quinta-feira, 22 de janeiro de 2015



Principais benefícios do uso de cobertura do solo
• Promover a formação de cobertura vegetal, impedindo o impacto direto das gotas de chuva no solo e quebrando a energia cinética da chuva e, com isso, diminuindo a erosão do solo especialmente em terrenos com maior declividade e, em consequência, protegendo as fontes de água de assoreamento e contaminações e, o mais importante, diminuindo os riscos de enchentes e enxurradas;
• Manutenção da umidade do solo, diminuindo as perdas por evaporação. Pode ocorrer uma redução de até 20% na necessidade de irrigação;
• Aumentar a infiltração de água no solo, diminuindo o escorrimento superficial;
• Buscar uma melhor estruturação do solo (melhor agregação, maior aeração), favorecendo os cultivos posteriores;
• Implementar a reciclagem de nutrientes no solo. Através das espécies com sistema radicular mais profundos é possível reaproveitar os nutrientes já perdidos, para serem aproveitados pelos cultivos;
• Melhorar o manejo de plantas espontâneas (“mato” ou “inços”), cultivando plantas de cobertura com alto grau de competitividade e com isso, economizar capinas.  Algumas espécies de adubos verdes (ex.: aveia preta e feijão de porco) ainda tem efeito alelopático sobre as plantas espontâneas (papuã e tiririca ou junça), inibindo-as;
• Aumentar o teor de matéria orgânica do solo, melhorando características físicas, químicas e biológicas do solo. É a matéria orgânica que dá a cor escura aos solos e que garante que ele se mantenha “vivo”. A matéria orgânica atua tanto na fertilidade do solo quanto em seu condicionamento físico, tornando os solos argilosos mais “leves” e soltos e, tornando os arenosos com maior retenção de umidade;
. Aumentar a biodiversidade e, com isso, maior equilíbrio ecológico das espécies e, em consequência, menor surgimento de pragas e doenças. A agricultura convencional ao priorizar a monocultura, o uso frequente de agrotóxicos e a remoção da vegetação nativa, reduz a diversidade de espécies causando o desequilíbrio do meio ambiente favorecendo o desenvolvimento de pragas e desfavorecendo os inimigos naturais destas pragas. A cobertura vegetal, além de evitar a erosão do solo, pode servir de abrigo, alimento e local de reprodução;
. Tanto a cobertura morta como a cobertura viva facilita e favorece o plantio direto e cultivo mínimo dos cultivos. O revolvimento excessivo do solo provoca a destruição dos agregados do solo, acelerando a decomposição e a perda da matéria orgânica e, além disso, pode levar ao endurecimento da camada superior do solo, que fica então compactada e difícil de trabalhar;
. Regulação térmica do solo, observando-se amenização da temperatura nas horas mais quentes do dia com redução de até 10oC na palhada de superfície do solo, em relação ao solo desprotegido, e retenção do calor residual nas horas mais frias do dia.  


Tipos e características das coberturas do solo
Existem inúmeros tipos  de coberturas do solo, sendo que cada um possui características específicas. Quando decidir pelo uso de cobertura morta, deve-se sempre procurar aquele tipo que tem maior disponibilidade na propriedade ou em propriedades vizinhas. Por exemplo,  em regiões de grandes plantios de milho, feijão e arroz irrigado, deve-se dar preferência para as palhas destes cultivos. O cultivo de plantas de cobertura (adubos verdes) e o seu corte no próprio local é uma maneira de respeitar o princípio da sustentabilidade preconizado pelos sistemas orgânicos de produção, reduzindo a importação de insumos. A busca de palhada em outro local garante a cobertura do solo, mas não o efeito de estruturação do solo promovido pela “aração biológica”, que consiste na decomposição do sistema radicular das culturas precedentes, tornando o solo leve, poroso, além de aumentar seu teor de matéria orgânica. A vegetação espontânea (algumas gramíneas no verão e algumas folhas largas no inverno) também pode ser aproveitada como cobertura do solo, “viva” ou morta, caso seja roçada.

Cobertura morta
Essa prática consiste na colocação de capim ou palha seca (5 a 10cm) e outros materiais como bagaço de cana, nas entrelinhas das hortaliças cultivadas em espaçamentos maiores. A cobertura morta mantém a superfície do solo sem a formação de crosta (superfície endurecida), evita a evaporação da água da chuva ou da irrigação, reduz a erosão em solos inclinados, diminui a temperatura do solo no verão e, principalmente, economiza capinas devido à menor incidência de plantas espontâneas e também reduz a necessidade de fazer escarificações.    Além  de proteger as plantas das adversidades do clima (chuvas torrenciais, temperaturas elevadas e frio), desfavorece o aparecimento de pragas e doenças; a cobertura do solo ao reduzir o contraste entre a cor verde da planta e a cor do solo (palha seca, casca de arroz e serragem) diminui a incidência de pulgões.    Trabalhos de pesquisa evidenciam que, dependendo da cobertura morta, é possível reduzir a temperatura do solo em até 10ºC, quando comparado ao solo descoberto. Resíduos vegetais em decomposição não devem ser aplicados, pois a sua fermentação é prejudicial às plantas cultivadas.



Figura 1. Cobertura morta com casca de arroz no cultivo orgânico de morango na Epagri/Estação Experimental de Urussanga, SC.




Figura 2. Cultivo orgânico de repolho em cobertura de palha de milho na Epagri/Estação Experimental de Urussanga,SC


Figura 3. Cultivo orgânico de couve-flor sobre cobertura de palha de arroz na Epagri/Estação Experimental de Urussanga,SC


Cobertura viva
     O cultivo mínimo é a mínima manipulação do solo necessária para a semeadura ou plantio de mudas. O plantio direto é um método que não revolve o solo. A camada de cobertura vegetal é mantida e se faz apenas a abertura de um pequeno sulco ou cova onde é colocada a semente ou a muda. Neste sistema, basta fazer uma roçada com foice ou roçadeira manual (áreas menores)  ou trator com roçadeira  (áreas maiores); após deve-se abrir as covas ou sulcos, mantendo-se a linha de plantio no limpo e roçando, sempre que necessário, nas entrelinhas. No cultivo convencional, o plantio direto e cultivo mínimo são usados, mas sempre com herbicidas, visando dessecar o adubo verde ou as plantas espontâneas (“mato”), para permitir o plantio direto ou cultivo mínimo das sementes ou mudas. Muitos acreditam que o plantio direto e o cultivo mínimo só é possível com o uso de herbicidas, o que não é verdade. Vale lembrar que o uso de herbicidas nos perímetros urbanos é proibido em Santa Catarina. Na agricultura orgânica, as plantas espontâneas e de cobertura (adubos verdes) não são considerados problemas e, sim a solução, quando se deseja fazer o plantio direto ou cultivo mínimo das hortaliças. A competição por água e nutrientes exercida pelas plantas espontâneas e adubos verdes junto aos cultivos é uma preocupação para o hemisfério norte, onde a estação de crescimento é fria, única e curta. Nas condições tropicais e subtropicais que predomina no Brasil, esta competição é menos problemática do que a falta de cobertura do solo; as plantas espontâneas e os adubos verdes ajudam a cobrir o solo, reduzindo a erosão e o aquecimento superficial, nossos principais problemas.  Ao reduzir a erosão e o aquecimento superficial, contribuem para melhorar a disponibilidade de água e a absorção de nutrientes pelas raízes. As plantas espontâneas e os adubos verdes, além de aumentar a densidade e a diversidade de raízes, contribuem para a reciclagem de nutrientes e para melhorar a vida do solo. São fontes de biomassa, produzem flores que atraem insetos predadores e, ainda podem servir de alimento preferencial para as pragas das culturas.


Figura 4. Cultivo mínimo de repolho sobre adubos verdes


Plantas de cobertura do solo e adubação verde:   Até pouco tempo atrás, a adubação verde, embora reconhecida como importante prática agrícola, não era feita nas pequenas propriedades devido ao tempo e área que ocupava, impedindo os cultivos comerciais que davam o retorno financeiro. Nesta época se pensava que as espécies semeadas, ao atingir o desenvolvimento máximo, teriam como única opção serem  roçadas e incorporadas ao solo. Atualmente, este conceito evoluiu e os adubos verdes tem sido utilizados como cobertura morta ou viva até consorciados com as culturas, possibilitando o plantio direto e o cultivo mínimo dos cultivos e ainda a proteção do solo e diminuição das plantas espontâneas (“mato”) através da alelopatia (substâncias químicas liberadas pelas plantas que influenciam o desenvolvimento de outras plantas).  Também no outono/inverno, embora com menor frequência, podem ocorrer fortes chuvas que provocam erosão do solo e, também o surgimento de plantas espontâneas (“mato”) de inverno,  daí a importância da cobertura do solo com adubos verdes. São importantes na conservação do solo, no suprimento de nutrientes  e, principalmente, no manejo de plantas espontâneas (“mato”). Estas plantas são a garantia de continuidade da vida, pois o solo estará suprido de alimentos (matéria orgânica e outros nutrientes, além do ar e da água) para que os bilhões de seres vivos possam interagir para melhorar a estrutura do solo, disponibilizando nutrientes essenciais para os cultivos. A adubação verde consiste no cultivo de algumas espécies de plantas que, ao serem incorporadas ou derrubadas no solo, fornecem matéria orgânica, servindo ainda como cobertura do solo, evitando a erosão. Além disso, podem fornecer nitrogênio, funcionam como subsoladores naturais do solo, permitindo a entrada de ar e de água de maneira adequada no solo,  pois suas raízes ao atingir diferentes profundidades, ainda reciclam nutrientes, trazendo-os até à superfície. As plantas da família botânica das leguminosas, são consideradas ótimas para adubação verde por serem ricas em nitrogênio e possuírem raízes ramificadas e profundas. A mucuna cultivada isoladamente ou em consorciação com milho-verde é um ótimo exemplo de adubação verde e de cobertura do solo.
Os principais benefícios da adubação verde para o solo são: proteção contra a erosão e lavagem de nutrientes do solo pelas chuvas; maior infiltração e retenção de água; aumento da matéria orgânica  e melhoria do solo no aspecto físico redução do impacto das gotas de chuva, diminuindo a erosão e compactação do solo, maior infiltração e retenção de água em 10 vezes mais e, ainda menor variação da temperatura no solo; químico -  aumento do teor de húmus no solo, enriquecimento variado de nutrientes (poupança verde) e maior disponibilidade e reciclagem de nutrientes e,  biológico -  aumento da atividade de microorganismos benéficos (vida do solo). Além disso, reduz a evaporação de água e as oscilações de temperaturas das camadas superficiais do solo; a grande produção de raízes profundas e ramificadas rompe camadas compactadas, promove a aeração beneficiando a vida do solo e, mobiliza e recicla nutrientes das camadas mais profundas do solo; reduz as plantas espontâneas (“matos”), devido o crescimento rápido e agressivo. As plantas de cobertura afetam diretamente a germinação das sementes e o crescimento das plantas espontâneas, podendo, quando a cobertura do solo estiver acima de 90%, reduzir o número de plantas espontâneas em até 75%.;  a adubação verde torna disponível vários nutrientes, reduz a acidez do solo e as pragas e doenças quando em rotação e, em consorciação e, ainda serve de abrigo para os inimigos naturais das pragas.
Rotação e consorciação de culturas:  o consórcio de adubos verdes (aveia - 60 kg/ha; ervilhaca -18 kg/ha  e nabo forrageiro – 4 kg/ha) é também uma ótima opção para melhorar a cobertura do solo no outono e inverno, auxiliar no manejo de plantas espontâneas e melhorar a fertilidade (fornecendo nitrogênio e reciclando nutrientes) e a descompactação do solo. A rotação de culturas com milho-verde (gramínea) consorciado com mucuna (leguminosa), na primavera e verão, reduz doenças e pragas,  inibe a presença de plantas espontâneas (ex.: tiririca, picão preto e branco, capim carrapicho e capim paulista), protege o solo contra a erosão, melhora a fertilidade do solo e, ainda recicla nutrientes devido ao sistema radicular profundo da mucuna; O uso de leguminosas consorciadas com os cultivos também contribuem para aumentar a biodiversidade e favorecer a reprodução e manutenção de inimigos naturais de insetos pragas dos cultivos comerciais, contribuindo para o equilíbrio ecológico, fundamental para a produção sustentável de alimentos.



Figura 5. Rotação e consorciação de milho-verde e mucuna na Epagri/Estação Experimental de Urussanga, SC


O uso dos adubos verdes pode ser feito tanto em áreas em que se fez o preparo do solo como em áreas cobertas por palhadas ou restos culturais. A forma de manejo depende da finalidade da adubação verde.
Incorporados ao solo:  esta é a forma antiga de manejo dos adubos verdes, quando o objetivo principal é o fornecimento de nutrientes para a cultura seguinte, devido a decomposição rápida.
Mantidos na superfície do solo: esta é a forma moderna de manejo de adubos verdes, visando-se a proteção do solo contra erosão e plantas espontâneas (decomposição lenta), a produção de palhada (cobertura morta ou viva) para o plantio direto ou cultivo mínimo, a reciclagem de nutrientes, o aumento da infiltração e retenção de água no solo e, favorecimento da população de organismos benéficos e inimigos naturais dos insetos-pragas.
Acamamento: é a prática mais recomendada para realização de plantio direto e cultivo mínimo de hortaliças ou grãos e também nos pomares. O acamamento pode ser feito com equipamentos simples como o rolo-faca e outros.
Roçada: Esta prática é usada quando não se consegue fazer o acamamento ou então quando os adubos verdes em consorciação estão competindo especialmente por luz. Quando é preciso fazer canteiros e a produção de massa verde é muito grande deve-se roçar para ficar mais fácil para incorporar a adubação verde. Para cultivo de cenoura, por exemplo, deve-se incorporar a adubação verde superficial (10 a 15 cm de profundidade) com antecedência de 3 semanas antes da semeadura ou transplante (outras hortaliças) para dar tempo para a decomposição do material. Quando for feito o preparo do solo é muito importante tomar cuidado com o uso de enxadas rotativas, especialmente microtratores, pois movimenta excessivamente o solo, desestruturando-o e compactando-o. Por isso, sempre que possível deve-se dar preferência para o plantio direto e cultivo mínimo, tanto para culturas anuais como perenes.
Na agricultura orgânica o “mato”  é considerado “amigo” das plantas cultivadas porque cobre o solo, protegendo-o contra a erosão, chuvas fortes e estiagens, pode servir como adubação verde e até como abrigo e alimento de inimigos naturais dos insetos-pragas que atacam as culturas
As plantas espontâneas também podem servir de cobertura do solo, por isso, não devem ser totalmente eliminadas:  ocorre um mecanismo de sucessão natural de espécies numa determinada área e, por isso, a intervenção deverá ser no sentido de auxiliar a natureza para que este processo ocorra ao longo do tempo, para que a população de plantas espontâneas mais “agressivas” seja reduzida a níveis toleráveis, cedendo espaço para as mais “comportadas” e de mais fácil manejo. O crescimento das plantas espontâneas ao redor dos cultivos ou o estabelecimento de áreas ou faixas de vegetação espontâneas fora da área cultivada tem a vantagem de assegurar maior estabilidade do sistema produtivo, reduzindo os problemas com pragas e doenças e aumentando a atividade de inimigos naturais das pragas;        
Roçada das plantas espontâneas: estas plantas podem conviver com os cultivos após o período crítico de competição, especialmente por luz, nos 30 dias após o plantio. Dependendo da espécie cultivada, é possível permitir o crescimento das plantas espontâneas, as quais podem dificultar um pouco a colheita, porém , isto pode ser mais preferível do que controlá-las. Em certos casos, amassar as plantas espontâneas pode ser mais vantajoso do que roçar e roçar mais vantajoso do que capinar. Plantas espontâneas mais persistentes podem ter sua população controlada a níveis toleráveis se permitirmos que outras de ciclo mais longo as abafem.

Outros tipos de coberturas
O descarte de materiais oriundos de  cultivos,  indústrias ,serrarias ou outras têm assim uma aplicação para o material que ficaria em pilhas ocupando espaço e tornando-se ameaça de incêndios.
Capins e restos de cultivos:  diversos tipos de capins, além de servir para alimentação dos animais, também podem serem aproveitados para servir de cobertura morta, como por exemplo, o capim elefante que possui crescimento rápido e com  boa produção de  massa verde. Os restos dos cultivos sempre devem ser aproveitados ou na compostagem ou como cobertura morta. Quando as plantas de lavoura são colhidas no campo as máquinas ou os trabalhadores deixam as partes da planta que não necessitam no solo. É um tipo de prática conservacionista, pois além de agregar o material orgânico que decomposto se tornará terra, seus nutrientes ficarão acessíveis para as próximas plantas de cultivo.
Bagaço de cana-de-açúcar e outros:  Em regiões de cultivo de cana-de-açúcar visando a indústria do açúcar e álcool, há grande disponibilidade de bagaço que pode ser aproveitado na compostagem e também como cobertura morta. Também as indústrias de coco e outras proporcionam grande quantidade de resíduos que podem serem aproveitados como cobertura do solo.
Serragem: Por serragem entendemos o pó fino descartado pelas serrarias no processo de corte dos troncos. Tem consistência fina. Também necessita de sofrer decomposição e irá demorar mais tempo, pois a lignina do tronco é mais resistente aos microorganismos. Seu uso ao redor de plantas pode ocasionar a perda de nutrientes das plantas para os microorganismos, pois estes necessitam de nitrogênio para os processos de compostagem.
Aparas de gramados:  Nos jardins das casas, especialmente na cidade, são grandes as quantidades de aparas de gramados que podem serem aproveitados, depois de um certo tempo, como cobertura do solo nas hortas das casas. É um material orgânico e, portanto irá sofrer a ação dos microorganismos na decomposição. O processo é o mesmo explicado na  compostagem quando ocorre a elevação da temperatura pelos processos de decomposição. As plantas ao redor podem sofrer com isto. Ao recolher as aparas de grama deixar numa pilha em local destinado a isto. Somente usar depois de bem decompostas. Também pode ocorrer que gramados inçados forneçam sementes de inços, ocasionando uma infestação grande no local onde colocamos a cobertura. Deixando um tempo ao ar livre estas sementes germinarão e o inço poderá ser retirado.





Ferreira On 1/22/2015 02:14:00 AM Comentarios

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quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

A COBERTURA DO SOLO É MUITO IMPORTANTE PARA AS PLANTAS CULTIVADAS, ESPECIALMENTE NO VERÃO Parte II



Principais benefícios do uso de cobertura do solo
• Promover a formação de cobertura vegetal, impedindo o impacto direto das gotas de chuva no solo e quebrando a energia cinética da chuva e, com isso, diminuindo a erosão do solo especialmente em terrenos com maior declividade e, em consequência, protegendo as fontes de água de assoreamento e contaminações e, o mais importante, diminuindo os riscos de enchentes e enxurradas;
• Manutenção da umidade do solo, diminuindo as perdas por evaporação. Pode ocorrer uma redução de até 20% na necessidade de irrigação;
• Aumentar a infiltração de água no solo, diminuindo o escorrimento superficial;
• Buscar uma melhor estruturação do solo (melhor agregação, maior aeração), favorecendo os cultivos posteriores;
• Implementar a reciclagem de nutrientes no solo. Através das espécies com sistema radicular mais profundos é possível reaproveitar os nutrientes já perdidos, para serem aproveitados pelos cultivos;
• Melhorar o manejo de plantas espontâneas (“mato” ou “inços”), cultivando plantas de cobertura com alto grau de competitividade e com isso, economizar capinas.  Algumas espécies de adubos verdes (ex.: aveia preta e feijão de porco) ainda tem efeito alelopático sobre as plantas espontâneas (papuã e tiririca ou junça), inibindo-as;
• Aumentar o teor de matéria orgânica do solo, melhorando características físicas, químicas e biológicas do solo. É a matéria orgânica que dá a cor escura aos solos e que garante que ele se mantenha “vivo”. A matéria orgânica atua tanto na fertilidade do solo quanto em seu condicionamento físico, tornando os solos argilosos mais “leves” e soltos e, tornando os arenosos com maior retenção de umidade;
. Aumentar a biodiversidade e, com isso, maior equilíbrio ecológico das espécies e, em consequência, menor surgimento de pragas e doenças. A agricultura convencional ao priorizar a monocultura, o uso frequente de agrotóxicos e a remoção da vegetação nativa, reduz a diversidade de espécies causando o desequilíbrio do meio ambiente favorecendo o desenvolvimento de pragas e desfavorecendo os inimigos naturais destas pragas. A cobertura vegetal, além de evitar a erosão do solo, pode servir de abrigo, alimento e local de reprodução;
. Tanto a cobertura morta como a cobertura viva facilita e favorece o plantio direto e cultivo mínimo dos cultivos. O revolvimento excessivo do solo provoca a destruição dos agregados do solo, acelerando a decomposição e a perda da matéria orgânica e, além disso, pode levar ao endurecimento da camada superior do solo, que fica então compactada e difícil de trabalhar;
. Regulação térmica do solo, observando-se amenização da temperatura nas horas mais quentes do dia com redução de até 10oC na palhada de superfície do solo, em relação ao solo desprotegido, e retenção do calor residual nas horas mais frias do dia.  


Tipos e características das coberturas do solo
Existem inúmeros tipos  de coberturas do solo, sendo que cada um possui características específicas. Quando decidir pelo uso de cobertura morta, deve-se sempre procurar aquele tipo que tem maior disponibilidade na propriedade ou em propriedades vizinhas. Por exemplo,  em regiões de grandes plantios de milho, feijão e arroz irrigado, deve-se dar preferência para as palhas destes cultivos. O cultivo de plantas de cobertura (adubos verdes) e o seu corte no próprio local é uma maneira de respeitar o princípio da sustentabilidade preconizado pelos sistemas orgânicos de produção, reduzindo a importação de insumos. A busca de palhada em outro local garante a cobertura do solo, mas não o efeito de estruturação do solo promovido pela “aração biológica”, que consiste na decomposição do sistema radicular das culturas precedentes, tornando o solo leve, poroso, além de aumentar seu teor de matéria orgânica. A vegetação espontânea (algumas gramíneas no verão e algumas folhas largas no inverno) também pode ser aproveitada como cobertura do solo, “viva” ou morta, caso seja roçada.

Cobertura morta
Essa prática consiste na colocação de capim ou palha seca (5 a 10cm) e outros materiais como bagaço de cana, nas entrelinhas das hortaliças cultivadas em espaçamentos maiores. A cobertura morta mantém a superfície do solo sem a formação de crosta (superfície endurecida), evita a evaporação da água da chuva ou da irrigação, reduz a erosão em solos inclinados, diminui a temperatura do solo no verão e, principalmente, economiza capinas devido à menor incidência de plantas espontâneas e também reduz a necessidade de fazer escarificações.    Além  de proteger as plantas das adversidades do clima (chuvas torrenciais, temperaturas elevadas e frio), desfavorece o aparecimento de pragas e doenças; a cobertura do solo ao reduzir o contraste entre a cor verde da planta e a cor do solo (palha seca, casca de arroz e serragem) diminui a incidência de pulgões.    Trabalhos de pesquisa evidenciam que, dependendo da cobertura morta, é possível reduzir a temperatura do solo em até 10ºC, quando comparado ao solo descoberto. Resíduos vegetais em decomposição não devem ser aplicados, pois a sua fermentação é prejudicial às plantas cultivadas.



Figura 1. Cobertura morta com casca de arroz no cultivo orgânico de morango na Epagri/Estação Experimental de Urussanga, SC.




Figura 2. Cultivo orgânico de repolho em cobertura de palha de milho na Epagri/Estação Experimental de Urussanga,SC


Figura 3. Cultivo orgânico de couve-flor sobre cobertura de palha de arroz na Epagri/Estação Experimental de Urussanga,SC


Cobertura viva
     O cultivo mínimo é a mínima manipulação do solo necessária para a semeadura ou plantio de mudas. O plantio direto é um método que não revolve o solo. A camada de cobertura vegetal é mantida e se faz apenas a abertura de um pequeno sulco ou cova onde é colocada a semente ou a muda. Neste sistema, basta fazer uma roçada com foice ou roçadeira manual (áreas menores)  ou trator com roçadeira  (áreas maiores); após deve-se abrir as covas ou sulcos, mantendo-se a linha de plantio no limpo e roçando, sempre que necessário, nas entrelinhas. No cultivo convencional, o plantio direto e cultivo mínimo são usados, mas sempre com herbicidas, visando dessecar o adubo verde ou as plantas espontâneas (“mato”), para permitir o plantio direto ou cultivo mínimo das sementes ou mudas. Muitos acreditam que o plantio direto e o cultivo mínimo só é possível com o uso de herbicidas, o que não é verdade. Vale lembrar que o uso de herbicidas nos perímetros urbanos é proibido em Santa Catarina. Na agricultura orgânica, as plantas espontâneas e de cobertura (adubos verdes) não são considerados problemas e, sim a solução, quando se deseja fazer o plantio direto ou cultivo mínimo das hortaliças. A competição por água e nutrientes exercida pelas plantas espontâneas e adubos verdes junto aos cultivos é uma preocupação para o hemisfério norte, onde a estação de crescimento é fria, única e curta. Nas condições tropicais e subtropicais que predomina no Brasil, esta competição é menos problemática do que a falta de cobertura do solo; as plantas espontâneas e os adubos verdes ajudam a cobrir o solo, reduzindo a erosão e o aquecimento superficial, nossos principais problemas.  Ao reduzir a erosão e o aquecimento superficial, contribuem para melhorar a disponibilidade de água e a absorção de nutrientes pelas raízes. As plantas espontâneas e os adubos verdes, além de aumentar a densidade e a diversidade de raízes, contribuem para a reciclagem de nutrientes e para melhorar a vida do solo. São fontes de biomassa, produzem flores que atraem insetos predadores e, ainda podem servir de alimento preferencial para as pragas das culturas.


Figura 4. Cultivo mínimo de repolho sobre adubos verdes


Plantas de cobertura do solo e adubação verde:   Até pouco tempo atrás, a adubação verde, embora reconhecida como importante prática agrícola, não era feita nas pequenas propriedades devido ao tempo e área que ocupava, impedindo os cultivos comerciais que davam o retorno financeiro. Nesta época se pensava que as espécies semeadas, ao atingir o desenvolvimento máximo, teriam como única opção serem  roçadas e incorporadas ao solo. Atualmente, este conceito evoluiu e os adubos verdes tem sido utilizados como cobertura morta ou viva até consorciados com as culturas, possibilitando o plantio direto e o cultivo mínimo dos cultivos e ainda a proteção do solo e diminuição das plantas espontâneas (“mato”) através da alelopatia (substâncias químicas liberadas pelas plantas que influenciam o desenvolvimento de outras plantas).  Também no outono/inverno, embora com menor frequência, podem ocorrer fortes chuvas que provocam erosão do solo e, também o surgimento de plantas espontâneas (“mato”) de inverno,  daí a importância da cobertura do solo com adubos verdes. São importantes na conservação do solo, no suprimento de nutrientes  e, principalmente, no manejo de plantas espontâneas (“mato”). Estas plantas são a garantia de continuidade da vida, pois o solo estará suprido de alimentos (matéria orgânica e outros nutrientes, além do ar e da água) para que os bilhões de seres vivos possam interagir para melhorar a estrutura do solo, disponibilizando nutrientes essenciais para os cultivos. A adubação verde consiste no cultivo de algumas espécies de plantas que, ao serem incorporadas ou derrubadas no solo, fornecem matéria orgânica, servindo ainda como cobertura do solo, evitando a erosão. Além disso, podem fornecer nitrogênio, funcionam como subsoladores naturais do solo, permitindo a entrada de ar e de água de maneira adequada no solo,  pois suas raízes ao atingir diferentes profundidades, ainda reciclam nutrientes, trazendo-os até à superfície. As plantas da família botânica das leguminosas, são consideradas ótimas para adubação verde por serem ricas em nitrogênio e possuírem raízes ramificadas e profundas. A mucuna cultivada isoladamente ou em consorciação com milho-verde é um ótimo exemplo de adubação verde e de cobertura do solo.
Os principais benefícios da adubação verde para o solo são: proteção contra a erosão e lavagem de nutrientes do solo pelas chuvas; maior infiltração e retenção de água; aumento da matéria orgânica  e melhoria do solo no aspecto físico redução do impacto das gotas de chuva, diminuindo a erosão e compactação do solo, maior infiltração e retenção de água em 10 vezes mais e, ainda menor variação da temperatura no solo; químico -  aumento do teor de húmus no solo, enriquecimento variado de nutrientes (poupança verde) e maior disponibilidade e reciclagem de nutrientes e,  biológico -  aumento da atividade de microorganismos benéficos (vida do solo). Além disso, reduz a evaporação de água e as oscilações de temperaturas das camadas superficiais do solo; a grande produção de raízes profundas e ramificadas rompe camadas compactadas, promove a aeração beneficiando a vida do solo e, mobiliza e recicla nutrientes das camadas mais profundas do solo; reduz as plantas espontâneas (“matos”), devido o crescimento rápido e agressivo. As plantas de cobertura afetam diretamente a germinação das sementes e o crescimento das plantas espontâneas, podendo, quando a cobertura do solo estiver acima de 90%, reduzir o número de plantas espontâneas em até 75%.;  a adubação verde torna disponível vários nutrientes, reduz a acidez do solo e as pragas e doenças quando em rotação e, em consorciação e, ainda serve de abrigo para os inimigos naturais das pragas.
Rotação e consorciação de culturas:  o consórcio de adubos verdes (aveia - 60 kg/ha; ervilhaca -18 kg/ha  e nabo forrageiro – 4 kg/ha) é também uma ótima opção para melhorar a cobertura do solo no outono e inverno, auxiliar no manejo de plantas espontâneas e melhorar a fertilidade (fornecendo nitrogênio e reciclando nutrientes) e a descompactação do solo. A rotação de culturas com milho-verde (gramínea) consorciado com mucuna (leguminosa), na primavera e verão, reduz doenças e pragas,  inibe a presença de plantas espontâneas (ex.: tiririca, picão preto e branco, capim carrapicho e capim paulista), protege o solo contra a erosão, melhora a fertilidade do solo e, ainda recicla nutrientes devido ao sistema radicular profundo da mucuna; O uso de leguminosas consorciadas com os cultivos também contribuem para aumentar a biodiversidade e favorecer a reprodução e manutenção de inimigos naturais de insetos pragas dos cultivos comerciais, contribuindo para o equilíbrio ecológico, fundamental para a produção sustentável de alimentos.



Figura 5. Rotação e consorciação de milho-verde e mucuna na Epagri/Estação Experimental de Urussanga, SC


O uso dos adubos verdes pode ser feito tanto em áreas em que se fez o preparo do solo como em áreas cobertas por palhadas ou restos culturais. A forma de manejo depende da finalidade da adubação verde.
Incorporados ao solo:  esta é a forma antiga de manejo dos adubos verdes, quando o objetivo principal é o fornecimento de nutrientes para a cultura seguinte, devido a decomposição rápida.
Mantidos na superfície do solo: esta é a forma moderna de manejo de adubos verdes, visando-se a proteção do solo contra erosão e plantas espontâneas (decomposição lenta), a produção de palhada (cobertura morta ou viva) para o plantio direto ou cultivo mínimo, a reciclagem de nutrientes, o aumento da infiltração e retenção de água no solo e, favorecimento da população de organismos benéficos e inimigos naturais dos insetos-pragas.
Acamamento: é a prática mais recomendada para realização de plantio direto e cultivo mínimo de hortaliças ou grãos e também nos pomares. O acamamento pode ser feito com equipamentos simples como o rolo-faca e outros.
Roçada: Esta prática é usada quando não se consegue fazer o acamamento ou então quando os adubos verdes em consorciação estão competindo especialmente por luz. Quando é preciso fazer canteiros e a produção de massa verde é muito grande deve-se roçar para ficar mais fácil para incorporar a adubação verde. Para cultivo de cenoura, por exemplo, deve-se incorporar a adubação verde superficial (10 a 15 cm de profundidade) com antecedência de 3 semanas antes da semeadura ou transplante (outras hortaliças) para dar tempo para a decomposição do material. Quando for feito o preparo do solo é muito importante tomar cuidado com o uso de enxadas rotativas, especialmente microtratores, pois movimenta excessivamente o solo, desestruturando-o e compactando-o. Por isso, sempre que possível deve-se dar preferência para o plantio direto e cultivo mínimo, tanto para culturas anuais como perenes.
Na agricultura orgânica o “mato”  é considerado “amigo” das plantas cultivadas porque cobre o solo, protegendo-o contra a erosão, chuvas fortes e estiagens, pode servir como adubação verde e até como abrigo e alimento de inimigos naturais dos insetos-pragas que atacam as culturas
As plantas espontâneas também podem servir de cobertura do solo, por isso, não devem ser totalmente eliminadas:  ocorre um mecanismo de sucessão natural de espécies numa determinada área e, por isso, a intervenção deverá ser no sentido de auxiliar a natureza para que este processo ocorra ao longo do tempo, para que a população de plantas espontâneas mais “agressivas” seja reduzida a níveis toleráveis, cedendo espaço para as mais “comportadas” e de mais fácil manejo. O crescimento das plantas espontâneas ao redor dos cultivos ou o estabelecimento de áreas ou faixas de vegetação espontâneas fora da área cultivada tem a vantagem de assegurar maior estabilidade do sistema produtivo, reduzindo os problemas com pragas e doenças e aumentando a atividade de inimigos naturais das pragas;        
Roçada das plantas espontâneas: estas plantas podem conviver com os cultivos após o período crítico de competição, especialmente por luz, nos 30 dias após o plantio. Dependendo da espécie cultivada, é possível permitir o crescimento das plantas espontâneas, as quais podem dificultar um pouco a colheita, porém , isto pode ser mais preferível do que controlá-las. Em certos casos, amassar as plantas espontâneas pode ser mais vantajoso do que roçar e roçar mais vantajoso do que capinar. Plantas espontâneas mais persistentes podem ter sua população controlada a níveis toleráveis se permitirmos que outras de ciclo mais longo as abafem.

Outros tipos de coberturas
O descarte de materiais oriundos de  cultivos,  indústrias ,serrarias ou outras têm assim uma aplicação para o material que ficaria em pilhas ocupando espaço e tornando-se ameaça de incêndios.
Capins e restos de cultivos:  diversos tipos de capins, além de servir para alimentação dos animais, também podem serem aproveitados para servir de cobertura morta, como por exemplo, o capim elefante que possui crescimento rápido e com  boa produção de  massa verde. Os restos dos cultivos sempre devem ser aproveitados ou na compostagem ou como cobertura morta. Quando as plantas de lavoura são colhidas no campo as máquinas ou os trabalhadores deixam as partes da planta que não necessitam no solo. É um tipo de prática conservacionista, pois além de agregar o material orgânico que decomposto se tornará terra, seus nutrientes ficarão acessíveis para as próximas plantas de cultivo.
Bagaço de cana-de-açúcar e outros:  Em regiões de cultivo de cana-de-açúcar visando a indústria do açúcar e álcool, há grande disponibilidade de bagaço que pode ser aproveitado na compostagem e também como cobertura morta. Também as indústrias de coco e outras proporcionam grande quantidade de resíduos que podem serem aproveitados como cobertura do solo.
Serragem: Por serragem entendemos o pó fino descartado pelas serrarias no processo de corte dos troncos. Tem consistência fina. Também necessita de sofrer decomposição e irá demorar mais tempo, pois a lignina do tronco é mais resistente aos microorganismos. Seu uso ao redor de plantas pode ocasionar a perda de nutrientes das plantas para os microorganismos, pois estes necessitam de nitrogênio para os processos de compostagem.
Aparas de gramados:  Nos jardins das casas, especialmente na cidade, são grandes as quantidades de aparas de gramados que podem serem aproveitados, depois de um certo tempo, como cobertura do solo nas hortas das casas. É um material orgânico e, portanto irá sofrer a ação dos microorganismos na decomposição. O processo é o mesmo explicado na  compostagem quando ocorre a elevação da temperatura pelos processos de decomposição. As plantas ao redor podem sofrer com isto. Ao recolher as aparas de grama deixar numa pilha em local destinado a isto. Somente usar depois de bem decompostas. Também pode ocorrer que gramados inçados forneçam sementes de inços, ocasionando uma infestação grande no local onde colocamos a cobertura. Deixando um tempo ao ar livre estas sementes germinarão e o inço poderá ser retirado.





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