terça-feira, 30 de novembro de 2010

         A sociedade brasileira e catarinense não admite mais a intensa contaminação do meio ambiente e da saúde do consumidor e agricultor pelo uso desenfreado de agrotóxicos. No mundo inteiro as pessoas estão cada vez mais preocupadas com a saúde e com o consumo de alimentos mais saudáveis. A sociedade, na busca de uma alimentação mais sadia e natural, mudou o conceito de qualidade e passou a exigir produtos cada vez mais “limpos”, isto é, livres de produtos químicos, principalmente resíduos de agrotóxicos. Por não utilizarem agrotóxicos e adubos químicos solúveis e, por serem produzidos com técnicas ambientalmente corretas, os alimentos orgânicos são os ideais para toda a família. Além disso, em comparação com os produtos obtidos no sistema de cultivo convencional, ou seja, que utilizam agroquímicos, os produtos orgânicos possuem maior teor de vitaminas e sais minerais, bem como maiores teores de proteínas, aminoácidos, carboidratos e matéria seca e, ainda melhor sabor e conservação. Além do maior custo, devido à dependência externa, os agroquímicos, especialmente quando aplicados incorretamente, contaminam o lençol freático e córregos, colocando em risco a saúde do agricultor, do consumidor e do meio ambiente.
O Centro de Informações Toxicológicas - CIT, situado no Hospital Universitário da UFSC, possui levantamentos bastante preocupantes. De 1990 até 2007, o CIT detectou 9.300  intoxicações de agricultores em Santa Catarina e 233 mortes (fonte: www.anvisa.gov.br).  Segundo os técnicos do CIT, isto representa apenas uma pequena parte (aquilo que se conseguiu registrar) da realidade. Os números são, na verdade, bem maiores. Estima-se que para cada caso registrado existam mais 10 que não são registrados devido a dificuldade no diagnóstico correto.  No Brasil, somente no ano de 2007, foram registrados 19.235 casos de intoxicações por agrotóxicos. No Brasil, maior consumidor de agrotóxicos do mundo, foram vendidas 725,6 mil toneladas dessas substâncias, somente em 2009, movimentando 6,62 bilhões de dólares, segundo dados da própria indústria de agrotóxicos.
         Pesquisa da Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA – em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz – FIOCRUZ –  realizada com frutas e hortaliças nos maiores centros consumidores do Brasil desde 2001, comprova que várias espécies cultivadas estão seriamente contaminadas por resíduos de agrotóxicos e, o que é pior, por produtos não autorizados para as culturas. Relatório recente da Anvisa, em 26 estados, pesquisando 20 espécies (frutas e hortaliças) em 2009,  revela que 907 (29%) amostras de um total de 3.130 amostras coletadas, incluindo todas as espécies pesquisadas, estavam contaminadas, alcançando no pimentão, uva, pepino, morango, couve, abacaxi, mamão, alface, tomate e beterraba até 80; 56,4; 54,8; 50,8; 44,2; 44,1; 38,8; 38,4; 32,6 e 32% de amostras contaminadas, respectivamente. Os agrotóxicos encontrados nestes cultivos, são ingredientes ativos com alto grau de toxicidade aguda comprovada, e que causam problemas neurológicos, reprodutivos, de desregulação hormonal e até câncer.
         Pesquisas realizadas na Epagri/Estação Experimental de Urussanga, comparando sistemas de produção, comprovaram que é possível produzir hortaliças  orgânicas, ou seja, sem o uso de adubos químicos e agrotóxicos e que alguns mitos criados sobre a agricultura orgânica são falsos: é cara, produz menos e com pior qualidade quando comparados aos obtidos no sistema convencional. Os resultados obtidos evidenciaram que o cultivo orgânico de hortaliças é mais barato (reduz o custo com insumos em até 50%), produz tanto  quanto no sistema convencional e,  para algumas espécies a produtividade é superior e de melhor qualidade, a fertilidade do solo é maior e mais duradoura , além de tornar o produtor menos dependente de insumos (a maioria são importados e caros) pois pode prepará-los na própria propriedade e, o mais importante, sem riscos ao produtor, consumidor e meio ambiente.
          A agricultura orgânica é o termo que se emprega para designar o sistema de produção ecológico e sustentável, baseado na preservação e respeito à terra, ao ambiente e ao homem.  O cultivo orgânico é uma forma natural de produzir alimentos sem o uso de agrotóxicos, adubos químicos  e outros produtos químicos prejudiciais á saúde humana e ao meio ambiente.  A utilização deste sistema significa fazer as pazes com a natureza (Figura 1), protegendo os recursos naturais e produzindo de forma  mais barato, comida mais gostosa e nutritiva e, o mais importante, protegendo as futuras gerações, restaurando a biodiversidade e preservando a diversidade biológica, que é a base de uma sociedade equilibrada.
         Na agricultura orgânica o solo é tratado como um organismo vivo, os insetos-pragas e doenças são manejados, somente quando necessário, com produtos naturais e os inços errôneamente chamados de plantas “daninhas”, são considerados “amigos” das plantas cultivadas e denominados corretamente de plantas espontâneas ou indicadoras de algum problema no solo. Outras práticas tais como  plantio direto, cultivo mínimo, adubação orgânica e verde, uso de cultivares resistentes às pragas e doenças, cobertura morta, rotação e consorciação de culturas, são essenciais para o sucesso do cultivo orgânico, pois conduzem à estabilidade do agroecossistema, ao uso equilibrado do solo, ao fornecimento ordenado de nutrientes e à manutenção de uma fertilidade real e duradoura no tempo.

Figura 1. A imagem mostra um ninho com filhotes de passarinho convivendo com uma lavoura de tomate conduzida no sistema de cultivo orgânico. Na agricultura orgânica o homem faz as pazes com a natureza, protegendo os recursos naturais (solo, água, flora e fauna) e as futuras gerações. No cultivo convencional de tomate é impossível termos esta imagem, devido ao uso de um grande número de agrotóxicos, altamente prejudiciais ao meio ambiente.




Ferreira On 11/30/2010 12:09:00 PM Comentarios LEIA MAIS

Márcio Sônego[1], Luiz Augusto Martins Peruch[2], Luiz Alberto Lichtemberg[3], Cristiano Nunes Nesi[4]


[1] Eng.agr,, Dr., Epagri/Estação Experimental de Urussanga, C.P. 49, 88840-000 Urussanga, SC, fone: (48) 3465-1209, e-mail: sonego@epagri.sc.gov.br
[2] Eng.agr,, Dr., Epagri/Estação Experimental de Urussang, e-mail: lamperuch@epagri.sc.gov.br
[3] Eng.agr,, M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Itajai, C.P. 277, 88301-970 Itajai, SC, fone: (47) 3341-5244, e-mail: licht@epagri.sc.gov.br
[4] Eng.agr., M.Sc., Epagri/Centro de Pesquisa para Agricultura Familiar – Cepaf-, C.P. 791, 89801-970 Chapecó, SC, fone: (49) 3361-0600, e-mail:cristiano@epagri.sc.gov.br

A banana é a fruta mais cultivada no Litoral Sul de Santa Catarina. Em torno de 8.500 hectares são ocupados com bananais, distribuídos em pequenas propriedades rurais (Sônego et al., 2003). As cultivares mais plantadas nos pomares comerciais da região pertencem ao subgrupo Prata (AAB) e ao subgrupo Cavendish (AAA), com 84% e 16% da área total, respectivamente (Souza & Conceição, 2002).
A bananeira também se destaca como a principal fruta na produção orgânica em âmbito estadual (Oltramari et al., 2002). Todavia, o cultivo orgânico desta fruta apresenta uma série de particularidades inerentes ao sistema de produção. Fungicidas, inseticidas e herbicidas, em sua maioria, não podem ser aplicados para controlar doenças, pragas e plantas daninhas, respectivamente. Por este motivo, existem inúmeros desafios em relação às questões relacionadas à qualidade fitossanitária da bananeira a serem superados a fim de viabilizar a produção orgânica.
Pela sua rusticidade ao clima subtropical (Lichtemberg & Moreira, 2006), a ‘Enxerto’ é a banana mais comumente cultivada no sistema orgânico no Litoral Sul de Santa Catarina. Entretanto essa cultivar apresenta alta susceptibilidade ao mal-de-sigatoka, mal-do-Panamá e pencas falhadas. Alguns trabalhos têm determinado o comportamento de diferentes cultivares sob sistema orgânico (Marcílio et al., 2006; Gómez et al., 2006). No Brasil, Marcílio et al. (2006) determinou que ‘Tropical’ e ‘IAC 2001’ como adequados a produção orgânica no Mato Grosso. Os clones FHIA 2, FHIA 17 e 18  foram considerados como apropriados para cultivo orgânico em condições de trópico seco da Venezuela (Gómez et al., 2006).
Mundialmente, programas de melhoramento genético têm procurado desenvolver genótipos de bananeira com maior resistência às pragas e doenças, sendo muitos deles recomendados para cultivo orgânico, a exemplo de materiais lançados pela FHIA - Fundação Hondurenha de Investigação Agrícola (Rowe, 1999).
O presente trabalho aborda o desempenho agronômico de 21 cultivares de banana, com o objetivo de identificar genótipos mais adequados à produção orgânica nas condições ambientais do Litoral Sul de Santa Catarina. 
Em outubro de 2001 foi implantada uma coleção com 21 cultivares de bananeiras na Epagri/Estação Experimental de Urussanga. O solo é do tipo argissolo vermelho-amarelo originário de diabásio neozólico, com as seguintes características físico-químicas: Argila = 53%; pH índice SMP = 6,5; P = 8,0 mg/L; K = 166 mg/L; Matéria Orgânica = 2,5%; Ca + Mg = 5,7 cmolc/L. As mudas de bananeira do tipo pedaços de rizoma foram plantadas no espaçamento de 3 metros entre fileiras e 2,5 metros entre plantas, sendo que cada um dos 21 cultivares formou uma fileira de 12 plantas. Cada cova de plantio recebeu 500 gramas de calcário dolomítico e dois quilos de esterco curtido de aviário. A cada seis meses foram aplicados 6,0 t/ha de cama de aviário de palha de arroz, divididos em 4,0 kg por touceira, amontoados a um metro de distância da planta filha e cobertos com restos culturais. Seis e 12 meses após o plantio foi aplicado 2,0 t/ha de calcário dolomítico sem incorporação. O controle das ervas no bananal foi feito através de roçadas e capinas no primeiro ano, e por roçadas nos anos subsequentes. O bananal foi conduzido no sistema mãe-filha-neta.  As folhas com mais de 50% de severidade da sigatoka ou necroses naturais foram cortadas e colocadas ao chão.
A altura do pseudocaule, sua circunferência a 30 cm do chão e o número de folhas foram avaliados por ocasião da emissão do cacho. A colheita foi feita a partir de março de 2003, em intervalos semanais, estendendo-se até fevereiro de 2006. Os cachos foram despencados, pesando-se cada penca para obter o peso total do cacho sem o engaço (ráquis). Para as características avaliadas foram calculados os intervalos de confiança (IC) para a média de cada variável, dado por:


em que X é a média das observações referentes à característica avaliada; t é o valor da distribuição t de Student, a 5% de probabilidade de erro; s é o desvio padrão das observações e n o número de observações. A apresentação dos resultados é feita pela média seguida da semi-amplitude do intervalo de confiança (Tabela 1).     
A emissão do primeiro cacho após o plantio variou de 373 dias para a ‘Pioneira’, até 490 dias para ‘Williams’ e ‘Ouro da Mata’.  Em geral, bananeiras do subgrupo Prata (AAB) e Figo (ABB) lançaram os primeiros cachos mais precocemente do que bananeiras do subgrupo Cavendish (AAA) e híbridas (AAAB).  Entretanto, Lichtemberg et al. (2002) relatam que após o primeiro ciclo de produção as cultivares do subgrupo Cavendish (‘Nanicão’ e ‘Grande Naine’) se tornam mais precoces do que as cultivares do subgrupo Prata (‘Enxerto’ e ‘Branca’).  Os valores de altura e da circunferência do pseudocaule à época da emissão do cacho aumentaram no segundo ano de produção para todas as cultivares. De maneira geral, houve redução no número de folhas no momento de emissão do segundo cacho, comparado aos valores da primeira inflorescência. A tendência de redução de folhas úteis ao longo dos anos está relacionado com vários fatores. Parte dos danos deve-se a incidência de sigatoka, mas cultivares resistentes a esta doença também apresentaram comportamento semelhante.
O número de pencas por cacho aumentou do primeiro para o segundo cacho na maioria das cultivares de banana, tendo sido mais expressivo para os cv. ‘Pioneira’ e ‘Prata Baby’ (Figura 1 e 2).  Cultivares do subgrupo Prata (AAB) apresentaram pouca alteração no peso do cacho do primeiro para o segundo ciclo. Já os híbridos (AAAB) mostraram incremento no peso do cacho do primeiro para o segundo ciclos, com destaque para ‘Pioneira’ e ‘Prata Baby’. Tendência semelhante foi encontrada por Lichtemberg et al. (2002), tanto para cultivares do subgrupo Prata como para os híbridos, mesmo em cultivo convencional. Por sua vez, cultivares do subgrupo Cavendish (AAA) apresentaram redução do peso do cacho no segundo ciclo, contrastando com resultados apresentados por Lichtemberg et al. (2002) que apontam incremento no peso de cacho no segundo ciclo para o subgrupo Cavendish, em cultivo convencional.
Além dos aspectos de fisiologia e produtividade da cultivar também é importante considerar a sua resistência ao mal-de-sigatoka. Segundo dados de Peruch et al. (2007) verificou-se que as cultivares ‘Figo’, ‘Figo Cinza’, ‘Tropical’, ‘Prata Baby’ (‘Nam’), ‘Thap Maeo’, ‘Pioneira’, ‘FHIA-01’ e ‘Ouro da Mata’ (Figura 3) mostraram-se mais resistentes à doença sob condições de cultivo orgânico.
Levando-se em consideração os aspectos de produção e resistência ao mal-de-sigatoka podem-se recomendar as cultivares para cultivo orgânico de acordo com a sua aptidão: ‘Tropical’, ‘Prata Baby’ (‘Nam’), ‘Thap Maeo’, ‘Ouro da Mata’ e ‘FHIA-01’ para consumo in natura; ‘Figo’, ‘Figo Cinza’ e ‘FHIA-01’ para fabricação de chips; ‘Pioneira’ para fabricação de polpa ou banana passa.

Literatura Citada

GOMÉZ, C.; SURGA, J.G.; MAGAÑA LEMOS, S.; VERA, J.; ROSALES, H.; PINO, N. Manejo orgânico de siete clones de banano en condiciones de bosque seco tropical. In: Reunião Internacional do Acorbat, 17, 2006. Joinville, Brazil, 2006, p.348.

GUZMAN, M. Estado actual y perspectivas futuras de manejo de la sigatoka negra em America Latina. In: REUNIÃO INTERNACIONAL DA ASSOCIAÇÃO PARA A COOPERAÇÃO NAS PESQUISAS SOBRE BANANA NO CARIBE E NA AMÉRICA TROPICAL, 7., 2006, Joinville. Anais...Joinville, 2006. p.83-91.

LICHTEMBERG, L. A.; MALBURG, J. L.; ZAFFARI, G. R. et al. Banana. In: EPAGRI (Ed.) Avaliação de cultivares para o Estado de Santa Catarina 2002/2003. Florianópolis: EPAGRI, 2002. p.31-37.

LICHTEMBERG, L.A.; MOREIRA, R.S. The history and characteristics of the ‘Enxerto’ banana. In: REUNIÃO INTERNACIONAL DA ASSOCIAÇÃO PARA A COOPERAÇÃO NAS PESQUISAS SOBRE BANANA NO CARIBE E NA AMÉRICA TROPICAL, 7., 2006, Joinville. Anais...Joinville, 2006. p.885-887.

MARCÍLIO, H. de C.; ANDRADE, A. L. de; PEREIRA, G. A.; ABREU, J. G. de; SANTOS, C. C. dos.  Avaliação de genótipos de bananeiras em sistema orgânico de produção. In: Reunião Internacional do Acorbat, 17, 2006. Joinville, Brazil, 2006, p.553-556.

Oltramari, A.C.; Zoldan, P.; Altamn, R. 2002. Agricultura orgânica em Santa Catarina. Florianópolis, Instituto Cepa, 55p.

PERUCH, L. A. M.; SÔNEGO, M. Resistência de genótipos de bananeiras a sigatoka amarela sob cultivo orgânico. Revista Brasileira de Agroecologia, Porto Alegre. v.3, n.2, p.86-93, set. 2007.

ROWE, P. Mejoramiento de banano y plátano resistentes a plagas y enfermedades. In: PRODUCCIÓN DE BANANO ORGÁNICO Y, O, AMBIENTALMENTE AMIGABLE. Memorias… Guácimo, 1998.  p.56-62.

SÔNEGO, M.; BRANCHER, A.; MADALOSSO, C. et al. A fruticultura no Litoral Sul Catarinense. Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.16, n.3, p.44-49, nov.2003.
SOUZA, A. T. de; CONCEIÇÃO, O. A. da. Fatores que afetam a qualidade da banana na agricultura familiar catarinense. Florianópolis: Instituto Cepa/SC, 2002. 68p.

Figura 1. Bananeira ‘Prata Baby’ com folhas sadias e cacho próximo ao ponto de colheita.

Figura 2- Penca de banana ‘Baby Prata’ em estágio médio de maturação. Esta cultivar apresentou o maior teor de doçura.

Figura 3- Penca de banana ‘Tropical’ em estágio médio de maturação. Esta cultivar pode substituir a banana ‘Maçã’.
Tabela 1- Valores da média e da semi-amplitude para as características agronômicas de 21 cultivares de bananeira sob manejo orgânico, na Estação Experimental da Epagri, em Urussanga, Santa Catarina, para primeira e segunda colheitas feitas entre os anos de 2003 a 2005.
* Os valores entre parênteses correspondem a semi-amplitude do intervalo de confiança para média com base na distribuição t de Student com 95% de confiança.


Ferreira On 11/30/2010 05:46:00 AM 1 comment LEIA MAIS

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

As “plantas daninhas” ou inços, são consideradas “amigos” das plantas cultivadas

Porque o termo “plantas daninhas” não é utilizado na agricultura orgânica?  não é apropriado, pois leva em conta apenas seus efeitos negativos sobre a produção, ignorando os efeitos positivos do mato sobre as plantas cultivadas. Na agricultura orgânica, estas são chamadas de plantas espontâneas (espécies que germinam na área de cultivo) ou indicadoras de algum problema no solo. Quando uma planta se torna agressiva, chamada de “invasora”, “mato” ou “inço” e domina uma área, o problema não está na planta, mas no solo e/ou no ambiente que o envolve. Portanto, para que esta planta não domine a área cultivada, primeiro é preciso resolver os problemas existentes no solo. Na agricultura orgânica esta planta é denominada “indicadora” de algum problema existente no solo. Por exemplo, a guanxuma (Sida spp.), a samambaia (Pteridium aquilinum), o capim marmelada ou papuã (Brachiaria plantaginea), a carqueja (Baccharis spp.), o picão preto (Bidens pilosa) e o picão branco (Galinsoga parviflora) indicam problemas de solos compactado, ácido, constantemente arado e gradeado, pobre, desequilibrado e com excesso de nitrogênio e deficiente em micronutrientes,  respectivamente.
     As “plantas espontâneas, no sistema de produção orgânico, são chamadas de “amigas” das plantas cultivadas pois podem perfeitamente conviver com  os cultivos após o período crítico de competição, especialmente por luz, nos primeiros 30 dias após o plantio. A grande maioria das plantas espontâneas também podem funcionar como plantas de cobertura do solo, protegendo-o contra a erosão e adversidades climáticas, ajudam na descompactação do solo, contribuem para adubação verde  e até como abrigo e alimento de inimigos naturais dos insetos-pragas que atacam as culturas. A presença de beldroega (Portulaca oleracea), por exemplo,  indica que o solo é fértil, não prejudica as lavouras, protege o solo e ainda é planta alimentícia com elevado teor de proteína.
Como são controladas as “plantas daninhas” ou mato no sistema convencional e suas implicações no meio ambiente?  neste sistema é utilizada a chamada capina química, ou seja, são utilizados os herbicidas com inúmeras conseqüências ao meio ambiente e à saúde das pessoas, especialmente quando não são usados os equipamentos de proteção individual.   Os herbicidas mais utilizados são a base de glyphosate e paraquat, mais conhecidos comercialmente como roundup e gramoxone, respectivamente. O roundup para a saúde humana é um dos produtos que mais causam doenças de pele, problemas respiratórios,  além de causar danos genéticos e efeitos negativos na reprodução de vários organismos. O glyphosate fica no solo por mais de um ano, mata insetos benéficos como vespas parasitárias e joaninhas, afeta minhoca e fungos benéficos e ainda aumenta a susceptibilidade das plantas às doenças. Por outro lado, o paraquat é o herbicida de longa persistência no ambiente. É importante lembrar que estes produtos estão proibidos pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) de serem usados em áreas urbanas, pois não tem como impedir o trânsito de pedestres nas ruas das cidades pelo menos nas 24 horas após a aplicação.
Manejo de plantas de cobertura e  de plantas espontâneas na agricultura orgânica
     As plantas de cobertura do solo, tradicionalmente, têm sido utilizadas para conservação do solo e suprimento de nitrogênio, através das leguminosas. Atualmente, as plantas de cobertura são importantíssimas na conservação do solo, no suprimento de nutrientes como o nitrogênio, no equilíbrio das propriedades do solo e até no manejo de plantas espontâneas. As plantas de cobertura afetam a germinação das sementes e o crescimento das plantas espontâneas, podendo, quando a cobertura do solo estiver acima de 90%, reduzir em até 75%, estas plantas. Áreas infestadas por tiririca ou junça (Cyperus rotundus), indicadora de solo ácido, compactado e com carência em magnésio (Mg)  podem ser melhoradas com plantas de cobertura tais como feijão miúdo, feijão de porco e mucuna preta. Diversas plantas espontâneas também podem serem utilizadas como cobertura do solo nas entre linhas dos cultivos, manejando-se com roçadas, sempre que necessário. As práticas adotadas nas regiões produtoras influenciam no desenvolvimento das espécies de plantas espontâneas ou indicadoras. A escolha das áreas para cultivo é muito importante,  evitando-se áreas infestadas com plantas perenes. Em caso de áreas muito infestadas com plantas espontâneas anuais, o atraso no plantio, após o preparo do  solo, permitirá a germinação antecipada das sementes destas plantas, sendo a semeadura ou plantio da cultura após a eliminação das plantas espontâneas.  Os métodos culturais englobam práticas que tornam a cultura mais competitiva do que as plantas espontâneas, e o mais importante, prevenindo a infestação de forma a evitar a multiplicação de sementes. Na adubação orgânica, preferencialmente deve ser utilizado o composto orgânico, pois os estercos de animais, especialmente o de gado deve ser evitado, pois além de conter sementes de plantas espontâneas, ainda pode prejudicar as plantas cultivadas se forem originário de áreas onde foi aplicado herbicidas. A cobertura morta ou viva com vegetais é outra prática recomendável para diminuir a incidência de plantas espontâneas.  
Principais espécies de adubos verdes utilizados no manejo de plantas espontâneas - estas espécies podem serem semeadas isoladamente ou consorciadas. Também podem serem semeadas, isoladamente ou em consórcios com os cultivos de interesse econômico que utilizam maior espaçamento entre plantas.                 Espécies de inverno (março-julho):   aveia preta – é a mais conhecida, rústica, boa cobertura, inibe as plantas espontâneas (inços) e ainda é ótima para alimentação animal. É ótima para efetuar rotação de culturas, pois é resistente às doenças; ervilhaca - boa produção de massa, boa no uso consorciado com aveia e, é fixadora de nitrogênio do ar; nabo forrageiro – descompacta o solo, devido ao sistema radicular profundo.                             Espécies de verão (setembro-dezembro):  mucuna - boa para consórcio, fixa nitrogênio do ar e com grande capacidade de abafamento das plantas espontâneas;  feijão de porco - rústica, boa produção de massa, adapta-se bem ao consórcio, inibe a tiririca, cebolinha ou junça. Como sugestão de consórcio com culturas econômicas, sugere-se o milho-verde semeado na mesma época da mucuna (Figura 1) ou feijão de porco.

Figura 1.Consórcio milho-verde e mucuna (leguminosa): ótima opção para rotação de culturas e para o manejo das plantas espontâneas no verão, em função do rápido crescimento e abafamento  e, ainda  melhorar a fertilidade do solo
Ferreira On 11/29/2010 01:55:00 PM 3 comments LEIA MAIS
Adubação verde e o manejo de plantas de cobertura do solo
     Do manejo correto do solo, ou seja, a forma de cultivar e tratar o solo, depende o sucesso da agricultura orgânica. Tudo o que acontece com o solo tem algum reflexo positivo ou negativo, no ambiente do qual ele faz parte. O cultivo orgânico prioriza a adição e a manutenção da matéria orgânica através da adubação orgânica (composto e estercos de animais), adubação verde, cobertura do solo e outras práticas, evitando, sempre que é possível o revolvimento do solo e, o mais importante, sem agredir o meio ambiente. O cultivo convencional, por sua vez, prioriza a utilização dos insumos modernos, especialmente os fertilizantes químicos, que só fornecem alguns nutrientes, são violentos acidificadores do solo e, aumentam ainda mais o custo de produção das culturas e, o que é pior, juntamente com os agrotóxicos, contaminam o meio ambiente, prejudicando a vida do solo e a saúde das pessoas.
     A utilização do adubo químico torna as plantas mais fracas e mais suscetíveis às pragas e doenças; o uso de fertilizantes químicos faz com que os aminoácidos (proteínas) se apresentem em forma livre, ao contrário do adubo orgânico onde os aminoácidos formam cadeias complexas, não estando disponível às pragas. Além disso, alguns adubos químicos são hidrossolúveis, isto é, dissolvem-se na água, sendo uma parte rapidamente absorvida pelas raízes das plantas, a maior parte é lixiviada, ou seja, é lavada pelas águas das chuvas e regas, indo poluir rios, lagos e lençóis freáticos e há ainda uma terceira parte que se evapora, como no caso dos adubos nitrogenados (como a uréia) que sob a forma de óxido nitroso pode destruir a camada de ozônio da atmosfera, sendo uma das causas do aquecimento global.                       
O que é adubação verde e como utilizar?
   Adubação verde, uma das maneiras de cultivar e tratar bem o solo, é uma técnica agrícola que consiste no cultivo de espécies de plantas com elevado potencial de produção de massa vegetal, semeadas em rotação, sucessão e até em consórcio com culturas de interesse econômico. No cultivo em rotação, o adubo verde pode ser incorporado ao solo após a roçada para posterior plantio da cultura de interesse econômico, ou mantido em cobertura sobre a superfície do terreno, fazendo-se o plantio direto da cultura na palhada. A manutenção da palhada na superfície retarda a germinação das sementes de plantas espontâneas (inços), ao passo que a sua incorporação ao solo tende a fornecer os nutrientes mais rapidamente para a cultura em sucessão. No consórcio, o adubo verde pode ser semeado nas entrelinhas ou em todo o terreno. Neste último caso, pode-se fazer a roçada na linha (em torno de 20cm) onde vai ser plantada a cultura de interesse econômico e, sempre que necessário para não prejudicar o crescimento da cultura. Estas espécies tem ciclo anual ou perene, isto é, cobrem o terreno por determinado período de tempo ou durante o ano todo. No entanto, a adubação verde por si só, não é suficiente para atender as culturas mais exigentes, como as hortaliças. Na maioria das vezes deve ser complementada pela adubação orgânica, feita preferencialmente com composto orgânico  ou estercos de animais curtidos, sempre baseada na análise do solo.  
Principais benefícios da adubação verde para o solo:  proteção contra a erosão (perda do solo),  e, diminuição da lixiviação (lavagem) de nutrientes; melhoria do solo, com maior infiltração e retenção de água; promove acréscimos de matéria verde e seca, mantendo ou até mesmo elevando o teor de matéria orgânica do solo; reduz as oscilações de temperaturas das camadas superficiais do solo e diminui a evaporação,  aumentando a disponibilidade de água para as culturas; pela grande produção de raízes, rompe camadas compactadas e promove a aeração beneficiando os organismos benéficos do solo; promove mobilização e reciclagem de nutrientes devido ao sistema radicular profundo e ramificado, retirando nutrientes de camadas mais profundas do solo, não aproveitados pelos cultivos; reduz a população de plantas espontâneas (mato ou inços no cultivo convencional), em função do crescimento rápido e agressivo dos adubos verdes; aumento da disponibilidade de macro e micronutrientes e ainda diminui a acidez do solo. As vantagens da adubação verde não param por aí: reduz pragas e doenças nos cultivos quando utilizada em rotação de culturas, e, em consorciação, pode servir de abrigo para os inimigos naturais dos insetos-pragas que atacam os cultivos.
 Como utilizar adubação verde em consórcio com as culturas? a principal desvantagem da adubação verde ocorre em pequenas propriedades, pois torna-se difícil manter o terreno coberto por um longo período de tempo com estas espécies no lugar das culturas econômicas. Neste caso, uma boa opção é utilizá-las em consórcio com as culturas econômicas. Por exemplo: cultivo mínimo (abertura do sulco e plantio/semeadura) de repolho, couve flor,tomate tutorado, milho e outras no final do inverno, em área semeada com aveia, ervilhaca ou nabo forrageiro, em plantio solteiro ou consorciado, no outono. A retirada das plantas de adubos verdes que competiam com as culturas é realizada apenas na linha de plantio, sendo  as entrelinhas mantidas com os adubos verdes ou quando necessário é feito a roçada. As plantas espontâneas (inços), com excessão de algumas muito agressivas, também podem ser utilizadas como adubos verde e cobertura do solo, em consorciação com as culturas.
Principais espécies de adubos verdes utilizadas em rotação e consorciação de culturas
Espécies de inverno, semeadas em março-julho (Figura 1):   aveia preta – é a mais conhecida, rústica, boa cobertura, inibe as plantas espontâneas (inços) e ainda é ótima para alimentação animal. É ótima para efetuar rotação de culturas, pois é resistente às doenças; Ervilhaca - boa produção de massa, boa no uso consorciado com aveia e, é fixadora de nitrogênio do ar; nabo forrageiro – é uma espécie que descompacta o solo, devido ao sistema radicular profundo.
Espécies de verão, semeadas em setembro-dezembro: mucuna - boa para consórcio, fixa nitrogênio do ar e com grande capacidade de abafamento das plantas espontâneas. Feijão de porco-rústica, boa produção de massa, adapta-se bem ao consórcio, inibe a tiririca, cebolinha ou junça. Sugere-se para consórcio com culturas econômicas, o milho-verde semeado na mesma época de plantio da mucuna ou feijão de porco. 

Figura 1. Sugestão de consórcio de inverno de adubos verdes com cultivos:  aveia preta (60kg/ha) + ervilhaca (18kg/ agosto/setembro ha) + nabo forrageiro (4kg/ha), semeados no período de março a julho,  consorciado com o plantio de tomate tutorado, em.
Ferreira On 11/29/2010 01:53:00 PM Comentarios LEIA MAIS
Composto orgânico – adubo natural de ótima qualidade preparado na propriedade
     Tratar o solo como um “organismo vivo” é um dos princípios básicos da agricultura orgânica. O composto orgânico, adubo natural preparado na propriedade, é a principal fonte de matéria orgânica para o solo. Os insumos modernos utilizados na agricultura convencional  (fertilizantes químicos e agrotóxicos), especialmente, quando aplicados em excesso e de forma incorreta, além de caros pois são na grande maioria, importados, contaminam o meio ambiente, contribuem para o aquecimento global e, o que é pior, favorecem o aparecimento de doenças e pragas nas plantas e até doenças nas pessoas. Alguns adubos químicos, por serem hidrossolúveis (dissolvem-se na água), e com o excessivo revolvimento do solo em terrenos inclinados, contaminam as fontes de água devido a erosão (perda do solo). O uso exagerado de adubos químicos nitrogenados (uréia e outros) pode causar a metaemoglobinemia em crianças, doença resultante da ingestão de nitritos (produzidos a partir de nitratos) que reagem com a hemoglobina, reduzindo a sua capacidade de carregar oxigênio.  Além disso, os nitritos participam de reações formadoras de compostos cancerígenos.
.O que é compostagem?  é um processo controlado de fermentação de resíduos orgânicos para produção de adubo orgânico. No processo que é biológico ocorre a desintegração de resíduos devida à decomposição aeróbica (presença de ar), realizadas pelos microorganismos. Da decomposição resulta: gás carbônico, calor, água e a matéria orgânica “compostada”.
.Vantagens do composto orgânico: estimula a saúde natural das plantas; reduz as pragas, doenças e plantas espontâneas (inços); boa fonte de macro e micronutrientes essenciais; melhora a estrutura do solo tornando-o mais fofo, é mais rico em nutrientes e com mais vida e, ainda  corrige a acidez do solo. Em relação ao esterco de animais curtido, o composto orgânico também possui vantagens: é um produto estabilizado e mais equilibrado e, por isso, mais eficiente na melhoria do solo, mais rico em nutrientes e, não acidifica o solo. As vantagens não param por aí: o composto orgânico, devido a fermentação, é livre de sementes de plantas espontâneas e de microorganismos causadores de doenças nos cultivos. Resultados de pesquisa obtidos na Epagri/Estação Experimental de Urussanga, comparando cultivos orgânico e convencional (com adubos químicos), mostraram que o solo onde utilizou-se adubo orgânico, a fertilidade era maior e não necessitava de calagem. Como desvantagem do composto, pode-se citar a exigência de mão de obra. Porém, ao longo dos anos, a necessidade é cada vez menor em função da melhoria da fertilidade (duradoura no tempo) e correção natural da acidez do solo, o custo é mais baixo, quando comparado ao adubo químico.
.Materiais utilizados na compostagem: basicamente  deve-se  misturar  materiais  vegetais com estrume de animais. Em outras palavras, deve-se misturar materiais ricos em carbono (vegetais) com outros ricos em nitrogênio (estercos de animais), na quantidade adequada; um composto só de palha ou outros materiais ricos em carbono demora muito para fermentar e se decompor. Por outro lado, um composto feito só de materiais ricos em nitrogênio apodrece, exala mau cheiro e reduz muito o volume e perde-se muito nitrogênio.  Resíduos vegetais: restos de culturas e plantas espontâneas (inços), capim, folhas, palhas, aparas de grama e etc. Materiais mais duros e grossos precisam ser picados.O produtor deve priorizar resíduos vegetais produzidos na propriedade para facilitar e baratear custos.Resíduos domésticos: cascas de frutas e hortaliças, casca de ovo, borra de café, erva de chimarrão e outros com excessão de restos de comida (atraem moscas).                               
. Onde montar o composto? O mais próximo possível da fonte de água e da lavoura. Não produz mau cheiro e não atrai insetos. Deve-se cobri-lo para evitar perdas por chuvas.
. Modo de fazer o composto orgânico: o método mais prático e difundido consiste em montar as pilhas ou camadas alternadas de restos vegetais com meios de fermentação (estrume de animais), numa proporção aproximada de 3 a 5 partes de vegetais para uma de esterco (Figura 1). Para pequenas quantidades de resíduos vegetais e/ou domésticos, a composteira pode ser feita de madeira, tijolos ou tambor de metal. Para hortas maiores ou comerciais recomenda-se: Tamanho das pilhas: depende da quantidade de materiais orgânicos disponíveis; porém, para facilitar a aeração necessária para a ação dos microorganismos que decompõem a matéria orgânica, recomenda-se  2 a 3m de largura,  1,5 a 2m de altura e comprimento variável. Montagem das pilhas 1ª camada – 15 a 25 cm de restos vegetais ou capim; 2ª camada – 5 cm de esterco fresco de animais; 3ª camada – 15 a 25 cm de restos vegetais ;4ª camada – 5 cm de esterco fresco de animais. A cada camada de palha deve-se  irrigar, sem encharcar. Repetir o procedimento até a altura de 1,5 a 2m, sendo a última camada de palha para recobrir a pilha.             
. Cuidados com o composto: recomenda-se manter a ventilação e a umidade suficientes e adequados para a ação dos microorganismos, pois a presença do ar e a umidade, bem como o tipo de material é que determinam a velocidade da decomposição da matéria orgânica. Promove-se a aeração pelo revolvimento. Recomenda-se nos primeiros 45 dias, um revolvimento a cada 15 dias. Para pilhas maiores, o revolvimento pode ser feito com trator, utilizando-se a pá-carregadeira ou lâmina. Dependendo do material utilizado e da época, normalmente a maturação do composto ocorre em 90 a 120 dias. Deve-se cobrir o composto para evitar perda da eficiência do adubo em épocas chuvosas.
. Quantidade a aplicar de composto: recomenda-se, anualmente, proceder a análise do solo, para verificar a fertilidade do solo e fazer a adubação adequada. É importante também conhecer, através de análise, as quantidades de macro e micronutrientes existentes no adubo orgânico e a exigência da cultura. Em geral, considera-se uma quantidade de composto a aplicar por metro quadrado:  baixa  - 1,0 a 1,5kg; média - 2,0 a 3,0 kg e alta - 4,0 a 5,0kg.

Figura 1. Montagem das camadas  visando a produção do composto orgânico na Epagri/Estação Experimental de Urussanga, utilizando-se cama de aviário e capim elefante anão, produzido no local.
Ferreira On 11/29/2010 01:50:00 PM Comentarios LEIA MAIS
O solo  deve ser tratado como um “organismo vivo”
      Um solo sadio produz plantas, animais e homens sadios; tudo está ligado entre si como os órgãos de um corpo, por isso o solo, já na antiguidade, era visto como um “organismo vivo”. O solo faz parte do meio ambiente e está ligado a todos os seus outros componentes, como a água, as plantas, os animais e o homem. Tudo que acontece com o solo tem algum reflexo positivo ou negativo, no ambiente do qual ele faz parte. Numa grama de solo, vivem alguns milhões de seres vivos que dependem de como é tratado o solo e que sofrem  com as agressões do homem. O uso intensivo, inadequado e exagerado da mecanização, dos agrotóxicos, dos corretivos e dos adubos químicos, associados ao monocultivo (cultivo da mesma espécie sempre na mesma área) e a erosão do solo, conduz a maioria dos solos cultivados na agricultura moderna ou cultivo convencional, a um processo de auto-degradação.
     A degradação ou degeneração do solo está relacionada aos prejuízos que causa às características biológicas (organismos vivos) e físicas (textura e estrutura) do solo. A textura se relaciona ao tamanho das partículas; um solo tem diferentes teores de areia, argila,  matéria orgânica, água, ar e minerais. A forma como esses componentes se organizam representa a estrutura do solo. Um solo bem estruturado é fofo e poroso, permitindo a penetração da água e do ar, assim como de pequenos animais e raízes. A vida no solo só é possível onde há disponibilidade de ar, água e nutrientes. Os organismos vivos do solo fazem a transformação química dos nutrientes, tornando-os disponíveis para absorção pelas raízes das plantas.
     Em regiões de clima tropical e subtropical, predominantes no Brasil, o preparo do solo com arado, grade e outros equipamentos e, principalmente com rotativa, acelera a decomposição (quebra em partes menores pelos microrganismos do solo) da matéria orgânica em quantidades maiores do que a reposição, proporcionando, em conseqüência, a diminuição dos rendimentos das culturas ao longo do tempo. Além disso, a intensidade e freqüência de chuvas predominante nestes climas, associada aos declives dos terrenos, causam perdas de solo (erosão) das camadas mais férteis, maiores do que a regeneração natural, resultando em degradação química (nutrientes utilizados pelas plantas), física e biológica. Em outras palavras, o arado e outros implementos utilizados no preparo do solo não combinam com o uso sustentável da terra no Brasil.
     A compactação do solo, uma das causas da degradação, é proporcionada  pelo uso intenso, inadequado e exagerado de máquinas e equipamentos, na grande maioria pesadas, pela redução da matéria orgânica e da atividade biológica do solo. O manejo inadequado do solo torna as lavouras cada vez mais exigentes em insumos e, em geral menos produtivas e, o que é pior, com alto custo de produção, pois a maioria dos agroquímicos são importados. Além disso, para piorar, a agricultura convencional ou moderna ao retirar do solo vários nutrientes, devolve na forma de adubos químicos, apenas NPK (nitrogênio, fósforo e potássio). Outros macronutrientes, bem como os micronutrientes, exigidos em quantidades reduzidas, mas também essenciais para o equilíbrio do solo e das plantas, não são repostos pela agricultura convencional. Além disso, os adubos químicos, altamente solúveis, associados ao revolvimento do solo em áreas inclinadas,contaminam rios e córregos devido a erosão. E os problemas do cultivo convencional não param por aí: os adubos químicos acidificam o solo, tornando a prática da calagem necessária, no mínimo a cada 5 anos.   
     O manejo do solo no sistema de cultivo orgânico, ou seja, a forma de cultivar e tratar o solo corretamente, busca o equilíbrio através de práticas culturais e a melhoria da fertilidade química e das características física e biológica. O manejo adequado do solo proporciona o aumento da resistência das culturas às pragas e doenças e às mudanças impostas por adversidades climáticas (ex.:estiagens e chuvas intensas). No cultivo orgânico a correção da acidez é realizada naturalmente e a fertilidade do solo é mais duradoura no tempo.
     As causas da degradação do solo, em geral, estão relacionadas aos prejuízos que causam aos organismos vivos. Tanto a degradação quanto a regeneração do solo são processos lentos que ocorrem no decorrer de alguns anos. Dentre as opções para a regeneração da fertilidade e da vida do solo destacam-se: adubação orgânica (composto orgânico, estercos de animais e restos culturais), adubação verde, cultivo e manejo de plantas de cobertura (viva ou morta), e plantas espontâneas, rotação e consorciação de culturas, plantio direto, cultivo mínimo (Figura 1) e  outras práticas que previnem a erosão do solo.

Figura 1. Cultivo mínimo (abertura do sulco e plantio das mudas) de repolho no final do inverno, em área semeada com consórcio de adubos verdes (aveia, ervilhaca e nabo forrageiro), no outono. A retirada das plantas de adubos verdes que estavam competindo com o repolho é realizada apenas na linha de plantio, sendo  as entrelinhas mantidas com os adubos verdes. A função dos adubos verdes é  proteger a vida do solo do clima adverso, reduzir a infestação de plantas espontâneas, melhorar a fertilidade tornando-a mais duradoura  e descompactar o solo, além de servir de abrigo para os inimigos naturais dos insetos- pragas que atacam a cultura.


Ferreira On 11/29/2010 12:09:00 PM Comentarios LEIA MAIS
Adubação orgânica
      O sucesso da agricultura orgânica depende da maneira como tratamos o solo. O uso intensivo, inadequado e exagerado da mecanização, dos agrotóxicos, dos corretivos e dos adubos químicos, associados ao monocultivo (cultivo da mesma espécie sempre na mesma área) e a erosão (perda do solo), conduz a maioria dos solos cultivados na agricultura moderna  a um processo de auto-degradação e, o que é pior, à contaminação do meio ambiente. Por sua vez, a agricultura orgânica promove a regeneração do solo através de diversas práticas associadas tais como, plantio direto, cultivo mínimo, manejo de restos culturais, plantas de cobertura e plantas espontâneas, adubação verde, rotação e consorciação de culturas e, especialmente a adubação orgânica, que favorecem a vida do solo e as plantas cultivadas.
     A prática da adubação orgânica é uma forma de tratar bem o solo, ou seja, como um “organismo vivo”. De maneira simples e direta, pode-se dizer que a matéria orgânica é a parte do solo que já foi ou ainda é viva. É a matéria orgânica que dá a cor escura aos solos; em solo muito claro, aparentemente sem vida, “fraco”, é bem provável que o teor de matéria orgânica seja muito baixo (Figura 1). A vida do solo depende da matéria orgânica que mantém a sua estrutura porosa (fofa), sem compactação, proporcionando a vida vegetal graças à entrada de ar, água e nutrientes. O adubo orgânico é constituído de resíduos de origem  vegetal ou  animal tais como: estercos de animais, restos de culturas, palhadas, capins, folhas, raízes das plantas, animais que vivem no solo e tudo mais que se decompõe, transformando-se em húmus  (resultado da ação de diversos microrganismos sobre os restos animais e vegetais).
     Além de melhorar a resistência das plantas às doenças, pragas e ao climas adverso(secas, chuvas intensas) e, especialmente a vida no solo, a adubação orgânica só tem vantagens:
  • aumenta a capacidade do solo em armazenar água, diminuindo os efeitos das secas. O solo com bom teor de matéria orgânica funciona como uma esponja, sendo que 1g de matéria orgânica retém 4 a 6g de água no solo. Graças à capacidade de armazenar água, a matéria orgânica diminui as oscilações de temperatura do solo durante o dia;
·        promove cimentação e agregação das partículas em solos arenosos, resultando em maior capacidade de retenção de água. Os solos argilosos tornam-se mais soltos e arejados; além disso, a adubação orgânica auxilia no controle à erosão (perda do solo) através do maior grau de aglutinação das partículas e diminui a compactação do solo;
  • aumenta a população de minhocas, besouros, fungos e bactérias benéficas, além de vários outros organismos úteis que vivem associados às raízes das plantas;
  • a adubação orgânica aumenta a penetração das raízes e a oxigenação do solo. Possui macro (NPK, Ca, Mg e S) e micronutrientes em quantidades bem equilibradas, que as plantas absorvem conforme sua necessidade, em quantidade e qualidade. Além disso, na adubação orgânica, as perdas dos nutrientes com as chuvas intensas e frequentes são bem menores, quando comparado a adubação química (altamente solúvel);
  • a adubação orgânica possui substâncias de crescimento (fitohormônios), que aumentam a respiração e a fotossíntese das plantas.
      As vantagens da adubação orgânica não param por aí: ela melhora também a qualidade dos alimentos, tornando-os mais ricos em vitaminas, aminoácidos, sais minerais, matéria seca e açúcares, além de serem mais aromáticos, saborosos e de melhor conservação pós-colheita.

Principais fontes de matéria orgânica: a fonte ideal de matéria orgânica para ser utilizada na agricultura orgânica é o composto orgânico que é o resultado da transformação, por meio da fermentação, dos resíduos orgânicos (camadas de 3 a 5 partes de restos vegetais e uma de esterco de animais) em adubo natural.
Composto orgânico: o composto é rico em microrganismos ativos e seus metabólitos que estimulam a saúde natural das plantas. Além de ser uma boa fonte de macronutrientes, possui micronutrientes essenciais (B, Mo, Mn, Zn, Cu e Cl) para o desenvolvimento das plantas e reduz a acidez do solo. Ao contrário dos adubos químicos e estercos de animais que podem salinizar o solo e contaminar rios e córregos, o composto orgânico não prejudica o meio ambiente. Mas as vantagens não param por aí: devido a temperatura alta (até 65ºC) em função da fermentação durante o processo da compostagem, os microorganismos causadores de doenças das plantas e as sementes de plantas espontâneas (inços) não sobrevivem.   A próxima matéria tratará, passo a passo, como fazer, e os cuidados  no preparo do composto orgânico na propriedade.                                      Estercos de animais: em função da maior disponibilidade, os estercos curtidos de aves e de gado ou a cama-de-aviário são os mais comumente utilizados na adubação orgânica. O uso de esterco ainda em fase de fermentação (frescos) por ocasião da semeadura/plantio, pode causar uma série de problemas  tais como: danos às raízes e às sementes, destruição dos microrganismos do solo, formação de produtos tóxicos, morte da planta pelo calor e contaminação das águas dos rios e córregos, além de acidificar o solo. Além disso, os estercos frescos podem contaminar as partes comestíveis das plantas e causar doenças nas pessoas.  O conhecimento da origem do esterco, especialmente o de gado, é muito importante, pois o uso de alguns herbicidas nas pastagens pode prejudicar as plantas cultivadas, além do que os estercos podem serem fontes de plantas espontâneas (inços). Os estercos de animais, para serem utilizados, devem ser curtidos (“envelhecidos” em locais protegidos por cerca de 90 dias)  e bem incorporados na cova ou sulco de plantio, em dosagens conforme o teor de nutrientes e com base na análise do solo. Não recomenda-se mais que 2kg/m2 de esterco curtido de aves, anualmente.

Figura 1. Representação de um solo cultivado no sistema convencional (com revolvimento excessivo, compactado e com alto grau de erosão) e um solo orgânico (solo tratado como “organismo vivo”).
Ferreira On 11/29/2010 09:04:00 AM Comentarios LEIA MAIS

sábado, 20 de novembro de 2010

Controle biológico da broca do pepineiro Diaphania nitidalis e D. hyalinata com Bacillus thuringiensis var. kurstak 16.000UI (Dipel PM)

Eng. Agr. M.Sc. Renato Arcângelo Pegoraro
Eng. Agr., Dr. José Angelo Rebelo
Eng. Agr. Dr. Murito Ternes
Introdução

As broca-das-curcubitáceas como são conhecidas, atacam as folhas, brotos novos, ramos e , principalmente, os frutos do pepineiro. Os brotos novos atacados secam e os ramos ficam com as folhas secas. Nos frutos abrem galerias e destroem a polpa, acarretando seu apodrecimento e inutilização. A espécie D. nitidalis ataca os frutos de qualquer idade, enquanto D. hyalinata ataca as folhas e a casca dos frutos.


Dados biológicos


Diaphania nitidalis:

É uma mariposa de 30 mm de envergadura e 15 mm de comprimento. Tem coloração marrom-violácea, com asas apresentando uma área central amarelada semitransparente, e os bordos marrom-violáceos. A fêmea efetua a postura nas folhas, ramos, flores ou frutos, e suas lagartas, que são esverdeadas, atingem 20 mm de comprimento. Estas lagartas alimentam-se de qualquer parte vegetal, mas dá preferência aos frutos. Após o período larval, que é de, aproximadamente, 10 dias, transformam-se em pupas sobre folhas secas ou no solo, passando ao estágio adulto após 12 a 14 dias. O ciclo completo é de 25 a 30 dias. Estes insetos atacam com maior intensidade de setembro a maio, diminuindo no outro período do ano.


D. hyalinata: Tem as mesmas características da espécie anterior quanto aos hábitos e ocorrência.

Controle

As lagartas de D. hyalinata são controladas mais facilmente, pois tem o hábito de se alimentar das folhas, enquanto as lagartas de D. nitidalis concentram seu ataque nas flores e nos frutos, onde penetram rapidamente. Por essa razão é de controle mais difícil.
Com o objetivo de restringir ou até abolir a utilização de agroquímicos que são utilizados indiscriminadamente em lavouras de pepino para conserva, visando o controle de brocas, a Estação Experimental de Itajaí desenvolveu trabalho de controle da broca, utilizando um produto conhecido como Bacillus thuringiensis var. kurstak (Dipel PM), com resultados surpreendentemente positivos.
Alguns procedimentos devem ser adotados pelo produtor para que tenha êxito:
a) a área do plantio deverá estar isenta de plantas hospedeiras das brocas, como abobrinha, abóboras, melão melancia e outras cucurbitáceas.
b) Aplicar o Bacillus thuringiensis em toda a planta logo no início do ataque das lagartas. Usar a dose de 1 grama/Litro de água, acrescido de 1,5 ml de Agr`óleo (espalhante adesivo).  Repetir a cada cinco (5) dias, sempre no final da tarde. Caso chova no dia seguinte ao da aplicação, repete-se a pulverização.
c) Utilizar pulverizador exclusivo para produtos biológicos. Evitar contaminações do Bacillus thuringiensis com produtos químicos.

Conservação do produto

Armazenar o produto longe de produtos químicos, protegendo da luz solar e do calor.
Depois de aberto o pacote para o uso, fechar bem e guardar dentro de lata fechada para se evitar umidade, luz e calor sobre o Bacillus thuringiensis.


Resultados de pesquisa

Para os resultados do controle das brocas com aplicação de Bacillus thuringiensis, chamamos a atenção para o controle observado durante o cultivo de outubro a dezembro. A baixa porcentagem de frutos brocados neste período foi em face do escape promovido pelo pela época desfavorável ao desenvolvimento da broca, saída de inverno (Figura A).
Observa-se que no cultivo de março a maio, mais da metade dos frutos da testemunha foram brocados, por ser uma época muito favorável às brocas, saída de verão (Figura B).
Utilizar-se de períodos de escape é uma estratégia inteligente, e que o produtor deve aproveitar.
Controle de brocas de pepineiro (Marinda) com Bacillus thuringiensis var. kurstak, por meio de aplicações de Dipel PM 1g/L, em intervalos de 5, 7 e 9 dias.  Figura A: Cultivo de outubro a dezembro; Figura  B: Cultivo de março a maio.




Fotos dos adultos e lagartas das brocas do pepineiro 

Diaphania nitidalis




Diaphania hyalinata




















Ferreira On 11/20/2010 09:08:00 AM Comentarios LEIA MAIS

terça-feira, 30 de novembro de 2010

AGRICULTURA ORGÂNICA: Mitos e Verdades

         A sociedade brasileira e catarinense não admite mais a intensa contaminação do meio ambiente e da saúde do consumidor e agricultor pelo uso desenfreado de agrotóxicos. No mundo inteiro as pessoas estão cada vez mais preocupadas com a saúde e com o consumo de alimentos mais saudáveis. A sociedade, na busca de uma alimentação mais sadia e natural, mudou o conceito de qualidade e passou a exigir produtos cada vez mais “limpos”, isto é, livres de produtos químicos, principalmente resíduos de agrotóxicos. Por não utilizarem agrotóxicos e adubos químicos solúveis e, por serem produzidos com técnicas ambientalmente corretas, os alimentos orgânicos são os ideais para toda a família. Além disso, em comparação com os produtos obtidos no sistema de cultivo convencional, ou seja, que utilizam agroquímicos, os produtos orgânicos possuem maior teor de vitaminas e sais minerais, bem como maiores teores de proteínas, aminoácidos, carboidratos e matéria seca e, ainda melhor sabor e conservação. Além do maior custo, devido à dependência externa, os agroquímicos, especialmente quando aplicados incorretamente, contaminam o lençol freático e córregos, colocando em risco a saúde do agricultor, do consumidor e do meio ambiente.
O Centro de Informações Toxicológicas - CIT, situado no Hospital Universitário da UFSC, possui levantamentos bastante preocupantes. De 1990 até 2007, o CIT detectou 9.300  intoxicações de agricultores em Santa Catarina e 233 mortes (fonte: www.anvisa.gov.br).  Segundo os técnicos do CIT, isto representa apenas uma pequena parte (aquilo que se conseguiu registrar) da realidade. Os números são, na verdade, bem maiores. Estima-se que para cada caso registrado existam mais 10 que não são registrados devido a dificuldade no diagnóstico correto.  No Brasil, somente no ano de 2007, foram registrados 19.235 casos de intoxicações por agrotóxicos. No Brasil, maior consumidor de agrotóxicos do mundo, foram vendidas 725,6 mil toneladas dessas substâncias, somente em 2009, movimentando 6,62 bilhões de dólares, segundo dados da própria indústria de agrotóxicos.
         Pesquisa da Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA – em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz – FIOCRUZ –  realizada com frutas e hortaliças nos maiores centros consumidores do Brasil desde 2001, comprova que várias espécies cultivadas estão seriamente contaminadas por resíduos de agrotóxicos e, o que é pior, por produtos não autorizados para as culturas. Relatório recente da Anvisa, em 26 estados, pesquisando 20 espécies (frutas e hortaliças) em 2009,  revela que 907 (29%) amostras de um total de 3.130 amostras coletadas, incluindo todas as espécies pesquisadas, estavam contaminadas, alcançando no pimentão, uva, pepino, morango, couve, abacaxi, mamão, alface, tomate e beterraba até 80; 56,4; 54,8; 50,8; 44,2; 44,1; 38,8; 38,4; 32,6 e 32% de amostras contaminadas, respectivamente. Os agrotóxicos encontrados nestes cultivos, são ingredientes ativos com alto grau de toxicidade aguda comprovada, e que causam problemas neurológicos, reprodutivos, de desregulação hormonal e até câncer.
         Pesquisas realizadas na Epagri/Estação Experimental de Urussanga, comparando sistemas de produção, comprovaram que é possível produzir hortaliças  orgânicas, ou seja, sem o uso de adubos químicos e agrotóxicos e que alguns mitos criados sobre a agricultura orgânica são falsos: é cara, produz menos e com pior qualidade quando comparados aos obtidos no sistema convencional. Os resultados obtidos evidenciaram que o cultivo orgânico de hortaliças é mais barato (reduz o custo com insumos em até 50%), produz tanto  quanto no sistema convencional e,  para algumas espécies a produtividade é superior e de melhor qualidade, a fertilidade do solo é maior e mais duradoura , além de tornar o produtor menos dependente de insumos (a maioria são importados e caros) pois pode prepará-los na própria propriedade e, o mais importante, sem riscos ao produtor, consumidor e meio ambiente.
          A agricultura orgânica é o termo que se emprega para designar o sistema de produção ecológico e sustentável, baseado na preservação e respeito à terra, ao ambiente e ao homem.  O cultivo orgânico é uma forma natural de produzir alimentos sem o uso de agrotóxicos, adubos químicos  e outros produtos químicos prejudiciais á saúde humana e ao meio ambiente.  A utilização deste sistema significa fazer as pazes com a natureza (Figura 1), protegendo os recursos naturais e produzindo de forma  mais barato, comida mais gostosa e nutritiva e, o mais importante, protegendo as futuras gerações, restaurando a biodiversidade e preservando a diversidade biológica, que é a base de uma sociedade equilibrada.
         Na agricultura orgânica o solo é tratado como um organismo vivo, os insetos-pragas e doenças são manejados, somente quando necessário, com produtos naturais e os inços errôneamente chamados de plantas “daninhas”, são considerados “amigos” das plantas cultivadas e denominados corretamente de plantas espontâneas ou indicadoras de algum problema no solo. Outras práticas tais como  plantio direto, cultivo mínimo, adubação orgânica e verde, uso de cultivares resistentes às pragas e doenças, cobertura morta, rotação e consorciação de culturas, são essenciais para o sucesso do cultivo orgânico, pois conduzem à estabilidade do agroecossistema, ao uso equilibrado do solo, ao fornecimento ordenado de nutrientes e à manutenção de uma fertilidade real e duradoura no tempo.

Figura 1. A imagem mostra um ninho com filhotes de passarinho convivendo com uma lavoura de tomate conduzida no sistema de cultivo orgânico. Na agricultura orgânica o homem faz as pazes com a natureza, protegendo os recursos naturais (solo, água, flora e fauna) e as futuras gerações. No cultivo convencional de tomate é impossível termos esta imagem, devido ao uso de um grande número de agrotóxicos, altamente prejudiciais ao meio ambiente.




Características agronômicas de 21 cultivares de banana em sistema orgânico


Márcio Sônego[1], Luiz Augusto Martins Peruch[2], Luiz Alberto Lichtemberg[3], Cristiano Nunes Nesi[4]


[1] Eng.agr,, Dr., Epagri/Estação Experimental de Urussanga, C.P. 49, 88840-000 Urussanga, SC, fone: (48) 3465-1209, e-mail: sonego@epagri.sc.gov.br
[2] Eng.agr,, Dr., Epagri/Estação Experimental de Urussang, e-mail: lamperuch@epagri.sc.gov.br
[3] Eng.agr,, M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Itajai, C.P. 277, 88301-970 Itajai, SC, fone: (47) 3341-5244, e-mail: licht@epagri.sc.gov.br
[4] Eng.agr., M.Sc., Epagri/Centro de Pesquisa para Agricultura Familiar – Cepaf-, C.P. 791, 89801-970 Chapecó, SC, fone: (49) 3361-0600, e-mail:cristiano@epagri.sc.gov.br

A banana é a fruta mais cultivada no Litoral Sul de Santa Catarina. Em torno de 8.500 hectares são ocupados com bananais, distribuídos em pequenas propriedades rurais (Sônego et al., 2003). As cultivares mais plantadas nos pomares comerciais da região pertencem ao subgrupo Prata (AAB) e ao subgrupo Cavendish (AAA), com 84% e 16% da área total, respectivamente (Souza & Conceição, 2002).
A bananeira também se destaca como a principal fruta na produção orgânica em âmbito estadual (Oltramari et al., 2002). Todavia, o cultivo orgânico desta fruta apresenta uma série de particularidades inerentes ao sistema de produção. Fungicidas, inseticidas e herbicidas, em sua maioria, não podem ser aplicados para controlar doenças, pragas e plantas daninhas, respectivamente. Por este motivo, existem inúmeros desafios em relação às questões relacionadas à qualidade fitossanitária da bananeira a serem superados a fim de viabilizar a produção orgânica.
Pela sua rusticidade ao clima subtropical (Lichtemberg & Moreira, 2006), a ‘Enxerto’ é a banana mais comumente cultivada no sistema orgânico no Litoral Sul de Santa Catarina. Entretanto essa cultivar apresenta alta susceptibilidade ao mal-de-sigatoka, mal-do-Panamá e pencas falhadas. Alguns trabalhos têm determinado o comportamento de diferentes cultivares sob sistema orgânico (Marcílio et al., 2006; Gómez et al., 2006). No Brasil, Marcílio et al. (2006) determinou que ‘Tropical’ e ‘IAC 2001’ como adequados a produção orgânica no Mato Grosso. Os clones FHIA 2, FHIA 17 e 18  foram considerados como apropriados para cultivo orgânico em condições de trópico seco da Venezuela (Gómez et al., 2006).
Mundialmente, programas de melhoramento genético têm procurado desenvolver genótipos de bananeira com maior resistência às pragas e doenças, sendo muitos deles recomendados para cultivo orgânico, a exemplo de materiais lançados pela FHIA - Fundação Hondurenha de Investigação Agrícola (Rowe, 1999).
O presente trabalho aborda o desempenho agronômico de 21 cultivares de banana, com o objetivo de identificar genótipos mais adequados à produção orgânica nas condições ambientais do Litoral Sul de Santa Catarina. 
Em outubro de 2001 foi implantada uma coleção com 21 cultivares de bananeiras na Epagri/Estação Experimental de Urussanga. O solo é do tipo argissolo vermelho-amarelo originário de diabásio neozólico, com as seguintes características físico-químicas: Argila = 53%; pH índice SMP = 6,5; P = 8,0 mg/L; K = 166 mg/L; Matéria Orgânica = 2,5%; Ca + Mg = 5,7 cmolc/L. As mudas de bananeira do tipo pedaços de rizoma foram plantadas no espaçamento de 3 metros entre fileiras e 2,5 metros entre plantas, sendo que cada um dos 21 cultivares formou uma fileira de 12 plantas. Cada cova de plantio recebeu 500 gramas de calcário dolomítico e dois quilos de esterco curtido de aviário. A cada seis meses foram aplicados 6,0 t/ha de cama de aviário de palha de arroz, divididos em 4,0 kg por touceira, amontoados a um metro de distância da planta filha e cobertos com restos culturais. Seis e 12 meses após o plantio foi aplicado 2,0 t/ha de calcário dolomítico sem incorporação. O controle das ervas no bananal foi feito através de roçadas e capinas no primeiro ano, e por roçadas nos anos subsequentes. O bananal foi conduzido no sistema mãe-filha-neta.  As folhas com mais de 50% de severidade da sigatoka ou necroses naturais foram cortadas e colocadas ao chão.
A altura do pseudocaule, sua circunferência a 30 cm do chão e o número de folhas foram avaliados por ocasião da emissão do cacho. A colheita foi feita a partir de março de 2003, em intervalos semanais, estendendo-se até fevereiro de 2006. Os cachos foram despencados, pesando-se cada penca para obter o peso total do cacho sem o engaço (ráquis). Para as características avaliadas foram calculados os intervalos de confiança (IC) para a média de cada variável, dado por:


em que X é a média das observações referentes à característica avaliada; t é o valor da distribuição t de Student, a 5% de probabilidade de erro; s é o desvio padrão das observações e n o número de observações. A apresentação dos resultados é feita pela média seguida da semi-amplitude do intervalo de confiança (Tabela 1).     
A emissão do primeiro cacho após o plantio variou de 373 dias para a ‘Pioneira’, até 490 dias para ‘Williams’ e ‘Ouro da Mata’.  Em geral, bananeiras do subgrupo Prata (AAB) e Figo (ABB) lançaram os primeiros cachos mais precocemente do que bananeiras do subgrupo Cavendish (AAA) e híbridas (AAAB).  Entretanto, Lichtemberg et al. (2002) relatam que após o primeiro ciclo de produção as cultivares do subgrupo Cavendish (‘Nanicão’ e ‘Grande Naine’) se tornam mais precoces do que as cultivares do subgrupo Prata (‘Enxerto’ e ‘Branca’).  Os valores de altura e da circunferência do pseudocaule à época da emissão do cacho aumentaram no segundo ano de produção para todas as cultivares. De maneira geral, houve redução no número de folhas no momento de emissão do segundo cacho, comparado aos valores da primeira inflorescência. A tendência de redução de folhas úteis ao longo dos anos está relacionado com vários fatores. Parte dos danos deve-se a incidência de sigatoka, mas cultivares resistentes a esta doença também apresentaram comportamento semelhante.
O número de pencas por cacho aumentou do primeiro para o segundo cacho na maioria das cultivares de banana, tendo sido mais expressivo para os cv. ‘Pioneira’ e ‘Prata Baby’ (Figura 1 e 2).  Cultivares do subgrupo Prata (AAB) apresentaram pouca alteração no peso do cacho do primeiro para o segundo ciclo. Já os híbridos (AAAB) mostraram incremento no peso do cacho do primeiro para o segundo ciclos, com destaque para ‘Pioneira’ e ‘Prata Baby’. Tendência semelhante foi encontrada por Lichtemberg et al. (2002), tanto para cultivares do subgrupo Prata como para os híbridos, mesmo em cultivo convencional. Por sua vez, cultivares do subgrupo Cavendish (AAA) apresentaram redução do peso do cacho no segundo ciclo, contrastando com resultados apresentados por Lichtemberg et al. (2002) que apontam incremento no peso de cacho no segundo ciclo para o subgrupo Cavendish, em cultivo convencional.
Além dos aspectos de fisiologia e produtividade da cultivar também é importante considerar a sua resistência ao mal-de-sigatoka. Segundo dados de Peruch et al. (2007) verificou-se que as cultivares ‘Figo’, ‘Figo Cinza’, ‘Tropical’, ‘Prata Baby’ (‘Nam’), ‘Thap Maeo’, ‘Pioneira’, ‘FHIA-01’ e ‘Ouro da Mata’ (Figura 3) mostraram-se mais resistentes à doença sob condições de cultivo orgânico.
Levando-se em consideração os aspectos de produção e resistência ao mal-de-sigatoka podem-se recomendar as cultivares para cultivo orgânico de acordo com a sua aptidão: ‘Tropical’, ‘Prata Baby’ (‘Nam’), ‘Thap Maeo’, ‘Ouro da Mata’ e ‘FHIA-01’ para consumo in natura; ‘Figo’, ‘Figo Cinza’ e ‘FHIA-01’ para fabricação de chips; ‘Pioneira’ para fabricação de polpa ou banana passa.

Literatura Citada

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LICHTEMBERG, L. A.; MALBURG, J. L.; ZAFFARI, G. R. et al. Banana. In: EPAGRI (Ed.) Avaliação de cultivares para o Estado de Santa Catarina 2002/2003. Florianópolis: EPAGRI, 2002. p.31-37.

LICHTEMBERG, L.A.; MOREIRA, R.S. The history and characteristics of the ‘Enxerto’ banana. In: REUNIÃO INTERNACIONAL DA ASSOCIAÇÃO PARA A COOPERAÇÃO NAS PESQUISAS SOBRE BANANA NO CARIBE E NA AMÉRICA TROPICAL, 7., 2006, Joinville. Anais...Joinville, 2006. p.885-887.

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PERUCH, L. A. M.; SÔNEGO, M. Resistência de genótipos de bananeiras a sigatoka amarela sob cultivo orgânico. Revista Brasileira de Agroecologia, Porto Alegre. v.3, n.2, p.86-93, set. 2007.

ROWE, P. Mejoramiento de banano y plátano resistentes a plagas y enfermedades. In: PRODUCCIÓN DE BANANO ORGÁNICO Y, O, AMBIENTALMENTE AMIGABLE. Memorias… Guácimo, 1998.  p.56-62.

SÔNEGO, M.; BRANCHER, A.; MADALOSSO, C. et al. A fruticultura no Litoral Sul Catarinense. Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.16, n.3, p.44-49, nov.2003.
SOUZA, A. T. de; CONCEIÇÃO, O. A. da. Fatores que afetam a qualidade da banana na agricultura familiar catarinense. Florianópolis: Instituto Cepa/SC, 2002. 68p.

Figura 1. Bananeira ‘Prata Baby’ com folhas sadias e cacho próximo ao ponto de colheita.

Figura 2- Penca de banana ‘Baby Prata’ em estágio médio de maturação. Esta cultivar apresentou o maior teor de doçura.

Figura 3- Penca de banana ‘Tropical’ em estágio médio de maturação. Esta cultivar pode substituir a banana ‘Maçã’.
Tabela 1- Valores da média e da semi-amplitude para as características agronômicas de 21 cultivares de bananeira sob manejo orgânico, na Estação Experimental da Epagri, em Urussanga, Santa Catarina, para primeira e segunda colheitas feitas entre os anos de 2003 a 2005.
* Os valores entre parênteses correspondem a semi-amplitude do intervalo de confiança para média com base na distribuição t de Student com 95% de confiança.


segunda-feira, 29 de novembro de 2010

PRINCÍPIOS BÁSICOS DA AGRICULTURA ORGÂNICA: Parte 1

As “plantas daninhas” ou inços, são consideradas “amigos” das plantas cultivadas

Porque o termo “plantas daninhas” não é utilizado na agricultura orgânica?  não é apropriado, pois leva em conta apenas seus efeitos negativos sobre a produção, ignorando os efeitos positivos do mato sobre as plantas cultivadas. Na agricultura orgânica, estas são chamadas de plantas espontâneas (espécies que germinam na área de cultivo) ou indicadoras de algum problema no solo. Quando uma planta se torna agressiva, chamada de “invasora”, “mato” ou “inço” e domina uma área, o problema não está na planta, mas no solo e/ou no ambiente que o envolve. Portanto, para que esta planta não domine a área cultivada, primeiro é preciso resolver os problemas existentes no solo. Na agricultura orgânica esta planta é denominada “indicadora” de algum problema existente no solo. Por exemplo, a guanxuma (Sida spp.), a samambaia (Pteridium aquilinum), o capim marmelada ou papuã (Brachiaria plantaginea), a carqueja (Baccharis spp.), o picão preto (Bidens pilosa) e o picão branco (Galinsoga parviflora) indicam problemas de solos compactado, ácido, constantemente arado e gradeado, pobre, desequilibrado e com excesso de nitrogênio e deficiente em micronutrientes,  respectivamente.
     As “plantas espontâneas, no sistema de produção orgânico, são chamadas de “amigas” das plantas cultivadas pois podem perfeitamente conviver com  os cultivos após o período crítico de competição, especialmente por luz, nos primeiros 30 dias após o plantio. A grande maioria das plantas espontâneas também podem funcionar como plantas de cobertura do solo, protegendo-o contra a erosão e adversidades climáticas, ajudam na descompactação do solo, contribuem para adubação verde  e até como abrigo e alimento de inimigos naturais dos insetos-pragas que atacam as culturas. A presença de beldroega (Portulaca oleracea), por exemplo,  indica que o solo é fértil, não prejudica as lavouras, protege o solo e ainda é planta alimentícia com elevado teor de proteína.
Como são controladas as “plantas daninhas” ou mato no sistema convencional e suas implicações no meio ambiente?  neste sistema é utilizada a chamada capina química, ou seja, são utilizados os herbicidas com inúmeras conseqüências ao meio ambiente e à saúde das pessoas, especialmente quando não são usados os equipamentos de proteção individual.   Os herbicidas mais utilizados são a base de glyphosate e paraquat, mais conhecidos comercialmente como roundup e gramoxone, respectivamente. O roundup para a saúde humana é um dos produtos que mais causam doenças de pele, problemas respiratórios,  além de causar danos genéticos e efeitos negativos na reprodução de vários organismos. O glyphosate fica no solo por mais de um ano, mata insetos benéficos como vespas parasitárias e joaninhas, afeta minhoca e fungos benéficos e ainda aumenta a susceptibilidade das plantas às doenças. Por outro lado, o paraquat é o herbicida de longa persistência no ambiente. É importante lembrar que estes produtos estão proibidos pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) de serem usados em áreas urbanas, pois não tem como impedir o trânsito de pedestres nas ruas das cidades pelo menos nas 24 horas após a aplicação.
Manejo de plantas de cobertura e  de plantas espontâneas na agricultura orgânica
     As plantas de cobertura do solo, tradicionalmente, têm sido utilizadas para conservação do solo e suprimento de nitrogênio, através das leguminosas. Atualmente, as plantas de cobertura são importantíssimas na conservação do solo, no suprimento de nutrientes como o nitrogênio, no equilíbrio das propriedades do solo e até no manejo de plantas espontâneas. As plantas de cobertura afetam a germinação das sementes e o crescimento das plantas espontâneas, podendo, quando a cobertura do solo estiver acima de 90%, reduzir em até 75%, estas plantas. Áreas infestadas por tiririca ou junça (Cyperus rotundus), indicadora de solo ácido, compactado e com carência em magnésio (Mg)  podem ser melhoradas com plantas de cobertura tais como feijão miúdo, feijão de porco e mucuna preta. Diversas plantas espontâneas também podem serem utilizadas como cobertura do solo nas entre linhas dos cultivos, manejando-se com roçadas, sempre que necessário. As práticas adotadas nas regiões produtoras influenciam no desenvolvimento das espécies de plantas espontâneas ou indicadoras. A escolha das áreas para cultivo é muito importante,  evitando-se áreas infestadas com plantas perenes. Em caso de áreas muito infestadas com plantas espontâneas anuais, o atraso no plantio, após o preparo do  solo, permitirá a germinação antecipada das sementes destas plantas, sendo a semeadura ou plantio da cultura após a eliminação das plantas espontâneas.  Os métodos culturais englobam práticas que tornam a cultura mais competitiva do que as plantas espontâneas, e o mais importante, prevenindo a infestação de forma a evitar a multiplicação de sementes. Na adubação orgânica, preferencialmente deve ser utilizado o composto orgânico, pois os estercos de animais, especialmente o de gado deve ser evitado, pois além de conter sementes de plantas espontâneas, ainda pode prejudicar as plantas cultivadas se forem originário de áreas onde foi aplicado herbicidas. A cobertura morta ou viva com vegetais é outra prática recomendável para diminuir a incidência de plantas espontâneas.  
Principais espécies de adubos verdes utilizados no manejo de plantas espontâneas - estas espécies podem serem semeadas isoladamente ou consorciadas. Também podem serem semeadas, isoladamente ou em consórcios com os cultivos de interesse econômico que utilizam maior espaçamento entre plantas.                 Espécies de inverno (março-julho):   aveia preta – é a mais conhecida, rústica, boa cobertura, inibe as plantas espontâneas (inços) e ainda é ótima para alimentação animal. É ótima para efetuar rotação de culturas, pois é resistente às doenças; ervilhaca - boa produção de massa, boa no uso consorciado com aveia e, é fixadora de nitrogênio do ar; nabo forrageiro – descompacta o solo, devido ao sistema radicular profundo.                             Espécies de verão (setembro-dezembro):  mucuna - boa para consórcio, fixa nitrogênio do ar e com grande capacidade de abafamento das plantas espontâneas;  feijão de porco - rústica, boa produção de massa, adapta-se bem ao consórcio, inibe a tiririca, cebolinha ou junça. Como sugestão de consórcio com culturas econômicas, sugere-se o milho-verde semeado na mesma época da mucuna (Figura 1) ou feijão de porco.

Figura 1.Consórcio milho-verde e mucuna (leguminosa): ótima opção para rotação de culturas e para o manejo das plantas espontâneas no verão, em função do rápido crescimento e abafamento  e, ainda  melhorar a fertilidade do solo

PRINCÍPIOS BÁSICOS DA AGRICULTURA ORGÂNICA: Parte 2

Adubação verde e o manejo de plantas de cobertura do solo
     Do manejo correto do solo, ou seja, a forma de cultivar e tratar o solo, depende o sucesso da agricultura orgânica. Tudo o que acontece com o solo tem algum reflexo positivo ou negativo, no ambiente do qual ele faz parte. O cultivo orgânico prioriza a adição e a manutenção da matéria orgânica através da adubação orgânica (composto e estercos de animais), adubação verde, cobertura do solo e outras práticas, evitando, sempre que é possível o revolvimento do solo e, o mais importante, sem agredir o meio ambiente. O cultivo convencional, por sua vez, prioriza a utilização dos insumos modernos, especialmente os fertilizantes químicos, que só fornecem alguns nutrientes, são violentos acidificadores do solo e, aumentam ainda mais o custo de produção das culturas e, o que é pior, juntamente com os agrotóxicos, contaminam o meio ambiente, prejudicando a vida do solo e a saúde das pessoas.
     A utilização do adubo químico torna as plantas mais fracas e mais suscetíveis às pragas e doenças; o uso de fertilizantes químicos faz com que os aminoácidos (proteínas) se apresentem em forma livre, ao contrário do adubo orgânico onde os aminoácidos formam cadeias complexas, não estando disponível às pragas. Além disso, alguns adubos químicos são hidrossolúveis, isto é, dissolvem-se na água, sendo uma parte rapidamente absorvida pelas raízes das plantas, a maior parte é lixiviada, ou seja, é lavada pelas águas das chuvas e regas, indo poluir rios, lagos e lençóis freáticos e há ainda uma terceira parte que se evapora, como no caso dos adubos nitrogenados (como a uréia) que sob a forma de óxido nitroso pode destruir a camada de ozônio da atmosfera, sendo uma das causas do aquecimento global.                       
O que é adubação verde e como utilizar?
   Adubação verde, uma das maneiras de cultivar e tratar bem o solo, é uma técnica agrícola que consiste no cultivo de espécies de plantas com elevado potencial de produção de massa vegetal, semeadas em rotação, sucessão e até em consórcio com culturas de interesse econômico. No cultivo em rotação, o adubo verde pode ser incorporado ao solo após a roçada para posterior plantio da cultura de interesse econômico, ou mantido em cobertura sobre a superfície do terreno, fazendo-se o plantio direto da cultura na palhada. A manutenção da palhada na superfície retarda a germinação das sementes de plantas espontâneas (inços), ao passo que a sua incorporação ao solo tende a fornecer os nutrientes mais rapidamente para a cultura em sucessão. No consórcio, o adubo verde pode ser semeado nas entrelinhas ou em todo o terreno. Neste último caso, pode-se fazer a roçada na linha (em torno de 20cm) onde vai ser plantada a cultura de interesse econômico e, sempre que necessário para não prejudicar o crescimento da cultura. Estas espécies tem ciclo anual ou perene, isto é, cobrem o terreno por determinado período de tempo ou durante o ano todo. No entanto, a adubação verde por si só, não é suficiente para atender as culturas mais exigentes, como as hortaliças. Na maioria das vezes deve ser complementada pela adubação orgânica, feita preferencialmente com composto orgânico  ou estercos de animais curtidos, sempre baseada na análise do solo.  
Principais benefícios da adubação verde para o solo:  proteção contra a erosão (perda do solo),  e, diminuição da lixiviação (lavagem) de nutrientes; melhoria do solo, com maior infiltração e retenção de água; promove acréscimos de matéria verde e seca, mantendo ou até mesmo elevando o teor de matéria orgânica do solo; reduz as oscilações de temperaturas das camadas superficiais do solo e diminui a evaporação,  aumentando a disponibilidade de água para as culturas; pela grande produção de raízes, rompe camadas compactadas e promove a aeração beneficiando os organismos benéficos do solo; promove mobilização e reciclagem de nutrientes devido ao sistema radicular profundo e ramificado, retirando nutrientes de camadas mais profundas do solo, não aproveitados pelos cultivos; reduz a população de plantas espontâneas (mato ou inços no cultivo convencional), em função do crescimento rápido e agressivo dos adubos verdes; aumento da disponibilidade de macro e micronutrientes e ainda diminui a acidez do solo. As vantagens da adubação verde não param por aí: reduz pragas e doenças nos cultivos quando utilizada em rotação de culturas, e, em consorciação, pode servir de abrigo para os inimigos naturais dos insetos-pragas que atacam os cultivos.
 Como utilizar adubação verde em consórcio com as culturas? a principal desvantagem da adubação verde ocorre em pequenas propriedades, pois torna-se difícil manter o terreno coberto por um longo período de tempo com estas espécies no lugar das culturas econômicas. Neste caso, uma boa opção é utilizá-las em consórcio com as culturas econômicas. Por exemplo: cultivo mínimo (abertura do sulco e plantio/semeadura) de repolho, couve flor,tomate tutorado, milho e outras no final do inverno, em área semeada com aveia, ervilhaca ou nabo forrageiro, em plantio solteiro ou consorciado, no outono. A retirada das plantas de adubos verdes que competiam com as culturas é realizada apenas na linha de plantio, sendo  as entrelinhas mantidas com os adubos verdes ou quando necessário é feito a roçada. As plantas espontâneas (inços), com excessão de algumas muito agressivas, também podem ser utilizadas como adubos verde e cobertura do solo, em consorciação com as culturas.
Principais espécies de adubos verdes utilizadas em rotação e consorciação de culturas
Espécies de inverno, semeadas em março-julho (Figura 1):   aveia preta – é a mais conhecida, rústica, boa cobertura, inibe as plantas espontâneas (inços) e ainda é ótima para alimentação animal. É ótima para efetuar rotação de culturas, pois é resistente às doenças; Ervilhaca - boa produção de massa, boa no uso consorciado com aveia e, é fixadora de nitrogênio do ar; nabo forrageiro – é uma espécie que descompacta o solo, devido ao sistema radicular profundo.
Espécies de verão, semeadas em setembro-dezembro: mucuna - boa para consórcio, fixa nitrogênio do ar e com grande capacidade de abafamento das plantas espontâneas. Feijão de porco-rústica, boa produção de massa, adapta-se bem ao consórcio, inibe a tiririca, cebolinha ou junça. Sugere-se para consórcio com culturas econômicas, o milho-verde semeado na mesma época de plantio da mucuna ou feijão de porco. 

Figura 1. Sugestão de consórcio de inverno de adubos verdes com cultivos:  aveia preta (60kg/ha) + ervilhaca (18kg/ agosto/setembro ha) + nabo forrageiro (4kg/ha), semeados no período de março a julho,  consorciado com o plantio de tomate tutorado, em.

PRINCÍPIOS BÁSICOS DA AGRICULTURA ORGÂNICA: Parte 3

Composto orgânico – adubo natural de ótima qualidade preparado na propriedade
     Tratar o solo como um “organismo vivo” é um dos princípios básicos da agricultura orgânica. O composto orgânico, adubo natural preparado na propriedade, é a principal fonte de matéria orgânica para o solo. Os insumos modernos utilizados na agricultura convencional  (fertilizantes químicos e agrotóxicos), especialmente, quando aplicados em excesso e de forma incorreta, além de caros pois são na grande maioria, importados, contaminam o meio ambiente, contribuem para o aquecimento global e, o que é pior, favorecem o aparecimento de doenças e pragas nas plantas e até doenças nas pessoas. Alguns adubos químicos, por serem hidrossolúveis (dissolvem-se na água), e com o excessivo revolvimento do solo em terrenos inclinados, contaminam as fontes de água devido a erosão (perda do solo). O uso exagerado de adubos químicos nitrogenados (uréia e outros) pode causar a metaemoglobinemia em crianças, doença resultante da ingestão de nitritos (produzidos a partir de nitratos) que reagem com a hemoglobina, reduzindo a sua capacidade de carregar oxigênio.  Além disso, os nitritos participam de reações formadoras de compostos cancerígenos.
.O que é compostagem?  é um processo controlado de fermentação de resíduos orgânicos para produção de adubo orgânico. No processo que é biológico ocorre a desintegração de resíduos devida à decomposição aeróbica (presença de ar), realizadas pelos microorganismos. Da decomposição resulta: gás carbônico, calor, água e a matéria orgânica “compostada”.
.Vantagens do composto orgânico: estimula a saúde natural das plantas; reduz as pragas, doenças e plantas espontâneas (inços); boa fonte de macro e micronutrientes essenciais; melhora a estrutura do solo tornando-o mais fofo, é mais rico em nutrientes e com mais vida e, ainda  corrige a acidez do solo. Em relação ao esterco de animais curtido, o composto orgânico também possui vantagens: é um produto estabilizado e mais equilibrado e, por isso, mais eficiente na melhoria do solo, mais rico em nutrientes e, não acidifica o solo. As vantagens não param por aí: o composto orgânico, devido a fermentação, é livre de sementes de plantas espontâneas e de microorganismos causadores de doenças nos cultivos. Resultados de pesquisa obtidos na Epagri/Estação Experimental de Urussanga, comparando cultivos orgânico e convencional (com adubos químicos), mostraram que o solo onde utilizou-se adubo orgânico, a fertilidade era maior e não necessitava de calagem. Como desvantagem do composto, pode-se citar a exigência de mão de obra. Porém, ao longo dos anos, a necessidade é cada vez menor em função da melhoria da fertilidade (duradoura no tempo) e correção natural da acidez do solo, o custo é mais baixo, quando comparado ao adubo químico.
.Materiais utilizados na compostagem: basicamente  deve-se  misturar  materiais  vegetais com estrume de animais. Em outras palavras, deve-se misturar materiais ricos em carbono (vegetais) com outros ricos em nitrogênio (estercos de animais), na quantidade adequada; um composto só de palha ou outros materiais ricos em carbono demora muito para fermentar e se decompor. Por outro lado, um composto feito só de materiais ricos em nitrogênio apodrece, exala mau cheiro e reduz muito o volume e perde-se muito nitrogênio.  Resíduos vegetais: restos de culturas e plantas espontâneas (inços), capim, folhas, palhas, aparas de grama e etc. Materiais mais duros e grossos precisam ser picados.O produtor deve priorizar resíduos vegetais produzidos na propriedade para facilitar e baratear custos.Resíduos domésticos: cascas de frutas e hortaliças, casca de ovo, borra de café, erva de chimarrão e outros com excessão de restos de comida (atraem moscas).                               
. Onde montar o composto? O mais próximo possível da fonte de água e da lavoura. Não produz mau cheiro e não atrai insetos. Deve-se cobri-lo para evitar perdas por chuvas.
. Modo de fazer o composto orgânico: o método mais prático e difundido consiste em montar as pilhas ou camadas alternadas de restos vegetais com meios de fermentação (estrume de animais), numa proporção aproximada de 3 a 5 partes de vegetais para uma de esterco (Figura 1). Para pequenas quantidades de resíduos vegetais e/ou domésticos, a composteira pode ser feita de madeira, tijolos ou tambor de metal. Para hortas maiores ou comerciais recomenda-se: Tamanho das pilhas: depende da quantidade de materiais orgânicos disponíveis; porém, para facilitar a aeração necessária para a ação dos microorganismos que decompõem a matéria orgânica, recomenda-se  2 a 3m de largura,  1,5 a 2m de altura e comprimento variável. Montagem das pilhas 1ª camada – 15 a 25 cm de restos vegetais ou capim; 2ª camada – 5 cm de esterco fresco de animais; 3ª camada – 15 a 25 cm de restos vegetais ;4ª camada – 5 cm de esterco fresco de animais. A cada camada de palha deve-se  irrigar, sem encharcar. Repetir o procedimento até a altura de 1,5 a 2m, sendo a última camada de palha para recobrir a pilha.             
. Cuidados com o composto: recomenda-se manter a ventilação e a umidade suficientes e adequados para a ação dos microorganismos, pois a presença do ar e a umidade, bem como o tipo de material é que determinam a velocidade da decomposição da matéria orgânica. Promove-se a aeração pelo revolvimento. Recomenda-se nos primeiros 45 dias, um revolvimento a cada 15 dias. Para pilhas maiores, o revolvimento pode ser feito com trator, utilizando-se a pá-carregadeira ou lâmina. Dependendo do material utilizado e da época, normalmente a maturação do composto ocorre em 90 a 120 dias. Deve-se cobrir o composto para evitar perda da eficiência do adubo em épocas chuvosas.
. Quantidade a aplicar de composto: recomenda-se, anualmente, proceder a análise do solo, para verificar a fertilidade do solo e fazer a adubação adequada. É importante também conhecer, através de análise, as quantidades de macro e micronutrientes existentes no adubo orgânico e a exigência da cultura. Em geral, considera-se uma quantidade de composto a aplicar por metro quadrado:  baixa  - 1,0 a 1,5kg; média - 2,0 a 3,0 kg e alta - 4,0 a 5,0kg.

Figura 1. Montagem das camadas  visando a produção do composto orgânico na Epagri/Estação Experimental de Urussanga, utilizando-se cama de aviário e capim elefante anão, produzido no local.

PRINCÍPIOS BÁSICOS DA AGRICULTURA ORGÂNICA: Parte 4

O solo  deve ser tratado como um “organismo vivo”
      Um solo sadio produz plantas, animais e homens sadios; tudo está ligado entre si como os órgãos de um corpo, por isso o solo, já na antiguidade, era visto como um “organismo vivo”. O solo faz parte do meio ambiente e está ligado a todos os seus outros componentes, como a água, as plantas, os animais e o homem. Tudo que acontece com o solo tem algum reflexo positivo ou negativo, no ambiente do qual ele faz parte. Numa grama de solo, vivem alguns milhões de seres vivos que dependem de como é tratado o solo e que sofrem  com as agressões do homem. O uso intensivo, inadequado e exagerado da mecanização, dos agrotóxicos, dos corretivos e dos adubos químicos, associados ao monocultivo (cultivo da mesma espécie sempre na mesma área) e a erosão do solo, conduz a maioria dos solos cultivados na agricultura moderna ou cultivo convencional, a um processo de auto-degradação.
     A degradação ou degeneração do solo está relacionada aos prejuízos que causa às características biológicas (organismos vivos) e físicas (textura e estrutura) do solo. A textura se relaciona ao tamanho das partículas; um solo tem diferentes teores de areia, argila,  matéria orgânica, água, ar e minerais. A forma como esses componentes se organizam representa a estrutura do solo. Um solo bem estruturado é fofo e poroso, permitindo a penetração da água e do ar, assim como de pequenos animais e raízes. A vida no solo só é possível onde há disponibilidade de ar, água e nutrientes. Os organismos vivos do solo fazem a transformação química dos nutrientes, tornando-os disponíveis para absorção pelas raízes das plantas.
     Em regiões de clima tropical e subtropical, predominantes no Brasil, o preparo do solo com arado, grade e outros equipamentos e, principalmente com rotativa, acelera a decomposição (quebra em partes menores pelos microrganismos do solo) da matéria orgânica em quantidades maiores do que a reposição, proporcionando, em conseqüência, a diminuição dos rendimentos das culturas ao longo do tempo. Além disso, a intensidade e freqüência de chuvas predominante nestes climas, associada aos declives dos terrenos, causam perdas de solo (erosão) das camadas mais férteis, maiores do que a regeneração natural, resultando em degradação química (nutrientes utilizados pelas plantas), física e biológica. Em outras palavras, o arado e outros implementos utilizados no preparo do solo não combinam com o uso sustentável da terra no Brasil.
     A compactação do solo, uma das causas da degradação, é proporcionada  pelo uso intenso, inadequado e exagerado de máquinas e equipamentos, na grande maioria pesadas, pela redução da matéria orgânica e da atividade biológica do solo. O manejo inadequado do solo torna as lavouras cada vez mais exigentes em insumos e, em geral menos produtivas e, o que é pior, com alto custo de produção, pois a maioria dos agroquímicos são importados. Além disso, para piorar, a agricultura convencional ou moderna ao retirar do solo vários nutrientes, devolve na forma de adubos químicos, apenas NPK (nitrogênio, fósforo e potássio). Outros macronutrientes, bem como os micronutrientes, exigidos em quantidades reduzidas, mas também essenciais para o equilíbrio do solo e das plantas, não são repostos pela agricultura convencional. Além disso, os adubos químicos, altamente solúveis, associados ao revolvimento do solo em áreas inclinadas,contaminam rios e córregos devido a erosão. E os problemas do cultivo convencional não param por aí: os adubos químicos acidificam o solo, tornando a prática da calagem necessária, no mínimo a cada 5 anos.   
     O manejo do solo no sistema de cultivo orgânico, ou seja, a forma de cultivar e tratar o solo corretamente, busca o equilíbrio através de práticas culturais e a melhoria da fertilidade química e das características física e biológica. O manejo adequado do solo proporciona o aumento da resistência das culturas às pragas e doenças e às mudanças impostas por adversidades climáticas (ex.:estiagens e chuvas intensas). No cultivo orgânico a correção da acidez é realizada naturalmente e a fertilidade do solo é mais duradoura no tempo.
     As causas da degradação do solo, em geral, estão relacionadas aos prejuízos que causam aos organismos vivos. Tanto a degradação quanto a regeneração do solo são processos lentos que ocorrem no decorrer de alguns anos. Dentre as opções para a regeneração da fertilidade e da vida do solo destacam-se: adubação orgânica (composto orgânico, estercos de animais e restos culturais), adubação verde, cultivo e manejo de plantas de cobertura (viva ou morta), e plantas espontâneas, rotação e consorciação de culturas, plantio direto, cultivo mínimo (Figura 1) e  outras práticas que previnem a erosão do solo.

Figura 1. Cultivo mínimo (abertura do sulco e plantio das mudas) de repolho no final do inverno, em área semeada com consórcio de adubos verdes (aveia, ervilhaca e nabo forrageiro), no outono. A retirada das plantas de adubos verdes que estavam competindo com o repolho é realizada apenas na linha de plantio, sendo  as entrelinhas mantidas com os adubos verdes. A função dos adubos verdes é  proteger a vida do solo do clima adverso, reduzir a infestação de plantas espontâneas, melhorar a fertilidade tornando-a mais duradoura  e descompactar o solo, além de servir de abrigo para os inimigos naturais dos insetos- pragas que atacam a cultura.


PRINCÍPIOS BÁSICOS DA AGRICULTURA ORGÂNICA: Parte 5

Adubação orgânica
      O sucesso da agricultura orgânica depende da maneira como tratamos o solo. O uso intensivo, inadequado e exagerado da mecanização, dos agrotóxicos, dos corretivos e dos adubos químicos, associados ao monocultivo (cultivo da mesma espécie sempre na mesma área) e a erosão (perda do solo), conduz a maioria dos solos cultivados na agricultura moderna  a um processo de auto-degradação e, o que é pior, à contaminação do meio ambiente. Por sua vez, a agricultura orgânica promove a regeneração do solo através de diversas práticas associadas tais como, plantio direto, cultivo mínimo, manejo de restos culturais, plantas de cobertura e plantas espontâneas, adubação verde, rotação e consorciação de culturas e, especialmente a adubação orgânica, que favorecem a vida do solo e as plantas cultivadas.
     A prática da adubação orgânica é uma forma de tratar bem o solo, ou seja, como um “organismo vivo”. De maneira simples e direta, pode-se dizer que a matéria orgânica é a parte do solo que já foi ou ainda é viva. É a matéria orgânica que dá a cor escura aos solos; em solo muito claro, aparentemente sem vida, “fraco”, é bem provável que o teor de matéria orgânica seja muito baixo (Figura 1). A vida do solo depende da matéria orgânica que mantém a sua estrutura porosa (fofa), sem compactação, proporcionando a vida vegetal graças à entrada de ar, água e nutrientes. O adubo orgânico é constituído de resíduos de origem  vegetal ou  animal tais como: estercos de animais, restos de culturas, palhadas, capins, folhas, raízes das plantas, animais que vivem no solo e tudo mais que se decompõe, transformando-se em húmus  (resultado da ação de diversos microrganismos sobre os restos animais e vegetais).
     Além de melhorar a resistência das plantas às doenças, pragas e ao climas adverso(secas, chuvas intensas) e, especialmente a vida no solo, a adubação orgânica só tem vantagens:
  • aumenta a capacidade do solo em armazenar água, diminuindo os efeitos das secas. O solo com bom teor de matéria orgânica funciona como uma esponja, sendo que 1g de matéria orgânica retém 4 a 6g de água no solo. Graças à capacidade de armazenar água, a matéria orgânica diminui as oscilações de temperatura do solo durante o dia;
·        promove cimentação e agregação das partículas em solos arenosos, resultando em maior capacidade de retenção de água. Os solos argilosos tornam-se mais soltos e arejados; além disso, a adubação orgânica auxilia no controle à erosão (perda do solo) através do maior grau de aglutinação das partículas e diminui a compactação do solo;
  • aumenta a população de minhocas, besouros, fungos e bactérias benéficas, além de vários outros organismos úteis que vivem associados às raízes das plantas;
  • a adubação orgânica aumenta a penetração das raízes e a oxigenação do solo. Possui macro (NPK, Ca, Mg e S) e micronutrientes em quantidades bem equilibradas, que as plantas absorvem conforme sua necessidade, em quantidade e qualidade. Além disso, na adubação orgânica, as perdas dos nutrientes com as chuvas intensas e frequentes são bem menores, quando comparado a adubação química (altamente solúvel);
  • a adubação orgânica possui substâncias de crescimento (fitohormônios), que aumentam a respiração e a fotossíntese das plantas.
      As vantagens da adubação orgânica não param por aí: ela melhora também a qualidade dos alimentos, tornando-os mais ricos em vitaminas, aminoácidos, sais minerais, matéria seca e açúcares, além de serem mais aromáticos, saborosos e de melhor conservação pós-colheita.

Principais fontes de matéria orgânica: a fonte ideal de matéria orgânica para ser utilizada na agricultura orgânica é o composto orgânico que é o resultado da transformação, por meio da fermentação, dos resíduos orgânicos (camadas de 3 a 5 partes de restos vegetais e uma de esterco de animais) em adubo natural.
Composto orgânico: o composto é rico em microrganismos ativos e seus metabólitos que estimulam a saúde natural das plantas. Além de ser uma boa fonte de macronutrientes, possui micronutrientes essenciais (B, Mo, Mn, Zn, Cu e Cl) para o desenvolvimento das plantas e reduz a acidez do solo. Ao contrário dos adubos químicos e estercos de animais que podem salinizar o solo e contaminar rios e córregos, o composto orgânico não prejudica o meio ambiente. Mas as vantagens não param por aí: devido a temperatura alta (até 65ºC) em função da fermentação durante o processo da compostagem, os microorganismos causadores de doenças das plantas e as sementes de plantas espontâneas (inços) não sobrevivem.   A próxima matéria tratará, passo a passo, como fazer, e os cuidados  no preparo do composto orgânico na propriedade.                                      Estercos de animais: em função da maior disponibilidade, os estercos curtidos de aves e de gado ou a cama-de-aviário são os mais comumente utilizados na adubação orgânica. O uso de esterco ainda em fase de fermentação (frescos) por ocasião da semeadura/plantio, pode causar uma série de problemas  tais como: danos às raízes e às sementes, destruição dos microrganismos do solo, formação de produtos tóxicos, morte da planta pelo calor e contaminação das águas dos rios e córregos, além de acidificar o solo. Além disso, os estercos frescos podem contaminar as partes comestíveis das plantas e causar doenças nas pessoas.  O conhecimento da origem do esterco, especialmente o de gado, é muito importante, pois o uso de alguns herbicidas nas pastagens pode prejudicar as plantas cultivadas, além do que os estercos podem serem fontes de plantas espontâneas (inços). Os estercos de animais, para serem utilizados, devem ser curtidos (“envelhecidos” em locais protegidos por cerca de 90 dias)  e bem incorporados na cova ou sulco de plantio, em dosagens conforme o teor de nutrientes e com base na análise do solo. Não recomenda-se mais que 2kg/m2 de esterco curtido de aves, anualmente.

Figura 1. Representação de um solo cultivado no sistema convencional (com revolvimento excessivo, compactado e com alto grau de erosão) e um solo orgânico (solo tratado como “organismo vivo”).

sábado, 20 de novembro de 2010

Controle biológico da broca do pepineiro

Controle biológico da broca do pepineiro Diaphania nitidalis e D. hyalinata com Bacillus thuringiensis var. kurstak 16.000UI (Dipel PM)

Eng. Agr. M.Sc. Renato Arcângelo Pegoraro
Eng. Agr., Dr. José Angelo Rebelo
Eng. Agr. Dr. Murito Ternes
Introdução

As broca-das-curcubitáceas como são conhecidas, atacam as folhas, brotos novos, ramos e , principalmente, os frutos do pepineiro. Os brotos novos atacados secam e os ramos ficam com as folhas secas. Nos frutos abrem galerias e destroem a polpa, acarretando seu apodrecimento e inutilização. A espécie D. nitidalis ataca os frutos de qualquer idade, enquanto D. hyalinata ataca as folhas e a casca dos frutos.


Dados biológicos


Diaphania nitidalis:

É uma mariposa de 30 mm de envergadura e 15 mm de comprimento. Tem coloração marrom-violácea, com asas apresentando uma área central amarelada semitransparente, e os bordos marrom-violáceos. A fêmea efetua a postura nas folhas, ramos, flores ou frutos, e suas lagartas, que são esverdeadas, atingem 20 mm de comprimento. Estas lagartas alimentam-se de qualquer parte vegetal, mas dá preferência aos frutos. Após o período larval, que é de, aproximadamente, 10 dias, transformam-se em pupas sobre folhas secas ou no solo, passando ao estágio adulto após 12 a 14 dias. O ciclo completo é de 25 a 30 dias. Estes insetos atacam com maior intensidade de setembro a maio, diminuindo no outro período do ano.


D. hyalinata: Tem as mesmas características da espécie anterior quanto aos hábitos e ocorrência.

Controle

As lagartas de D. hyalinata são controladas mais facilmente, pois tem o hábito de se alimentar das folhas, enquanto as lagartas de D. nitidalis concentram seu ataque nas flores e nos frutos, onde penetram rapidamente. Por essa razão é de controle mais difícil.
Com o objetivo de restringir ou até abolir a utilização de agroquímicos que são utilizados indiscriminadamente em lavouras de pepino para conserva, visando o controle de brocas, a Estação Experimental de Itajaí desenvolveu trabalho de controle da broca, utilizando um produto conhecido como Bacillus thuringiensis var. kurstak (Dipel PM), com resultados surpreendentemente positivos.
Alguns procedimentos devem ser adotados pelo produtor para que tenha êxito:
a) a área do plantio deverá estar isenta de plantas hospedeiras das brocas, como abobrinha, abóboras, melão melancia e outras cucurbitáceas.
b) Aplicar o Bacillus thuringiensis em toda a planta logo no início do ataque das lagartas. Usar a dose de 1 grama/Litro de água, acrescido de 1,5 ml de Agr`óleo (espalhante adesivo).  Repetir a cada cinco (5) dias, sempre no final da tarde. Caso chova no dia seguinte ao da aplicação, repete-se a pulverização.
c) Utilizar pulverizador exclusivo para produtos biológicos. Evitar contaminações do Bacillus thuringiensis com produtos químicos.

Conservação do produto

Armazenar o produto longe de produtos químicos, protegendo da luz solar e do calor.
Depois de aberto o pacote para o uso, fechar bem e guardar dentro de lata fechada para se evitar umidade, luz e calor sobre o Bacillus thuringiensis.


Resultados de pesquisa

Para os resultados do controle das brocas com aplicação de Bacillus thuringiensis, chamamos a atenção para o controle observado durante o cultivo de outubro a dezembro. A baixa porcentagem de frutos brocados neste período foi em face do escape promovido pelo pela época desfavorável ao desenvolvimento da broca, saída de inverno (Figura A).
Observa-se que no cultivo de março a maio, mais da metade dos frutos da testemunha foram brocados, por ser uma época muito favorável às brocas, saída de verão (Figura B).
Utilizar-se de períodos de escape é uma estratégia inteligente, e que o produtor deve aproveitar.
Controle de brocas de pepineiro (Marinda) com Bacillus thuringiensis var. kurstak, por meio de aplicações de Dipel PM 1g/L, em intervalos de 5, 7 e 9 dias.  Figura A: Cultivo de outubro a dezembro; Figura  B: Cultivo de março a maio.




Fotos dos adultos e lagartas das brocas do pepineiro 

Diaphania nitidalis




Diaphania hyalinata




















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