar pela planta. Em termos práticos, a evapotranspiração representa o consumo de água da lavoura.
Quando se implanta uma cultura, tem-se uma evaporação alta no início, quando o solo ainda está descoberto. À medida que as plantas vão se desenvolvendo e cobrindo o solo, aumenta a transpiração e diminui a evaporação.
A Figura 2 mostra a variação do consumo de água em função do estágio de uma cultura de modo geral.



Consumo de água pelas plantas ao longo do ciclo de vida
Observa-se pela Figura 2 que o consumo de água aumenta até um ponto máximo, ou de pico, e posteriormente diminui. Esse ponto de consumo máximo geralmente coincide com o período crítico da cultura. No início do desenvolvimento da cultura, o consumo é pequeno. No final do ciclo da cultura (próximo da maturação e colheita), o consumo da água decresce, ficando bem abaixo do consumo de pico.


        Figura 2. Consumo de água pelas plantas ao longo do ciclo de vida

Fonte: Programa Nacional de Irrigação (1987).

A Tabela 1 mostra a variação do consumo de água durante todo o ciclo de desenvolvimento, isto é, desde o plantio até a colheita.
Tabela 1. Consumo de água para diferentes hortaliças durante o ciclo total de desenvolvimento
Cultura
Consumo de água por ciclo (mm)
Batata
500 a 800
Batata-doce
400 a 675
Beterraba
1.000 a 1.500
Cebola
350 a 600
Feijão-de-vagem
300 a 500
Milho verde
400 a 700
Tomate
300 a 600
Outras hortaliças
250 a 500
Fonte: Programa Nacional de Irrigação (1987).

Período crítico das hortaliças
O período crítico de uma planta é aquele em que a deficiência de água se torna mais prejudicial à formação de frutos, folhas, caules, raízes, rizomas ou tubérculos.
Existem plantas que toleram uma deficiência hídrica em determinadas fases de seu desenvolvimento sem reduções drásticas do rendimento. Mas no período crítico tal deficiência compromete, em muito, o rendimento, como na maioria das plantas destinadas à produção de sementes e frutos.
A Tabela 2 mostra os períodos críticos de deficiência de água para várias hortaliças. Essas informações são importantes no manejo da água nos cultivos.

Tabela 2. Períodos críticos de deficiência de água para várias hortaliças

Hortaliça
Período crítico
Alface
Formação da cabeça e antes da colheita
Alho
Desenvolvimento do bulbo
Batata
Início da tuberização, floração até a colheita
Beterraba
Três a quatro semanas após a emergência
Brócolis
Floração e crescimento da cabeça
Cebola
Durante a formação do bulbo
Cenoura
Da emergência até próximo à colheita
Couve-flor
Do plantio à colheita – irrigação frequente
Ervilha/vagem
Início da floração e quando as vagens estão crescendo
Melancia/melão
Florescimento até próximo à colheita
Morango
Do desenvolvimento do fruto à maturação
Nabo
Crescimento rápido das raízes até a colheita
Pepino
Florescimento até a colheita
Pimentão
Frutificação até a colheita
Rabanete
Expansão das raízes
Repolho
Formação e crescimento da cabeça
Tomate
Flores formadas e frutos crescendo rapidamente

Irrigação

Devido à importância da água para as plantas, e em consequência da distribuição irregular de chuvas, recomenda-se o uso da irrigação.
Nesse caso, utiliza-se uma irrigação suplementar, isto é, aplica-se água na lavoura quando não chove suficientemente. Há regiões que, sem a irrigação em determinadas épocas, não produzem nada. A importância da irrigação já inicia com a germinação das sementes e pegamento das mudas que são transplantadas, assegurando um rápido desenvolvimento inicial, independentemente das condições climáticas.

O que é irrigação
É a prática agrícola de fornecimento de água ao solo para melhorar a germinação das sementes, para o crescimento e o desenvolvimento das plantas e para se obter produtividade adequada para cada cultura.
Pode-se dizer, ainda, que é a técnica de aplicação de água na lavoura em quantidade certa, no momento certo e bem distribuída. É muito diferente de molhada (popularmente conhecida como “molhação”).
A irrigação tem como objetivo reabastecer o armazém chamado “solo”, repondo a água consumida pelas plantas ou evaporada a partir da última chuva ou irrigação. A irrigação é uma técnica que complementa outras técnicas. Ela, como prática isolada, não proporciona aumento de produtividade.

 Sistemas de irrigação
Existem diversos sistemas de irrigação. Nenhum sistema pode ser considerado melhor que outro. Todos são bons, dependendo de uma série de fatores que devem ser considerados.
É necessário que se escolha o sistema que mais se ajuste à cultura que vai ser implantada, ao tipo de solo, à topografia, ao tamanho da área a ser irrigada, à disponibilidade e quantidade da água, ao clima e ao capital disponível para o investimento na irrigação. Todos esses fatores devem ser considerados para que se possa otimizar a aplicação de água com máxima economia.
De modo geral, os sistemas mais apropriados para as hortaliças são: sistema de irrigação por aspersão e o sistema de irrigação localizado (microaspersão e gotejamento). Para o cultivo de agrião-d’água usa-se o sistema de inundação.

Irrigação por aspersão
O sistema de irrigação por aspersão leva a água por meio de tubulação até a área a ser irrigada e a distribui através dos aspersores, semelhante à chuva. É o sistema mais utilizado na olericultura, mas devem-se utilizar os aspersores adequados. Não é recomendado para as solanáceas (tomate e pimentão) porque proporciona um ambiente úmido, favorecendo o desenvolvimento de doenças fúngicas e bacterianas.  

Figura 3. Esquema de um projeto de irrigação por aspersão

Vantagens:
ü Indicado para grande número de culturas.
ü Indicado para quase todos os tipos de solo.
ü Facilidade de controle da água aplicada.
ü Aplicável em solo de topografia ondulada.
ü Usado para provocar germinação de sementes.
ü Menor consumo de água quando comparado com a irrigação por sulcos e inundação.
ü Mão de obra reduzida.
ü Pode-se usar para fazer “fertirrigação”.

Desvantagens:
·       Alto custo inicial.
·       Limitado em regiões de muito vento.
·       Lava as caldas aplicadas na cultura.
·       O impacto das gotas pode derrubar frutos e flores.
·       Pode favorecer o desenvolvimento de doenças.
·       Demanda alta pressão (maior consumo de energia).  
O sistema de irrigação por aspersão convencional (Figura 3) é o mais utilizado para as hortaliças. É composto de uma linha principal e linhas laterais, normalmente móveis, que fazem a distribuição da água de irrigação.


Figura 4. Sistema de irrigação por aspersão convencional


Métodos de irrigação localizada
São métodos de irrigação que conduzem a água da fonte até a área a ser irrigada  por meio de tubulação, fazendo a aplicação da água junto às raízes das plantas através de emissores (gotejadores ou microaspersores), em pequenas intensidades, porém com alta frequência, de modo a manter o solo sempre próximo do ponto ideal de umidade.
Temos dois sistemas de irrigação localizada: o sistema de irrigação por microaspersão e o sistema de irrigação por gotejamento.

Vantagens:
    Controle da água aplicada.
   Economia de água.
    Uso de baixas pressões.
    Funcionamento 24 horas por dia.
  Alta eficiência no uso da água.
    Manutenção da umidade do solo próximo à capacidade de campo.
    Distribuição lenta e uniforme.
    Possibilidade de uso para fazer fertirrigação.
    Baixo consumo de energia.

Desvantagens
Exigência de sistema de filtragem da água (indispensável).
Alto custo inicial.
Dificuldade no uso de máquinas e nas capinas.
Possibilidade de entupimento dos microaspersores ou gotejadores.
Comprimento das linhas.
Vida útil.

Irrigação por microaspersão
A microaspersão (Figura 5) é uma aspersão com bicos pequenos chamados emissores (microaspersores). Eles provocam uma “chuva” fina. Não danificam as plantas nem compactam o solo. É indicado para uso em abrigos de produção de mudas (sementeiras) e também para todas as hortaliças, exceto as que são muito sensíveis a doenças fúngicas.

Figura 5. Sistema de irrigação por microaspersão


Irrigação por gotejamento
Neste sistema, a água é aplicada diretamente ao solo, na região próxima das raízes, mantendo secas as plantas e a área entre as fileiras de plantio.
Normalmente se utilizam os tubogotejadores (“tripas”) colocados na linha de plantio das hortaliças (Figura 6). Os principais componentes deste sistema estão na Figura 7.
É muito usado para lavouras com espaçamento maior, como pepino, vagem, melancia, abóbora e especialmente para cultivos de alta densidade econômica, como tomate, pimentão e morango. Este sistema economiza água e tem eficiência de aplicação de até 95%.
O comprimento máximo das linhas de gotejadores varia em função das suas características. É recomendável seguir as recomendações dos fabricantes.
O uso de filtros é necessário para se evitar entupimento dos gotejadores e perda do sistema. Para água com turbidez (água barrenta) devem-se usar os filtros do tipo disco. Para água com areia ou sujeiras mais grossas o filtro recomendado é o de tela.
 A pressão de serviço para o funcionamento dos tubogotejadores é de 7 a 10 metros de coluna de água. Uma caixa de água que esteja de 7 a 10 metros acima da área a ser irrigada é suficiente para dar essa pressão de serviço.
   
Figura 6. Sistema de irrigação por gotejamento


 Figura 7. Principais componentes do sistema de irrigação por gotejamento

Importância da irrigação
O uso da tecnologia de irrigar tem como principal objetivo o aumento da produtividade e da qualidade do produto. Alguns resultados de lavouras conduzidas com irrigação em comparação com não irrigadas encontram-se na Tabela 3. Os resultados obtidos evidenciam que a irrigação utilizada de forma correta torna-se uma tecnologia que traz aumento na produtividade das culturas.

Tabela 3. Rendimento de lavouras conduzidas sem e com irrigação
Cultura
Sem irrigação
(t/ha)
Com irrigação
(t/ha)
Vantagem da irrigação (%)
Cenoura
53,1
68,2
22
Beterraba
36,3
42,9
18
Feijão
1,8
2,7
46
Maçã
33,0
40,0
22
Pêssego
18,0
25,0
36
Cebola
10,0
25,0
150
Alho
6,0
13,0
116
Batata
19,0
25,2
32
Fonte: Epagri.

O desequilíbrio hídrico que ocorre quando só dispomos da água da chuva, além de diminuir a produção, pode provocar distúrbios tais como rachaduras e podridões (em tomate, batata, batata-doce e cenoura). Para se fazer um manejo correto da irrigação há que se responder a duas perguntas: Quando irrigar? e Quanto irrigar?

Quando irrigar?
Para a maioria das hortaliças o teor de umidade no solo deve ser mantido próximo à capacidade de campo, que é a maior quantidade de água que o solo pode armazenar sem que haja perda de água por infiltração.
Após a irrigação ou após a chuva, a água que ficou retida é consumida através da evaporação e da transpiração das plantas. O consumo de água está diretamente relacionado ao clima, aumentando proporcionalmente com o aumento da temperatura, da radiação solar e dos ventos e diminuição da umidade do ar e a fase de desenvolvimento da cultura.
Com a diminuição do teor de umidade no solo a água torna-se mais firmemente retida nas partículas do solo, aumentando o esforço da planta para retirá-la, causando prejuízos ao desenvolvimento da cultura.
Quando começa a faltar água, algumas plantas apresentam alguns sinais, como as folhas que ficam enroladas e amareladas. Quando a planta apresenta esses sinais durante certo tempo, provavelmente a produção vai sofrer uma grande queda. Por isso, o agricultor não pode esperar pelos sinais de falta de água para depois irrigar. A água deve ser reposta sempre antes de a cultura começar a murchar.
O agricultor deve acompanhar o desenvolvimento das lavouras prestando atenção ao solo, à água, à planta e ao clima, fatores muito importantes para a irrigação.
Certas plantas dão indicações claras de falta de água. É o caso da batata e do feijão. Quando o verde da folhagem da batata, por exemplo, atinge um tom mais escuro, é sinal de que a planta começa a sentir a falta de água. Ficando verde-azulada, o crescimento da batata já está prejudicado. Quando a folhagem do feijão começa a ficar verde-azulada escura, está na hora de irrigar para evitar o murchamento.
Existe outra maneira prática de avaliar a falta de água nas culturas através da umidade do solo. Essa avaliação pode ser feita de maneira empírica. Tomando-se um punhado de terra, devemos comprimi-lo (apertá-lo) na mão. Se verter água, o solo está muito úmido. Abre-se a mão. Se o punhado de terra não trincar, o teor de água no solo está bom (neste caso, ficam as marcas da mão). Se trincar, está na hora de irrigar.
No caso de hortaliças irrigadas com tubogotejadores enterrados, a leve mudança de cor da superfície no solo pela umidade é, de modo geral, um bom indicativo de que a umidade do solo está adequada e a irrigação pode ser desligada.
O conhecimento da evapotranspiração também pode ajudar a responder à pergunta “Quando irrigar?”. Vários são os métodos para a avaliação da evapotranspiração. Um dos métodos é o Tanque Classe A (Figura 8). Esse método exige assistência técnica, pois exige pequenos cálculos e observações. Através da evaporação do Tanque Classe A pode-se fazer a estimativa do consumo de água nas diferentes fases de desenvolvimento da cultura. Os valores de evaporação do Tanque podem ser obtidos nos postos meteorológicos, nas estações experimentais ou nas de tanques instalados na própria comunidade ou propriedade.


Figura 8. Tanque Classe A

Quanto irrigar?
As plantas absorvem a água do solo pelas raízes. Existem plantas que têm raízes mais próximas da superfície do solo, como as hortaliças, e outras que têm as raízes mais profundas, como o milho e o trigo. Dependendo da profundidade das raízes, as plantas podem utilizar maior ou menor quantidade de água do solo.
A umidade do solo na camada superficial diminui mais depressa devido à maior evaporação e à maior concentração das raízes na superfície.
A quantidade de água a ser aplicada por irrigação é um dos aspectos básicos num projeto de irrigação. A lâmina de água a ser aplicada deverá ser a necessária para elevar a umidade do solo à capacidade de campo, na camada de solo, correspondente à profundidade efetiva das raízes. Essa lâmina depende do tipo de solo e da cultura.

Figura 9. Crescimento das raízes das plantas no solo e absorção de água

   Cada solo possui uma capacidade de armazenar determinada quantidade de água, que irá variar de acordo com a sua textura e estrutura. Um solo com mais areia, por exemplo, armazena menos água e a perde com mais facilidade; consequentemente, temos que realizar as irrigações com maior frequência, (normalmente de 2 em 2 ou 3 em 3 dias) em comparação com um solo mais argiloso. O solo argiloso e rico em matéria orgânica retém maior teor de água. Por isso, dependendo da profundidade do sistema radicular e da cultura, podemos espaçar a irrigação até de 5 em 5 dias, no máximo.
 Pequenos volumes aplicados umedecem o solo somente até uma pequena profundidade, restringindo o desenvolvimento das raízes a essa camada superficial.
O desenvolvimento do sistema radicular é muito variável para cada cultura e tipo de solo cultivado. Assim, para uma melhor noção da profundidade efetiva do solo é aconselhável a avaliação no próprio local do cultivo. Essa determinação deverá ser feita com o auxilio do técnico do município, que procederá também à coleta do solo para a determinação, em laboratório, da capacidade de retenção da água no solo e, consequentemente, do volume de água que deverá ser aplicado, para cada cultura e em cada estágio do seu desenvolvimento.
A profundidade do sistema radicular influi na frequência da irrigação (Figuras 9a, 10 e 11). As plantas com sistemas radiculares profundos sofrem menor estresse hídrico, podendo-se ter a frequência de irrigação de 5 em 5 dias, ao passo que plantas com um sistema radicular pouco profundo devem-se irrigar a cada 2 ou 3 dias.


Na sequência, é apresentada na Tabela 4 a profundidade efetiva do sistema radicular (Z) de algumas hortaliças, nos estágios de máximo desenvolvimento vegetativo e em solos de textura média, conforme vários autores.
A irrigação deve ser realizada no momento em que a disponibilidade de água no solo reduzir-se a um valor que não prejudique a cultura; é a água facilmente disponível. A cultura não necessita fazer um esforço demasiado para extrair a água do solo.

Tabela 4. Profundidade efetiva do sistema radicular (Z) de algumas hortaliças
Hortaliça
Z (cm)
Hortaliças
Z (cm)
Alface
20 a 30
Melancia
60 a 80
Alho
20 a 40
Morango
25 a 50
Batata
30 a 75
Pepino
45 a 60
Batata-doce
60 a 120
Pimentão
49 a 90
Beterraba
60 a 90
Repolho
40 a 50
Cenoura
45 a 75
Tomate
30 a 90
Couve-flor
30 a 60
Vagem
40 a 60
 
A lâmina bruta de água a ser aplicada ao solo por meio da irrigação é maior do que aquela que o solo é capaz de reter (armazenar), pois precisamos considerar as perdas do sistema de irrigação. Exemplo: se num determinado caso a lâmina líquida de água a ser aplicada ao solo é de 17mm e a eficiência do sistema de irrigação é de 80%, então se deve aplicar uma lâmina bruta de 21mm.
Se o equipamento de irrigação tem uma precipitação de 7mm/h, ele deve ser acionado por três horas naquela posição.

Considerações gerais
Sempre procurar fazer um projeto de irrigação com técnico habilitado. Muitas vezes, após adquirir equipamentos sem orientação técnica, muito pouco poderá ser feito para consertar erros.
A qualidade da água deve ser considerada principalmente nas hortaliças folhosas. Água contaminada pode transmitir doenças aos consumidores e aos irrigadores.
As hortaliças folhosas, como alface e couve, por exemplo, requerem frequência diária de irrigação para as folhas ficarem tenras. O fornecimento de água deve ser mantido até o corte ou a colheita.
Abobrinha, batata, cenoura, beterraba, alho e cebola são plantas exigentes de água e requerem irrigações frequentes.
● Para as plantas como batata, mandioca, cenoura etc., o fornecimento de água deve ser mantido durante todo o tempo de crescimento dos tubérculos/raízes.
O sistema de irrigação mais adequado para o tomateiro é o gotejamento.
A cenoura é exigente de água durante todo o ciclo. Requer regas diárias nos primeiros 30 dias e, depois desse período, no mínimo, a cada 3 dias.
A alface é muito afetada pela deficiência de água, refletindo essa deficiência diretamente na qualidade e produtividade das folhas. Na sementeira, requer até duas regas diárias. No canteiro, diariamente.
Quando se usa o sistema de irrigação por aspersão, as irrigações devem ser feitas pela manhã.  Devem-se evitar as horas mais quentes do dia.
Irrigação mal manejada poderá ajudar no desenvolvimento de doenças das plantas.
De modo geral, as irrigações devem ser feitas no período da manhã para evitar  que à noite as plantas estejam molhadas, o que cria um ambiente favorável ao desenvolvimento de algumas doenças. 
Melancia, melão e pimentão requerem pouca água. O excesso de água para a melancia e o melão faz com que os frutos se desenvolvam com baixo teor de açúcar.

● As irrigações devem ser feitas com um volume de água suficiente para umedecer o solo até a profundidade efetiva do sistema radicular das plantas.
Ferreira On 1/09/2014 09:48:00 AM 9 comments LEIA MAIS

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Manejo de plantas espontâneas no sistema de produção orgânica de hortaliças



    

Circular Técnica, 62 - Embrapa Hortaliças
Brasília, DFJulho, 2008

Autores

Welington Pereira -  Eng. Agr., PhD, Embrapa Café Brasília-DF


Werito Fernandes de Melo -  Eng. Agr., MSc,.Embrapa Hortaliças Brasília-DF



     Plantas invasoras ou ervas daninhas são termos que têm sido muito empregados na literatura agrícola e botânica brasileira, gerando confusões e controvérsias a respeito de seus conceitos. Em um conceito amplo, planta daninha refere-se a “toda e qualquer planta que ocorre onde não é desejada”. Esta definição ampla inclui as soqueiras ou plantas voluntárias de certas culturas, como por exemplo, batata e batata-doce que crescem em outras culturas implantadas em sucessão. Em termos agrícolas, planta daninha pode ser conceituada como “toda e qualquer planta que germine espontaneamente em áreas de interesse humano e que, de alguma forma, interfere prejudicialmente nas suas atividades agropecuárias”.

     Em termos agroecológicos, plantas ou ervas espontâneas e plantas invasoras são as espécies de plantas que se originam na área de cultivo, podendo ser espécies nativas ou exóticas já estabelecidas. As espécies nativas referem-se àquelas que se  apresentam naturalmente na região, originárias da própria área, ao passo que espécies exóticas são as espécies introduzidas na região, que não são nativas ou originárias da própria área. A Instrução Normativa nº 007 do MAPA, de 17 de maio de 1999, adota, entre outras normas disciplinares para a produção vegetal orgânica, o termo plantas invasoras, sendo, entretanto, muito comum o uso do termo plantas espontâneas nos sistemas de produção orgânica.

     Uma das diferenças fundamentais do sistema orgânico em relação ao convencional é a promoção da agrobiodiversidade e da manutenção dos ciclos biológicos na unidade produtiva, procurando a sustentabilidade econômica, social e ambiental da unidade, no tempo e no espaço. Neste contexto, a flora presente assume grande importância quando as espécies da comunidade atuam como protetoras do solo, como hospedeiras alternativas de inimigos naturais, pragas, patógenos ou como mobilizadoras ou cicladoras de nutrientes, competição por água, etc. (Figura 1).

                                Foto: Gilmar Henz

Fig. 1. A manutenção da biodiversidade é muito importante na agricultura orgânica.


     O uso do termo “plantas daninhas” (Figura 2) não é apropriado para a agricultura orgânica, pois leva em conta apenas os efeitos negativos que elas causam sobre a produção agrícola, ignorando os seus efeitos positivos. É muito importante considerar a maneira pela qual as plantas interagem com seus vizinhos no agroecossistema, uma vez que há vários tipos, maneiras e graus de intensidade da interação entre elas. Assim, tem-se a protocooperação como o tipo positivo de interação ou associação, onde os dois parceiros são estimulados quando estão próximos o bastante para participar na interação. A associação de insetos benéficos com as plantas invasoras e as culturas representa provavelmente o exemplo mais conhecido de protocooperação na agricultura. Por outro lado, as plantas cultivadas e silvestres são hospedeiras de grande número de pragas e patógenos, servindo também de abrigo e fonte de alimento para os insetos benéficos. É importante observar que o conceito de planta daninhas é relativo, pois muitas delas podem trazer vantagens ao homem pelo enriquecimento da fauna benéfica, apesar de danificarem a produtividade biológica em determinadas fases dos cultivos.

                                Foto: Gilmar Henz

 Fig. 2. Em agricultura orgãnica, o uso do termo “plantas daninhas” não é apropriado.

  
     O crescimento das plantas espontâneas ao redor das hortaliças ou o estabelecimento de áreas ou faixas de vegetação espontânea, fora da área cultivada comercialmente, tem a vantagem de preservar ao máximo os aspectos naturais estabelecidos pelo ecossistema local.
     Na divisão dos talhões de cultivo, deve-se deixar as faixas de vegetação espontânea, também chamadas de corredores de refúgio (Figura 3), de 2 a 4 m de largura, para abrigar a fauna local benéfica. Em complemento, deve-se realizar o manejo da vegetação espontânea por meio de capinas em faixas para as culturas com maiores espaçamentos nas entrelinhas e a manutenção da vegetação entre os canteiros. Estas técnicas têm a vantagem de promover uma maior estabilidade do sistema produtivo, reduzindo normalmente os problemas com pragas e doenças. Sistemas diversificados podem diminuir a incidência de pragas e aumentar a atividade de inimigos naturais. Entre outras vantagens, a vegetação espontânea pode colaborar para a ciclagem de nutrientes de fácil mobilidade e, por cobrir o solo, pode protegê-lo contra a erosão.

                               Foto: Gilmar Henz
Fig. 3. Faixas de vegetação são importantes em agricultura orgânica como corredores de refúgio.


     Algumas plantas espontâneas podem ser indicadoras de solo pobre ou com  desequilíbrio de nutrientes (Tabela 1).

Tabela 1. Plantas espontâneas indicadoras de solos pobres ou com desequilibrio de
                 nutrientes.

Planta Espontânea
Características Indicadoras
Amendoim bravo ou leiteiro                        (Euphorbia heterophylla)
Desequilíbrio entre nitrogênio (N) e micronutrientes, sobretudo molibdênio (Mo) e cobre (Cu)
Azedinha (Oxalis oxyptera)
Solo argiloso, pH baixo, falta de cálcio (Ca), falta de molibdênio
Barba de bode (Aristilla pallens)
Terra de queimadas, pobre em fósforo (P), cálcio e potássio (K), solos com pouca água
Cabelo de porco (Carex spp.)
Pouco cálcio
Capim amargoso ou capim açu                     (Digitaria insularis)
Solos de baixa fertilidade
Capim caninha ou capim colorado
(Andropogon incanis)
Solos temporariamente encharcados, periodicamente queimados e com deficiência de fósforo
Capim-arroz (Echinochloa crusgalli var. crusgalli)
Solo rico em elementos tóxicos, como o alumínio na forma reduzida
Capim marmelada ou papuã                       (Brachiaria plantaginea)
Típico de solos constantemente arados, gradeados, com deficiência de zinco (Zn)
Capim rabo de burro (Andropogon sp.)
Indica solos ácidos com baixo teor de cálcio, camada impermeável entre 60 e 120 cm de profundidade
Capim-amoroso ou carrapicho                     (Cenchrus ciliatus)
Terra de lavoura empobrecida e muito compacta, pobre em cálcio
Caraguatá (Erygium ciliatum)
É freqüente em solos onde se praticam queimadas,com húmus ácido
Carrapicho-de-carneiro                    (Acanthosperum hispidum)
Deficiência em cálcio
Cavalinha (Equisetum sp.)
Solo com acidez de médio a elevado
Guanxuma (Sida spp.)
Quando tem um baixo crescimento, indica que o solo é pouco fértil
Mio-mio (Bacharis coridifolia)
Deficiência de molibdênio
Nabo (Raphanus raphanistrum)
Deficiência de boro (B) e manganês (Mn)
Picão branco (Galinsoga parviflora)
Solo com excesso de nitrogênio e deficiente em micronutrientes. É beneficiado pela deficiência de cobre
Samambaia (Pteridium auilinum)
Solo com altos teores de alumínio tóxico
Sapé (Imperata exaltata)
Solo ácidos. Ocorre também em solos deficientes em magnésio (Mg)
Tiririca (Cyperus rotundus)
Solo ácido, com carência de magnésio
Urtiga (Urtica urens)
Carência em cobre



      Entre as plantas indicadoras de solo fértil (Figura 4), pode-se citar a beldroega (Portulaca  oleracea), a chirca (Ruppatorium sp), o dente-de-leão (Taraxum oficialis) e a guanxuma  (Sida spp).

                                Foto: Gilmar Henz


Fig. 4. A beldroega (A) e a guanxuma (B) são indicadoras de solo fértil.


     Já o capim amargoso (Digitaria insularis) e o carrapicho (Cenchrus ciliatus) são  indicadores de solos de baixa fertilidade. Outras plantas predominam em áreas de queimadas, como barba-de-bode, capim colorado e o caraguatá, além de solos com desequilíbrio de nutrientes ou muito ácidos.
     A incidência das plantas espontâneas nas áreas de cultivo depende de vários fatores, que variam de acordo com o tipo de hortaliça, uma vez que são cultivadas em  diferentes espaçamentos, arranjos, densidades populacionais e ciclos culturais. Além disto, as hortaliças apresentam diferentes taxas de crescimento e arquitetura (Figura 5), que resultam em diferenças nos índices de área foliar, cobertura do solo e graus de interceptação da luz solar, fator essencial para o estímulo, germinação de sementes e ocorrência das plantas espontâneas.

                          
                                                Foto: Gilmar Henz


 Fig. 5. O milho-verde interfere na incidência de plantas espontâneas devido à arquitetura das plantas e sua velocidade de crescimento.



     As hortaliças que conseguem cobrir mais rapidamente o solo geralmente reduzem a incidência das plantas espontâneas na área cultivada.


O que é alelopatia?

     O termo alelopatia, segundo o interesse específico da área de manejo de plantas invasoras, se refere aos efeitos biológicos negativos das plantas de uma espécie vegetal sobre o desenvolvimento e o crescimento de plantas de outra espécie, por meio da  liberação de substâncias químicas orgânicas no ambiente comum. Assim, algumas plantas (cultivadas ou não) complementam sua agressividade pela liberação de substâncias tóxicas ou substâncias inibidoras de crescimento chamadas de aleloquímicos, por meio de exsudações pelas raízes (Figura 6) e lixiviação da matéria orgânica produzida.
     Em geral, quando essas substâncias são absorvidas por outras espécies, modificam o seu crescimento, reduzindo ou eliminando sua habilidade de competição. A  comprovação dos efeitos diretos dos aleloquímicos nas condições de campo é difícil, devendo, portanto, ter-se o cuidado de separar a alelopatia de outras formas de interferência negativa, especialmente a competição. Vários trabalhos na literatura demonstram que as hortaliças são bastante suscetíveis aos aleloquímicos. As leguminosas mucuna-preta e feijão-de-porco têm-se mostrado eficientes no processo de competição, alelopatia e, conseqüentemente, na redução do banco de sementes do solo.

                               Foto: Gilmar Henz

Fig. 6. A tiririca e o trevo são plantas espontâneas de difícil manejo na agricultura orgânica.


Redução de plantas espontâneas no início do cultivo das hortaliças

     A presença das plantas espontâneas no início do cultivo das hortaliças pode ser reduzida por meio de técnicas de manejo em pré-semeadura ou transplante da mudas. Também se pode planejar o uso de glebas associado a um programa de solarização dos talhões no período de altas temperaturas e antecipado aos plantios. O preparo do solo (Figura 7) e a pré-irrigação estimulam a germinação e o desenvolvimento das plantas invasoras. Recomenda-se fazer o preparo do solo de três a quatro semanas antes do plantio para permitir a germinação, o crescimento inicial e o controle pós-emergente das plantas emergidas ou em processo de germinação, por meio de capina manual, gradagem ou encanteiramento, todos de forma superficial para evitar revolver muito o solo novamente e provocar novos estímulos de germinação das sementes. O controle das plântulas espontâneas pode ser também feito com o uso do fogo, por meio de bicos aplicadores a gás, contribuindo assim para reduzir a presença das plantas espontâneas emergidas ou em processo de germinação, no início ou por ocasião do primeiro cultivo da hortaliça.
            

                               Foto: Gilmar Henz


Fig. 7. A aração e a gradagem são práticas agrícolas que interferem no ciclo de vida das plantas espontâneas.



Capina seletiva

     A capina seletiva consiste em arrancar aquelas plantas espontâneas que vêm amadurecendo, tendo já cumprido com o seu papel ecofisiológico, mantendo apenas as plantas jovens. A capina seletiva deve eliminar somente as espécies mais agressivas e/ou que estejam interferindo biologicamente. A matéria orgânica capinada é deixada sobre o solo.
     A análise do período em que as espécies de plantas invasoras competem com as hortaliças pelos fatores de crescimento é importante, sendo que a época e a duração do período em que a cultura e as plantas espontâneas coexistem influenciam na intensidade da interferência biológica.


Fontes de sementes de plantas espontâneas

     O uso de suplementos orgânicos, como o esterco de gado, pode constituir-se em fonte de plantas invasoras ou espontâneas, sobretudo quando o esterco de gado não tenha sido tratado suficientemente antes da sua aplicação no solo. Por exemplo, cerca de 20% das sementes de ançarinha-branca (Chenopodium album) permaneceram viáveis após a ingestão e obtenção do estrume curtido de gado. Em 1 kg de esterco foram contadas 42 sementes viáveis. O uso de compostagem pode aliviar esse problema, pois, as temperaturas normalmente alcançadas durante o processo de compostagem são suficientemente altas para matar a maioria das sementes (Figura 8). Assim, a perda total da viabilidade das sementes de várias espécies foi observada após a compostagem do esterco de gado por quatro semanas, alcançando temperaturas de 55 ºC a 65 ºC. Para alcançar uma redução significativa na viabilidade das sementes, a temperatura requerida deve ser acima de 46 ºC, sendo o tempo de compostagem menos importante do que a temperatura requerida.

  

                                              Foto: Gilmar Henz


Fig. 8. Solarização e coberturas inertes reduzem a incidência de plantas espontâneas.



Banco de sementes

     O banco de sementes do solo (BSS) consiste na reserva de sementes e propágulos vegetativos presentes na superfície e no interior do solo, composta das novas sementes produzidas anualmente, bem como das sementes “velhas” que persistem vivas no solo por vários anos ou mesmo décadas (Figura 9). O banco de sementes no solo representa um “arquivo de informações” das condições ambientais e das práticas culturais usadas, sendo também um fator importante da avaliação do potencial de infestação das plantas invasoras no presente e no futuro. O seu estudo permite estabelecer as relações quantitativas entre as populações de plantas presentes, sendo muito importante para os programas de manejo integrado. Práticas inadequadas de manejo tendem a aumentar o banco de sementes das plantas invasoras no solo agravando ainda mais o problema em cultivos sucessivos.
     Estima-se que somente 1 a 9% das sementes viáveis produzidas em um determinado ano germinam naquele mesmo ano, ficando, portanto, a grande maioria das sementes com germinação escalonada nos anos subseqüentes, dependendo do nível de  dormência, da distribuição no perfil do solo e dos estímulos recebidos para germinar.
     O tamanho e a composição botânica do BSS variam de acordo com os sistemas de cultivos. As sementes de espécies cultivadas geralmente não são muito competitivas porque apresentam baixa longevidade e rápida germinação.
     A grande diversidade de espécies de plantas espontâneas que infestam as áreas de cultivos de hortaliças está normalmente associada a ambientes com distúrbios constantes.
     Isto ocorre devido principalmente às suas características biológicas e reprodutivas que promovem elevada produção de sementes, eficiente dispersão de algumas espécies, dormência e longevidade das sementes e sobrevivência das plantas. Estas características, aliadas às peculiaridades do manejo realizado, normalmente, contribuem na geração de grandes bancos de sementes no solo, o que garante o potencial regenerativo de várias espécies. Assim, o BSS constitui–se na principal fonte das plantas espontâneas que ocorrem nos sistemas agroecológicos.
     Vários autores relataram que a rotação de culturas e o uso de adubos verdes reduzem o tamanho do banco de sementes no solo. As seqüências de cultivos propiciam diferentes modelos de competição, alelopatia e distúrbios do solo, com variação da pressão de seleção para plantas invasoras específicas. Isto se deve ao fato de que cada cultura apresenta uma gama de plantas ‘associadas’ variando normalmente com a localização geográfica. O uso de adubos orgânicos e a água de irrigação podem constituir em fonte de introdução sementes ou propágulos vegetativos de plantas na área cultivada.

                                           Foto: Ronessa Souza


Fig. 9. A compostagem reduz a viabilidade das sementes presentes nos estercos.


                   
                                Foto: Gilmar Henz

Fig. 10. O ‘Banco de Sementes no Solo (BSS)’ é a reserva de sementes e propágulos vegetativos das plantas na superfície e no interior do solo.


                                          Foto: Gilmar Henz

Fig. 11. Técnica corrente na agricultura convencional, o uso de herbicidas e dessecantes é expressamente proibido na agricultura orgânica.



Manejo da vegetação espontânea no cultivo orgânico

Em conformidade com a Instrução Normativa nº 007 do MAPA, de 17 de maio de 1999, o manejo das plantas invasoras deverá ser realizado mediante a adoção de uma ou mais das seguintes técnicas:

• emprego de cobertura vegetal, viva ou morta, no solo;
• meios mecânicos de controle;
• rotação de culturas;
• alelopatia;
• controle biológico;
• cobertura inerte, que não cause contaminação e poluição, a critério da certificadora;
• solarização;
• sementes e mudas isentas de plantas invasoras.





Circular Técnica, 62

Exemplares desta edição podem ser adquiridos na:  Embrapa Hortaliças
Endereço: BR 060 km 9 Rod. Brasília-Anápolis C. Postal 218, 70.531-970 Brasília-DF
Fone: (61) 3385-9115 ; Fax: (61) 3385-9042

1ª edição
1ª impressão (2008): 1000 exemplares

Comitê de  Publicações
Presidente: Gilmar P. Henz
Editor Técnico: Flávia A. Alcântara
Membros: Alice Maria Quezado Duval Edson Guiducci Filho Milza M. Lana

Expediente
Normalização Bibliográfica: Rosane M. Parmagnani
Editoração eletrônica: José Miguel dos Santos




quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Irrigação das hortaliças


Autor: Donato Lucietti, engenheiro-agrônomo, Epagri/Escritório Municipal de Nova Veneza, SC                     E-mail: donato@epagri.sc.gov.br

Publicação:  O trabalho faz parte do Boletim Didático nº 88 “Produção orgânica de hortaliças no litoral sul catarinense” publicado pela Epagri. Interessados em adquirir a publicação completa e ilustrada com 205 páginas, devem entrar no site: www.epagri.sc.gov.br e acessar  os link “Publicações” e “Boletim didático”.

  
De maneira geral, as hortaliças têm desenvolvimento e rendimento muito influenciados pelas condições de clima e de umidade do solo. A deficiência de água no solo é, frequentemente, o fator mais limitante para a obtenção de altos rendimentos. O excesso pode, também, ser prejudicial por favorecer o desenvolvimento de doenças.
No Estado de Santa Catarina, a ocorrência de chuvas, muitas vezes, é irregular, na média dos meses e anos. É frequente a ocorrência de deficit ou excesso hídrico por curtos períodos que prejudicam consideravelmente a produtividade e a qualidade das hortaliças. Esses prejuízos são quase sempre irreversíveis, pois a maioria das hortaliças é de ciclo curto e muito sensível ao desequilíbrio hídrico.

Importância da água nos vegetais
A água é o principal componente dos vegetais. Não acontece nenhum processo de transformação no vegetal se não houver a participação da água. Ela está ligada a germinação, respiração, crescimento, desenvolvimento do caule, folhas e frutos, controle da temperatura das plantas e outros. As plantas chegam a absorver de 300 a 600 litros de água para formar um quilo de matéria seca. A maioria das hortaliças possui mais de 90% de seu peso fresco em água e possuem baixa capacidade de extração de água do solo. Isso faz com que pequenos períodos de estiagem representem seca agronômica para essas culturas.

Funções da água nas plantas

            Diluidora de nutrientes
A água dilui os nutrientes para serem processados na fotossíntese.



• Veículo de transporte
A água serve de veículo de transporte dos nutrientes para as diversas partes da planta.




            • Firmeza da planta
A água dá consistência, deixa a planta flexível e dá resistência à quebra.




   • Reguladora da temperatura da planta
A água, ao passar pela planta e perder-se na atmosfera, reduz a temperatura da planta.

Consumo de água pelas plantas
O consumo total de água é influenciado pelo tipo de cultura e estágio de desenvolvimento, pelo clima (temperatura, umidade relativa do ar, radiação solar, ventos), pelo tipo de solo, pela cobertura e coloração do solo. O consumo de água pelas plantas pode ser considerado como:
Evapotranspiração = evaporação + transpiração.

Evaporação
É a água que se perde diretamente da parte superficial do solo e das plantas para a atmosfera. Em dias quentes, ventosos e com umidade relativa baixa a evaporação é alta. A cobertura morta do solo evita o seu aquecimento, diminuindo a perda de água. Quanto mais coberto o solo, menos água se perde por evaporação. As irrigações superficiais fornecem água só para a parte superior do solo e muitas vezes se perde essa água por evaporação.

Transpiração
É a água absorvida pelas raízes que circula na planta e transpira (evapora) pelas folhas. Da água que se coloca no solo, parte se perde por infiltração e parte por evaporação, sendo aproveitada pela planta apenas a água que é absorvida pelas raízes. A cada 100 litros de água que são absorvidos pelas raízes das plantas, apenas um a dois litros são aproveitados e o restante apenas passa pela planta e é transpirado.

Evapotranspiração
É a soma da água que evapora diretamente do solo e da água que evapora (transpira) depois de passar pela planta. Em termos práticos, a evapotranspiração representa o consumo de água da lavoura.
Quando se implanta uma cultura, tem-se uma evaporação alta no início, quando o solo ainda está descoberto. À medida que as plantas vão se desenvolvendo e cobrindo o solo, aumenta a transpiração e diminui a evaporação.
A Figura 2 mostra a variação do consumo de água em função do estágio de uma cultura de modo geral.



Consumo de água pelas plantas ao longo do ciclo de vida
Observa-se pela Figura 2 que o consumo de água aumenta até um ponto máximo, ou de pico, e posteriormente diminui. Esse ponto de consumo máximo geralmente coincide com o período crítico da cultura. No início do desenvolvimento da cultura, o consumo é pequeno. No final do ciclo da cultura (próximo da maturação e colheita), o consumo da água decresce, ficando bem abaixo do consumo de pico.


        Figura 2. Consumo de água pelas plantas ao longo do ciclo de vida

Fonte: Programa Nacional de Irrigação (1987).

A Tabela 1 mostra a variação do consumo de água durante todo o ciclo de desenvolvimento, isto é, desde o plantio até a colheita.
Tabela 1. Consumo de água para diferentes hortaliças durante o ciclo total de desenvolvimento
Cultura
Consumo de água por ciclo (mm)
Batata
500 a 800
Batata-doce
400 a 675
Beterraba
1.000 a 1.500
Cebola
350 a 600
Feijão-de-vagem
300 a 500
Milho verde
400 a 700
Tomate
300 a 600
Outras hortaliças
250 a 500
Fonte: Programa Nacional de Irrigação (1987).

Período crítico das hortaliças
O período crítico de uma planta é aquele em que a deficiência de água se torna mais prejudicial à formação de frutos, folhas, caules, raízes, rizomas ou tubérculos.
Existem plantas que toleram uma deficiência hídrica em determinadas fases de seu desenvolvimento sem reduções drásticas do rendimento. Mas no período crítico tal deficiência compromete, em muito, o rendimento, como na maioria das plantas destinadas à produção de sementes e frutos.
A Tabela 2 mostra os períodos críticos de deficiência de água para várias hortaliças. Essas informações são importantes no manejo da água nos cultivos.

Tabela 2. Períodos críticos de deficiência de água para várias hortaliças

Hortaliça
Período crítico
Alface
Formação da cabeça e antes da colheita
Alho
Desenvolvimento do bulbo
Batata
Início da tuberização, floração até a colheita
Beterraba
Três a quatro semanas após a emergência
Brócolis
Floração e crescimento da cabeça
Cebola
Durante a formação do bulbo
Cenoura
Da emergência até próximo à colheita
Couve-flor
Do plantio à colheita – irrigação frequente
Ervilha/vagem
Início da floração e quando as vagens estão crescendo
Melancia/melão
Florescimento até próximo à colheita
Morango
Do desenvolvimento do fruto à maturação
Nabo
Crescimento rápido das raízes até a colheita
Pepino
Florescimento até a colheita
Pimentão
Frutificação até a colheita
Rabanete
Expansão das raízes
Repolho
Formação e crescimento da cabeça
Tomate
Flores formadas e frutos crescendo rapidamente

Irrigação

Devido à importância da água para as plantas, e em consequência da distribuição irregular de chuvas, recomenda-se o uso da irrigação.
Nesse caso, utiliza-se uma irrigação suplementar, isto é, aplica-se água na lavoura quando não chove suficientemente. Há regiões que, sem a irrigação em determinadas épocas, não produzem nada. A importância da irrigação já inicia com a germinação das sementes e pegamento das mudas que são transplantadas, assegurando um rápido desenvolvimento inicial, independentemente das condições climáticas.

O que é irrigação
É a prática agrícola de fornecimento de água ao solo para melhorar a germinação das sementes, para o crescimento e o desenvolvimento das plantas e para se obter produtividade adequada para cada cultura.
Pode-se dizer, ainda, que é a técnica de aplicação de água na lavoura em quantidade certa, no momento certo e bem distribuída. É muito diferente de molhada (popularmente conhecida como “molhação”).
A irrigação tem como objetivo reabastecer o armazém chamado “solo”, repondo a água consumida pelas plantas ou evaporada a partir da última chuva ou irrigação. A irrigação é uma técnica que complementa outras técnicas. Ela, como prática isolada, não proporciona aumento de produtividade.

 Sistemas de irrigação
Existem diversos sistemas de irrigação. Nenhum sistema pode ser considerado melhor que outro. Todos são bons, dependendo de uma série de fatores que devem ser considerados.
É necessário que se escolha o sistema que mais se ajuste à cultura que vai ser implantada, ao tipo de solo, à topografia, ao tamanho da área a ser irrigada, à disponibilidade e quantidade da água, ao clima e ao capital disponível para o investimento na irrigação. Todos esses fatores devem ser considerados para que se possa otimizar a aplicação de água com máxima economia.
De modo geral, os sistemas mais apropriados para as hortaliças são: sistema de irrigação por aspersão e o sistema de irrigação localizado (microaspersão e gotejamento). Para o cultivo de agrião-d’água usa-se o sistema de inundação.

Irrigação por aspersão
O sistema de irrigação por aspersão leva a água por meio de tubulação até a área a ser irrigada e a distribui através dos aspersores, semelhante à chuva. É o sistema mais utilizado na olericultura, mas devem-se utilizar os aspersores adequados. Não é recomendado para as solanáceas (tomate e pimentão) porque proporciona um ambiente úmido, favorecendo o desenvolvimento de doenças fúngicas e bacterianas.  

Figura 3. Esquema de um projeto de irrigação por aspersão

Vantagens:
ü Indicado para grande número de culturas.
ü Indicado para quase todos os tipos de solo.
ü Facilidade de controle da água aplicada.
ü Aplicável em solo de topografia ondulada.
ü Usado para provocar germinação de sementes.
ü Menor consumo de água quando comparado com a irrigação por sulcos e inundação.
ü Mão de obra reduzida.
ü Pode-se usar para fazer “fertirrigação”.

Desvantagens:
·       Alto custo inicial.
·       Limitado em regiões de muito vento.
·       Lava as caldas aplicadas na cultura.
·       O impacto das gotas pode derrubar frutos e flores.
·       Pode favorecer o desenvolvimento de doenças.
·       Demanda alta pressão (maior consumo de energia).  
O sistema de irrigação por aspersão convencional (Figura 3) é o mais utilizado para as hortaliças. É composto de uma linha principal e linhas laterais, normalmente móveis, que fazem a distribuição da água de irrigação.


Figura 4. Sistema de irrigação por aspersão convencional


Métodos de irrigação localizada
São métodos de irrigação que conduzem a água da fonte até a área a ser irrigada  por meio de tubulação, fazendo a aplicação da água junto às raízes das plantas através de emissores (gotejadores ou microaspersores), em pequenas intensidades, porém com alta frequência, de modo a manter o solo sempre próximo do ponto ideal de umidade.
Temos dois sistemas de irrigação localizada: o sistema de irrigação por microaspersão e o sistema de irrigação por gotejamento.

Vantagens:
    Controle da água aplicada.
   Economia de água.
    Uso de baixas pressões.
    Funcionamento 24 horas por dia.
  Alta eficiência no uso da água.
    Manutenção da umidade do solo próximo à capacidade de campo.
    Distribuição lenta e uniforme.
    Possibilidade de uso para fazer fertirrigação.
    Baixo consumo de energia.

Desvantagens
Exigência de sistema de filtragem da água (indispensável).
Alto custo inicial.
Dificuldade no uso de máquinas e nas capinas.
Possibilidade de entupimento dos microaspersores ou gotejadores.
Comprimento das linhas.
Vida útil.

Irrigação por microaspersão
A microaspersão (Figura 5) é uma aspersão com bicos pequenos chamados emissores (microaspersores). Eles provocam uma “chuva” fina. Não danificam as plantas nem compactam o solo. É indicado para uso em abrigos de produção de mudas (sementeiras) e também para todas as hortaliças, exceto as que são muito sensíveis a doenças fúngicas.

Figura 5. Sistema de irrigação por microaspersão


Irrigação por gotejamento
Neste sistema, a água é aplicada diretamente ao solo, na região próxima das raízes, mantendo secas as plantas e a área entre as fileiras de plantio.
Normalmente se utilizam os tubogotejadores (“tripas”) colocados na linha de plantio das hortaliças (Figura 6). Os principais componentes deste sistema estão na Figura 7.
É muito usado para lavouras com espaçamento maior, como pepino, vagem, melancia, abóbora e especialmente para cultivos de alta densidade econômica, como tomate, pimentão e morango. Este sistema economiza água e tem eficiência de aplicação de até 95%.
O comprimento máximo das linhas de gotejadores varia em função das suas características. É recomendável seguir as recomendações dos fabricantes.
O uso de filtros é necessário para se evitar entupimento dos gotejadores e perda do sistema. Para água com turbidez (água barrenta) devem-se usar os filtros do tipo disco. Para água com areia ou sujeiras mais grossas o filtro recomendado é o de tela.
 A pressão de serviço para o funcionamento dos tubogotejadores é de 7 a 10 metros de coluna de água. Uma caixa de água que esteja de 7 a 10 metros acima da área a ser irrigada é suficiente para dar essa pressão de serviço.
   
Figura 6. Sistema de irrigação por gotejamento


 Figura 7. Principais componentes do sistema de irrigação por gotejamento

Importância da irrigação
O uso da tecnologia de irrigar tem como principal objetivo o aumento da produtividade e da qualidade do produto. Alguns resultados de lavouras conduzidas com irrigação em comparação com não irrigadas encontram-se na Tabela 3. Os resultados obtidos evidenciam que a irrigação utilizada de forma correta torna-se uma tecnologia que traz aumento na produtividade das culturas.

Tabela 3. Rendimento de lavouras conduzidas sem e com irrigação
Cultura
Sem irrigação
(t/ha)
Com irrigação
(t/ha)
Vantagem da irrigação (%)
Cenoura
53,1
68,2
22
Beterraba
36,3
42,9
18
Feijão
1,8
2,7
46
Maçã
33,0
40,0
22
Pêssego
18,0
25,0
36
Cebola
10,0
25,0
150
Alho
6,0
13,0
116
Batata
19,0
25,2
32
Fonte: Epagri.

O desequilíbrio hídrico que ocorre quando só dispomos da água da chuva, além de diminuir a produção, pode provocar distúrbios tais como rachaduras e podridões (em tomate, batata, batata-doce e cenoura). Para se fazer um manejo correto da irrigação há que se responder a duas perguntas: Quando irrigar? e Quanto irrigar?

Quando irrigar?
Para a maioria das hortaliças o teor de umidade no solo deve ser mantido próximo à capacidade de campo, que é a maior quantidade de água que o solo pode armazenar sem que haja perda de água por infiltração.
Após a irrigação ou após a chuva, a água que ficou retida é consumida através da evaporação e da transpiração das plantas. O consumo de água está diretamente relacionado ao clima, aumentando proporcionalmente com o aumento da temperatura, da radiação solar e dos ventos e diminuição da umidade do ar e a fase de desenvolvimento da cultura.
Com a diminuição do teor de umidade no solo a água torna-se mais firmemente retida nas partículas do solo, aumentando o esforço da planta para retirá-la, causando prejuízos ao desenvolvimento da cultura.
Quando começa a faltar água, algumas plantas apresentam alguns sinais, como as folhas que ficam enroladas e amareladas. Quando a planta apresenta esses sinais durante certo tempo, provavelmente a produção vai sofrer uma grande queda. Por isso, o agricultor não pode esperar pelos sinais de falta de água para depois irrigar. A água deve ser reposta sempre antes de a cultura começar a murchar.
O agricultor deve acompanhar o desenvolvimento das lavouras prestando atenção ao solo, à água, à planta e ao clima, fatores muito importantes para a irrigação.
Certas plantas dão indicações claras de falta de água. É o caso da batata e do feijão. Quando o verde da folhagem da batata, por exemplo, atinge um tom mais escuro, é sinal de que a planta começa a sentir a falta de água. Ficando verde-azulada, o crescimento da batata já está prejudicado. Quando a folhagem do feijão começa a ficar verde-azulada escura, está na hora de irrigar para evitar o murchamento.
Existe outra maneira prática de avaliar a falta de água nas culturas através da umidade do solo. Essa avaliação pode ser feita de maneira empírica. Tomando-se um punhado de terra, devemos comprimi-lo (apertá-lo) na mão. Se verter água, o solo está muito úmido. Abre-se a mão. Se o punhado de terra não trincar, o teor de água no solo está bom (neste caso, ficam as marcas da mão). Se trincar, está na hora de irrigar.
No caso de hortaliças irrigadas com tubogotejadores enterrados, a leve mudança de cor da superfície no solo pela umidade é, de modo geral, um bom indicativo de que a umidade do solo está adequada e a irrigação pode ser desligada.
O conhecimento da evapotranspiração também pode ajudar a responder à pergunta “Quando irrigar?”. Vários são os métodos para a avaliação da evapotranspiração. Um dos métodos é o Tanque Classe A (Figura 8). Esse método exige assistência técnica, pois exige pequenos cálculos e observações. Através da evaporação do Tanque Classe A pode-se fazer a estimativa do consumo de água nas diferentes fases de desenvolvimento da cultura. Os valores de evaporação do Tanque podem ser obtidos nos postos meteorológicos, nas estações experimentais ou nas de tanques instalados na própria comunidade ou propriedade.


Figura 8. Tanque Classe A

Quanto irrigar?
As plantas absorvem a água do solo pelas raízes. Existem plantas que têm raízes mais próximas da superfície do solo, como as hortaliças, e outras que têm as raízes mais profundas, como o milho e o trigo. Dependendo da profundidade das raízes, as plantas podem utilizar maior ou menor quantidade de água do solo.
A umidade do solo na camada superficial diminui mais depressa devido à maior evaporação e à maior concentração das raízes na superfície.
A quantidade de água a ser aplicada por irrigação é um dos aspectos básicos num projeto de irrigação. A lâmina de água a ser aplicada deverá ser a necessária para elevar a umidade do solo à capacidade de campo, na camada de solo, correspondente à profundidade efetiva das raízes. Essa lâmina depende do tipo de solo e da cultura.

Figura 9. Crescimento das raízes das plantas no solo e absorção de água

   Cada solo possui uma capacidade de armazenar determinada quantidade de água, que irá variar de acordo com a sua textura e estrutura. Um solo com mais areia, por exemplo, armazena menos água e a perde com mais facilidade; consequentemente, temos que realizar as irrigações com maior frequência, (normalmente de 2 em 2 ou 3 em 3 dias) em comparação com um solo mais argiloso. O solo argiloso e rico em matéria orgânica retém maior teor de água. Por isso, dependendo da profundidade do sistema radicular e da cultura, podemos espaçar a irrigação até de 5 em 5 dias, no máximo.
 Pequenos volumes aplicados umedecem o solo somente até uma pequena profundidade, restringindo o desenvolvimento das raízes a essa camada superficial.
O desenvolvimento do sistema radicular é muito variável para cada cultura e tipo de solo cultivado. Assim, para uma melhor noção da profundidade efetiva do solo é aconselhável a avaliação no próprio local do cultivo. Essa determinação deverá ser feita com o auxilio do técnico do município, que procederá também à coleta do solo para a determinação, em laboratório, da capacidade de retenção da água no solo e, consequentemente, do volume de água que deverá ser aplicado, para cada cultura e em cada estágio do seu desenvolvimento.
A profundidade do sistema radicular influi na frequência da irrigação (Figuras 9a, 10 e 11). As plantas com sistemas radiculares profundos sofrem menor estresse hídrico, podendo-se ter a frequência de irrigação de 5 em 5 dias, ao passo que plantas com um sistema radicular pouco profundo devem-se irrigar a cada 2 ou 3 dias.


Na sequência, é apresentada na Tabela 4 a profundidade efetiva do sistema radicular (Z) de algumas hortaliças, nos estágios de máximo desenvolvimento vegetativo e em solos de textura média, conforme vários autores.
A irrigação deve ser realizada no momento em que a disponibilidade de água no solo reduzir-se a um valor que não prejudique a cultura; é a água facilmente disponível. A cultura não necessita fazer um esforço demasiado para extrair a água do solo.

Tabela 4. Profundidade efetiva do sistema radicular (Z) de algumas hortaliças
Hortaliça
Z (cm)
Hortaliças
Z (cm)
Alface
20 a 30
Melancia
60 a 80
Alho
20 a 40
Morango
25 a 50
Batata
30 a 75
Pepino
45 a 60
Batata-doce
60 a 120
Pimentão
49 a 90
Beterraba
60 a 90
Repolho
40 a 50
Cenoura
45 a 75
Tomate
30 a 90
Couve-flor
30 a 60
Vagem
40 a 60
 
A lâmina bruta de água a ser aplicada ao solo por meio da irrigação é maior do que aquela que o solo é capaz de reter (armazenar), pois precisamos considerar as perdas do sistema de irrigação. Exemplo: se num determinado caso a lâmina líquida de água a ser aplicada ao solo é de 17mm e a eficiência do sistema de irrigação é de 80%, então se deve aplicar uma lâmina bruta de 21mm.
Se o equipamento de irrigação tem uma precipitação de 7mm/h, ele deve ser acionado por três horas naquela posição.

Considerações gerais
Sempre procurar fazer um projeto de irrigação com técnico habilitado. Muitas vezes, após adquirir equipamentos sem orientação técnica, muito pouco poderá ser feito para consertar erros.
A qualidade da água deve ser considerada principalmente nas hortaliças folhosas. Água contaminada pode transmitir doenças aos consumidores e aos irrigadores.
As hortaliças folhosas, como alface e couve, por exemplo, requerem frequência diária de irrigação para as folhas ficarem tenras. O fornecimento de água deve ser mantido até o corte ou a colheita.
Abobrinha, batata, cenoura, beterraba, alho e cebola são plantas exigentes de água e requerem irrigações frequentes.
● Para as plantas como batata, mandioca, cenoura etc., o fornecimento de água deve ser mantido durante todo o tempo de crescimento dos tubérculos/raízes.
O sistema de irrigação mais adequado para o tomateiro é o gotejamento.
A cenoura é exigente de água durante todo o ciclo. Requer regas diárias nos primeiros 30 dias e, depois desse período, no mínimo, a cada 3 dias.
A alface é muito afetada pela deficiência de água, refletindo essa deficiência diretamente na qualidade e produtividade das folhas. Na sementeira, requer até duas regas diárias. No canteiro, diariamente.
Quando se usa o sistema de irrigação por aspersão, as irrigações devem ser feitas pela manhã.  Devem-se evitar as horas mais quentes do dia.
Irrigação mal manejada poderá ajudar no desenvolvimento de doenças das plantas.
De modo geral, as irrigações devem ser feitas no período da manhã para evitar  que à noite as plantas estejam molhadas, o que cria um ambiente favorável ao desenvolvimento de algumas doenças. 
Melancia, melão e pimentão requerem pouca água. O excesso de água para a melancia e o melão faz com que os frutos se desenvolvam com baixo teor de açúcar.

● As irrigações devem ser feitas com um volume de água suficiente para umedecer o solo até a profundidade efetiva do sistema radicular das plantas.
  • RSS
  • Delicious
  • Digg
  • Facebook
  • Twitter
  • Linkedin
  • Youtube

Blog Archive

Blogger templates