quarta-feira, 7 de janeiro de 2015




A perda de solo (erosão), que no Brasil alcança pelo menos 500 milhões de toneladas por ano, pode causar grandes prejuízos aos agricultores, que perdem rapidamente a capacidade produtiva e, o que é pior, vão parar nos rios, córregos e lagos, provocando cada vez mais enchentes e destruição, além de poluir as águas, causando a morte de peixes e outros animais. Boa parte dessa erosão poderia ser evitada pelo manejo adequado do solos, através de inúmeras práticas de conservação, especialmente a cobertura permanente do solo.

Figura 1. A “agricultura moderna”, ao praticar o revolvimento excessivo do solo e o uso de agrotóxicos e adubos químicos,  tem causado através da erosão, a redução da capacidade produtiva do solo e a contaminação dos rios, lagos e águas subterrâneas.


O que é o solo, como é formado e composição? O solo (terra) é a camada mais superficial da crosta terrestre, onde se desenvolvem muitas plantas e vive uma grande variedade de animais; é dele que retiramos parte dos nossos alimentos, além de servir como suporte à água, ao ar e nas construções das nossas moradias. Essa camada vem se formando há milhões de anos, com o acúmulo de pequenas partículas, formadas pelo desgaste das rochas, que foram se misturando com os restos de animais e plantas. Ações dos ventos, chuvas e organismos vivos são os responsáveis por este lento processo; calcula-se que cada centímetro do solo se forma em intervalo de tempo de 100 a 400 anos. O solo é uma mistura de ar, água, matéria orgânica e parte mineral. Dentro do solo existem pequenos furos (poros), onde ficam guardados a água e o ar que as raízes das plantas e os outros organismos necessitam para beber e respirar. A parte mineral do solo se divide, de acordo com o seu tamanho, em: areia (a parte mais grossa); silte (uma parte um pouco mais fina, ou seja o limo que faz escorregar) e argila (uma parte muito pequena ou seja, a mesma que gruda no sapato). O solo (considerado um “ser vivo”) é estudado em três aspectos: 1) físico (drenagem, capacidade de reter água, textura e porosidade); 2) químico (teor de matéria orgânica, pH, nutrientes, substâncias prejudiciais, húmus) e, 3) biológico (micro e macro organismos que o habitam).                        

Degradação e práticas de conservação do solo: A devastação das florestas, o preparo inadequado, o tráfego de máquinas, a erosão, a falta de cobertura e a compactação, são os fatores que mais degradam o solo, reduzindo sua vida e aumentando os distúrbios nutricionais e doenças e pragas. É mais econômico manter do que recuperar recursos naturais. A vida do solo depende da matéria orgânica que, por sua vez, influencia nos aspectos químicos, físicos e biológicos do solo e, ainda aumenta a resistência dos cultivos às pragas e doenças. As principais práticas para regenerar o solo degradado são: Cobertura permanente do solo, adubação orgânica, mecanização cautelosa e com equipamentos adequados, manejo de restos de culturas, cobertura morta, manejo das plantas espontâneas, rotação e consorciação de culturas, uso de quebra-ventos e de sistemas de produção integrados com árvores e com produção animal. A cobertura vegetal é a defesa natural de um terreno contra a erosão. Dessa forma, a copa das árvores e arbustos, em diferentes alturas, protege o solo do impacto direto das gotas das chuvas, enquanto as folhas mortas, galhos secos e matéria orgânica em vários estádios de decomposição e com abundância de organismos o mantém poroso (pela ação das raízes), com estrutura ideal para absorver grandes quantidades de água.
A perda de solo por erosão é considerado um dos maiores e mais alarmantes problemas ambientais, o que causa declínio dos rendimentos das culturas, aumentando os custos de produção, diminuindo, por conseguinte, a lucratividade da lavoura, entre outros danos, que em conjunto influenciam a qualidade de vida na Terra. A cobertura do solo, então, tem um papel relevante no processo de erosão, uma vez que ela pode atenuar os impactos das gotas de chuva, diminuindo a velocidade de escoamento da enxurrada. Experimentos realizados no Paraná, confirmam que a cobertura do solo com plantas ou restos vegetais é o principal fator que influi significativamente no processo de erosão, possibilitando uma redução drástica dos danos causados pela mesma. Os argumentos para seu uso dizem respeito ao impacto das gotas de chuva no solo, a radiação solar, evaporação, infestação de plantas invasoras e mineralização do solo a partir da matéria orgânica.

Importância e funções da cobertura do solo

Além da diminuição da erosão do solo, da evaporação e do consumo e preservação de água,  a cobertura do solo serve para:

1. Manejo de plantas espontâneas (“mato” ou “inços”)

A camada de 10 cm de cobertura  morta impede que  as sementes de inços germinem e se desenvolvam. É uma forma de controle barata e que não causa prejuízo ao meio ambiente. A cobertura do solo com adubos verdes (cobertura viva), por exemplo, com aveia preta, além de proteger muito bem o solo,  desfavorece o surgimento de plantas espontâneas, devido ao efeito alelopático desta importante gramínea, inibindo a germinação do papuã.  A mucuna, devido ao rápido desenvolvimento desfavorece as plantas espontâneas, suprimindo ou abafando. O feijão de porco, outra importante leguminosa, além de proteger e melhorar a fertilidade do solo,  através da alelopatia, inibe o desenvolvimento da tiririca ou junça,  As plantas espontâneas competem com as espécies cultivadas por luz, água e nutrientes, especialmente nos primeiros 30 dias. Por isso, é muito importante a retirada das mesmas ainda pequenas com a enxada, sacho ou, manualmente. Após o período crítico, as plantas espontâneas nas entrelinhas são consideradas “plantas amigas” pois ajudam a manter a umidade no solo e evitam a erosão do solo.

 

2. Controle de temperatura e perda de água

No clima brasileiro, predominantemente tropical e subtropical, em muitos lugares, com  a temperatura chegando a mais de 40 C no verão é preciso diminuir o calor junto ao solo. As plantas também precisam da proteção de coberturas para evitar que a perda de água por evaporação seja muito grande. A água potável será nos próximos anos cada vez mais cara e escassa, por isso devemos pensar então em alternativas de plantas e de coberturas para evitar aumentar o consumo.
A água de chuvas ou das regas percola no perfil do solo em direção a camadas mais profundas. Uma parte fica no solo, outra a planta usa nos seus processos biológicos e o restante é evaporado. Em solos arenosos o calor do solo e a facilidade da água para penetrar é maior que em solos argilosos. É, também, um solo que aumenta mais a temperatura com o sol quando não tem nenhuma cobertura viva ou inerte sobre ele.
As plantas ficam com pouca água, murcham durante o dia e com a noite retornam ao estado normal. Se não houver chuvas ou regas o murchamento é permanente e a planta morre. Com solo desnudo será necessária muito maior quantidade de água para atender as exigências das plantas cultivadas.

3. Coberturas de solo – Mulch – Adiciona fertilidade ao solo

Materiais orgânicos de qualquer natureza sofrem a ação dos microorganismos e do intemperismo. Com o passar do tempo serão transformados em  húmus. Conforme os seus componentes, estes adicionarão ao solo nutrientes que poderão ser aproveitados pelas plantas.  Especialmente os adubos verdes (leguminosas) atuam na “reciclagem de nutrientes” por causa de seu sistema radicular profundo, buscando nas camadas profundas do solo, os nutrientes já perdidos pelos cultivos comerciais e, com isso, trazendo-os para a superfície do solo, para serem aproveitados nos cultivos subsequentes. Nos solos sem cobertura vegetal e, especialmente com espécies de raízes superficiais, todos os nutrientes das camadas mais profundas se perderão e, o que é pior, vão parar nos rios, lagos e córregos, causando poluição e prejudicando os peixes.  Ao ser adicionado matéria orgânica, através das diferentes espécies, os adubos verdes atuam como “condicionadores” do solo, promovendo melhorias  nas características químicas, físicas e biológicas do solo. Além de proteger o solo, os adubos verdes, tais como a mucuna, crotalária e feijão de porco, tem a capacidade de fixar nitrogênio do ar através da simbiose (até 157 kg/ha de nitrogênio), fertilizando o solo.

 

Figura 2. A rotação de culturas com adubos verde e/ou consórcio (ex.:milho/mucuna): ótima opção para aumentar a matéria orgânica, melhorar a fertilidade do solo, cobrir o solo protegendo-o da erosão e, ainda reduzir a incidência de plantas espontâneas e compactação do solo, além de promover a reciclagem de nutrientes, devido ao sistema radicular vigoroso e profundo 

 

4. Ajuda no controle da erosão superficial

As camadas de mulch ao redor de árvores não deve passar de 10 cm, mas em outros lugares como acabamentos de canteiros, passagens entre pisadas ou dormentes não há restrições. A chuva leve não causa nenhum dano à superfície desnuda do solo, a água penetra para as camadas mais profundas. Mas as chuvas de temporais que são intensas caem com força ao solo, e podem arrastar quantidade significativa da camada superficial com maior teor de matéria orgânica.

5. Reduz a injúria às árvores e arbustos por instrumentos de corte

Roçadeiras e máquinas de cortar grama de lâminas ou fio de nylon podem causar lesões na casca do tronco de árvores e arbustos em jardins, servindo de porta de entrada para patógenos e insetos do tipo broca que irão prejudicar a planta. Com a cobertura morta não há necessidade do gramado chegar junto dos troncos e portanto estes estarão protegidos. 

6. Possibilita o plantio direto e cultivo mínimo
Os princípios do sistema de plantio direto seguem a lógica das florestas. Assim como o material orgânico caído das árvores se transforma em rico adubo natural, a palha decomposta de safras anteriores macro e microorganismos, transformando-se no “alimento” do solo. As vantagens são a redução no uso de insumos químicos e controle dos processos erosivos, uma vez que a infiltração da água se torna mais lenta pela permanente cobertura no solo. A quantidade de matéria orgânica triplica, de uma concentração de pouco mais de 1% para acima de 3%.
     O sistema de plantio direto e cultivo mínimo são práticas importantíssimas no cultivo orgânico de hortaliças, tendo em vista que a maioria dos nossos solos estão sujeitos a processos de erosão causado por chuvas intensas, aliado a baixos teores de matéria orgânica. Outra vantagem dessas práticas é o fato do solo estar sempre preparado para semeadura/plantio, mesmo em períodos chuvosos que não permite o revolvimento do mesmo devido a umidade excessiva. Para o plantio direto ou cultivo mínimo, bastar fazer uma roçada utilizando uma foice ou roçadeira manual para áreas maiores e abrir as covas ou sulcos.     O plantio direto é um método que não revolve o solo. A camada de cobertura vegetal é mantida e se faz apenas a abertura de um pequeno sulco ou cova onde é colocada a semente ou a muda.      O cultivo mínimo é a mínima manipulação do solo necessária para a semeadura ou plantio de mudas. Deixa-se uma considerável quantidade de cobertura na superfície (resíduos culturais), o que desfavorece a erosão do solo.


 

Figura 3. O Sistema de Plantio Direto na Palha (SPDP) contribui para que o solo não seja levado pelas erosões e armazene mais nutrientes, fertilizantes e corretivos

 

7.  O uso de cobertura no solo no Brasil é ecologicamente correto

 O revolvimento do solo não combina com o uso sustentável do solo no Brasil.  Em regiões de clima tropical e subtropical, predominantes no Brasil, o trator equipado com arado, grade, escarificador e, principalmente a enxada rotativa, contribuem para desagregar e compactar cada vez mais o solo, causando rápida  decomposição da matéria orgânica em quantidades maiores do que a reposição e, em consequência, diminuindo a produtividade. Além disso, as chuvas intensas e frequentes, cada vez mais comum, associada aos declives dos terrenos, causam grande perdas de solo (erosão) assoreando os rios e, contribuindo para as enchentes. O manejo inadequado do solo torna as lavouras cada vez mais exigentes em insumos e, em geral menos produtivas e, o que é pior, com alto custo de produção, pois a maioria dos agroquímicos são importados. O revolvimento do solo somente se justifica em algumas situações específicas para algumas culturas mais exigentes no preparo do solo e, principalmente, quando houver a necessidade de corrigir a acidez e a fertilidade do solo e, especialmente, em países onde o solo permanece coberto por neve em longos períodos do ano.
         O solo é um “ser vivo” e como tal deve ser tratado. Como qualquer outro organismo vivo, o solo necessita de alimentação em quantidade, qualidade e regularidade adequadas. A perda de solo (erosão) pode causar grandes prejuízos aos agricultores, que perdem rapidamente a capacidade produtiva e, o que é mais grave, vão parar nos rios, córregos e lagos, provocando cada vez mais enchentes e destruição.
     O solo, também chamado de terra, é a camada mais superficial da crosta terrestre, onde se desenvolvem muitas plantas e vive uma grande variedade de animais. É do solo que retiramos parte dos nossos alimentos. Os solos, geradores de vida e gerados pela vida, também podem ficarem doentes. Por essa razão, o manejo dos solos deve ser sadio, para que os organismos que vivem neles se desenvolvam todo o tempo. É importante que sejam plantadas diversas espécies vegetais para cobrir o solo, protegendo-o do sol intenso e da força das gotas de chuvas e, com sistemas radiculares que irão explorar volumes diferentes do solo. Junto com as raízes dessas plantas se desenvolvem microrganismos, que ajudam a aumentar o volume do solo explorado em busca de nutrientes. Trabalhando juntos, plantas e organismos do solo absorvem quantidades grandes e diversificadas de nutrientes; quando morrem, devolvem esses nutrientes principalmente na camada superficial, possibilitando uma nutrição equilibrada para as plantas cultivadas. Tudo se passa como um ciclo de vida: os nutrientes presentes até grandes profundidades são absorvidos por plantas adaptadas e organismos do solo. Esses nutrientes voltam à superfície incorporados na matéria orgânica, protegendo e alimentando os organismos do solo que atuam na decomposição da matéria orgânica, liberando os nutrientes nela contidos para serem absorvidos pelas plantas e por outros organismos que se desenvolverão junto às suas raízes.


   


   
Ferreira On 1/07/2015 11:29:00 AM Comentarios

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quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

A COBERTURA DO SOLO É MUITO IMPORTANTE PARA AS PLANTAS CULTIVADAS, ESPECIALMENTE NO VERÃO Parte I




A perda de solo (erosão), que no Brasil alcança pelo menos 500 milhões de toneladas por ano, pode causar grandes prejuízos aos agricultores, que perdem rapidamente a capacidade produtiva e, o que é pior, vão parar nos rios, córregos e lagos, provocando cada vez mais enchentes e destruição, além de poluir as águas, causando a morte de peixes e outros animais. Boa parte dessa erosão poderia ser evitada pelo manejo adequado do solos, através de inúmeras práticas de conservação, especialmente a cobertura permanente do solo.

Figura 1. A “agricultura moderna”, ao praticar o revolvimento excessivo do solo e o uso de agrotóxicos e adubos químicos,  tem causado através da erosão, a redução da capacidade produtiva do solo e a contaminação dos rios, lagos e águas subterrâneas.


O que é o solo, como é formado e composição? O solo (terra) é a camada mais superficial da crosta terrestre, onde se desenvolvem muitas plantas e vive uma grande variedade de animais; é dele que retiramos parte dos nossos alimentos, além de servir como suporte à água, ao ar e nas construções das nossas moradias. Essa camada vem se formando há milhões de anos, com o acúmulo de pequenas partículas, formadas pelo desgaste das rochas, que foram se misturando com os restos de animais e plantas. Ações dos ventos, chuvas e organismos vivos são os responsáveis por este lento processo; calcula-se que cada centímetro do solo se forma em intervalo de tempo de 100 a 400 anos. O solo é uma mistura de ar, água, matéria orgânica e parte mineral. Dentro do solo existem pequenos furos (poros), onde ficam guardados a água e o ar que as raízes das plantas e os outros organismos necessitam para beber e respirar. A parte mineral do solo se divide, de acordo com o seu tamanho, em: areia (a parte mais grossa); silte (uma parte um pouco mais fina, ou seja o limo que faz escorregar) e argila (uma parte muito pequena ou seja, a mesma que gruda no sapato). O solo (considerado um “ser vivo”) é estudado em três aspectos: 1) físico (drenagem, capacidade de reter água, textura e porosidade); 2) químico (teor de matéria orgânica, pH, nutrientes, substâncias prejudiciais, húmus) e, 3) biológico (micro e macro organismos que o habitam).                        

Degradação e práticas de conservação do solo: A devastação das florestas, o preparo inadequado, o tráfego de máquinas, a erosão, a falta de cobertura e a compactação, são os fatores que mais degradam o solo, reduzindo sua vida e aumentando os distúrbios nutricionais e doenças e pragas. É mais econômico manter do que recuperar recursos naturais. A vida do solo depende da matéria orgânica que, por sua vez, influencia nos aspectos químicos, físicos e biológicos do solo e, ainda aumenta a resistência dos cultivos às pragas e doenças. As principais práticas para regenerar o solo degradado são: Cobertura permanente do solo, adubação orgânica, mecanização cautelosa e com equipamentos adequados, manejo de restos de culturas, cobertura morta, manejo das plantas espontâneas, rotação e consorciação de culturas, uso de quebra-ventos e de sistemas de produção integrados com árvores e com produção animal. A cobertura vegetal é a defesa natural de um terreno contra a erosão. Dessa forma, a copa das árvores e arbustos, em diferentes alturas, protege o solo do impacto direto das gotas das chuvas, enquanto as folhas mortas, galhos secos e matéria orgânica em vários estádios de decomposição e com abundância de organismos o mantém poroso (pela ação das raízes), com estrutura ideal para absorver grandes quantidades de água.
A perda de solo por erosão é considerado um dos maiores e mais alarmantes problemas ambientais, o que causa declínio dos rendimentos das culturas, aumentando os custos de produção, diminuindo, por conseguinte, a lucratividade da lavoura, entre outros danos, que em conjunto influenciam a qualidade de vida na Terra. A cobertura do solo, então, tem um papel relevante no processo de erosão, uma vez que ela pode atenuar os impactos das gotas de chuva, diminuindo a velocidade de escoamento da enxurrada. Experimentos realizados no Paraná, confirmam que a cobertura do solo com plantas ou restos vegetais é o principal fator que influi significativamente no processo de erosão, possibilitando uma redução drástica dos danos causados pela mesma. Os argumentos para seu uso dizem respeito ao impacto das gotas de chuva no solo, a radiação solar, evaporação, infestação de plantas invasoras e mineralização do solo a partir da matéria orgânica.

Importância e funções da cobertura do solo

Além da diminuição da erosão do solo, da evaporação e do consumo e preservação de água,  a cobertura do solo serve para:

1. Manejo de plantas espontâneas (“mato” ou “inços”)

A camada de 10 cm de cobertura  morta impede que  as sementes de inços germinem e se desenvolvam. É uma forma de controle barata e que não causa prejuízo ao meio ambiente. A cobertura do solo com adubos verdes (cobertura viva), por exemplo, com aveia preta, além de proteger muito bem o solo,  desfavorece o surgimento de plantas espontâneas, devido ao efeito alelopático desta importante gramínea, inibindo a germinação do papuã.  A mucuna, devido ao rápido desenvolvimento desfavorece as plantas espontâneas, suprimindo ou abafando. O feijão de porco, outra importante leguminosa, além de proteger e melhorar a fertilidade do solo,  através da alelopatia, inibe o desenvolvimento da tiririca ou junça,  As plantas espontâneas competem com as espécies cultivadas por luz, água e nutrientes, especialmente nos primeiros 30 dias. Por isso, é muito importante a retirada das mesmas ainda pequenas com a enxada, sacho ou, manualmente. Após o período crítico, as plantas espontâneas nas entrelinhas são consideradas “plantas amigas” pois ajudam a manter a umidade no solo e evitam a erosão do solo.

 

2. Controle de temperatura e perda de água

No clima brasileiro, predominantemente tropical e subtropical, em muitos lugares, com  a temperatura chegando a mais de 40 C no verão é preciso diminuir o calor junto ao solo. As plantas também precisam da proteção de coberturas para evitar que a perda de água por evaporação seja muito grande. A água potável será nos próximos anos cada vez mais cara e escassa, por isso devemos pensar então em alternativas de plantas e de coberturas para evitar aumentar o consumo.
A água de chuvas ou das regas percola no perfil do solo em direção a camadas mais profundas. Uma parte fica no solo, outra a planta usa nos seus processos biológicos e o restante é evaporado. Em solos arenosos o calor do solo e a facilidade da água para penetrar é maior que em solos argilosos. É, também, um solo que aumenta mais a temperatura com o sol quando não tem nenhuma cobertura viva ou inerte sobre ele.
As plantas ficam com pouca água, murcham durante o dia e com a noite retornam ao estado normal. Se não houver chuvas ou regas o murchamento é permanente e a planta morre. Com solo desnudo será necessária muito maior quantidade de água para atender as exigências das plantas cultivadas.

3. Coberturas de solo – Mulch – Adiciona fertilidade ao solo

Materiais orgânicos de qualquer natureza sofrem a ação dos microorganismos e do intemperismo. Com o passar do tempo serão transformados em  húmus. Conforme os seus componentes, estes adicionarão ao solo nutrientes que poderão ser aproveitados pelas plantas.  Especialmente os adubos verdes (leguminosas) atuam na “reciclagem de nutrientes” por causa de seu sistema radicular profundo, buscando nas camadas profundas do solo, os nutrientes já perdidos pelos cultivos comerciais e, com isso, trazendo-os para a superfície do solo, para serem aproveitados nos cultivos subsequentes. Nos solos sem cobertura vegetal e, especialmente com espécies de raízes superficiais, todos os nutrientes das camadas mais profundas se perderão e, o que é pior, vão parar nos rios, lagos e córregos, causando poluição e prejudicando os peixes.  Ao ser adicionado matéria orgânica, através das diferentes espécies, os adubos verdes atuam como “condicionadores” do solo, promovendo melhorias  nas características químicas, físicas e biológicas do solo. Além de proteger o solo, os adubos verdes, tais como a mucuna, crotalária e feijão de porco, tem a capacidade de fixar nitrogênio do ar através da simbiose (até 157 kg/ha de nitrogênio), fertilizando o solo.

 

Figura 2. A rotação de culturas com adubos verde e/ou consórcio (ex.:milho/mucuna): ótima opção para aumentar a matéria orgânica, melhorar a fertilidade do solo, cobrir o solo protegendo-o da erosão e, ainda reduzir a incidência de plantas espontâneas e compactação do solo, além de promover a reciclagem de nutrientes, devido ao sistema radicular vigoroso e profundo 

 

4. Ajuda no controle da erosão superficial

As camadas de mulch ao redor de árvores não deve passar de 10 cm, mas em outros lugares como acabamentos de canteiros, passagens entre pisadas ou dormentes não há restrições. A chuva leve não causa nenhum dano à superfície desnuda do solo, a água penetra para as camadas mais profundas. Mas as chuvas de temporais que são intensas caem com força ao solo, e podem arrastar quantidade significativa da camada superficial com maior teor de matéria orgânica.

5. Reduz a injúria às árvores e arbustos por instrumentos de corte

Roçadeiras e máquinas de cortar grama de lâminas ou fio de nylon podem causar lesões na casca do tronco de árvores e arbustos em jardins, servindo de porta de entrada para patógenos e insetos do tipo broca que irão prejudicar a planta. Com a cobertura morta não há necessidade do gramado chegar junto dos troncos e portanto estes estarão protegidos. 

6. Possibilita o plantio direto e cultivo mínimo
Os princípios do sistema de plantio direto seguem a lógica das florestas. Assim como o material orgânico caído das árvores se transforma em rico adubo natural, a palha decomposta de safras anteriores macro e microorganismos, transformando-se no “alimento” do solo. As vantagens são a redução no uso de insumos químicos e controle dos processos erosivos, uma vez que a infiltração da água se torna mais lenta pela permanente cobertura no solo. A quantidade de matéria orgânica triplica, de uma concentração de pouco mais de 1% para acima de 3%.
     O sistema de plantio direto e cultivo mínimo são práticas importantíssimas no cultivo orgânico de hortaliças, tendo em vista que a maioria dos nossos solos estão sujeitos a processos de erosão causado por chuvas intensas, aliado a baixos teores de matéria orgânica. Outra vantagem dessas práticas é o fato do solo estar sempre preparado para semeadura/plantio, mesmo em períodos chuvosos que não permite o revolvimento do mesmo devido a umidade excessiva. Para o plantio direto ou cultivo mínimo, bastar fazer uma roçada utilizando uma foice ou roçadeira manual para áreas maiores e abrir as covas ou sulcos.     O plantio direto é um método que não revolve o solo. A camada de cobertura vegetal é mantida e se faz apenas a abertura de um pequeno sulco ou cova onde é colocada a semente ou a muda.      O cultivo mínimo é a mínima manipulação do solo necessária para a semeadura ou plantio de mudas. Deixa-se uma considerável quantidade de cobertura na superfície (resíduos culturais), o que desfavorece a erosão do solo.


 

Figura 3. O Sistema de Plantio Direto na Palha (SPDP) contribui para que o solo não seja levado pelas erosões e armazene mais nutrientes, fertilizantes e corretivos

 

7.  O uso de cobertura no solo no Brasil é ecologicamente correto

 O revolvimento do solo não combina com o uso sustentável do solo no Brasil.  Em regiões de clima tropical e subtropical, predominantes no Brasil, o trator equipado com arado, grade, escarificador e, principalmente a enxada rotativa, contribuem para desagregar e compactar cada vez mais o solo, causando rápida  decomposição da matéria orgânica em quantidades maiores do que a reposição e, em consequência, diminuindo a produtividade. Além disso, as chuvas intensas e frequentes, cada vez mais comum, associada aos declives dos terrenos, causam grande perdas de solo (erosão) assoreando os rios e, contribuindo para as enchentes. O manejo inadequado do solo torna as lavouras cada vez mais exigentes em insumos e, em geral menos produtivas e, o que é pior, com alto custo de produção, pois a maioria dos agroquímicos são importados. O revolvimento do solo somente se justifica em algumas situações específicas para algumas culturas mais exigentes no preparo do solo e, principalmente, quando houver a necessidade de corrigir a acidez e a fertilidade do solo e, especialmente, em países onde o solo permanece coberto por neve em longos períodos do ano.
         O solo é um “ser vivo” e como tal deve ser tratado. Como qualquer outro organismo vivo, o solo necessita de alimentação em quantidade, qualidade e regularidade adequadas. A perda de solo (erosão) pode causar grandes prejuízos aos agricultores, que perdem rapidamente a capacidade produtiva e, o que é mais grave, vão parar nos rios, córregos e lagos, provocando cada vez mais enchentes e destruição.
     O solo, também chamado de terra, é a camada mais superficial da crosta terrestre, onde se desenvolvem muitas plantas e vive uma grande variedade de animais. É do solo que retiramos parte dos nossos alimentos. Os solos, geradores de vida e gerados pela vida, também podem ficarem doentes. Por essa razão, o manejo dos solos deve ser sadio, para que os organismos que vivem neles se desenvolvam todo o tempo. É importante que sejam plantadas diversas espécies vegetais para cobrir o solo, protegendo-o do sol intenso e da força das gotas de chuvas e, com sistemas radiculares que irão explorar volumes diferentes do solo. Junto com as raízes dessas plantas se desenvolvem microrganismos, que ajudam a aumentar o volume do solo explorado em busca de nutrientes. Trabalhando juntos, plantas e organismos do solo absorvem quantidades grandes e diversificadas de nutrientes; quando morrem, devolvem esses nutrientes principalmente na camada superficial, possibilitando uma nutrição equilibrada para as plantas cultivadas. Tudo se passa como um ciclo de vida: os nutrientes presentes até grandes profundidades são absorvidos por plantas adaptadas e organismos do solo. Esses nutrientes voltam à superfície incorporados na matéria orgânica, protegendo e alimentando os organismos do solo que atuam na decomposição da matéria orgânica, liberando os nutrientes nela contidos para serem absorvidos pelas plantas e por outros organismos que se desenvolverão junto às suas raízes.


   


   

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