sexta-feira, 29 de julho de 2011


   O manejo adequado do solo através das matérias postadas recentemente neste blog (parte I, II e III) proporciona o aumento da resistência das culturas às pragas e doenças e às mudanças impostas por adversidades climáticas (ex.:estiagens e chuvas intensas). Normalmente, quando se considera o solo como um "organismo vivo" e tratando-o com métodos ecologicamente corretos, associados ao uso de práticas preventivas, não ocorrem doenças e pragas. Estas quando surgem, são um sinal de desequilíbrio e indicam problemas no manejo do solo. A ocorrência de insetos-pragas e doenças são a conseqüência e não a causa do problema. Por isso, em agricultura orgânica tratam-se as causas para que os resultados sejam os mais duradouros e equilibrados possíveis. Por outro lado, quando se pratica a agricultura moderna que prioriza o uso da monocultura (cultivo de apenas uma espécie), o uso intensivo de mecanização, adubos químicos e agrotóxicos em solos desequilibrados, favorecem o surgimento de inúmeras pragas e doenças que, se não forem controladas, podem prejudicar parcialmente ou totalmente a produção de alimentos e, o que é pior, contaminam o solo, rios, lagos, córregos, e ainda trazem sérias consequências à saúde do agricultor e consumidor.
.Reconhecimento das principais doenças, pragas e plantas espontâneas
Normalmente, quando se considera o solo como organismo vivo, realizando-se práticas ecologicamente corretas associadas ao uso de cultivares resistentes e ao manejo preventivo, não ocorrem maiores problemas com doenças, pragas e plantas espontâneas.
Em solos desequilibrados nos aspectos químicos, físicos e biológicos podem ocorrer, eventualmente, durante o ciclo das hortaliças (desde a emergência até à colheita), doenças, pragas e plantas espontâneas que prejudicam o crescimento das plantas e a qualidade do produto. Para se fazer o manejo correto das doenças, pragas e plantas espontâneas é muito importante, em primeiro lugar reconhecê-las. As principais doenças são:
.Fungos (Figuras 1 e 2) e bactérias (Figura 3): provocam o aparecimento de pintas ou manchas nas folhas, hastes e frutos, podendo causar o secamento, apodrecimento, murchamento e morte das plantas.
.Vírus (Figura 4): transmitidos por sementes e insetos, causam o amarelecimento, encrespamento, engruvinhamento e deformação de folhas, afetando o desenvolvimento das plantas.
.Nematóides: são pequenos vermes, invisíveis a olho nú, que provocam a formação de nódulos nas raízes, amarelecimento e murchamento das plantas.
Figura 1. Tomateiro com requeima: doença causada por fungo
 Figura 2. Oídio: doença do feijão-de-vagem e cucurbitáceas causada por fungo
 Figura 3. Podridão negra: doença das brássicas causada por bactéria
 Figura 4. Tomateiro com virose (vira-cabeça) transmitida por tripes
    As pragas, a exemplo das doenças, também se tornam um problema mais sério quando há um desequilíbrio ecológico no sistema onde a planta está inserida. Outras situações que podem favorecer o seu surgimento, são os desequilíbrios térmicos, excesso ou escassez de adubos e água e insolação inadequada. A maior parte das pragas ataca geralmente na primavera e no verão. Elas causam vários danos nas plantas, além de favorecer o surgimento de doenças, principalmente as fúngicas. 
    As principais pragas são:
. Lagarta rosca: corta as hastes das plantinhas rente ao solo. São escuras, com 3 a 5cm de comprimento, enroscam-se quando tocadas e, durante o dia, ficam escondidas no solo próximo à planta cortada.
. Lagarta das folhas: comem as folhas (Figura 5). Em geral, são esverdeadas e apresentam listas pretas no dorso com 3- 5cm de comprimento.
. Brocas: os adultos são pequenas borboletas que põem os ovos nas plantas (tomate – Figura 6, pepino – Figura 7 e abóbora), originando, depois de três dias, pequenas lagartas que se introduzem nos frutos em formação.
. Traças: os adultos são pequenas borboletas que põem os ovos nas plantas originando lagartas medindo em torno de 7 mm. Perfuram os brotos terminais e formam galerias nas folhas (tomate), perfuram os frutos (tomate) e os tubérculos (batata).
. Pulgões (Figura 8): sugam a seiva, provocam o engruvinhamento das folhas e transmitem doenças viróticas. São pequenos insetos (2 a 4mm) marrons, cinzas, esverdeados ou pretos que vivem em colônias,especialmente nas brotações novas, nas folhas mais tenras e nos caules, sugando a seiva e deixando as folhas amareladas e enrugadas. Os períodos mais favoráveis ao surgimento dos pulgões, que se multiplicam com rapidez, são a primavera, o verão e o início do outono. Precisam ser controlados logo que notados, pois multiplicam-se com rapidez.
. Ácaros: sugam a seiva e provocam o encarquilhamento e descoloração das folhas. São invisíveis a olho nu e vivem em colônias no lado inferior das folhas novas. O ataque é notado pela presença de teias.
. Vaquinhas: na fase adulta (Figura 9) são pequenos besouros de cores variadas, alaranjados ou verdes com manchas amarelas que comem as folhas e causam maiores prejuízos no início do desenvolvimento das plantas. A fase de larva (Figura 9) causa também graves prejuízos tombando as plantinhas recém emergidas e furando raízes e tubérculos.
. Tripes: raspam as folhas, deixando pequenas manchas brancas. São insetos pequenos (3 mm de comprimento) que vivem em colônias nas folhas novas ou nos locais mais escondidos.
. Cochonilhas: são insetos minúsculos, geralmente marrons ou amarelos, que alojam-se principalmente na parte inferior das folhas e nas fendas. Além de sugar a seiva da planta, liberam uma substância pegajosa que facilita o ataque de fungos.
. Minadores (Figura 10): minam as folhas, hastes e frutos formando galerias. São pequenas larvas de diversas espécies de insetos. Os adultos são pequenas moscas (1 mm de comprimento).
. Moscas brancas: são insetos pequenos e, como diz o nome, de coloração branca. A presença é fácil de notar, pois diante de uma planta infestada se observa uma pequena revoada de minúsculos insetos brancos. Costumam localizar-se na parte inferior das folhas, onde liberam um líquido pegajoso que deixa a folhagem viscosa e favorece o ataque de fungos. Alimentam-se da seiva da planta. As larvas desse inseto, praticamente imperceptíveis, também alojam-se na parte inferior das folhas e, em pouco tempo, causam grande infestação.
. Lesmas e caracóis: danificam as folhas e as raízes de plantas tenras. Preferem terrenos úmidos e atacam, principalmente, à noite e em dias chuvosos.
. Formigas: as formigas cortadeiras são as que mais causam estragos. Elas cortam as folhas para levá-las ao formigueiro, onde servem de nutrição para os fungos, os verdadeiros alimentos das formigas.
. Grilos: cortam as plantinhas ainda pequenas à noite e se escondem em tocas profundas no solo, especialmente quando esse não é revolvido a cada cultivo (plantio direto).
Figura 5. Danos de lagartas em repolho
Figura 6. Broca pequena do tomateiro (Foto: Juarez José Vanni Muller)
Figura 7. Danos da broca das cucurbitáceas em pepino (Foto: Áurea Teresa Schmitt)
 Figura 8. Ataque intenso de pulgões em repolho
 Figura 9. Vaquinha (patriota): fase adulta e de larva (Foto:José Maria Milanez)
 Figura 10. Larva minadora atacando folhas de feijão-de-vagem (Foto:Honório Francisco Prando)
    Nem todos os insetos são pragas das hortaliças. Existem insetos que são benéficos às plantas, pois agem como inimigos naturais dos insetos-pragas. A joaninha, inimigo natural de pulgões e cochonilhas, é um dos exemplos mais conhecido de inseto benéfico para as plantas. Além das aves, as pequenas vespas são inimigas naturais das lagartas em geral.
    As plantas espontâneas ou indicadoras, chamadas de plantas "daninhas", no cultivo convencional, são consideradas plantas "amigas" no sistema de produção orgânico, depois do período crítico de competição (fase inicial de desenvolvimento dos cultivos), pois além de cobrirem o solo e reduzir a erosão indicam problemas no solo.
     As plantas espontâneas de maior dificuldade de manejo são aquelas que se propagam por rizomas, raízes, tubérculos e bulbos. Para essas, as capinas têm pouco efeito, uma vez que ao cortá-las, deixa-se no solo, justamente o meio de propagação e disseminação da planta espontânea (exemplo:a cebolinha da tiririca).
Tabela 1. Algumas espécies de vegetação espontânea consideradas como plantas
"indicadoras" ou plantas "amigas".


Ferreira On 7/29/2011 10:26:00 AM Comentarios LEIA MAIS

quinta-feira, 21 de julho de 2011



  Além das recomendações gerais para o sucesso no cultivo de hortaliças orgânicas já abordadas em matérias recentes postadas neste blog (Parte I e II), trataremos a seguir de outras também muito importantes tais como, irrigação e inúmeras outras práticas culturais.

. Irrigação ou rega
  O cultivo de hortaliças sem complementação de água de boa qualidade, através da irrigação, é praticamente, impossível. As hortaliças, por terem ciclo curto, sofrem mais que outras espécies com pequenos períodos de estiagem. Embora ocorram precipitações pluviais mensais consideradas suficientes para desenvolvimento das hortaliças, essas são irregulares, especialmente no Sul do Brasil. Além disso, a maioria das hortaliças são exigentes, pois apresentam em sua composição mais de 85% de água.
  A qualidade da água é muito importante, pois grande parte das hortaliças são consumidas cruas. Caso não seja água potável, recomenda-se fazer a análise da mesma, mesmo sendo oriunda de uma fonte natural, pois pode estar contaminada com alto teor de coliformes fecais.
  A frequência, o tipo de irrigação e a quantidade de água a aplicar dependem basicamente da espécie cultivada, do tipo de solo, do clima, das práticas culturais e do estádio de desenvolvimento das plantas.
O sistema de irrigação mais usado numa horta doméstica, comunitária ou escolar é através da aspersão. Havendo reservatório de água, pode-se utilizar mangueiras com jatos finos ou adaptadas a microaspersores.
   O ideal é utilizar sistema de irrigação que produz gotas pequenas, formando uma espécie de neblina, evitando-se assim que, as plantinhas recém emergidas ou transplantadas sofram danos, além de evitar a formação de uma crosta endurecida no solo. Outra forma muito prática e barata de irrigar é através do sistema "santeno" (Figura 1) que consiste numa mangueira de plástico, perfurada com raios laser e resistente à exposição ao sol. A mangueira deverá ser conectada à uma mangueira comum e essa a uma torneira, produzindo uma neblina fina, resultando em irrigação ideal. Com essa mangueira, encontrada em lojas especializadas, deve-se evitar a irrigação quando houver ventos.
Figura 1. Microaspersão com a mangueira "santeno II": ideal para pequenas hortas, especialmente para hortaliças-folhosas e plantas no início de desenvolvimento
   Em geral, logo após a semeadura e o transplante são necessárias irrigações diárias tomando-se o cuidado de utilizar regadores ou mangueira com esguichos finos para não enterrar demais as sementes ou as mudas. A terra deve ser molhada até à profundidade em que se encontra a maioria das raízes. A maior parte das raízes das hortaliças em pleno desenvolvimento alcança a profundidade de 15-20 cm.
    Para hortaliças-folhosas é aconselhável irrigar diariamente, caso não chova, durante todo o ciclo das plantas para se obter folhas tenras.
   Para hortaliças-frutos, à medida que as plantas forem crescendo, a irrigação pode ser espaçada de três em três dias até o final da colheita, caso não chova o suficiente; o mesmo intervalo de irrigação pode ser utilizado para as hortaliças-raízes, dispensando-a quando já estiverem em condições de serem colhidas.
   Sempre que possível, para as espécies pertencentes à família das solanáceas, que têm maiores problemas de doenças, deve-se evitar que a folhagem das plantas passem a noite molhada, preferindo-se a irrigação pela manhã, quando o sistema for por aspersão. A irrigação por sulcos (Figura 2) e por gotejamento são ideais para essas espécies.
Figura 2. Irrigação por sulcos: método adequado para o tomateiro
   Uma indicação prática, aproximada, da necessidade de irrigação pode ser obtida quando um punhado de terra apertado na palma da mão formar um conjunto coeso e úmido ("bolo"), o que significa que ela apresenta boas condições de umidade. É importante após a irrigação, esperar um pouco para que a água se infiltre, observando-se, depois, a profundidade atingida pela mesma.
. Desbaste ou raleamento
   Consiste na eliminação do excesso de plantas semeadas diretamente no canteiro, nas covas e nos recipientes. Na semeadura direta em canteiro, recomenda-se o desbaste quando as plantinhas estiverem com 5 a 8cm de altura, deixando-se as mais vigorosas, no espaçamento adequado. Para algumas espécies, como a beterraba, pode-se aproveitar as melhores mudas descartadas durante o desbaste para transplantar em outro canteiro.
. Capinas e escarificações
  As plantas espontâneas competem com as espécies cultivadas por luz, água e nutrientes, especialmente nos primeiros 30 dias. Por isso, é muito importante a retirada das mesmas ainda pequenas com a enxada, sacho ou, manualmente. Após o período crítico, as plantas espontâneas nas entrelinhas são consideradas "plantas amigas" pois ajudam a manter a umidade no solo e evitam a erosão do solo.
  Cobertura do canteiro com papel (Figura 3): para retardar a emergência das plantas espontâneas, logo após a semeadura das hortaliças, recomenda-se após o preparo do canteiro, a cobertura com folhas de papel jornal (sem impressão colorida) ou papel pardo e sobre esse 2 cm de composto orgânico peneirado. Posteriormente, procede-se abertura do sulco, a semeadura e a cobertura das sementes.
Figura 3. Uso de jornal no manejo de plantas espontâneas (à esquerda, cenoura cultivada com jornal ; à direita, sem jornal )
   Mesmo que não haja plantas espontâneas, recomenda-se o uso de enxada ou sacho nas linhas de cultivo para escarificar (revolvimento superficial do solo), com objetivo de evitar a formação de crosta na superfície, especialmente após chuvas torrenciais. A camada de solo superficial endurecida, além de impedir a penetração da água da chuva ou da irrigação, favorece a erosão do solo. A escarificação deve ser feita quando as plantas estiverem no início do desenvolvimento vegetativo e com o solo úmido para não danificar as raízes. Quando as plantas espontâneas das entrelinhas estiverem competindo por luz com as plantas cultivadas, recomenda-se roçar com foice ou roçadeira manual, ou simplesmente tombá-las.
  A cobertura morta, prática de colocar capim ou palha seca nas entrelinhas, reduz a freqüência de capinas, escarificações e irrigação.
. Adubação de cobertura
  Em solos com baixa teor de matéria orgânica (menos de 2%) é muito importante essa prática, especialmente nas hortaliças folhosas. No entanto, deve-se evitar o uso exagerado de adubos nitrogenados tais como estercos de animais não curtidos, pois podem salinizar o solo e prejudicar a qualidade das hortaliças. Quando aplicados em excesso, podem causar a metahemoglobinemia em crianças, moléstia resultante da ingestão de nitritos (produzidos a partir de nitratos) que reagem com a hemoglobina, reduzindo a sua capacidade de carregar oxigênio. Além disso, os nitritos participam de reações formadoras de compostos cancerígenos.
   Recomenda-se como fonte de macronutrientes e micronutrientes o composto orgânico (ver como preparar o composto orgânico em matéria antiga postada neste blog), esterco de animais curtido, biofertilizantes caseiros, chorumes de estercos e de composto orgânico e outros produtos facilmente elaborados na propriedade.
Esterco de animais curtido
   O esterco proveniente de gado sobre pastagem onde se aplicou herbicidas não pode ser utilizado na produção de hortaliças. O esterco de aves, especialmente quando utilizado em excesso, têm efeito negativo sobre as características físicas do solo (desagrega e compacta). Por ter muito ácido úrico, têm um efeito semelhante a uréia, reduzindo a resistência das plantas e até queimando as mesmas (caso não esteja curtido), além de acidificar o solo. Deve ser utilizado em pequenas quantidades por aplicação e bem incorporado ao solo(no máximo 0,5 kg/m2 ).
Biofertilizantes/chorumes
   Como o nome já diz, é um fertilizante vivo, cheio de microorganismos, responsáveis pela decomposição da matéria orgânica, pela produção de gás e pela liberação de antibióticos e hormônios. Pode-se fazer biofertilizantes somente com esterco e água (chorume) ou ainda com qualquer tipo de material verde fermentado na água. Pode-se enriquecê-lo com alguns minerais (fosfato natural), com calcário e/ou cinzas, leite, caldo de cana ou melado. Os biofertilizantes são líquidos e podem ser usados no solo, com auxílio de regadores, ou em tratamentos foliares, utilizando-se o pulverizador, com objetivo de complementar a nutrição das plantas.
   O biofertilizante, além de alimentar, protege a planta agindo como defensivo. Esta "defesa" pode ser ocasionada por diversos fatores: a) Se a planta é bem nutrida, tem mais resistência e mais condições de se defender de algum ataque de insetos, fungos, bactérias, etc. b) Como o biofertilizante é um produto vivo, os microorganismos podem reduzirem a atuação do que está atacando a planta e repelir e/ou destruir ou paralisar a ação desses elementos.
   A seguir serão descritos o modo de elaborar alguns dos biofertilizantes mais simples, bem como a dosagem de uso dos mesmos. São os mais fáceis de elaborar, de baixo custo, que fornecem nitrogênio. São utilizados especialmente para fertilizar mudas em bandejas ou plantas recém transplantadas ou plântulas em estádios iniciais de crescimento, cujas raízes ainda não possuem bom desenvolvimento.
Chorume de composto orgânico
   Modo de preparar: deve-se deixá-lo secar à sombra e peneirá-lo. Deve ser colocado em saco permeável amarrando a boca do mesmo, para evitar entupimento do regador ou do pulverizador. O composto orgânico (33 l) deve ser colocado em um tonel de 200 l completando com 67 l de água. Sacudir bem o saco e deixar descansar por 10 minutos. Pode ser utilizado puro sobre as plantas ou no solo com regador ou pulverizador (Fonte: Souza, 2003).
Chorume de esterco fresco de animais
Modo de preparar: deve-se colocar no tonel de 200 l, um saco de esterco de aves ou de gado na proporção de 1:2 e 1:1, respectivamente, amarrando-se a boca e completando com água, deixando de molho por quatro a sete dias. É um adubo líquido fermentado. Para aplicação, deve-se diluí-lo em água utilizando-se um (esterco de aves) ou dois litros (esterco de gado) de chorume por regador, completando-se com água para regar o solo.
 Biofertilizante 1
   Modo de preparar: 1/3 de esterco fresco de gado para 2/3 de água, 5 kg de cinzas e 5 kg de fosfato natural para 200 l. Para melhorar a fermentação pode ser adicionado garapa, leite, melaço ou açúcar mascavo na quantidade de 1 a 5 kg ou litros. Deixar curtir uma semana e diluir na proporção de 1 litro de chorume para 10 l de água na hora de aplicar, o que deve ser feito na terra e não nas folhas, com mangueira ou regador, uma vez por mês e de preferência no final da tarde.
Biofertilizante 2 (uréia natural)
   Modo de preparar: colocar 40 kg de esterco de bovino fresco, 3 a 4 litros de leite fresco ou colostro,10 a 15 litros de caldo de cana ou 4 a 5 litros de melado, 200 litros de água e 4 kg de fosfato natural numa caixa de água, misturando-os bem. Deixar fermentar durante 15 dias, mexendo uma vez ao dia. Depois de pronto, diluir 1 litro do biofertilizante em 3 litros de água para regar a planta e o solo.
Obs.: essa receita após misturada em água, proporciona 800 litros de adubo líquido.
Água de cinza e cal (fertiprotetor de plantas): é um produto ecológico obtido pela mistura de água, cinza e cal (para preparar, ver matéria postada neste blog em 22/12/2010). Essa mistura contém expressivos teores de macro (Ca, Mg e K) e micronutrientes, atuando como adubo foliar em cobertura e estimulando a resistência das plantas às doenças fúngicas e bacterianas. (Fonte: Claro, 2001).
Manipueira: é um líquido de aspecto leitoso e de cor amarelo-claro que escorre de raízes carnosas da mandioca, por ocasião da prensagem das mesmas, para obtenção da fécula ou da farinha. É, portanto, um subproduto da mandioca que fisicamente se apresenta na forma de suspensão aquosa e, quimicamente, como uma miscelânea de compostos que podem servir como adubo antes da semeadura/plantio e em pulverizações foliares. Além de ser utilizada como inseticida, acaricida, nematicida, fungicida e bactericida, a manipueira contém todos os macro e micronutrientes, com exceção do molibdênio, necessários à nutrição das plantas.
   Na fertilização do solo, utilizar manipueira (1:1), aplicando na linha de cultivo, com auxílio de regador, 2 a 4 litros da diluição por metro de sulco. A aplicação deve ser antes da semeadura/plantio, devendo o solo ficar em repouso por oito ou mais dias e, posteriormente revolver levemente o solo que compõe e margeia a linha de cultivo, antes de proceder a semeadura/plantio. Na fertilização foliar, as diluições mais apropriadas são 1:6 e 1:8.
.Tutoramento ou estaqueamento é feito com bambu para algumas hortaliças como ervilha torta, tomate, feijão-de-vagem, pepino, maxixe, pimentão e chuchu, para evitar o crescimento em contato com a terra, facilitar a aeração e a insolação e evitar a quebra de ramos. No tutoramento tradicional do tomateiro é muito utilizado o sistema cruzado ou em "V" invertido que tem como desvantagem a formação de um túnel úmido que favorece a ocorrência de doenças foliares e de pragas e dificulta os tratamentos fitossanitários. Em função disso, o tutoramento vertical em que as plantas são conduzidas perpendicularmente ao solo, é o mais recomendado para o tomateiro (Figura 4), pois além de melhorar a distribuição solar e a aeração, aumenta a eficiência dos tratamentos fitossanitários através da pulverização dos dois lados das plantas.
Figura 4. Tutoramento vertical: sistema de condução de plantas mais indicado para o tomateiro
Figura 5. Tutoramento em ziguezague: sistema alternativo para o tomateiro que melhora a ventilação das plantas, facilita os tratos culturais e reduz a ocorrência de doenças
 Figura 6. Tutoramento na cultura do chuchu (sistema latada)
. Amarrio consiste em amarrar as plantas nas estacas, sem estrangular, para seu melhor apoio, prática indispensável para a cultura do tomate.
. Desbrota é a eliminação dos brotos que saem das axilas das folhas ou da haste de algumas espécies como o tomate.
Figura 7. Desbrota em tomateiro
. Amontoa (Figura 8) consiste em chegar terra junto às plantas, para melhorar sua fixação ao solo e, no caso da batata, serve ainda para evitar que os tubérculos se desenvolvam fora da terra, favorecendo o seu esverdeamento (Figura 9). Uma boa amontoa (cerca de 20cm de altura) reduz os danos de insetos que perfuram e depreciam os tubérculos.
Figura 8. Amontoa na cultura da batatinha
Figura 9. Batatas esverdeadas: resultado da amontoa inadequada
 
Ferreira On 7/21/2011 04:57:00 AM Comentarios LEIA MAIS

sexta-feira, 15 de julho de 2011



   O cultivo de hortaliças no sistema de produção orgânico não é apenas trocar os insumos utilizados na agricultura dita "moderna" (adubos químicos e agrotóxicos) por outros permitidos na produção de alimentos orgânicos. Além das recomendações gerais para a produção orgânica de hortaliças, já postada neste blog (parte I), existem inúmeras outras práticas muito importantes. pois tratam o solo como um "organismo vivo". Um solo sadio produz plantas, animais e homens sadios; tudo está ligado entre si como os órgãos de um corpo, por isso o solo, já na antiguidade, era visto como um "organismo vivo". O solo faz parte do meio ambiente e está ligado a todos os seus outros componentes, como a água, as plantas, os animais e o homem. Tudo que acontece com o solo tem algum reflexo positivo ou negativo, no ambiente do qual ele faz parte. Dentre as práticas que favorecem a vida do solo e as plantas cultivadas, destacam-se a adubação orgânica e verde, plantio direto, cultivo mínimo, cobertura morta, rotação e consorciação de culturas, entre outras. Estas recomendações são essenciais para o sucesso do cultivo orgânico, pois conduzem à estabilidade do meio ambiente, ao uso equilibrado do solo, ao fornecimento ordenado de nutrientes e à manutenção de uma fertilidade real e duradoura no tempo.
. Adubação de semeadura/plantio
   O solo é o fator mais importante a ser considerado na produção orgânica de alimentos. O solo deve ser tratado como um organismo vivo que interage com a vegetação em todas as fases de seu ciclo de vida. Os aspectos físico, químico e biológico do solo são fundamentais para o sucesso na produção orgânica de hortaliças.
  O aspecto físico do solo refere-se à sua textura e a sua estrutura. A textura de um solo se relaciona ao tamanho das partículas que o formam; um solo possui diferentes quantidades de areia, argila, matéria orgânica, água, ar e minerais. A forma como esses componentes se organizam representa a estrutura do solo. Um solo bem estruturado deve ser fofo e poroso, permitindo a penetração da água e do ar, assim como de pequenos animais e raízes.
  O aspecto químico se relaciona com os nutrientes que vão ser utilizados pelas plantas. Esses nutrientes, dissolvidos na água do solo (solução), penetram pelas raízes das plantas. No sistema orgânico de produção, os nutrientes podem ser supridos através da adição de matéria orgânica e de compostos vegetais.
  O aspecto biológico trata dos organismos vivos existentes no solo e que atuam nos seus aspectos físicos e químicos. A vida no solo só é possível onde há disponibilidade de ar, água e de nutrientes. Um solo com presença de organismos vivos indica boas condições de estrutura.     
  Os microorganismos do solo são os principais agentes de transformação química dos nutrientes, tornando-os disponíveis para absorção pelas raízes das plantas.
A planta necessita, além de carbono, hidrogênio e oxigênio, de constituintes essenciais retirados do ar e da água, dos seguintes elementos:
. Macroelementos - nitrogênio (N), fósforo (P), potássio (K), cálcio (Ca), magnésio (Mg) e enxofre (S), exigidos em maior quantidade.
   O nitrogênio auxilia na formação da folhagem e favorece o rápido crescimento da planta. O fósforo estimula o crescimento e formação das raízes. O potássio aumenta a resistência da planta e melhora a qualidade dos frutos.
. Microelementos - manganês (Mn), zinco (Zn), cobre (Cu), ferro (Fe), molibdênio (Mo), boro (B) e cloro (Cl), exigidos em quantidades reduzidas, mas também muito importantes para as plantas.
   As quantidades de macroelementos encontradas disponíveis para as plantas no solo, quase sempre, são insuficientes. Daí a necessidade de complementá-los através de adubos orgânicos. A vida do solo depende essencialmente da matéria orgânica que mantém a sua estrutura porosa, proporcionando a vida vegetal graças à entrada de ar e água. A matéria orgânica é um dos componentes do solo e atua como agente de estruturação, possibilitando a existência de vida microbiana e fauna, além de adicionar nutrientes à solução do solo. O adubo orgânico é constituído de resíduos de origem animal e vegetal: folhas secas, restos vegetais, esterco animal e tudo mais que se decompõe, transformando-se em húmus. O húmus é o resultado da ação de diversos microorganismos sobre os restos animais e vegetais.
O uso da matéria orgânica interfere significativamente na resistência das plantas, uma vez que:
  • aumenta a capacidade do solo em armazenar água, diminuindo os efeitos das secas. Um solo com bom teor de matéria orgânica funciona como se fosse uma esponja, sendo que 1 g de matéria orgânica retém 4 a 6 gramas de água no solo. Devido à capacidade de armazenar água, a matéria orgânica é má condutora de calor, diminuindo as oscilações de temperatura do solo durante o dia;
  • aumenta a população de minhocas, besouros, fungos e bactérias benéficas, além de vários outros organismos úteis, que estão livres no solo;
  • aumenta a população de organismos úteis que vivem associados às raízes das plantas, como as bactérias fixadoras de nitrogênio e as micorrizas, que são fungos capazes de aumentar a absorção de nutrientes do solo;
  • aumenta a capacidade das raízes absorverem minerais do solo;
  • possui macro e micronutrientes em quantidades bem equilibradas, que as plantas absorvem conforme sua necessidade, em quantidade e qualidade;
  • é fundamental na estruturação do solo, por causa da formação de grumos. Isso aumenta a penetração das raízes e a oxigenação do solo;
  • possui substâncias de crescimento (fitohormônios), que aumentam a respiração e a fotossíntese das plantas.
   A adubação orgânica melhora também a qualidade dos alimentos, tornando-os mais ricos em vitaminas, aminoácidos, sais minerais, matéria seca e açúcares, além de serem mais aromáticos, saborosos e de melhor conservação.
Entre as espécies cultivadas, as hortaliças são as que mais respondem à aplicação de adubos orgânicos. O adubo orgânico de origem animal mais conhecido é o esterco que é formado por excrementos sólidos e líquidos de animais e pode estar misturado com restos vegetais. O esterco curtido de aves ou a cama de aviário e de gado são os mais comumente utilizados. Tanto o excesso como a falta de nutrientes são prejudiciais às plantas, pois um nutriente pode interferir na absorção dos demais.
   É importante lembrar que plantas bem nutridas são mais resistentes às doenças e às pragas. O ideal na adubação de hortaliças é o uso de composto orgânico, considerado o processo mais eficiente para produção de adubo orgânico de qualidade. A compostagem é o resultado da transformação, através da fermentação, do resíduo orgânico (restos vegetais) em adubo natural. É um dos princípios básicos da produção orgânica de alimentos. O composto é rico em húmus estabilizado e em microorganismos ativos que estimulam a saúde natural das plantas.
   Todos os passos para fazer, bem como os cuidados que se deve ter no preparo do composto orgânico, estão descritos em matéria já postada neste blog.
   O adubo orgânico, quando oriundo de esterco de animais não curtido, deve ser bem incorporado ao solo, 15 dias antes da semeadura/plantio. O uso de esterco ainda em fase de fermentação por ocasião da semeadura/plantio, pode causar danos às raízes e às sementes, tais como queima, destruição dos microorganismos do solo, formação de produtos tóxicos e morte da planta pelo calor. O conhecimento da origem do esterco, especialmente o de gado, é importante, pois o uso de alguns herbicidas nas pastagens pode afetar as plantas cultivadas.
Na falta de análise do solo, indica-se para solos de média fertilidade, anualmente, a seguinte adubação:
. adubação orgânica, proveniente de compostagem - 3 a 4 kg/m2
. esterco de gado (4 a 5 kg/m2 ) ou de aves (1 a 2 kg/m2 ) curtidos    .
No caso de maior necessidade de potássio, cálcio e magnésio, recomenda-se cinzas de madeira não tratada com produtos químicos. Como fonte de fósforo, recomenda-se o fosfato natural, o fosfato de araxá, os termofosfatos e a farinha de ossos, aplicados com antecedência e de acordo com a análise de solo.
.Sistemas de semeadura/plantio
   Conforme a espécie de hortaliça, pode-se ter diferentes sistemas de semeadura/plantio.
.Semeadura direta: consiste na semeadura uniforme das sementes em sulcos, no canteiro, na profundidade de 1 a 2cm, utilizando-se marcadores ou sacho, cobrindo-as com a própria terra; pode ser feita também em covas ou em sulcos, sem preparo de canteiros. A quantidade de sementes por metro quadrado varia com o tamanho do canteiro; quanto menor, menos sementes serão gastas. Como regra geral, as sementes devem ficar enterradas numa profundidade de cinco vezes o seu tamanho.
.Plantio direto: consiste no plantio de tubérculos, raízes, rizomas, bulbilhos, ramas, filhotes e estolhos em sulcos, em covas, ou em camalhões, na profundidade de 5 a 10 cm, utilizando-se enxada ou sacho, no espaçamento indicado para cada espécie; pode ser feito também em sulcos, ou em covas, diretamente no canteiro.
Figura 1. Terreno preparado para o plantio de ramas de batata-doce no alto da leira
.Transplante de mudas: consiste na mudança das plantas que cresceram na sementeira ou em recipientes, para o local definitivo em sulcos ou em covas, enterrando-as até à profundidade em que estavam na sementeira ou em recipiente, no espaçamento indicado para a espécie. Deve ser feito, preferencialmente, em dias nublados ou à tardinha para garantir melhor pegamento, principalmente no verão.
   No caso de sementeiras em canteiros ou em caixas, uma irrigação abundante antes do transplante facilita a retirada das mudas. Quando as mudas são produzidas em copinhos ou em bandejas o pegamento é maior, pois a maioria das raízes estão intactas no torrão formado nesses recipientes. Para retirá-las da bandeja basta umedecer um pouco e bater de leve no fundo.
Figura 2. Transplante de mudas de couve-brócolis
. Plantio direto e cultivo mínimo
   O sistema de plantio direto e cultivo mínimo são práticas importantíssimas no cultivo orgânico de hortaliças, tendo em vista que a maioria dos nossos solos estão sujeitos a processos de erosão causado por chuvas intensas, aliado a baixos teores de matéria orgânica. Outra vantagem dessas práticas é o fato do solo estar sempre preparado para semeadura/plantio, mesmo em períodos chuvosos que não permite o revolvimento do mesmo devido a umidade excessiva. Para o plantio direto ou cultivo mínimo, bastar fazer uma roçada utilizando uma foice ou roçadeira manual para áreas maiores e abrir as covas ou sulcos.
  O plantio direto é um método que não revolve o solo. A camada de cobertura vegetal é mantida e se faz apenas a abertura de um pequeno sulco ou cova onde é colocada a semente ou a muda.
  O cultivo mínimo é a mínima manipulação do solo necessária para a semeadura ou plantio de mudas. Deixa-se uma considerável quantidade de cobertura na superfície (resíduos culturais), o que desfavorece a erosão do solo.
 Efeitos da adoção dos sistemas plantio direto e cultivo mínimo nas propriedades do solo visando a produção de hortaliças orgânicas.

Figura 3. Cultivo mínimo (abertura de sulco) sobre aveia-preta semeada no outono
Figura 4. Cultivo mínimo do tomateiro sobre cobertura de aveia+ervilhaca+nabo forrageiro
Figura 5. Cultivo mínimo de aipim sobre cobertura de aveia e ervilhaca
 . Práticas culturais
   Para que as hortaliças tenham bom desenvolvimento, é necessário realizar diversos tratos culturais na época adequada.
 . Espécies de plantas de cobertura do solo e adubação verde
   As plantas de cobertura exercem importante papel na conservação do solo, no suprimento de nutrientes como nitrogênio, fósforo e potássio, no equilíbrio das propriedades do solo e, principalmente, no manejo de plantas espontâneas. As plantas de cobertura são a garantia de continuidade da vida. Para existir vida no solo, princípio básico para produção de alimentos, o terreno deverá ser suprido continuamente de alimento (matéria orgânica e outros nutrientes, além do ar e da água) para que os bilhões de seres vivos que ali se encontram possam interagir química e fisicamente para melhorar a estrutura do solo, disponibilizando nutrientes essenciais para as culturas.
  A adubação verde é uma das formas mais importantes de adubação orgânica do solo. Consiste no cultivo de algumas espécies de plantas que, ao serem incorporadas ou derrubadas no solo, fornecem matéria orgânica, servindo ainda como cobertura do solo, evitando a erosão. Além disso, podem fornecer nitrogênio, funcionam como subsoladores naturais do solo, pois suas raízes atingem diferentes profundidades trazendo nutrientes do fundo até à superfície, facilitando assim a nutrição das plantas. Funcionam como verdadeiros descompactadores do solo permitindo a entrada de ar e de água de maneira adequada no solo.
   Atualmente, une-se o uso de plantas de adubação verde e de plantas de cobertura de solo com objetivo de promover benefícios significativos para a agricultura orgânica, aliado ao uso de sistemas de rotação, sucessão e consorciação de culturas, plantio direto, cultivo mínimo, uso de adubação orgânica e outros princípios. As plantas da família botânica das leguminosas, encontradas em grandes diversidades de clima e solo, são consideradas ótimas para adubação verde por serem ricas em nitrogênio e possuírem raízes ramificadas e profundas. A mucuna cultivada isoladamente ou em consorciação com milho-verde é um exemplo de espécie de adubação verde e de cobertura do solo. O coquetel de adubos verdes (aveia -60 kg/ha; ervilhaca -18 kg/ha e nabo forrageiro – 4 kg/ha) é também uma ótima opção para melhorar a cobertura do solo, promover o efeito benéfico no manejo de plantas espontâneas e aprimorar a eficiência na ciclagem de nutrientes (fornecendo nitrogênio e reciclando nutrientes) e na descompactação do solo.
Figura 6. Desenvolvimento inicial de brássicas sobre cobertura de aveia + ervilhaca+ nabo forrageiro
 Figura 7. Desenvolvimento vegetativo do milho-verde orgânico sobre cobertura de aveia + ervilhaca+ nabo forrageiro

Os principais benefícios da adubação verde são:
. Físicos – redução do impacto das gotas de chuva, melhor estrutura do solo, maior retenção de água e menor variação da temperatura no solo;
. Químicos - aumento do teor de húmus no solo, enriquecimento de nutrientes (poupança verde) e maior disponibilidade e movimentação de nutrientes. Devido ao sistema radicular profundo de algumas plantas utilizadas como adubo verde, é feito uma reciclagem dos nutrientes já lixiviados e perdidos nas camadas profundas;
. Biológicos - aumento na atividade de microorganismos, no manejo de ervas espontâneas e no uso da alelopatia e, favorecimento às atividades da fauna do solo (minhocas).
. Cobertura morta
   Essa prática consiste na colocação de capim ou palha seca (5 a 10cm) e outros materiais como bagaço de cana nas entrelinhas das hortaliças cultivadas em espaçamentos maiores. A cobertura morta mantém a superfície do solo sem a formação de crosta (superfície endurecida), evita a evaporação da água da chuva ou da irrigação, reduz a erosão em solos inclinados, diminui a temperatura do solo no verão e, principalmente, economiza capinas devido à menor incidência de plantas espontâneas. Trabalhos de pesquisa evidenciam que, dependendo da cobertura morta, é possível reduzir a temperatura do solo em até 10ºC, quando comparado ao solo descoberto. Resíduos vegetais em decomposição não devem ser aplicados, pois a sua fermentação é prejudicial às plantas.
Figura 8. Cobertura morta com casca de arroz no cultivo orgânico de morango na Epagri/Estação Experimental de Urussanga, SC,
 Figura 9. Cultivo orgânico de repolho em cobertura de palha de milho na Estação Experimental de Urussanga
Figura 10. Cultivo orgânico de couve-flor sobre cobertura de palha de arroz na Estação Experimental de Urussanga














 
Ferreira On 7/15/2011 10:32:00 AM 3 comments LEIA MAIS

terça-feira, 5 de julho de 2011


   Para produção de hortaliças de boa qualidade, saudáveis, de forma diversificada, sem agrotóxicos e adubos químicos e, especialmente, sem colocar em risco a saúde do homem, do meio ambiente e das futuras gerações, deve-se seguir algumas recomendações. As recomendações específicas para o cultivo orgânico de batata, cebola, tomate, cenoura, alface, beterraba, repolho, couve-flor, couve, brócolis, batata-doce e planta medicinais estão em postagens mais antigas neste blog. Por isso, a seguir abordaremos as indicações gerais para o cultivo das diversas espécies de hortaliças.
. Correção e preparo do solo
   A acidez do solo influi na fertilidade, tornando os nutrientes essenciais indisponíveis às plantas. Para correção aplica-se calcário, de acordo com a análise do solo; em geral, para terrenos ácidos utiliza-se cerca de 0,5 a 1 kg de calcário por m², com antecedência mínima de três meses da semeadura/plantio. Caso seja utilizado o composto orgânico, a acidez do solo é corrigida naturalmente, sem necessidade de calagem.
    A adubação orgânica melhora a fertilidade do solo e as propriedades físicas dos solos muito argilosos (barrentos) ou arenosos. Para terrenos de baixa ferrtilidade, com baixa percentagem de matéria orgânica (menos de 2%), determinada pela análise do solo, recomenda-se a aplicação, preferencialmente, de composto orgânico (3 a 4kg/m2) ou esterco curtido de aves ou de gado, na quantidade máxima de 2 e 5 kg/m² por ano, respectivamente.
    O resíduo orgânico e/ou restos de culturas, também pode se tornar um adubo de ótima qualidade através da compostagem (ver matéria mais antiga postada neste blog).
Para pequenas hortas recomenda-se após aplicação do calcário, quando necessário, e do adubo orgânico, fazer o revolvimento do solo com enxadão ou pá, na profundidade mínima de 20 cm, com posterior destorroamento com enxada.
Figura 1. Revolvimento do solo com pá
. Preparo do canteiro
  Para algumas espécies cultivadas em espaçamentos maiores, basta revolver e destorroar o solo. Em seguida, deve-se abrir as covas, sulcos ou ainda fazer camalhões ou leiras, adubar e plantar, conforme o sistema de cada cultura.
Algumas hortaliças necessitam de preparo especial do terreno para confecção de canteiros que podem servir como sementeira para posterior transplante de mudas e para semeadura direta/plantio.
    Após o revolvimento do solo, os canteiros são levantados e destorroados com enxada. Deve-se evitar preparar o canteiro quando o solo estiver muito seco ou muito úmido.
Para preparo adequado do canteiro recomenda-se:
. Fazer dois sulcos paralelos de 15 a 20cm de profundidade, com 30 a 40 cm de largura, e distanciados de 1 a 1,2m, utilizando-se cordões ou bambu para alinhamento;
. Com auxílio de ancinho (rastelo) faz-se o nivelamento da terra e retira-se os torrões menores, raízes, pedras e outros materiais;
. Com a pá curva faz-se o acabamento, limpando-se a passagem entre os canteiros.
   Os canteiros depois de prontos ficarão com cerca de 1m de largura, 15 a 20cm de altura e separados por 30 a 40 cm entre si, para facilitar a passagem das pessoas que cuidarão da horta. Entre cada série de canteiros deve-se deixar um caminho (1m) para passagem do carrinho de mão, usado para transporte de adubos, estercos e produtos colhidos.

Em terrenos inclinados, os canteiros devem ficar atravessados em relação à declividade para evitar que as águas das chuvas os destruam.
Figura 2. Preparo de canteiro
Figura 3. Canteiro preparado para semeadura
   Sempre que possível recomenda-se canteiros fixos, feitos especialmente com tijolos ou pedras (maior durabilidade), madeira (Figura 4), bambú e com outros materiais, pois evita a erosão e facilita o preparo do mesmo para novos plantios.
Figura 4. Horta orgânica do CAPS – Centro de Atenção Psicossocial, em Urussanga, com canteiros construídos com madeira

. Época de semeadura/plantio
    De um modo geral, as hortaliças encontram as melhores condições de desenvolvimento e produção quando o clima é ameno (18 a 22ºC), com chuvas leves e frequentes.
     As temperaturas elevadas (mais de 30ºC), de um modo geral, encurtam o ciclo das plantas e aceleram a maturação; as baixas temperaturas (menos de 10ºC) retardam o crescimento, a frutificação, a maturação e favorecem o florescimento indesejável.
    O fotoperíodo (número de horas com luz natural por dia) e a temperatura influem na formação e no desenvolvimento de bulbos (cebola e alho) e de tubérculos (batata).
Obs.: na matéria sobre planejamento de uma horta orgânica (parte I) foi postada uma tabela com informações de épocas de semeadura ou plantio para as principais hortaliças. O livro "Cultive uma horta e um pomar orgânicos...", disponível para venda na Epagri/Estação Experimental de Urussanga, também possui estas e muitas outras informações importantes.
. Produção de mudas
   O transplante de mudas sadias e vigorosas garante a produção de hortaliças de boa qualidade. Algumas lojas agropecuárias dispõem de mudas de hortaliças, em bandejas de isopor. As diversas formas de produção de mudas são descritas a seguir.
Sementeira
É o local onde são semeadas as sementes de algumas hortaliças para obter-se as mudas a serem transplantadas.
Figura 5. Sementeira de cebola
Os cuidados mais importantes para produção de mudas em sementeira são:
. Preparo cuidadoso do canteiro, incorporando com antecedência, esterco bem curtido e peneirado de aves e de gado, na quantidade de 2 ou 5 kg/m², respectivamente;
. Fazer sulcos com 1 a 2cm de profundidade, distanciados de 10 cm, utilizando o sacho ou marcador de sulcos;
. Semear o mais uniforme possível, cobrindo as sementes com terra. De maneira geral, deve-se enterrar a semente numa profundidade aproximadamente igual a cinco vezes o seu tamanho;
. Cobrir a sementeira com saco de aniagem, capim seco ou tela de sombrite para evitar a formação de crosta superficial do solo devido à irrigação ou à ocorrência de chuvas torrenciais, retirando a proteção quando as sementes iniciarem a emergência;
. Outra opção é a cobertura da sementeira com cerca de 1cm de espessura de casca de arroz ou serragem, após a semeadura. Neste caso, não há necessidade de se retirar a cobertura após a emergência;
. Em períodos sem chuvas, no verão, regar duas vezes ao dia (manhã e à tardinha) até à emergência, com regador de crivo fino para não enterrar demais as sementes;
. A utilização de cobertura de plástico no inverno, associado ao sombrite no verão são indicados;
. Eliminar as plantas espontâneas à medida que forem aparecendo;
. Desbaste do excesso de plantas, deixando as mais vigorosas.
Figura 6. Tipos de cobertura da sementeira: sombrite, casca de arroz e serragem  (Foto:Valmir José Vizzotto)
                             Figura 7. Produção de mudas no verão com o uso de plástico e sombrite
Caixas, copinhos, bandejas de isopor e outros recipientes
     Na produção de mudas para a horta pode ser utilizado diversos recipientes. A vantagem do uso de recipientes sobre a sementeira em canteiro é a facilidade de movimentação dos mesmos para locais protegidos, evitando-se o sol quente, chuvas torrenciais e o frio intenso.
A sementeira pode ser feita em caixas com 50 x 50cm de lado e 20 a 25cm de profundidade, fazendo-se alguns furos no fundo para escoamento do excesso de água.
Figura 8. Sementeira de alface em caixa
    A semeadura também pode ser feita, preferencialmente em copinhos de jornal (sem impressão colorida) ou de papel pardo, pois se degradam rapidamente e não oferecem riscos ao meio ambiente.
Confecção: corta-se uma folha de jornal em cinco tiras, no sentido horizontal da página, com cerca de 11,5 cm de largura cada uma; no caso de utilizar-se o papel pardo deve-se cortá-lo em tiras de 11,5 cm de largura por 38 cm de comprimento. Enrola-se as tiras em torno de um cano de PVC (50mm) com 7cm de comprimento. A extremidade do cilindro de papel é dobrada para dentro, de modo a formar o fundo do copinho. Finalmente, bate-se o fundo do cano de modo a comprimir as dobras do fundo do molde. Posteriormente, enche-se o cano com substrato e retira-se o mesmo para confecção de outros copinhos. Uma vez prontos, os copinhos apresentam as medidas de 7cm x 6cm e capacidade de aproximadamente 200cm3.
Figura 9. Material necessário para confecção dos copinhos de papel
 Figura 10. Confecção de copinho de jornal- início
 Figura 11. Confecção de copinho de jornal - final
Os copinhos plásticos, utilizados para refrigerantes e reutilizados na produção de mudas, fazendo-se alguns furos no fundo, é outra opção. No entanto, é importante ressaltar que o plástico leva muitos anos para se degradar, sendo por isso utilizado somente quando não houver outra alternativa.
Figura 12. Copinhos plásticos para refrigerantes reutilizados
   O sistema mais utilizado atualmente é o de bandeja de isopor, que manuseada com cuidado pode ser reutilizada várias vezes.
A vantagem da bandeja de isopor e dos copinhos sobre a sementeira em canteiro e em caixa, é que a muda não sofre nenhum dano ao ser transplantada.
  O substrato para encher os recipientes pode ser adquirido em lojas agropecuárias ou preparado em casa.
Preparo do substrato caseiro:
-3 partes de terra peneirada livre de plantas espontâneas;
-1 partes de cama de aviário curtida e peneirada;
-1 parte de areia fina de rio ou 2 partes de casca de arroz carbonizada.
Obs.: misturar bem as diferentes partes.
Figura 13. Enchimento da bandeja de isopor com substrato caseiro
Figura 14. Produção de mudas de hortaliças em bandejas de isopor

 
Ferreira On 7/05/2011 09:10:00 AM 21 comments LEIA MAIS

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Recomendações gerais para cultivo de hortaliças orgânicas – Parte IV


   O manejo adequado do solo através das matérias postadas recentemente neste blog (parte I, II e III) proporciona o aumento da resistência das culturas às pragas e doenças e às mudanças impostas por adversidades climáticas (ex.:estiagens e chuvas intensas). Normalmente, quando se considera o solo como um "organismo vivo" e tratando-o com métodos ecologicamente corretos, associados ao uso de práticas preventivas, não ocorrem doenças e pragas. Estas quando surgem, são um sinal de desequilíbrio e indicam problemas no manejo do solo. A ocorrência de insetos-pragas e doenças são a conseqüência e não a causa do problema. Por isso, em agricultura orgânica tratam-se as causas para que os resultados sejam os mais duradouros e equilibrados possíveis. Por outro lado, quando se pratica a agricultura moderna que prioriza o uso da monocultura (cultivo de apenas uma espécie), o uso intensivo de mecanização, adubos químicos e agrotóxicos em solos desequilibrados, favorecem o surgimento de inúmeras pragas e doenças que, se não forem controladas, podem prejudicar parcialmente ou totalmente a produção de alimentos e, o que é pior, contaminam o solo, rios, lagos, córregos, e ainda trazem sérias consequências à saúde do agricultor e consumidor.
.Reconhecimento das principais doenças, pragas e plantas espontâneas
Normalmente, quando se considera o solo como organismo vivo, realizando-se práticas ecologicamente corretas associadas ao uso de cultivares resistentes e ao manejo preventivo, não ocorrem maiores problemas com doenças, pragas e plantas espontâneas.
Em solos desequilibrados nos aspectos químicos, físicos e biológicos podem ocorrer, eventualmente, durante o ciclo das hortaliças (desde a emergência até à colheita), doenças, pragas e plantas espontâneas que prejudicam o crescimento das plantas e a qualidade do produto. Para se fazer o manejo correto das doenças, pragas e plantas espontâneas é muito importante, em primeiro lugar reconhecê-las. As principais doenças são:
.Fungos (Figuras 1 e 2) e bactérias (Figura 3): provocam o aparecimento de pintas ou manchas nas folhas, hastes e frutos, podendo causar o secamento, apodrecimento, murchamento e morte das plantas.
.Vírus (Figura 4): transmitidos por sementes e insetos, causam o amarelecimento, encrespamento, engruvinhamento e deformação de folhas, afetando o desenvolvimento das plantas.
.Nematóides: são pequenos vermes, invisíveis a olho nú, que provocam a formação de nódulos nas raízes, amarelecimento e murchamento das plantas.
Figura 1. Tomateiro com requeima: doença causada por fungo
 Figura 2. Oídio: doença do feijão-de-vagem e cucurbitáceas causada por fungo
 Figura 3. Podridão negra: doença das brássicas causada por bactéria
 Figura 4. Tomateiro com virose (vira-cabeça) transmitida por tripes
    As pragas, a exemplo das doenças, também se tornam um problema mais sério quando há um desequilíbrio ecológico no sistema onde a planta está inserida. Outras situações que podem favorecer o seu surgimento, são os desequilíbrios térmicos, excesso ou escassez de adubos e água e insolação inadequada. A maior parte das pragas ataca geralmente na primavera e no verão. Elas causam vários danos nas plantas, além de favorecer o surgimento de doenças, principalmente as fúngicas. 
    As principais pragas são:
. Lagarta rosca: corta as hastes das plantinhas rente ao solo. São escuras, com 3 a 5cm de comprimento, enroscam-se quando tocadas e, durante o dia, ficam escondidas no solo próximo à planta cortada.
. Lagarta das folhas: comem as folhas (Figura 5). Em geral, são esverdeadas e apresentam listas pretas no dorso com 3- 5cm de comprimento.
. Brocas: os adultos são pequenas borboletas que põem os ovos nas plantas (tomate – Figura 6, pepino – Figura 7 e abóbora), originando, depois de três dias, pequenas lagartas que se introduzem nos frutos em formação.
. Traças: os adultos são pequenas borboletas que põem os ovos nas plantas originando lagartas medindo em torno de 7 mm. Perfuram os brotos terminais e formam galerias nas folhas (tomate), perfuram os frutos (tomate) e os tubérculos (batata).
. Pulgões (Figura 8): sugam a seiva, provocam o engruvinhamento das folhas e transmitem doenças viróticas. São pequenos insetos (2 a 4mm) marrons, cinzas, esverdeados ou pretos que vivem em colônias,especialmente nas brotações novas, nas folhas mais tenras e nos caules, sugando a seiva e deixando as folhas amareladas e enrugadas. Os períodos mais favoráveis ao surgimento dos pulgões, que se multiplicam com rapidez, são a primavera, o verão e o início do outono. Precisam ser controlados logo que notados, pois multiplicam-se com rapidez.
. Ácaros: sugam a seiva e provocam o encarquilhamento e descoloração das folhas. São invisíveis a olho nu e vivem em colônias no lado inferior das folhas novas. O ataque é notado pela presença de teias.
. Vaquinhas: na fase adulta (Figura 9) são pequenos besouros de cores variadas, alaranjados ou verdes com manchas amarelas que comem as folhas e causam maiores prejuízos no início do desenvolvimento das plantas. A fase de larva (Figura 9) causa também graves prejuízos tombando as plantinhas recém emergidas e furando raízes e tubérculos.
. Tripes: raspam as folhas, deixando pequenas manchas brancas. São insetos pequenos (3 mm de comprimento) que vivem em colônias nas folhas novas ou nos locais mais escondidos.
. Cochonilhas: são insetos minúsculos, geralmente marrons ou amarelos, que alojam-se principalmente na parte inferior das folhas e nas fendas. Além de sugar a seiva da planta, liberam uma substância pegajosa que facilita o ataque de fungos.
. Minadores (Figura 10): minam as folhas, hastes e frutos formando galerias. São pequenas larvas de diversas espécies de insetos. Os adultos são pequenas moscas (1 mm de comprimento).
. Moscas brancas: são insetos pequenos e, como diz o nome, de coloração branca. A presença é fácil de notar, pois diante de uma planta infestada se observa uma pequena revoada de minúsculos insetos brancos. Costumam localizar-se na parte inferior das folhas, onde liberam um líquido pegajoso que deixa a folhagem viscosa e favorece o ataque de fungos. Alimentam-se da seiva da planta. As larvas desse inseto, praticamente imperceptíveis, também alojam-se na parte inferior das folhas e, em pouco tempo, causam grande infestação.
. Lesmas e caracóis: danificam as folhas e as raízes de plantas tenras. Preferem terrenos úmidos e atacam, principalmente, à noite e em dias chuvosos.
. Formigas: as formigas cortadeiras são as que mais causam estragos. Elas cortam as folhas para levá-las ao formigueiro, onde servem de nutrição para os fungos, os verdadeiros alimentos das formigas.
. Grilos: cortam as plantinhas ainda pequenas à noite e se escondem em tocas profundas no solo, especialmente quando esse não é revolvido a cada cultivo (plantio direto).
Figura 5. Danos de lagartas em repolho
Figura 6. Broca pequena do tomateiro (Foto: Juarez José Vanni Muller)
Figura 7. Danos da broca das cucurbitáceas em pepino (Foto: Áurea Teresa Schmitt)
 Figura 8. Ataque intenso de pulgões em repolho
 Figura 9. Vaquinha (patriota): fase adulta e de larva (Foto:José Maria Milanez)
 Figura 10. Larva minadora atacando folhas de feijão-de-vagem (Foto:Honório Francisco Prando)
    Nem todos os insetos são pragas das hortaliças. Existem insetos que são benéficos às plantas, pois agem como inimigos naturais dos insetos-pragas. A joaninha, inimigo natural de pulgões e cochonilhas, é um dos exemplos mais conhecido de inseto benéfico para as plantas. Além das aves, as pequenas vespas são inimigas naturais das lagartas em geral.
    As plantas espontâneas ou indicadoras, chamadas de plantas "daninhas", no cultivo convencional, são consideradas plantas "amigas" no sistema de produção orgânico, depois do período crítico de competição (fase inicial de desenvolvimento dos cultivos), pois além de cobrirem o solo e reduzir a erosão indicam problemas no solo.
     As plantas espontâneas de maior dificuldade de manejo são aquelas que se propagam por rizomas, raízes, tubérculos e bulbos. Para essas, as capinas têm pouco efeito, uma vez que ao cortá-las, deixa-se no solo, justamente o meio de propagação e disseminação da planta espontânea (exemplo:a cebolinha da tiririca).
Tabela 1. Algumas espécies de vegetação espontânea consideradas como plantas
"indicadoras" ou plantas "amigas".


quinta-feira, 21 de julho de 2011

Recomendações gerais para cultivo de hortaliças orgânicas – Parte III



  Além das recomendações gerais para o sucesso no cultivo de hortaliças orgânicas já abordadas em matérias recentes postadas neste blog (Parte I e II), trataremos a seguir de outras também muito importantes tais como, irrigação e inúmeras outras práticas culturais.

. Irrigação ou rega
  O cultivo de hortaliças sem complementação de água de boa qualidade, através da irrigação, é praticamente, impossível. As hortaliças, por terem ciclo curto, sofrem mais que outras espécies com pequenos períodos de estiagem. Embora ocorram precipitações pluviais mensais consideradas suficientes para desenvolvimento das hortaliças, essas são irregulares, especialmente no Sul do Brasil. Além disso, a maioria das hortaliças são exigentes, pois apresentam em sua composição mais de 85% de água.
  A qualidade da água é muito importante, pois grande parte das hortaliças são consumidas cruas. Caso não seja água potável, recomenda-se fazer a análise da mesma, mesmo sendo oriunda de uma fonte natural, pois pode estar contaminada com alto teor de coliformes fecais.
  A frequência, o tipo de irrigação e a quantidade de água a aplicar dependem basicamente da espécie cultivada, do tipo de solo, do clima, das práticas culturais e do estádio de desenvolvimento das plantas.
O sistema de irrigação mais usado numa horta doméstica, comunitária ou escolar é através da aspersão. Havendo reservatório de água, pode-se utilizar mangueiras com jatos finos ou adaptadas a microaspersores.
   O ideal é utilizar sistema de irrigação que produz gotas pequenas, formando uma espécie de neblina, evitando-se assim que, as plantinhas recém emergidas ou transplantadas sofram danos, além de evitar a formação de uma crosta endurecida no solo. Outra forma muito prática e barata de irrigar é através do sistema "santeno" (Figura 1) que consiste numa mangueira de plástico, perfurada com raios laser e resistente à exposição ao sol. A mangueira deverá ser conectada à uma mangueira comum e essa a uma torneira, produzindo uma neblina fina, resultando em irrigação ideal. Com essa mangueira, encontrada em lojas especializadas, deve-se evitar a irrigação quando houver ventos.
Figura 1. Microaspersão com a mangueira "santeno II": ideal para pequenas hortas, especialmente para hortaliças-folhosas e plantas no início de desenvolvimento
   Em geral, logo após a semeadura e o transplante são necessárias irrigações diárias tomando-se o cuidado de utilizar regadores ou mangueira com esguichos finos para não enterrar demais as sementes ou as mudas. A terra deve ser molhada até à profundidade em que se encontra a maioria das raízes. A maior parte das raízes das hortaliças em pleno desenvolvimento alcança a profundidade de 15-20 cm.
    Para hortaliças-folhosas é aconselhável irrigar diariamente, caso não chova, durante todo o ciclo das plantas para se obter folhas tenras.
   Para hortaliças-frutos, à medida que as plantas forem crescendo, a irrigação pode ser espaçada de três em três dias até o final da colheita, caso não chova o suficiente; o mesmo intervalo de irrigação pode ser utilizado para as hortaliças-raízes, dispensando-a quando já estiverem em condições de serem colhidas.
   Sempre que possível, para as espécies pertencentes à família das solanáceas, que têm maiores problemas de doenças, deve-se evitar que a folhagem das plantas passem a noite molhada, preferindo-se a irrigação pela manhã, quando o sistema for por aspersão. A irrigação por sulcos (Figura 2) e por gotejamento são ideais para essas espécies.
Figura 2. Irrigação por sulcos: método adequado para o tomateiro
   Uma indicação prática, aproximada, da necessidade de irrigação pode ser obtida quando um punhado de terra apertado na palma da mão formar um conjunto coeso e úmido ("bolo"), o que significa que ela apresenta boas condições de umidade. É importante após a irrigação, esperar um pouco para que a água se infiltre, observando-se, depois, a profundidade atingida pela mesma.
. Desbaste ou raleamento
   Consiste na eliminação do excesso de plantas semeadas diretamente no canteiro, nas covas e nos recipientes. Na semeadura direta em canteiro, recomenda-se o desbaste quando as plantinhas estiverem com 5 a 8cm de altura, deixando-se as mais vigorosas, no espaçamento adequado. Para algumas espécies, como a beterraba, pode-se aproveitar as melhores mudas descartadas durante o desbaste para transplantar em outro canteiro.
. Capinas e escarificações
  As plantas espontâneas competem com as espécies cultivadas por luz, água e nutrientes, especialmente nos primeiros 30 dias. Por isso, é muito importante a retirada das mesmas ainda pequenas com a enxada, sacho ou, manualmente. Após o período crítico, as plantas espontâneas nas entrelinhas são consideradas "plantas amigas" pois ajudam a manter a umidade no solo e evitam a erosão do solo.
  Cobertura do canteiro com papel (Figura 3): para retardar a emergência das plantas espontâneas, logo após a semeadura das hortaliças, recomenda-se após o preparo do canteiro, a cobertura com folhas de papel jornal (sem impressão colorida) ou papel pardo e sobre esse 2 cm de composto orgânico peneirado. Posteriormente, procede-se abertura do sulco, a semeadura e a cobertura das sementes.
Figura 3. Uso de jornal no manejo de plantas espontâneas (à esquerda, cenoura cultivada com jornal ; à direita, sem jornal )
   Mesmo que não haja plantas espontâneas, recomenda-se o uso de enxada ou sacho nas linhas de cultivo para escarificar (revolvimento superficial do solo), com objetivo de evitar a formação de crosta na superfície, especialmente após chuvas torrenciais. A camada de solo superficial endurecida, além de impedir a penetração da água da chuva ou da irrigação, favorece a erosão do solo. A escarificação deve ser feita quando as plantas estiverem no início do desenvolvimento vegetativo e com o solo úmido para não danificar as raízes. Quando as plantas espontâneas das entrelinhas estiverem competindo por luz com as plantas cultivadas, recomenda-se roçar com foice ou roçadeira manual, ou simplesmente tombá-las.
  A cobertura morta, prática de colocar capim ou palha seca nas entrelinhas, reduz a freqüência de capinas, escarificações e irrigação.
. Adubação de cobertura
  Em solos com baixa teor de matéria orgânica (menos de 2%) é muito importante essa prática, especialmente nas hortaliças folhosas. No entanto, deve-se evitar o uso exagerado de adubos nitrogenados tais como estercos de animais não curtidos, pois podem salinizar o solo e prejudicar a qualidade das hortaliças. Quando aplicados em excesso, podem causar a metahemoglobinemia em crianças, moléstia resultante da ingestão de nitritos (produzidos a partir de nitratos) que reagem com a hemoglobina, reduzindo a sua capacidade de carregar oxigênio. Além disso, os nitritos participam de reações formadoras de compostos cancerígenos.
   Recomenda-se como fonte de macronutrientes e micronutrientes o composto orgânico (ver como preparar o composto orgânico em matéria antiga postada neste blog), esterco de animais curtido, biofertilizantes caseiros, chorumes de estercos e de composto orgânico e outros produtos facilmente elaborados na propriedade.
Esterco de animais curtido
   O esterco proveniente de gado sobre pastagem onde se aplicou herbicidas não pode ser utilizado na produção de hortaliças. O esterco de aves, especialmente quando utilizado em excesso, têm efeito negativo sobre as características físicas do solo (desagrega e compacta). Por ter muito ácido úrico, têm um efeito semelhante a uréia, reduzindo a resistência das plantas e até queimando as mesmas (caso não esteja curtido), além de acidificar o solo. Deve ser utilizado em pequenas quantidades por aplicação e bem incorporado ao solo(no máximo 0,5 kg/m2 ).
Biofertilizantes/chorumes
   Como o nome já diz, é um fertilizante vivo, cheio de microorganismos, responsáveis pela decomposição da matéria orgânica, pela produção de gás e pela liberação de antibióticos e hormônios. Pode-se fazer biofertilizantes somente com esterco e água (chorume) ou ainda com qualquer tipo de material verde fermentado na água. Pode-se enriquecê-lo com alguns minerais (fosfato natural), com calcário e/ou cinzas, leite, caldo de cana ou melado. Os biofertilizantes são líquidos e podem ser usados no solo, com auxílio de regadores, ou em tratamentos foliares, utilizando-se o pulverizador, com objetivo de complementar a nutrição das plantas.
   O biofertilizante, além de alimentar, protege a planta agindo como defensivo. Esta "defesa" pode ser ocasionada por diversos fatores: a) Se a planta é bem nutrida, tem mais resistência e mais condições de se defender de algum ataque de insetos, fungos, bactérias, etc. b) Como o biofertilizante é um produto vivo, os microorganismos podem reduzirem a atuação do que está atacando a planta e repelir e/ou destruir ou paralisar a ação desses elementos.
   A seguir serão descritos o modo de elaborar alguns dos biofertilizantes mais simples, bem como a dosagem de uso dos mesmos. São os mais fáceis de elaborar, de baixo custo, que fornecem nitrogênio. São utilizados especialmente para fertilizar mudas em bandejas ou plantas recém transplantadas ou plântulas em estádios iniciais de crescimento, cujas raízes ainda não possuem bom desenvolvimento.
Chorume de composto orgânico
   Modo de preparar: deve-se deixá-lo secar à sombra e peneirá-lo. Deve ser colocado em saco permeável amarrando a boca do mesmo, para evitar entupimento do regador ou do pulverizador. O composto orgânico (33 l) deve ser colocado em um tonel de 200 l completando com 67 l de água. Sacudir bem o saco e deixar descansar por 10 minutos. Pode ser utilizado puro sobre as plantas ou no solo com regador ou pulverizador (Fonte: Souza, 2003).
Chorume de esterco fresco de animais
Modo de preparar: deve-se colocar no tonel de 200 l, um saco de esterco de aves ou de gado na proporção de 1:2 e 1:1, respectivamente, amarrando-se a boca e completando com água, deixando de molho por quatro a sete dias. É um adubo líquido fermentado. Para aplicação, deve-se diluí-lo em água utilizando-se um (esterco de aves) ou dois litros (esterco de gado) de chorume por regador, completando-se com água para regar o solo.
 Biofertilizante 1
   Modo de preparar: 1/3 de esterco fresco de gado para 2/3 de água, 5 kg de cinzas e 5 kg de fosfato natural para 200 l. Para melhorar a fermentação pode ser adicionado garapa, leite, melaço ou açúcar mascavo na quantidade de 1 a 5 kg ou litros. Deixar curtir uma semana e diluir na proporção de 1 litro de chorume para 10 l de água na hora de aplicar, o que deve ser feito na terra e não nas folhas, com mangueira ou regador, uma vez por mês e de preferência no final da tarde.
Biofertilizante 2 (uréia natural)
   Modo de preparar: colocar 40 kg de esterco de bovino fresco, 3 a 4 litros de leite fresco ou colostro,10 a 15 litros de caldo de cana ou 4 a 5 litros de melado, 200 litros de água e 4 kg de fosfato natural numa caixa de água, misturando-os bem. Deixar fermentar durante 15 dias, mexendo uma vez ao dia. Depois de pronto, diluir 1 litro do biofertilizante em 3 litros de água para regar a planta e o solo.
Obs.: essa receita após misturada em água, proporciona 800 litros de adubo líquido.
Água de cinza e cal (fertiprotetor de plantas): é um produto ecológico obtido pela mistura de água, cinza e cal (para preparar, ver matéria postada neste blog em 22/12/2010). Essa mistura contém expressivos teores de macro (Ca, Mg e K) e micronutrientes, atuando como adubo foliar em cobertura e estimulando a resistência das plantas às doenças fúngicas e bacterianas. (Fonte: Claro, 2001).
Manipueira: é um líquido de aspecto leitoso e de cor amarelo-claro que escorre de raízes carnosas da mandioca, por ocasião da prensagem das mesmas, para obtenção da fécula ou da farinha. É, portanto, um subproduto da mandioca que fisicamente se apresenta na forma de suspensão aquosa e, quimicamente, como uma miscelânea de compostos que podem servir como adubo antes da semeadura/plantio e em pulverizações foliares. Além de ser utilizada como inseticida, acaricida, nematicida, fungicida e bactericida, a manipueira contém todos os macro e micronutrientes, com exceção do molibdênio, necessários à nutrição das plantas.
   Na fertilização do solo, utilizar manipueira (1:1), aplicando na linha de cultivo, com auxílio de regador, 2 a 4 litros da diluição por metro de sulco. A aplicação deve ser antes da semeadura/plantio, devendo o solo ficar em repouso por oito ou mais dias e, posteriormente revolver levemente o solo que compõe e margeia a linha de cultivo, antes de proceder a semeadura/plantio. Na fertilização foliar, as diluições mais apropriadas são 1:6 e 1:8.
.Tutoramento ou estaqueamento é feito com bambu para algumas hortaliças como ervilha torta, tomate, feijão-de-vagem, pepino, maxixe, pimentão e chuchu, para evitar o crescimento em contato com a terra, facilitar a aeração e a insolação e evitar a quebra de ramos. No tutoramento tradicional do tomateiro é muito utilizado o sistema cruzado ou em "V" invertido que tem como desvantagem a formação de um túnel úmido que favorece a ocorrência de doenças foliares e de pragas e dificulta os tratamentos fitossanitários. Em função disso, o tutoramento vertical em que as plantas são conduzidas perpendicularmente ao solo, é o mais recomendado para o tomateiro (Figura 4), pois além de melhorar a distribuição solar e a aeração, aumenta a eficiência dos tratamentos fitossanitários através da pulverização dos dois lados das plantas.
Figura 4. Tutoramento vertical: sistema de condução de plantas mais indicado para o tomateiro
Figura 5. Tutoramento em ziguezague: sistema alternativo para o tomateiro que melhora a ventilação das plantas, facilita os tratos culturais e reduz a ocorrência de doenças
 Figura 6. Tutoramento na cultura do chuchu (sistema latada)
. Amarrio consiste em amarrar as plantas nas estacas, sem estrangular, para seu melhor apoio, prática indispensável para a cultura do tomate.
. Desbrota é a eliminação dos brotos que saem das axilas das folhas ou da haste de algumas espécies como o tomate.
Figura 7. Desbrota em tomateiro
. Amontoa (Figura 8) consiste em chegar terra junto às plantas, para melhorar sua fixação ao solo e, no caso da batata, serve ainda para evitar que os tubérculos se desenvolvam fora da terra, favorecendo o seu esverdeamento (Figura 9). Uma boa amontoa (cerca de 20cm de altura) reduz os danos de insetos que perfuram e depreciam os tubérculos.
Figura 8. Amontoa na cultura da batatinha
Figura 9. Batatas esverdeadas: resultado da amontoa inadequada
 

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Recomendações gerais para cultivo de hortaliças orgânicas – Parte II



   O cultivo de hortaliças no sistema de produção orgânico não é apenas trocar os insumos utilizados na agricultura dita "moderna" (adubos químicos e agrotóxicos) por outros permitidos na produção de alimentos orgânicos. Além das recomendações gerais para a produção orgânica de hortaliças, já postada neste blog (parte I), existem inúmeras outras práticas muito importantes. pois tratam o solo como um "organismo vivo". Um solo sadio produz plantas, animais e homens sadios; tudo está ligado entre si como os órgãos de um corpo, por isso o solo, já na antiguidade, era visto como um "organismo vivo". O solo faz parte do meio ambiente e está ligado a todos os seus outros componentes, como a água, as plantas, os animais e o homem. Tudo que acontece com o solo tem algum reflexo positivo ou negativo, no ambiente do qual ele faz parte. Dentre as práticas que favorecem a vida do solo e as plantas cultivadas, destacam-se a adubação orgânica e verde, plantio direto, cultivo mínimo, cobertura morta, rotação e consorciação de culturas, entre outras. Estas recomendações são essenciais para o sucesso do cultivo orgânico, pois conduzem à estabilidade do meio ambiente, ao uso equilibrado do solo, ao fornecimento ordenado de nutrientes e à manutenção de uma fertilidade real e duradoura no tempo.
. Adubação de semeadura/plantio
   O solo é o fator mais importante a ser considerado na produção orgânica de alimentos. O solo deve ser tratado como um organismo vivo que interage com a vegetação em todas as fases de seu ciclo de vida. Os aspectos físico, químico e biológico do solo são fundamentais para o sucesso na produção orgânica de hortaliças.
  O aspecto físico do solo refere-se à sua textura e a sua estrutura. A textura de um solo se relaciona ao tamanho das partículas que o formam; um solo possui diferentes quantidades de areia, argila, matéria orgânica, água, ar e minerais. A forma como esses componentes se organizam representa a estrutura do solo. Um solo bem estruturado deve ser fofo e poroso, permitindo a penetração da água e do ar, assim como de pequenos animais e raízes.
  O aspecto químico se relaciona com os nutrientes que vão ser utilizados pelas plantas. Esses nutrientes, dissolvidos na água do solo (solução), penetram pelas raízes das plantas. No sistema orgânico de produção, os nutrientes podem ser supridos através da adição de matéria orgânica e de compostos vegetais.
  O aspecto biológico trata dos organismos vivos existentes no solo e que atuam nos seus aspectos físicos e químicos. A vida no solo só é possível onde há disponibilidade de ar, água e de nutrientes. Um solo com presença de organismos vivos indica boas condições de estrutura.     
  Os microorganismos do solo são os principais agentes de transformação química dos nutrientes, tornando-os disponíveis para absorção pelas raízes das plantas.
A planta necessita, além de carbono, hidrogênio e oxigênio, de constituintes essenciais retirados do ar e da água, dos seguintes elementos:
. Macroelementos - nitrogênio (N), fósforo (P), potássio (K), cálcio (Ca), magnésio (Mg) e enxofre (S), exigidos em maior quantidade.
   O nitrogênio auxilia na formação da folhagem e favorece o rápido crescimento da planta. O fósforo estimula o crescimento e formação das raízes. O potássio aumenta a resistência da planta e melhora a qualidade dos frutos.
. Microelementos - manganês (Mn), zinco (Zn), cobre (Cu), ferro (Fe), molibdênio (Mo), boro (B) e cloro (Cl), exigidos em quantidades reduzidas, mas também muito importantes para as plantas.
   As quantidades de macroelementos encontradas disponíveis para as plantas no solo, quase sempre, são insuficientes. Daí a necessidade de complementá-los através de adubos orgânicos. A vida do solo depende essencialmente da matéria orgânica que mantém a sua estrutura porosa, proporcionando a vida vegetal graças à entrada de ar e água. A matéria orgânica é um dos componentes do solo e atua como agente de estruturação, possibilitando a existência de vida microbiana e fauna, além de adicionar nutrientes à solução do solo. O adubo orgânico é constituído de resíduos de origem animal e vegetal: folhas secas, restos vegetais, esterco animal e tudo mais que se decompõe, transformando-se em húmus. O húmus é o resultado da ação de diversos microorganismos sobre os restos animais e vegetais.
O uso da matéria orgânica interfere significativamente na resistência das plantas, uma vez que:
  • aumenta a capacidade do solo em armazenar água, diminuindo os efeitos das secas. Um solo com bom teor de matéria orgânica funciona como se fosse uma esponja, sendo que 1 g de matéria orgânica retém 4 a 6 gramas de água no solo. Devido à capacidade de armazenar água, a matéria orgânica é má condutora de calor, diminuindo as oscilações de temperatura do solo durante o dia;
  • aumenta a população de minhocas, besouros, fungos e bactérias benéficas, além de vários outros organismos úteis, que estão livres no solo;
  • aumenta a população de organismos úteis que vivem associados às raízes das plantas, como as bactérias fixadoras de nitrogênio e as micorrizas, que são fungos capazes de aumentar a absorção de nutrientes do solo;
  • aumenta a capacidade das raízes absorverem minerais do solo;
  • possui macro e micronutrientes em quantidades bem equilibradas, que as plantas absorvem conforme sua necessidade, em quantidade e qualidade;
  • é fundamental na estruturação do solo, por causa da formação de grumos. Isso aumenta a penetração das raízes e a oxigenação do solo;
  • possui substâncias de crescimento (fitohormônios), que aumentam a respiração e a fotossíntese das plantas.
   A adubação orgânica melhora também a qualidade dos alimentos, tornando-os mais ricos em vitaminas, aminoácidos, sais minerais, matéria seca e açúcares, além de serem mais aromáticos, saborosos e de melhor conservação.
Entre as espécies cultivadas, as hortaliças são as que mais respondem à aplicação de adubos orgânicos. O adubo orgânico de origem animal mais conhecido é o esterco que é formado por excrementos sólidos e líquidos de animais e pode estar misturado com restos vegetais. O esterco curtido de aves ou a cama de aviário e de gado são os mais comumente utilizados. Tanto o excesso como a falta de nutrientes são prejudiciais às plantas, pois um nutriente pode interferir na absorção dos demais.
   É importante lembrar que plantas bem nutridas são mais resistentes às doenças e às pragas. O ideal na adubação de hortaliças é o uso de composto orgânico, considerado o processo mais eficiente para produção de adubo orgânico de qualidade. A compostagem é o resultado da transformação, através da fermentação, do resíduo orgânico (restos vegetais) em adubo natural. É um dos princípios básicos da produção orgânica de alimentos. O composto é rico em húmus estabilizado e em microorganismos ativos que estimulam a saúde natural das plantas.
   Todos os passos para fazer, bem como os cuidados que se deve ter no preparo do composto orgânico, estão descritos em matéria já postada neste blog.
   O adubo orgânico, quando oriundo de esterco de animais não curtido, deve ser bem incorporado ao solo, 15 dias antes da semeadura/plantio. O uso de esterco ainda em fase de fermentação por ocasião da semeadura/plantio, pode causar danos às raízes e às sementes, tais como queima, destruição dos microorganismos do solo, formação de produtos tóxicos e morte da planta pelo calor. O conhecimento da origem do esterco, especialmente o de gado, é importante, pois o uso de alguns herbicidas nas pastagens pode afetar as plantas cultivadas.
Na falta de análise do solo, indica-se para solos de média fertilidade, anualmente, a seguinte adubação:
. adubação orgânica, proveniente de compostagem - 3 a 4 kg/m2
. esterco de gado (4 a 5 kg/m2 ) ou de aves (1 a 2 kg/m2 ) curtidos    .
No caso de maior necessidade de potássio, cálcio e magnésio, recomenda-se cinzas de madeira não tratada com produtos químicos. Como fonte de fósforo, recomenda-se o fosfato natural, o fosfato de araxá, os termofosfatos e a farinha de ossos, aplicados com antecedência e de acordo com a análise de solo.
.Sistemas de semeadura/plantio
   Conforme a espécie de hortaliça, pode-se ter diferentes sistemas de semeadura/plantio.
.Semeadura direta: consiste na semeadura uniforme das sementes em sulcos, no canteiro, na profundidade de 1 a 2cm, utilizando-se marcadores ou sacho, cobrindo-as com a própria terra; pode ser feita também em covas ou em sulcos, sem preparo de canteiros. A quantidade de sementes por metro quadrado varia com o tamanho do canteiro; quanto menor, menos sementes serão gastas. Como regra geral, as sementes devem ficar enterradas numa profundidade de cinco vezes o seu tamanho.
.Plantio direto: consiste no plantio de tubérculos, raízes, rizomas, bulbilhos, ramas, filhotes e estolhos em sulcos, em covas, ou em camalhões, na profundidade de 5 a 10 cm, utilizando-se enxada ou sacho, no espaçamento indicado para cada espécie; pode ser feito também em sulcos, ou em covas, diretamente no canteiro.
Figura 1. Terreno preparado para o plantio de ramas de batata-doce no alto da leira
.Transplante de mudas: consiste na mudança das plantas que cresceram na sementeira ou em recipientes, para o local definitivo em sulcos ou em covas, enterrando-as até à profundidade em que estavam na sementeira ou em recipiente, no espaçamento indicado para a espécie. Deve ser feito, preferencialmente, em dias nublados ou à tardinha para garantir melhor pegamento, principalmente no verão.
   No caso de sementeiras em canteiros ou em caixas, uma irrigação abundante antes do transplante facilita a retirada das mudas. Quando as mudas são produzidas em copinhos ou em bandejas o pegamento é maior, pois a maioria das raízes estão intactas no torrão formado nesses recipientes. Para retirá-las da bandeja basta umedecer um pouco e bater de leve no fundo.
Figura 2. Transplante de mudas de couve-brócolis
. Plantio direto e cultivo mínimo
   O sistema de plantio direto e cultivo mínimo são práticas importantíssimas no cultivo orgânico de hortaliças, tendo em vista que a maioria dos nossos solos estão sujeitos a processos de erosão causado por chuvas intensas, aliado a baixos teores de matéria orgânica. Outra vantagem dessas práticas é o fato do solo estar sempre preparado para semeadura/plantio, mesmo em períodos chuvosos que não permite o revolvimento do mesmo devido a umidade excessiva. Para o plantio direto ou cultivo mínimo, bastar fazer uma roçada utilizando uma foice ou roçadeira manual para áreas maiores e abrir as covas ou sulcos.
  O plantio direto é um método que não revolve o solo. A camada de cobertura vegetal é mantida e se faz apenas a abertura de um pequeno sulco ou cova onde é colocada a semente ou a muda.
  O cultivo mínimo é a mínima manipulação do solo necessária para a semeadura ou plantio de mudas. Deixa-se uma considerável quantidade de cobertura na superfície (resíduos culturais), o que desfavorece a erosão do solo.
 Efeitos da adoção dos sistemas plantio direto e cultivo mínimo nas propriedades do solo visando a produção de hortaliças orgânicas.

Figura 3. Cultivo mínimo (abertura de sulco) sobre aveia-preta semeada no outono
Figura 4. Cultivo mínimo do tomateiro sobre cobertura de aveia+ervilhaca+nabo forrageiro
Figura 5. Cultivo mínimo de aipim sobre cobertura de aveia e ervilhaca
 . Práticas culturais
   Para que as hortaliças tenham bom desenvolvimento, é necessário realizar diversos tratos culturais na época adequada.
 . Espécies de plantas de cobertura do solo e adubação verde
   As plantas de cobertura exercem importante papel na conservação do solo, no suprimento de nutrientes como nitrogênio, fósforo e potássio, no equilíbrio das propriedades do solo e, principalmente, no manejo de plantas espontâneas. As plantas de cobertura são a garantia de continuidade da vida. Para existir vida no solo, princípio básico para produção de alimentos, o terreno deverá ser suprido continuamente de alimento (matéria orgânica e outros nutrientes, além do ar e da água) para que os bilhões de seres vivos que ali se encontram possam interagir química e fisicamente para melhorar a estrutura do solo, disponibilizando nutrientes essenciais para as culturas.
  A adubação verde é uma das formas mais importantes de adubação orgânica do solo. Consiste no cultivo de algumas espécies de plantas que, ao serem incorporadas ou derrubadas no solo, fornecem matéria orgânica, servindo ainda como cobertura do solo, evitando a erosão. Além disso, podem fornecer nitrogênio, funcionam como subsoladores naturais do solo, pois suas raízes atingem diferentes profundidades trazendo nutrientes do fundo até à superfície, facilitando assim a nutrição das plantas. Funcionam como verdadeiros descompactadores do solo permitindo a entrada de ar e de água de maneira adequada no solo.
   Atualmente, une-se o uso de plantas de adubação verde e de plantas de cobertura de solo com objetivo de promover benefícios significativos para a agricultura orgânica, aliado ao uso de sistemas de rotação, sucessão e consorciação de culturas, plantio direto, cultivo mínimo, uso de adubação orgânica e outros princípios. As plantas da família botânica das leguminosas, encontradas em grandes diversidades de clima e solo, são consideradas ótimas para adubação verde por serem ricas em nitrogênio e possuírem raízes ramificadas e profundas. A mucuna cultivada isoladamente ou em consorciação com milho-verde é um exemplo de espécie de adubação verde e de cobertura do solo. O coquetel de adubos verdes (aveia -60 kg/ha; ervilhaca -18 kg/ha e nabo forrageiro – 4 kg/ha) é também uma ótima opção para melhorar a cobertura do solo, promover o efeito benéfico no manejo de plantas espontâneas e aprimorar a eficiência na ciclagem de nutrientes (fornecendo nitrogênio e reciclando nutrientes) e na descompactação do solo.
Figura 6. Desenvolvimento inicial de brássicas sobre cobertura de aveia + ervilhaca+ nabo forrageiro
 Figura 7. Desenvolvimento vegetativo do milho-verde orgânico sobre cobertura de aveia + ervilhaca+ nabo forrageiro

Os principais benefícios da adubação verde são:
. Físicos – redução do impacto das gotas de chuva, melhor estrutura do solo, maior retenção de água e menor variação da temperatura no solo;
. Químicos - aumento do teor de húmus no solo, enriquecimento de nutrientes (poupança verde) e maior disponibilidade e movimentação de nutrientes. Devido ao sistema radicular profundo de algumas plantas utilizadas como adubo verde, é feito uma reciclagem dos nutrientes já lixiviados e perdidos nas camadas profundas;
. Biológicos - aumento na atividade de microorganismos, no manejo de ervas espontâneas e no uso da alelopatia e, favorecimento às atividades da fauna do solo (minhocas).
. Cobertura morta
   Essa prática consiste na colocação de capim ou palha seca (5 a 10cm) e outros materiais como bagaço de cana nas entrelinhas das hortaliças cultivadas em espaçamentos maiores. A cobertura morta mantém a superfície do solo sem a formação de crosta (superfície endurecida), evita a evaporação da água da chuva ou da irrigação, reduz a erosão em solos inclinados, diminui a temperatura do solo no verão e, principalmente, economiza capinas devido à menor incidência de plantas espontâneas. Trabalhos de pesquisa evidenciam que, dependendo da cobertura morta, é possível reduzir a temperatura do solo em até 10ºC, quando comparado ao solo descoberto. Resíduos vegetais em decomposição não devem ser aplicados, pois a sua fermentação é prejudicial às plantas.
Figura 8. Cobertura morta com casca de arroz no cultivo orgânico de morango na Epagri/Estação Experimental de Urussanga, SC,
 Figura 9. Cultivo orgânico de repolho em cobertura de palha de milho na Estação Experimental de Urussanga
Figura 10. Cultivo orgânico de couve-flor sobre cobertura de palha de arroz na Estação Experimental de Urussanga














 

terça-feira, 5 de julho de 2011

Recomendações gerais para cultivo de hortaliças orgânicas – Parte I


   Para produção de hortaliças de boa qualidade, saudáveis, de forma diversificada, sem agrotóxicos e adubos químicos e, especialmente, sem colocar em risco a saúde do homem, do meio ambiente e das futuras gerações, deve-se seguir algumas recomendações. As recomendações específicas para o cultivo orgânico de batata, cebola, tomate, cenoura, alface, beterraba, repolho, couve-flor, couve, brócolis, batata-doce e planta medicinais estão em postagens mais antigas neste blog. Por isso, a seguir abordaremos as indicações gerais para o cultivo das diversas espécies de hortaliças.
. Correção e preparo do solo
   A acidez do solo influi na fertilidade, tornando os nutrientes essenciais indisponíveis às plantas. Para correção aplica-se calcário, de acordo com a análise do solo; em geral, para terrenos ácidos utiliza-se cerca de 0,5 a 1 kg de calcário por m², com antecedência mínima de três meses da semeadura/plantio. Caso seja utilizado o composto orgânico, a acidez do solo é corrigida naturalmente, sem necessidade de calagem.
    A adubação orgânica melhora a fertilidade do solo e as propriedades físicas dos solos muito argilosos (barrentos) ou arenosos. Para terrenos de baixa ferrtilidade, com baixa percentagem de matéria orgânica (menos de 2%), determinada pela análise do solo, recomenda-se a aplicação, preferencialmente, de composto orgânico (3 a 4kg/m2) ou esterco curtido de aves ou de gado, na quantidade máxima de 2 e 5 kg/m² por ano, respectivamente.
    O resíduo orgânico e/ou restos de culturas, também pode se tornar um adubo de ótima qualidade através da compostagem (ver matéria mais antiga postada neste blog).
Para pequenas hortas recomenda-se após aplicação do calcário, quando necessário, e do adubo orgânico, fazer o revolvimento do solo com enxadão ou pá, na profundidade mínima de 20 cm, com posterior destorroamento com enxada.
Figura 1. Revolvimento do solo com pá
. Preparo do canteiro
  Para algumas espécies cultivadas em espaçamentos maiores, basta revolver e destorroar o solo. Em seguida, deve-se abrir as covas, sulcos ou ainda fazer camalhões ou leiras, adubar e plantar, conforme o sistema de cada cultura.
Algumas hortaliças necessitam de preparo especial do terreno para confecção de canteiros que podem servir como sementeira para posterior transplante de mudas e para semeadura direta/plantio.
    Após o revolvimento do solo, os canteiros são levantados e destorroados com enxada. Deve-se evitar preparar o canteiro quando o solo estiver muito seco ou muito úmido.
Para preparo adequado do canteiro recomenda-se:
. Fazer dois sulcos paralelos de 15 a 20cm de profundidade, com 30 a 40 cm de largura, e distanciados de 1 a 1,2m, utilizando-se cordões ou bambu para alinhamento;
. Com auxílio de ancinho (rastelo) faz-se o nivelamento da terra e retira-se os torrões menores, raízes, pedras e outros materiais;
. Com a pá curva faz-se o acabamento, limpando-se a passagem entre os canteiros.
   Os canteiros depois de prontos ficarão com cerca de 1m de largura, 15 a 20cm de altura e separados por 30 a 40 cm entre si, para facilitar a passagem das pessoas que cuidarão da horta. Entre cada série de canteiros deve-se deixar um caminho (1m) para passagem do carrinho de mão, usado para transporte de adubos, estercos e produtos colhidos.

Em terrenos inclinados, os canteiros devem ficar atravessados em relação à declividade para evitar que as águas das chuvas os destruam.
Figura 2. Preparo de canteiro
Figura 3. Canteiro preparado para semeadura
   Sempre que possível recomenda-se canteiros fixos, feitos especialmente com tijolos ou pedras (maior durabilidade), madeira (Figura 4), bambú e com outros materiais, pois evita a erosão e facilita o preparo do mesmo para novos plantios.
Figura 4. Horta orgânica do CAPS – Centro de Atenção Psicossocial, em Urussanga, com canteiros construídos com madeira

. Época de semeadura/plantio
    De um modo geral, as hortaliças encontram as melhores condições de desenvolvimento e produção quando o clima é ameno (18 a 22ºC), com chuvas leves e frequentes.
     As temperaturas elevadas (mais de 30ºC), de um modo geral, encurtam o ciclo das plantas e aceleram a maturação; as baixas temperaturas (menos de 10ºC) retardam o crescimento, a frutificação, a maturação e favorecem o florescimento indesejável.
    O fotoperíodo (número de horas com luz natural por dia) e a temperatura influem na formação e no desenvolvimento de bulbos (cebola e alho) e de tubérculos (batata).
Obs.: na matéria sobre planejamento de uma horta orgânica (parte I) foi postada uma tabela com informações de épocas de semeadura ou plantio para as principais hortaliças. O livro "Cultive uma horta e um pomar orgânicos...", disponível para venda na Epagri/Estação Experimental de Urussanga, também possui estas e muitas outras informações importantes.
. Produção de mudas
   O transplante de mudas sadias e vigorosas garante a produção de hortaliças de boa qualidade. Algumas lojas agropecuárias dispõem de mudas de hortaliças, em bandejas de isopor. As diversas formas de produção de mudas são descritas a seguir.
Sementeira
É o local onde são semeadas as sementes de algumas hortaliças para obter-se as mudas a serem transplantadas.
Figura 5. Sementeira de cebola
Os cuidados mais importantes para produção de mudas em sementeira são:
. Preparo cuidadoso do canteiro, incorporando com antecedência, esterco bem curtido e peneirado de aves e de gado, na quantidade de 2 ou 5 kg/m², respectivamente;
. Fazer sulcos com 1 a 2cm de profundidade, distanciados de 10 cm, utilizando o sacho ou marcador de sulcos;
. Semear o mais uniforme possível, cobrindo as sementes com terra. De maneira geral, deve-se enterrar a semente numa profundidade aproximadamente igual a cinco vezes o seu tamanho;
. Cobrir a sementeira com saco de aniagem, capim seco ou tela de sombrite para evitar a formação de crosta superficial do solo devido à irrigação ou à ocorrência de chuvas torrenciais, retirando a proteção quando as sementes iniciarem a emergência;
. Outra opção é a cobertura da sementeira com cerca de 1cm de espessura de casca de arroz ou serragem, após a semeadura. Neste caso, não há necessidade de se retirar a cobertura após a emergência;
. Em períodos sem chuvas, no verão, regar duas vezes ao dia (manhã e à tardinha) até à emergência, com regador de crivo fino para não enterrar demais as sementes;
. A utilização de cobertura de plástico no inverno, associado ao sombrite no verão são indicados;
. Eliminar as plantas espontâneas à medida que forem aparecendo;
. Desbaste do excesso de plantas, deixando as mais vigorosas.
Figura 6. Tipos de cobertura da sementeira: sombrite, casca de arroz e serragem  (Foto:Valmir José Vizzotto)
                             Figura 7. Produção de mudas no verão com o uso de plástico e sombrite
Caixas, copinhos, bandejas de isopor e outros recipientes
     Na produção de mudas para a horta pode ser utilizado diversos recipientes. A vantagem do uso de recipientes sobre a sementeira em canteiro é a facilidade de movimentação dos mesmos para locais protegidos, evitando-se o sol quente, chuvas torrenciais e o frio intenso.
A sementeira pode ser feita em caixas com 50 x 50cm de lado e 20 a 25cm de profundidade, fazendo-se alguns furos no fundo para escoamento do excesso de água.
Figura 8. Sementeira de alface em caixa
    A semeadura também pode ser feita, preferencialmente em copinhos de jornal (sem impressão colorida) ou de papel pardo, pois se degradam rapidamente e não oferecem riscos ao meio ambiente.
Confecção: corta-se uma folha de jornal em cinco tiras, no sentido horizontal da página, com cerca de 11,5 cm de largura cada uma; no caso de utilizar-se o papel pardo deve-se cortá-lo em tiras de 11,5 cm de largura por 38 cm de comprimento. Enrola-se as tiras em torno de um cano de PVC (50mm) com 7cm de comprimento. A extremidade do cilindro de papel é dobrada para dentro, de modo a formar o fundo do copinho. Finalmente, bate-se o fundo do cano de modo a comprimir as dobras do fundo do molde. Posteriormente, enche-se o cano com substrato e retira-se o mesmo para confecção de outros copinhos. Uma vez prontos, os copinhos apresentam as medidas de 7cm x 6cm e capacidade de aproximadamente 200cm3.
Figura 9. Material necessário para confecção dos copinhos de papel
 Figura 10. Confecção de copinho de jornal- início
 Figura 11. Confecção de copinho de jornal - final
Os copinhos plásticos, utilizados para refrigerantes e reutilizados na produção de mudas, fazendo-se alguns furos no fundo, é outra opção. No entanto, é importante ressaltar que o plástico leva muitos anos para se degradar, sendo por isso utilizado somente quando não houver outra alternativa.
Figura 12. Copinhos plásticos para refrigerantes reutilizados
   O sistema mais utilizado atualmente é o de bandeja de isopor, que manuseada com cuidado pode ser reutilizada várias vezes.
A vantagem da bandeja de isopor e dos copinhos sobre a sementeira em canteiro e em caixa, é que a muda não sofre nenhum dano ao ser transplantada.
  O substrato para encher os recipientes pode ser adquirido em lojas agropecuárias ou preparado em casa.
Preparo do substrato caseiro:
-3 partes de terra peneirada livre de plantas espontâneas;
-1 partes de cama de aviário curtida e peneirada;
-1 parte de areia fina de rio ou 2 partes de casca de arroz carbonizada.
Obs.: misturar bem as diferentes partes.
Figura 13. Enchimento da bandeja de isopor com substrato caseiro
Figura 14. Produção de mudas de hortaliças em bandejas de isopor

 
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