quinta-feira, 25 de julho de 2013



     No dia 5 de Agosto, o Brasil celebra o ”Dia Nacional da Saúde”. Foi escolhida essa data em homenagem ao médico Oswaldo Cruz, que nasceu em 5 de agosto de 1872. Ele foi pioneiro no estudo de moléstias tropicais e da medicina experimental no Brasil. Em 1900, fundou o Instituto Soroterápico Nacional, em Manguinhos, no Rio de Janeiro, hoje Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Em 1909, Oswaldo Cruz deixou a Diretoria Geral de Saúde Pública, passando a se dedicar apenas ao Instituto (Fiocruz), onde lançou importantes expedições científicas que possibilitaram a ocupação do interior do país. Erradicou a febre amarela no Pará e realizou a campanha de saneamento da Amazônia. Sua trajetória se confunde com a história da saúde pública brasileira.

     O objetivo da comemoração do “Dia Nacional da Saúde” é promover a conscientização sobre a importância do tema entre a população, relembrar os cuidados que cada um deve ter com o corpo, promover a educação sanitária e ambiental e preservar o meio ambiente para as atuais e futuras gerações.


     Estima-se que nos países em desenvolvimento a percentagem de mortalidade atribuível a causas ambientais é de 25%, e nos desenvolvidos de 17%. Verifica-se no dia-a-dia o quanto o ser humano está destruindo o meio ambiente. A poluição ambiental tem, em geral, duas causas principais. Uma delas é a tendência que o homem sempre sentiu para a mecanização, transformando as matérias-primas e, em consequência, formando quantidades apreciáveis de resíduos inúteis que acabam com o tempo, comprometendo o ambiente. A segunda causa da poluição ambiental está no contínuo aumento da população, o que implica numa crescente produção de alimentos e, com isso utilizando em excesso e de forma indiscriminada, fertilizantes e agrotóxicos que vão contaminar as fontes de água, o solo e ar. 

     O crescimento das cidades, as indústrias e os veículos estão causando transtornos para o ar, o solo e as águas. Ao crescer, as populações urbanas aumentam proporcionalmente às demandas de água potável e sistemas de rede de esgoto. O crescimento acelerado e desordenado do setor industrial causa diretamente a contaminação biológica, química e física, provocando aumentos no transporte e no consumo de energia e gerando mais refugos. A industrialização, somada aos efeitos negativos da mudança climática, está contribuindo para a deterioração do ambiente, qualidade de vida e saúde da população. Os processos de produção através das explorações mineiras, petrolíferas e agrícolas, bem como os hospitais, centros de saúde e laboratórios, as usinas de energia e a indústria manufatureira, são os maiores geradores de refugos químicos e resíduos sólidos perigosos. As refinarias de petróleo, indústrias químicas e siderúrgicas, fábricas de papel e cimento emitem enxofre, chumbo e outros metais pesados, além de diversos resíduos sólidos, provocando no homem distúrbios respiratórios, alergias, lesões degenerativas no sistema nervoso e em órgãos vitais, além do câncer. A emissão de gases tóxicos por veículos automotores é a maior fonte de poluição atmosférica. Nas cidades, esses veículos são responsáveis por 40% da poluição do ar, porque emitem gases como o monóxido e o dióxido de carbono, o óxido de nitrogênio, o dióxido de enxofre, derivados de hidrocarbonetos e chumbo. 



Figura 1. Poluição atmosférica causada pelas indústrias



     Na agricultura “moderna”, o uso de agroquímicos, especialmente o uso de herbicidas aplicados pelos aviões tem aumentado os riscos para a saúde humana, pois além de contaminar os alimentos, tem causado contaminações das pessoas, em função dos ventos, erros e negligência dos pilotos durante a aplicação. Vários casos tem sido noticiado pela imprensa falada e escrita. Nas cidades, apesar da proibição do uso de herbicidas (Lei federal nº 6.288 de 2002 e lei estadual -SC, nº 14.734 de 2009), é muito comum a prática da capina química. A utilização de herbicidas para eliminação da vegetação de terrenos vazios e de vias públicas das áreas urbanas vem-se tornando prática cada vez mais comum, sob o pretexto de que a capina química é mais econômica, rápida e eficaz. O pior é que, na maioria das vezes, os funcionários das prefeituras, empreiteiras e, moradores em geral, aplicam estes produtos muito perigosos para a saúde humana sem nenhuma proteção individual (EPI), como máscaras, óculos e roupas impermeáveis. Os herbicidas, como o glifosato (produto comercial roundup e outros), são aplicados indiscriminadamente em praças, parques, calçadas e nas proximidades de escolas, sem cuidados mínimos para que a ação do vento não contamine as pessoas e animais. Infelizmente não há, entre a maioria da população, a percepção do risco a que está exposta e acham que estas substâncias não fazem mal à saúde. Há informações de transtornos generalizados de vários sistemas de organismos depois das exposições a níveis de uso normais; esses transtornos incluem alterações no equilíbrio, vertigens, diminuição da capacidade cognitiva, convulsões, lesões na visão, olfato, audição e paladar, dores de cabeça, pressão sanguínea baixa, crispação e tiques em todo o corpo, paralisia muscular, neuropatia periférica, perda da coordenação motora, sudorese excessiva e fadiga severa.






     O desenvolvimento é necessário, porém, o ser humano precisa respeitar o meio ambiente, pois dependemos dele para sobreviver neste planeta. Muitos problemas de saúde continuarão agravando-se devido à deterioração das condições de vida gerada pela insegurança pública, poluição sonora, escasso fornecimento de água potável e saneamento inadequado, eliminação incorreta de resíduos, contaminação química por agrotóxicos e fertilizantes, tabagismo e riscos físicos associados à aglomeração urbana. Todos estes problemas estão aumentando devido ao crescente aumento da população e, em consequência, o aumento na produção de alimentos. No modelo atual de produção de alimentos (agricultura “moderna), o Brasil já é desde 2008, o maior consumidor mundial de agrotóxicos e, o que é pior, vários produtos proibidos em outros países, estão sendo utilizados normalmente em nosso país.

     Uma das principais responsabilidades do setor de saúde é a proteção do bem-estar público com a garantia de um ambiente físico e social saudável, que possibilite o desenvolvimento humano sustentável, ou seja, melhoria das condições materiais para responder às necessidades da atual geração, sem comprometer a resposta às necessidades das gerações futuras e, que proteja, especialmente, as pessoas mais vulneráveis da sociedade. Para tal fim, o setor saúde precisa colaborar com outros setores tais como ambiente, trabalho, agricultura e educação, entre outros. Da mesma forma, as comunidades locais, os países e as alianças internacionais deverão, individual e coletivamente, monitorar e rebater as muitas causas da deterioração ambiental. As desigualdades em educação, emprego, saúde e direitos políticos afetam a susceptibilidade das pessoas aos impactos ambientais negativos e podem resultar em doenças e até à morte. Existe consenso de que o desenvolvimento humano sustentável depende tanto da redução da pobreza como do amparo e promoção da saúde. O consumo de bens e serviços é um grande desafio à gestão ambiental em termos do controle de riscos e promoção da saúde.

     Como a moradia e o local de trabalho das pessoas são seus ambientes mais importantes, as condições adequadas de moradia e trabalho são tão essenciais para garantir uma boa saúde quanto o meio ambiente em geral. Um problema sério é o das comunidades rurais, onde os pobres estão mais expostos à riscos de saúde, principalmente aqueles que vivem em zonas endêmicas de doenças transmitidas por vetores tais como malária, dengue e febre amarela. Outro problema é a localização da moradia, geralmente, em locais favoráveis às catástrofes, especialmente enchentes e enxurradas, e, em consequência ficam mais sujeitas à doenças tais como a leptosporiose, transmitida pela urina dos ratos. Além do aumento da pobreza, a desigualdade social e a urbanização, a fragmentação e desintegração de estruturas familiares e comunitárias geram ambientes pouco saudáveis, que favorecem por sua vez estilos de vida não saudáveis e comportamentos de risco em todas as etapas da vida. Ao mesmo tempo, persistem os problemas de mortalidade causados pela desnutrição de mães e crianças, infecções e falta de acesso à bens e serviços. Existe uma relação direta entre a dieta inadequada e as doenças crônicas: tanto as deficiências como os excessos nutricionais contribuem para uma dupla carga de doenças que afetam populações de todas as idades. As tendências crescentes nos estilos de vida e comportamentos de risco (consumo de tabaco, álcool e drogas e as várias formas de violência e acidentes) confirmam a necessidade crítica de estratégias de promoção da saúde.

     A boa notícia é que estão em marcha diversas atividades para monitorar e avaliar a saúde ambiental, desenvolver políticas saudáveis sustentáveis em longo prazo, buscar alianças, desenvolver recursos humanos e estabelecer legislação adequada com respeito ao consumo de bens e serviços.  O fortalecimento de instituições ambientais existentes e a redefinição de suas funções e organização, bem como o estabelecimento de recursos para proteger o ambiente e reduzir os efeitos deletérios sobre a saúde causados pelos desequilíbrios ambientais, tem sido ações cada vez mais presentes em nosso país.

     Na agricultura, a primeira etapa para conquistar o desenvolvimento sustentável e a saúde ambiental é reconhecer que os recursos naturais são finitos e, por isso, usá-los com critério e planejamento. A partir daí, adotar um novo modelo de agricultura, chamadas de alternativas, ou seja, um conjunto de sistemas de produção que busca maximizar os benefícios sociais e a auto-sustentabilidade do sistema produtivo, minimizar ou até eliminar a dependência de energia não renovável (agroquímicos são obtidos do petróleo, fonte de energia não renovável) e preservar o meio ambiente através da utilização dos recursos naturais renováveis. Esses sistemas de produção têm como principais características: a) O uso intensivo da matéria orgânica para manter a fertilidade do solo e favorecer a microvida do solo; b) A diversificação da propriedade quanto ao cultivo (policultura); c) Minimização/eliminação do uso de energia fóssil (petróleo), insumos (agroquímicos) e tecnologias importadas; d) As práticas de cultivo mínimo e a integração da produção vegetal/animal e, e) Manutenção de matas nativas para preservar a biodiversidade.













Ferreira On 7/25/2013 05:35:00 AM Comentarios LEIA MAIS

sábado, 13 de julho de 2013





Gengibre
     Acredita-se que o gengibre (Zingiber officinale Roscoe), também conhecido como gingibre, gengivre, mangarataia e mangaratiá, pertencente à família Zingiberaceae, seja originário da Índia e, posteriormente, introduzido em várias pares do mundo, em regiões de clima tropical e subtropical. Bem adaptada às regiões de clima quente e úmido do país, ocorre na faixa litorânea que vai do Amazonas a Santa Catarina. As principais áreas de cultivo estão no Espírito Santo, sul de São Paulo, Paraná e Santa Catarina. As raízes são ramificadas, carnosas, geralmente de cor amarela (Figura 1), sendo encontradas variedades de cor branca e azul. É uma planta herbácea, conhecida pelo homem há milênios como raiz comestível perene de sabor picante e parte aérea anual com folhas verdes-escuras, que pode atingir mais de um metro de altura (Figura 2). 





Figura 1. Raízes de gengibre







Figura 2. Lavoura de gengibre



Uso culinário, propriedades nutricionais e terapêuticas

     Os rizomas são utilizados na alimentação, na indústria de bebidas e como produto medicinal. O gengibre é uma raiz aromática, muito usada em condimentos e, que contém teores relevantes de niacina e ferro. O consumo pode ser in natura (em receitas de pratos doces e salgados), em forma de balas, óleo, pó, em conserva ou cristais (pequenos pedaços desidratados). O gengibre também tem uso na elaboração de licores e refrigerantes. Feito com cachaça, açúcar e especiarias, o quentão se distingue pelo sabor picante do gengibre, seu principal ingrediente. Por meio de destilação em corrente à vapor, pode ser extraído e empregado no processo de produção de perfumes, um óleo essencial que contém propriedades terapêuticas, como cafeno, felandreno, zingibereno e zingerona. No Japão é comum aplicar o produto durante massagens de coluna e articulações. Outra opção é consumi-lo em chás, bastando ferver 10g de gengibre descascado em 150 ml de água por 7 minutos, coar e beber. O chá de gengibre ajuda no tratamento contra gripe, tosse, resfriado e até ressaca. Há locutores e cantores que mastigam pequenos pedaços de gengibre para cuidar bem da voz. O gengibre em banhos e compressas quentes é indicado para aliviar os sintomas provocados por doenças como gota, artrite, dores de cabeça e da coluna, diminuindo inclusive o congestionamento nasal e cólicas menstruais.


     Os benefícios do gengibre à saúde humana são reconhecidos pela OMS - Organização Mundial da Saúde, especialmente quanto aos efeitos sobre o sistema digestivo. A OMS indica a hortaliça para evitar enjoos e náuseas. Mas a planta tem outras propriedades medicinais: O rizoma tem ação cicatrizante, desintoxicante, antialérgica, estimula o sistema imunológico e a produção de hormônios e, combate os radicais-livres. Com isso, protege contra gripes, resfriados, alivia os sintomas de tensão pré-menstrual, previne contra o envelhecimento e até desenvolvimento de câncer. A vitamina C da planta também ajuda a combater colesterol alto. Minerais como magnésio, selênio e zinco estão presentes nesse alimento, que faz bem para as articulações e ameniza sintomas de doenças como artrose. O gengibre é também considerado afrodisíaco, já que melhora a circulação sanguínea e ajuda contra disfunção erétil. 


     Para quem tem hipertensão grave, o gengibre não é recomendado, já que aumenta a pressão sanguínea. Pessoas com problemas de cálculos biliares ou que fazem uso de anticoagulantes também não devem consumir o gengibre. 




Cultivo
O clima tropical e subtropical, quente e úmido, com temperaturas entre 25 e 30ºC  favorece o cultivo de gengibre. A estação das chuvas é a indicada para iniciar o plantio de gengibre, em especial os meses de setembro a dezembro.
Cultivares: São encontradas diversas variedades de gengibre que recebem nomes regionais com variações quanto ao aspecto, conteúdo de fibras e de óleo, aroma e rendimento. No Brasil, a variedade mais cultivada é o “Gigante”, com melhor padrão comercial. Os clones regionais, geralmente, tem reduzido tamanho de raiz e pouca aceitação comercial. 


Propagação: O plantio é feito através de pedaços de raízes com 5 a 10 cm de comprimento, apresentando diversas gemas. Gasta-se, em média, de 3 a 4 t de raízes para o plantio de 1 ha. São usados como sementes, as raízes colhidas no mesmo ano, de preferência oriundas de lavouras que não sofreram ataque de doenças. Para acelerar a emergência das plantas no campo, recomenda-se induzir a brotação das raízes-sementes, antes do plantio, amontoando as raízes no campo, em camadas de 15 a 20 cm de altura e cobrindo com palha e, irrigando sobre a palha, diariamente, para mantê-las úmidas. Quando as brotações começarem a aparecer, as mudas estão no ponto ideal para o plantio.

Preparo do solo e plantio: O solo ideal é o argilo-arenoso, fértil, com pH entre 5,5 e 6,0 e boa drenagem. No preparo do solo deve-se eliminar os torrões muito grandes. O plantio do gengibre deve ser feito em sulcos com profundidade de 10 a 15 cm, dependendo do tamanho das raízes-sementes, 20 cm entre as plantas e 1,20 a 1,40 m entre as linhas. As raízes-sementes devem ser distribuídas ao longo dos sulcos posicionados transversalmente dentro do sulco, para que as novas brotações, cresçam perpendicularmente ao sulco, evitando que as raízes de uma planta entrelacem nos da planta vizinha e se partam na hora da colheita. Após estarem dispostos adequadamente, devem ser cobertos com uma camada de 5 a 10 cm de terra.

Adubação orgânica: recomenda-se adubar conforme a análise do solo e do adubo utilizado. Em geral, recomenda-se 15 t de composto orgânico por hectare, sendo aplicado de forma parcelada: 5 t/ha no plantio; 5 t na primeira cobertura, antes da primeira amontoa (90 dias) e 5 t/ha na segunda cobertura, antes da terceira amontoa.

Irrigação: durante períodos longos de seca, o gengibre deve ser irrigado. No entanto, excesso de umidade no solo pode apodrecer as raízes.

Capinas: A capina deve ser feita em faixas, eliminando-se com cuidado as plantas que crescem junto aos pés de gengibre, para não danificar as raízes. As plantas espontâneas (“mato”) que cresce entre as linhas de cultivo deve ser preservadas até iniciarem as amontoas. A partir desse momento não será mais possível preservar o mato nas entrelinhas devido a quantidade de terra exigida na amontoa. Por isso, devem ser planejados corredores de refúgio ao redor da lavoura ou em faixas de 20 em 20 m no interior da lavoura, com o objetivo de abrigar os inimigos naturais das pragas. 

Amontoa: é o chegamento de terra junto aos pés das plantas, de forma a recobrir as raízes que começam a aparecer na superfície. Essa operação deve ser feita de 3 a 4 vezes durante o ciclo do gengibre. Recomenda-se iniciar as amontoas quando as plantas estiverem com cerca de 30 cm de altura. Normalmente, as amontoas são realizadas aos 90, 120, 150 e 180 dias após o plantio. 

Adubação de cobertura: a 1ª adubação de cobertura é feita por ocasião da primeira amontoa e outra na terceira amontoa, ou seja, aos 90 e 150 dias após o plantio, respectivamente, de acordo com a análise do solo.

Manejo de pragas e doenças: Dentre as pragas, pode ocorrer a lagarta rosca (Agrotis ipsilon) que pode atacar as brotações cortando-a no colo da planta e os nematoides. A rotação de culturas com gramíneas e leguminosas é uma prática eficiente no manejo de pragas. Dentre as doenças pode ocorrer o ataque de fungos (Fusarium, Phoma e etc.). A escolha de raízes-sementes sadias para o plantio e a rotação de culturas, são medidas preventivas e eficientes no manejo destes fungos.


Colheita

     O ponto de colheita é indicado pelo amarelecimento e secamento das folhas e brotos. O gengibre deve ser colhido de 7 a 10 meses, o que ocorre entre junho e agosto. As raízes são extraídas da terra, manualmente, com enxada ou enxadão e lavadas cuidadosamente para evitar ferimentos, pois podem ser porta de entrada de patógenos. O uso de estrados de bambú para colocar as raízes, utilizando-se jatos d’água no próprio campo, é uma das formas simples de lavagem logo após a colheita.





Nabo

O nabo (Brassica rapa L.) da família das brássicas, assim como o repolho, couve, couve-flor, brócolis e rabanete, é uma planta herbácea, bienal cultivada como anual, onde a raiz é a parte comestível. O sistema radicular do nabo é carnudo e pode assumir diversas formas e ter coloração uniforme ou ser bicolor, sendo o branco e o roxo as mais comuns (Figura 3). Alguns têm raízes compridas, outros redondas e há ainda outros de forma achatada. As folhas dos Nabos são de cor verde médio a escuro, rugosas, ásperas, pubescentes e dispostas em roseta durante a fase vegetativa do ciclo. As flores são amarelas, agrupadas numa haste floral. O fruto dos nabos é uma síliqua, característica da brássicas. Nativo da Europa e Ásia Central, o nabo foi cultivado pela primeira vez no Oriente Médio há 4.000 anos. O nabo, assim como os outros membros do gênero Brassica, foi introduzido no Brasil pelos colonizadores portugueses. Desde então, tem sido parte da alimentação dos brasileiros por ser um alimento saboroso e nutritivo. Uma das vantagens de se cultivar esta espécie é a possibilidade de aumentar a renda durante o tempo transcorrido entre duas outras culturas de ciclo mais longo (consórcio), pois além de ser relativamente rústica, apresenta ciclo muito curto (cerca de 30 dias), com retorno rápido.



Figura 3. Raízes e folhas de nabo redondo



Uso culinário, propriedades nutricionais e terapêuticas

     É cultivado devido às raízes, que são comestíveis, mas suas folhas também podem ser utilizadas para saladas e sopas. As raízes de nabo são conhecidos pelo sabor característico levemente amargo, porém refrescante, apreciado na culinária de vários países, principalmente em saladas. A maioria das pessoas serve os nabos frescos ou cozidos, mas eles também podem ser assados e cozidos no vapor ou fritos. Por sua versatilidade e pelo sabor doce e ao mesmo tempo picante, o nabo pode ser usado em saladas, cozidos, sopas e pratos de legumes. As raízes de nabo são ricas em vitamina C, fibras e sais minerais como o potássio, sódio, cálcio e fósforo. Por conter baixas calorias (100 gramas possui apenas 35 calorias), o nabo é muito indicado em dietas de restrições calóricas, por ser leve e ainda ajudar no processo de digestão. As folhas de nabo também são comestíveis e seu sabor é semelhante ao de mostarda. Mais nutritivas do que as raízes, as folhas de nabos são uma excelente fonte de beta-caroteno (Vitamina A), contêm boas doses de vitaminas K e C, folatos e cálcio. Uma xícara de folhas cozidas fornece 40 mg de vitamina C, aproximadamente 200 mg de cálcio e quase 300 mg de potássio. 


     O nabo (raiz) também serve como uma excelente fonte de cálcio e, um maior consumo deste importante mineral tem sido associado com uma diminuição significativa no risco de cancro do cólon e reto. O teor de fibra dietética das raízes aumenta ainda mais a sua capacidade de oferecer proteção contra o cancro colorrectal. É também uma boa fonte de fibras solúveis que ajudam a controlar os níveis de colesterol no sangue. Além disto, as folhas possuem uma substância chamada luteína, um poderoso antioxidante carotenóide. O beta-caroteno das folhas de nabo é importante porque os baixos níveis de vitamina A, que pode ser formada no organismo, a partir de beta-caroteno, são associados com artrite reumatóide O nabo possui ainda outras propriedades medicinais: é diurético, expectorante, purificador do sangue, emoliente, antipirético, alcalinizante e possui um leve efeito laxativo. No entanto, nas raízes também são encontradas quantidades mensuráveis de oxalatos, substâncias que se excessivamente concentrada nos fluidos corporais podem se cristalizar e causar sérios danos a saúde. O nabo é uma brássica (família de vegetais que inclui o repolho, c. flor, brócolis e o rabanete) que contém compostos sulfurosos que protegem contra certos tipos de câncer. No entanto, como outros vegetais desta família botânica, pode provocar gases e distensão abdominal.


Cultivo 

A cultura prefere climas frescos e úmidos e suporta geadas ligeiras. Em regiões ou épocas do ano quentes e secas, a produtividade é reduzida e a qualidade das raízes é afetada. As temperaturas ótimas situam-se entre os 15 a 20 Cº.


Época de plantio: O plantio na Região Sul e Sudeste é entre fevereiro e novembro e para as demais regiões entre maio e julho. 

Solos: Os nabos preferem solos de textura média (textura franco-arenosa), ricos em matéria orgânica (entre 2 a 4%), com pH entre 6,0 e 7,5, bem drenados e com boa capacidade de retenção de água durante a fase de crescimento. 

Cultivares: Existem os híbridos, com raízes compridas, chamados de Natsu Minouwas e as variedades Tokinashi Kokabu, Purple Topwhite Globe, Chato Francês, Shogoin, Snowball e outras. As melhores variedades são: Chato Francês, “Snowball”, Purple Top e Comprido Japonês (Figura 4).



Figura 4. Nabo japonês e nabo redondo



Irrigação: O nabo é muito exigente em água, principalmente na fase de engrossamento das raízes. 

Plantio e espaçamento: A semeadura é feita no local definitivo, depois de preparar o terreno e adubá-lo, conforme análise do solo. O espaçamento mais recomendado é de 30 x 10cm ou 40 x 15 cm, dependendo da variedade cultivada. Deve-se utilizar na semeadura, sementes na proporção de 3 kg/ha, sendo que um grama contém cerca de 70 sementes. Semear numa profundidade de 1 cm e regar.

Tratos culturais: resumem-se em desbaste (raleio), deixando um intervalo de 10 a 15 cm entre plantas, capinas e escarificações.

Manejo de doenças e pragas: É uma planta muito resistente e não costuma apresentar problemas com pragas e doenças, no cultivo orgânico, mas pode sofrer algum ataque de fungo e pragas como pulgões e as lagartas. Para os pulgões diversos preparados de plantas são eficientes tais como o extrato de pimenta e preparado de cebola (ver matérias postadas em 01, 16 e 27/09/2011 e 21 e 26/10/2011: “Manejo ecológico de insetos-pragas”) No manejo das lagartas, o uso de Baccilus thurigiensis (controle biológico) como o Dipel (produto comercial) e outros é eficiente. A adubação orgânica equilibrada, com base na análise do solo, e a rotação e consorciação de culturas que não pertencem a mesma família botânica (brássicas) são práticas preventivas muito eficientes no manejo de pragas e doenças, além de melhorar a fertilidade e as características físicas e biológicas do solo.



Colheita

O ciclo cultural tem a duração de cerca de 40 a 60 dias na primavera e verão e 90 a 100 dias no inverno. O ciclo do nabo comprido, também conhecido como nabo japonês é de 60 dias no verão e 80 dias no inverno. 





Rabanete
O rabanete (Raphanus sativus L.) é uma raiz tuberosa, originária da região Mediterrânea, apreciada pela polpa crocante e sabor picante. Pertence à familia Brassicaceae, a mesma da couve, couve-flor, repolho, nabo e brócolis. Era uma hortaliça muito apreciada no antigo Egito, Assíria, Grécia e Roma. No Egito, os construtores das pirâmides consumiam grandes quantidades de rabanete, juntamente com cebola e alho. A raiz tuberosa apresenta grande variação de tamanho e de forma, podendo ser redonda, oval ou alongada, sendo a cor da casca branca, vermelha ou vermelha e branca, enquanto que a polpa é sempre branca. O rabanete redondo de casca vermelha é o preferido no mercado brasileiro (Figura 5). Os melhores preços são alcançados de julho a outubro.




Figura 5. Raízes de rabanete


Uso culinário, propriedades nutricionais e terapêuticas

     Atualmente o rabanete é muito consumido na cozinha asiática. Suas qualidades ainda são pouco conhecidas pelos brasileiros que o consomem em pequena quantidade. O rabanete é uma excelente alternativa para diversificar a dieta. O uso mais comum é na forma crua, em saladas. Devido à sua cor e formato, ajuda a decorar a salada quando cortado em rodelas e servido com tomate, aipo e pepino, estimulando assim o consumo de outras hortaliças. Quando grandes, podem ser consumidos cozidos ou como picles. Quando cozidos, o sabor é menos picante. Podem ser combinados com recheios e molhos de acordo com a preferência. O rabanete não precisa ser descascado para ser consumido. A folha do rabanete (Figura 1) pode ser aproveitada para preparar sopas, refogados ou recheio de tortas e bolinhos. O rabanete é um ótimo estimulante do apetite; consuma-o com pouco sal, antes das refeições. Os temperos que combinam são: limão, sal, cheiro-verde, vinagre e azeite. Possui poucas calorias, sendo portanto recomendado para pessoas que querem emagrecer. É uma boa fonte de vitamina C, fósforo e fibras, além de conter pequenas quantidades de ferro, potássio e folato. Suas folhas são excelente fonte de cálcio, ferro e de vitaminas A e C. 


     No rabanete estão presentes compostos sulfurosos que podem proteger contra o câncer. Popularmente, acredita-se que o rabanete tem propriedades diuréticas e laxativas e que seu suco atua de forma eficaz no tratamento de urticária e na eliminação de catarro dos pulmões. Como outros vegetais da família das brássicas, os rabanetes também podem causar distensão abdominal e flatulência em algumas pessoas.



Cultivo

O rabanete é uma cultura de ciclo curto e o ambiente exerce grande interferência na qualidade de suas raízes. Variações nas condições de temperatura e umidade do solo durante o desenvolvimento das plantas podem prejudicar a produtividade e a qualidade das raízes. O rabanete é uma planta muito fácil de cultivar e de ciclo rápido, por isso, um método interessante para se cultivar o rabanete é o consórcio com outras culturas de maiores espaçamentos O rabanete adapta-se melhor a regiões de clima frio ou temperado, o que torna a região Sul a mais propícia para o seu plantio. As melhores temperaturas para o seu desenvolvimento ficam entre 10º e 20 ºC. 


Solo e época de plantio: Os solos mais indicados são os areno-argilosos e o plantio pode ser feito em qualquer época do ano em regiões de clima ameno. Porém, nas demais regiões do Brasil, onde o verão é sempre quente e chuvoso, recomenda-se que seja feito de abril a junho. Deve ser cultivado sob sol pleno, em solo fértil, drenável, enriquecido com matéria orgânica e irrigado regularmente. Cultivares, semeadura e espaçamento: Multiplica-se facilmente por sementes. A semeadura deve ser realizada diretamente no local definitivo, em canteiros bem preparados e destorroados, na quantidade de 0,3 g de sementes por m2. As sementes germinam em 4 a 10 dias. O espaçamento mais recomendado é o de 15 x 8 para a variedade Early Scarlet Globe. Para as demais variedades pode-se utilizar o espaçamento de 25 cm entre fileiras por 10cm entre plantas. 

Irrigação: O principal cuidado a ser tomado com o cultivo do rabanaete é manter uma irrigação constante, que deve ser feita diariamente para proporcionar um crescimento rápido. 

Tratos culturais: Recomenda-se a retirada de plantas espontâneas (“mato”) através de capinas manuais e uma escarificação no início do desenvolvimento das plantas. 

Manejo de doenças e pragas: Por se tratar de uma cultura bem resistente e de ciclo rapidíssimo, o rabanete não sofre muito com infestações de pragas e doenças. No entanto, deve-se manter atenção com relação à presença de grilos e pulgões que podem serem manejados com preparados de plantas ((ver matérias postadas em 01, 16 e 27/09/2011 e 21 e 26/10/2011: “Manejo ecológico de insetos-pragas”). Medidas preventivas tais como adubação orgânica equilibrada, com base na análise do solo e a rotação e consorciação de culturas utilizando espécies que não sejam da família das brássicas, são importantes para reduzir as doenças e pragas do rabanete.



Colheita 

Os rabanetes podem ser colhidos em cerca de 33 dias. Não deve-se realizar a colheita tardiamente sob pena de ter apenas rabanetes fibrosos e secos. Em geral, as raízes são vendidas em maços, de cerca de 800g. As folhas devem estar com aspecto de produto fresco, com cor verde brilhante. As raízes devem ter a casca com cor uniforme, ser firmes e lisas, sem pontos escuros ou rachaduras. Quando passadas, por terem sido colhidas tardiamente ou por estarem há muito tempo na gôndola do supermercado, as raízes ficam duras e esponjosas. O rabanete redondo, mais comum no mercado brasileiro, tem em média 3 cm de diâmetro; raízes maiores têm maior probabilidade de ser esponjosas. Os rabanetes murcham rapidamente, por isso devem ser mantidos preferencialmente em geladeira, dentro de sacos de plástico perfurados. Caso seja preciso lavar os rabanetes antes de armazená-los na geladeira, seque-os superficialmente.


















Ferreira On 7/13/2013 11:37:00 AM 1 comment LEIA MAIS

quinta-feira, 4 de julho de 2013



     O conceito de agricultura mais sustentável envolve o manejo adequado dos recursos naturais, evitando a degradação do ambiente de forma a permitir a satisfação das necessidades humanas das gerações atuais e futuras. O conceito absoluto de agricultura sustentável pode ser impossível de ser obtido na prática, entretanto é função das empresas de pesquisa e extensão rural de todo o Brasil, oferecer opções para que sistemas “mais sustentáveis” sejam adotados na agricultura.


Revolvimento e uso inadequado do solo 
     Em regiões de clima tropical e subtropical, predominantes no Brasil, a utilização intensiva e exagerada de máquinas e equipamentos pesados (trator equipado com arado, grade, escarificador e, principalmente a enxada rotativa), contribuem para desagregar e compactar cada vez mais o solo (Figuras 1 e 2), causando rápida decomposição da matéria orgânica em quantidades maiores do que a reposição e, em consequência, diminuindo a produtividade. Além disso, as chuvas intensas e frequentes, cada vez mais comum, associada aos declives dos terrenos e, especialmente o preparo do solo “morro abaixo”, causam grande perdas de solo (erosão) assoreando os rios e, contribuindo para as enchentes. O manejo inadequado do solo torna as lavouras cada vez mais exigentes em insumos e, em geral menos produtivas e, o que é pior, com alto custo de produção, pois a maioria dos agroquímicos são importados. Em outras palavras, o revolvimento do solo não combina com o uso sustentável da terra em nosso país; somente se justifica em algumas situações específicas para algumas culturas mais exigentes no preparo do solo e, principalmente, quando houver a necessidade de corrigir a acidez e a fertilidade do solo e, especialmente, em países onde o solo permanece coberto por neve em longos períodos do ano. 


Figura 1. A compactação do solo impede o desenvolvimento normal das raízes das plantas. O preparo do solo com máquinas e implementos pesados, especialmente em áreas de declive acentuado, provocam a erosão e a compactação do solo.



Figura 2. Pé-de-arado ou pé-de-grade: Camada de solo compactada que se desenvolve abaixo da camada superficial, devido às frequentes arações, gradeações e uso de enxadas rotativas.


     Outro problema é o uso incorreto do solo para o cultivo de determinadas espécies. Em solos com declividade acentuada não recomenda-se o plantio de espécies anuais. Havendo alguma declividade, deve-se utilizar práticas que visem a conservação do solo, tais como o plantio em curva de nível, plantio direto, construção de terraços e outras. Para mais informações sobre as práticas de conservação dos solos, sugiro acessar o seguinte endereço: http://catuaba.cpafac.embrapa.br/pdf/doc90.pdf


     No cultivo orgânico o solo é tratado como um “organismo vivo”, ou seja, priorizando a manutenção de cobertura vegetal, a adubação orgânica e o revolvimento mínimo do solo, entre outras práticas (Figura 3). O manejo adequado do solo proporciona o aumento da resistência das culturas às pragas, doenças e adversidades climáticas (estiagens e chuvas intensas). A vida do solo depende da matéria orgânica (solo sadio). Por outro lado, o revolvimento exagerado do solo, associado à utilização indiscriminada de agroquímicos, tem provocado, cada vez mais, a compactação do solo (Figuras 1, 2 e 3), o surgimento de doenças e pragas e, o que é pior, a contaminação de alimentos, solo e água, bem como a intoxicação de consumidores, agricultores e da fauna (solo doente). A verdadeira fertilidade é resultado da interação entre os aspectos químicos, físicos e biológicos do solo, sendo que a intensa atividade biológica no solo, determinará melhorias duradouras em suas qualidades químicas e físicas. 

Figura 3.Solo degradado (doente);        Solo orgânico (sadio)



Uso indiscriminado e exagerado de agrotóxicos e fertilizantes químicos
     Boa parte dos agrotóxicos aplicados no campo é perdida. Estima-se que cerca de 90% dos agrotóxicos aplicados não atingem o alvo, sendo dissipados para o ambiente e tendo como ponto final reservatórios de água e, principalmente, o solo. As perdas se devem, de forma geral, à aplicação inadequada, tanto em relação à tecnologia quanto ao momento de aplicação; em alguns casos, porque a aplicação foi feita para dar proteção contra uma praga ou patógeno que não estão presentes na área. Isso ocorre porque ainda são realizadas pulverizações baseadas em calendários e não na ocorrência do problema.

     A agricultura “moderna” está baseada no uso intensivo de insumos. A adoção do sistema de monoculturas, o uso desequilibrado e altas doses de fertilizantes químicos e os agrotóxicos favoreceram a ocorrência de epidemias causadas por doenças e pragas em plantas. Os adubos químicos solúveis, especialmente os nitrogenados como a ureia e, os agrotóxicos, através do estímulo a um processo chamado proteólise, promovem a formação de substância orgânicas simples na seiva das plantas, tornando-as mais vulneráveis e atrativas às pragas e doenças. Para reduzir as perdas provocadas pelas doenças e pragas, o controle químico através da aplicação de agrotóxicos foi a principal ferramenta utilizada durante muitos anos. No entanto, a partir da publicação do livro Primavera Silenciosa, de Rachel Carson, em 1962, os cientistas e a sociedade perceberam a necessidade de buscar alternativas para eliminar os agrotóxicos na agricultura. Os agrotóxicos são apontados como formulações potencialmente perigosas, pois deixam resíduos nos alimentos, além de contaminar a água, o solo e os agricultores. Os agrotóxicos podem apresentar uma eficiência reduzida por ser afetados por inúmeros fatores (condições climáticas, especialmente no momento da aplicação e o local a ser protegido), além de selecionar populações resistentes de plantas espontâneas, pragas e microrganismos. 

     Além dos agrotóxicos serem perigosos para a saúde humana e para o meio ambiente, as medidas para o uso seguro destas substâncias, não são seguidas (Figura 4). Raquel Rigotto, professora do Departamento de Saúde Comunitária da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), em entrevista, ela defende o debate sobre uso de agrotóxicos como um tema estratégico e critica a ideia de que é possível utilizá-los de forma segura, devido aos seguintes fatores:

     O receituário não funciona. Pode-se chegar numa agropecuária e comprar um veneno e usar conforme as instruções; Há pouquíssimos laboratórios para análises (contaminação da água e pessoas); 450 ingredientes ativos de agrotóxicos registrados no Brasil em mais de 5.000 municípios; Assistência técnica deficiente: 5 milhões de estabelecimentos agrícolas (16 milhões de trabalhadores rurais, inclusive crianças com escolaridade baixa), conforme censo; maior assistência é feita em propriedades maiores de 200 ha; Fiscalização deficiente: Como fiscalizar a forma correta de aplicar, o uso de EPI, a carência dos agrotóxicos e, o que é pior, aqueles não registrados e proibidos num país continental?


Figura 4. O desconhecimento sobre os riscos no uso dos agrotóxicos e a falta de proteção na aplicação agrava ainda mais a contaminação dos trabalhadores rurais, consumidores e meio ambiente.



    A utilização dos adubos químicos, dos agrotóxicos e das sementes híbridas, além de tornar os agricultores dependentes destes insumos, aumentando ainda mais o custo de produção (grande parte são importados), forma um círculo vicioso e insustentável, interessante apenas para as multinacionais da agroindústria que visam o lucro, sem nenhuma preocupação com o meio ambiente. As sementes melhoradas necessitam mais adubação para se desenvolverem; a utilização do adubo químico torna as plantas mais fracas e mais suscetíveis ao ataque de pragas e doenças e, por isso, se tem que utilizar cada vez mais adubos químicos, inseticidas e fungicidas para manter o nível desejável de produção. Os problemas causados pelos adubos químicos não param por aí: acidificam o solo, tornando a prática da calagem necessária, no mínimo a cada 5 anos, aumentando ainda mais o custo de produção dos alimentos.




As queimadas das matas, bosques, capoeiras e restos culturais e as capinas químicas

     Estas práticas, comuns na agricultura “moderna” com o objetivo de limpar o terreno e facilitar o preparo do solo e o plantio (Figura 5), são totalmente contrárias ao desenvolvimento sustentável, pois além de contaminar o meio ambiente e retirar a cobertura do solo, favorecendo a erosão, ainda desperdiça a matéria orgânica, essencial para a nutrição das plantas e reduz a biodiversidade (nº de espécies), que pode servir de abrigo e alimento aos inimigos das pragas dos cultivos. Em consequência, o produtor terá que gastar mais para a aquisição de insumos visando manter a produtividade dos cultivos. 


Figura 5. Devastação de florestas: além de causar a erosão do solo, reduz a biodiversidade, essencial, para o equilíbrio ecológico.



     É importante ressaltar que ao mesmo tempo que uma planta espontânea (“mato”) indica um problema, também ajuda a solucioná-lo, pois estas plantas indesejáveis ajudam a cobrir o solo, reduzindo a erosão e o aquecimento superficial. A competição por água e nutrientes exercida pelas plantas espontâneas é uma preocupação para o hemisfério norte, onde a estação de crescimento é fria, única e curta. Nas condições tropicais e subtropicais, clima predominante no Brasil, esta competição é menos problemática do que a falta de cobertura do solo; ao reduzir a erosão e o aquecimento superficial, contribuem para melhorar a disponibilidade de água e a absorção de nutrientes pelas raízes, as quais paralisam esta atividade quando o solo atinge temperaturas acima de 32ºC. As plantas espontâneas aumentam a densidade e a diversidade radicular, contribuem para a reciclagem de nutrientes e para melhorar as características físicas, químicas e biológicas do solo. São fontes de biomassa, produzem flores que atraem insetos predadores e podem servir de alimento preferencial para pragas das culturas. Por isso, as plantas espontâneas não merecem ser chamadas de “daninhas” e sim, ser consideradas, como uma reação da natureza à falta de cobertura do solo. 

     Na agricultura orgânica as plantas espontâneas (“mato”) são consideradas “amigas” das plantas cultivadas e, por isso, não devem ser totalmente eliminadas. Ocorre um mecanismo de sucessão natural de espécies numa determinada área e, por isso, a intervenção deverá ser no sentido de auxiliar a natureza para que este processo ocorra ao longo do tempo, para que a população de plantas espontâneas mais “agressivas” seja reduzida a níveis toleráveis, cedendo espaço para as mais “comportadas” e de mais fácil manejo. O crescimento das plantas espontâneas ao redor dos cultivos ou o estabelecimento de áreas ou faixas de vegetação espontânea fora da área cultivada tem a vantagem de assegurar maior estabilidade do sistema produtivo, reduzindo os problemas com pragas e doenças e aumentando a atividade dos inimigos naturais das pragas. 



Redução da biodiversidade através do monocultivo e da extinção de matas, bosques, capoeiras e faixas de contorno

     A diversificação da paisagem geral da propriedade é muito importante, pois restabelece o equilíbrio entre todos os seres vivos da cadeia alimentar, desde microrganismos até pequenos animais, pássaros e outros predadores. A introdução de espécies vegetais com múltiplas funções no sistema produtivo é a base do (re)estabelecimento do equilíbrio da propriedade, incluindo-se espécies de interesse econômico, adubos verdes, arbóreas, atrativas, plantas medicinais, ornamentais e até plantas espontâneas. A preservação de bosques, cercas vivas e até capoeiras, próximos da área cultivada é muito importante para servir como abrigo e alimento de inimigos naturais e, até como quebra-ventos. Recomenda-se incluir nas lavouras faixas de adubos verdes e até deixar refúgios de plantas espontâneas ao redor dos cultivos, pois favorecem os inimigos naturais das pragas que atacam as culturas.

     O cultivo de apenas uma espécie de planta (monocultivo) na mesma área, além de reduzir a biodiversidade, favorece o desequilíbrio nutricional do solo(esgotamento e excesso de alguns nutrientes) e aumenta o número e intensidade das pragas e doenças.
Ferreira On 7/04/2013 04:35:00 AM 1 comment LEIA MAIS

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Desenvolvimento sustentável e saúde ambiental



     No dia 5 de Agosto, o Brasil celebra o ”Dia Nacional da Saúde”. Foi escolhida essa data em homenagem ao médico Oswaldo Cruz, que nasceu em 5 de agosto de 1872. Ele foi pioneiro no estudo de moléstias tropicais e da medicina experimental no Brasil. Em 1900, fundou o Instituto Soroterápico Nacional, em Manguinhos, no Rio de Janeiro, hoje Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Em 1909, Oswaldo Cruz deixou a Diretoria Geral de Saúde Pública, passando a se dedicar apenas ao Instituto (Fiocruz), onde lançou importantes expedições científicas que possibilitaram a ocupação do interior do país. Erradicou a febre amarela no Pará e realizou a campanha de saneamento da Amazônia. Sua trajetória se confunde com a história da saúde pública brasileira.

     O objetivo da comemoração do “Dia Nacional da Saúde” é promover a conscientização sobre a importância do tema entre a população, relembrar os cuidados que cada um deve ter com o corpo, promover a educação sanitária e ambiental e preservar o meio ambiente para as atuais e futuras gerações.


     Estima-se que nos países em desenvolvimento a percentagem de mortalidade atribuível a causas ambientais é de 25%, e nos desenvolvidos de 17%. Verifica-se no dia-a-dia o quanto o ser humano está destruindo o meio ambiente. A poluição ambiental tem, em geral, duas causas principais. Uma delas é a tendência que o homem sempre sentiu para a mecanização, transformando as matérias-primas e, em consequência, formando quantidades apreciáveis de resíduos inúteis que acabam com o tempo, comprometendo o ambiente. A segunda causa da poluição ambiental está no contínuo aumento da população, o que implica numa crescente produção de alimentos e, com isso utilizando em excesso e de forma indiscriminada, fertilizantes e agrotóxicos que vão contaminar as fontes de água, o solo e ar. 

     O crescimento das cidades, as indústrias e os veículos estão causando transtornos para o ar, o solo e as águas. Ao crescer, as populações urbanas aumentam proporcionalmente às demandas de água potável e sistemas de rede de esgoto. O crescimento acelerado e desordenado do setor industrial causa diretamente a contaminação biológica, química e física, provocando aumentos no transporte e no consumo de energia e gerando mais refugos. A industrialização, somada aos efeitos negativos da mudança climática, está contribuindo para a deterioração do ambiente, qualidade de vida e saúde da população. Os processos de produção através das explorações mineiras, petrolíferas e agrícolas, bem como os hospitais, centros de saúde e laboratórios, as usinas de energia e a indústria manufatureira, são os maiores geradores de refugos químicos e resíduos sólidos perigosos. As refinarias de petróleo, indústrias químicas e siderúrgicas, fábricas de papel e cimento emitem enxofre, chumbo e outros metais pesados, além de diversos resíduos sólidos, provocando no homem distúrbios respiratórios, alergias, lesões degenerativas no sistema nervoso e em órgãos vitais, além do câncer. A emissão de gases tóxicos por veículos automotores é a maior fonte de poluição atmosférica. Nas cidades, esses veículos são responsáveis por 40% da poluição do ar, porque emitem gases como o monóxido e o dióxido de carbono, o óxido de nitrogênio, o dióxido de enxofre, derivados de hidrocarbonetos e chumbo. 



Figura 1. Poluição atmosférica causada pelas indústrias



     Na agricultura “moderna”, o uso de agroquímicos, especialmente o uso de herbicidas aplicados pelos aviões tem aumentado os riscos para a saúde humana, pois além de contaminar os alimentos, tem causado contaminações das pessoas, em função dos ventos, erros e negligência dos pilotos durante a aplicação. Vários casos tem sido noticiado pela imprensa falada e escrita. Nas cidades, apesar da proibição do uso de herbicidas (Lei federal nº 6.288 de 2002 e lei estadual -SC, nº 14.734 de 2009), é muito comum a prática da capina química. A utilização de herbicidas para eliminação da vegetação de terrenos vazios e de vias públicas das áreas urbanas vem-se tornando prática cada vez mais comum, sob o pretexto de que a capina química é mais econômica, rápida e eficaz. O pior é que, na maioria das vezes, os funcionários das prefeituras, empreiteiras e, moradores em geral, aplicam estes produtos muito perigosos para a saúde humana sem nenhuma proteção individual (EPI), como máscaras, óculos e roupas impermeáveis. Os herbicidas, como o glifosato (produto comercial roundup e outros), são aplicados indiscriminadamente em praças, parques, calçadas e nas proximidades de escolas, sem cuidados mínimos para que a ação do vento não contamine as pessoas e animais. Infelizmente não há, entre a maioria da população, a percepção do risco a que está exposta e acham que estas substâncias não fazem mal à saúde. Há informações de transtornos generalizados de vários sistemas de organismos depois das exposições a níveis de uso normais; esses transtornos incluem alterações no equilíbrio, vertigens, diminuição da capacidade cognitiva, convulsões, lesões na visão, olfato, audição e paladar, dores de cabeça, pressão sanguínea baixa, crispação e tiques em todo o corpo, paralisia muscular, neuropatia periférica, perda da coordenação motora, sudorese excessiva e fadiga severa.






     O desenvolvimento é necessário, porém, o ser humano precisa respeitar o meio ambiente, pois dependemos dele para sobreviver neste planeta. Muitos problemas de saúde continuarão agravando-se devido à deterioração das condições de vida gerada pela insegurança pública, poluição sonora, escasso fornecimento de água potável e saneamento inadequado, eliminação incorreta de resíduos, contaminação química por agrotóxicos e fertilizantes, tabagismo e riscos físicos associados à aglomeração urbana. Todos estes problemas estão aumentando devido ao crescente aumento da população e, em consequência, o aumento na produção de alimentos. No modelo atual de produção de alimentos (agricultura “moderna), o Brasil já é desde 2008, o maior consumidor mundial de agrotóxicos e, o que é pior, vários produtos proibidos em outros países, estão sendo utilizados normalmente em nosso país.

     Uma das principais responsabilidades do setor de saúde é a proteção do bem-estar público com a garantia de um ambiente físico e social saudável, que possibilite o desenvolvimento humano sustentável, ou seja, melhoria das condições materiais para responder às necessidades da atual geração, sem comprometer a resposta às necessidades das gerações futuras e, que proteja, especialmente, as pessoas mais vulneráveis da sociedade. Para tal fim, o setor saúde precisa colaborar com outros setores tais como ambiente, trabalho, agricultura e educação, entre outros. Da mesma forma, as comunidades locais, os países e as alianças internacionais deverão, individual e coletivamente, monitorar e rebater as muitas causas da deterioração ambiental. As desigualdades em educação, emprego, saúde e direitos políticos afetam a susceptibilidade das pessoas aos impactos ambientais negativos e podem resultar em doenças e até à morte. Existe consenso de que o desenvolvimento humano sustentável depende tanto da redução da pobreza como do amparo e promoção da saúde. O consumo de bens e serviços é um grande desafio à gestão ambiental em termos do controle de riscos e promoção da saúde.

     Como a moradia e o local de trabalho das pessoas são seus ambientes mais importantes, as condições adequadas de moradia e trabalho são tão essenciais para garantir uma boa saúde quanto o meio ambiente em geral. Um problema sério é o das comunidades rurais, onde os pobres estão mais expostos à riscos de saúde, principalmente aqueles que vivem em zonas endêmicas de doenças transmitidas por vetores tais como malária, dengue e febre amarela. Outro problema é a localização da moradia, geralmente, em locais favoráveis às catástrofes, especialmente enchentes e enxurradas, e, em consequência ficam mais sujeitas à doenças tais como a leptosporiose, transmitida pela urina dos ratos. Além do aumento da pobreza, a desigualdade social e a urbanização, a fragmentação e desintegração de estruturas familiares e comunitárias geram ambientes pouco saudáveis, que favorecem por sua vez estilos de vida não saudáveis e comportamentos de risco em todas as etapas da vida. Ao mesmo tempo, persistem os problemas de mortalidade causados pela desnutrição de mães e crianças, infecções e falta de acesso à bens e serviços. Existe uma relação direta entre a dieta inadequada e as doenças crônicas: tanto as deficiências como os excessos nutricionais contribuem para uma dupla carga de doenças que afetam populações de todas as idades. As tendências crescentes nos estilos de vida e comportamentos de risco (consumo de tabaco, álcool e drogas e as várias formas de violência e acidentes) confirmam a necessidade crítica de estratégias de promoção da saúde.

     A boa notícia é que estão em marcha diversas atividades para monitorar e avaliar a saúde ambiental, desenvolver políticas saudáveis sustentáveis em longo prazo, buscar alianças, desenvolver recursos humanos e estabelecer legislação adequada com respeito ao consumo de bens e serviços.  O fortalecimento de instituições ambientais existentes e a redefinição de suas funções e organização, bem como o estabelecimento de recursos para proteger o ambiente e reduzir os efeitos deletérios sobre a saúde causados pelos desequilíbrios ambientais, tem sido ações cada vez mais presentes em nosso país.

     Na agricultura, a primeira etapa para conquistar o desenvolvimento sustentável e a saúde ambiental é reconhecer que os recursos naturais são finitos e, por isso, usá-los com critério e planejamento. A partir daí, adotar um novo modelo de agricultura, chamadas de alternativas, ou seja, um conjunto de sistemas de produção que busca maximizar os benefícios sociais e a auto-sustentabilidade do sistema produtivo, minimizar ou até eliminar a dependência de energia não renovável (agroquímicos são obtidos do petróleo, fonte de energia não renovável) e preservar o meio ambiente através da utilização dos recursos naturais renováveis. Esses sistemas de produção têm como principais características: a) O uso intensivo da matéria orgânica para manter a fertilidade do solo e favorecer a microvida do solo; b) A diversificação da propriedade quanto ao cultivo (policultura); c) Minimização/eliminação do uso de energia fóssil (petróleo), insumos (agroquímicos) e tecnologias importadas; d) As práticas de cultivo mínimo e a integração da produção vegetal/animal e, e) Manutenção de matas nativas para preservar a biodiversidade.













sábado, 13 de julho de 2013

Cultivo orgânico de hortaliças-raízes Parte III (final)





Gengibre
     Acredita-se que o gengibre (Zingiber officinale Roscoe), também conhecido como gingibre, gengivre, mangarataia e mangaratiá, pertencente à família Zingiberaceae, seja originário da Índia e, posteriormente, introduzido em várias pares do mundo, em regiões de clima tropical e subtropical. Bem adaptada às regiões de clima quente e úmido do país, ocorre na faixa litorânea que vai do Amazonas a Santa Catarina. As principais áreas de cultivo estão no Espírito Santo, sul de São Paulo, Paraná e Santa Catarina. As raízes são ramificadas, carnosas, geralmente de cor amarela (Figura 1), sendo encontradas variedades de cor branca e azul. É uma planta herbácea, conhecida pelo homem há milênios como raiz comestível perene de sabor picante e parte aérea anual com folhas verdes-escuras, que pode atingir mais de um metro de altura (Figura 2). 





Figura 1. Raízes de gengibre







Figura 2. Lavoura de gengibre



Uso culinário, propriedades nutricionais e terapêuticas

     Os rizomas são utilizados na alimentação, na indústria de bebidas e como produto medicinal. O gengibre é uma raiz aromática, muito usada em condimentos e, que contém teores relevantes de niacina e ferro. O consumo pode ser in natura (em receitas de pratos doces e salgados), em forma de balas, óleo, pó, em conserva ou cristais (pequenos pedaços desidratados). O gengibre também tem uso na elaboração de licores e refrigerantes. Feito com cachaça, açúcar e especiarias, o quentão se distingue pelo sabor picante do gengibre, seu principal ingrediente. Por meio de destilação em corrente à vapor, pode ser extraído e empregado no processo de produção de perfumes, um óleo essencial que contém propriedades terapêuticas, como cafeno, felandreno, zingibereno e zingerona. No Japão é comum aplicar o produto durante massagens de coluna e articulações. Outra opção é consumi-lo em chás, bastando ferver 10g de gengibre descascado em 150 ml de água por 7 minutos, coar e beber. O chá de gengibre ajuda no tratamento contra gripe, tosse, resfriado e até ressaca. Há locutores e cantores que mastigam pequenos pedaços de gengibre para cuidar bem da voz. O gengibre em banhos e compressas quentes é indicado para aliviar os sintomas provocados por doenças como gota, artrite, dores de cabeça e da coluna, diminuindo inclusive o congestionamento nasal e cólicas menstruais.


     Os benefícios do gengibre à saúde humana são reconhecidos pela OMS - Organização Mundial da Saúde, especialmente quanto aos efeitos sobre o sistema digestivo. A OMS indica a hortaliça para evitar enjoos e náuseas. Mas a planta tem outras propriedades medicinais: O rizoma tem ação cicatrizante, desintoxicante, antialérgica, estimula o sistema imunológico e a produção de hormônios e, combate os radicais-livres. Com isso, protege contra gripes, resfriados, alivia os sintomas de tensão pré-menstrual, previne contra o envelhecimento e até desenvolvimento de câncer. A vitamina C da planta também ajuda a combater colesterol alto. Minerais como magnésio, selênio e zinco estão presentes nesse alimento, que faz bem para as articulações e ameniza sintomas de doenças como artrose. O gengibre é também considerado afrodisíaco, já que melhora a circulação sanguínea e ajuda contra disfunção erétil. 


     Para quem tem hipertensão grave, o gengibre não é recomendado, já que aumenta a pressão sanguínea. Pessoas com problemas de cálculos biliares ou que fazem uso de anticoagulantes também não devem consumir o gengibre. 




Cultivo
O clima tropical e subtropical, quente e úmido, com temperaturas entre 25 e 30ºC  favorece o cultivo de gengibre. A estação das chuvas é a indicada para iniciar o plantio de gengibre, em especial os meses de setembro a dezembro.
Cultivares: São encontradas diversas variedades de gengibre que recebem nomes regionais com variações quanto ao aspecto, conteúdo de fibras e de óleo, aroma e rendimento. No Brasil, a variedade mais cultivada é o “Gigante”, com melhor padrão comercial. Os clones regionais, geralmente, tem reduzido tamanho de raiz e pouca aceitação comercial. 


Propagação: O plantio é feito através de pedaços de raízes com 5 a 10 cm de comprimento, apresentando diversas gemas. Gasta-se, em média, de 3 a 4 t de raízes para o plantio de 1 ha. São usados como sementes, as raízes colhidas no mesmo ano, de preferência oriundas de lavouras que não sofreram ataque de doenças. Para acelerar a emergência das plantas no campo, recomenda-se induzir a brotação das raízes-sementes, antes do plantio, amontoando as raízes no campo, em camadas de 15 a 20 cm de altura e cobrindo com palha e, irrigando sobre a palha, diariamente, para mantê-las úmidas. Quando as brotações começarem a aparecer, as mudas estão no ponto ideal para o plantio.

Preparo do solo e plantio: O solo ideal é o argilo-arenoso, fértil, com pH entre 5,5 e 6,0 e boa drenagem. No preparo do solo deve-se eliminar os torrões muito grandes. O plantio do gengibre deve ser feito em sulcos com profundidade de 10 a 15 cm, dependendo do tamanho das raízes-sementes, 20 cm entre as plantas e 1,20 a 1,40 m entre as linhas. As raízes-sementes devem ser distribuídas ao longo dos sulcos posicionados transversalmente dentro do sulco, para que as novas brotações, cresçam perpendicularmente ao sulco, evitando que as raízes de uma planta entrelacem nos da planta vizinha e se partam na hora da colheita. Após estarem dispostos adequadamente, devem ser cobertos com uma camada de 5 a 10 cm de terra.

Adubação orgânica: recomenda-se adubar conforme a análise do solo e do adubo utilizado. Em geral, recomenda-se 15 t de composto orgânico por hectare, sendo aplicado de forma parcelada: 5 t/ha no plantio; 5 t na primeira cobertura, antes da primeira amontoa (90 dias) e 5 t/ha na segunda cobertura, antes da terceira amontoa.

Irrigação: durante períodos longos de seca, o gengibre deve ser irrigado. No entanto, excesso de umidade no solo pode apodrecer as raízes.

Capinas: A capina deve ser feita em faixas, eliminando-se com cuidado as plantas que crescem junto aos pés de gengibre, para não danificar as raízes. As plantas espontâneas (“mato”) que cresce entre as linhas de cultivo deve ser preservadas até iniciarem as amontoas. A partir desse momento não será mais possível preservar o mato nas entrelinhas devido a quantidade de terra exigida na amontoa. Por isso, devem ser planejados corredores de refúgio ao redor da lavoura ou em faixas de 20 em 20 m no interior da lavoura, com o objetivo de abrigar os inimigos naturais das pragas. 

Amontoa: é o chegamento de terra junto aos pés das plantas, de forma a recobrir as raízes que começam a aparecer na superfície. Essa operação deve ser feita de 3 a 4 vezes durante o ciclo do gengibre. Recomenda-se iniciar as amontoas quando as plantas estiverem com cerca de 30 cm de altura. Normalmente, as amontoas são realizadas aos 90, 120, 150 e 180 dias após o plantio. 

Adubação de cobertura: a 1ª adubação de cobertura é feita por ocasião da primeira amontoa e outra na terceira amontoa, ou seja, aos 90 e 150 dias após o plantio, respectivamente, de acordo com a análise do solo.

Manejo de pragas e doenças: Dentre as pragas, pode ocorrer a lagarta rosca (Agrotis ipsilon) que pode atacar as brotações cortando-a no colo da planta e os nematoides. A rotação de culturas com gramíneas e leguminosas é uma prática eficiente no manejo de pragas. Dentre as doenças pode ocorrer o ataque de fungos (Fusarium, Phoma e etc.). A escolha de raízes-sementes sadias para o plantio e a rotação de culturas, são medidas preventivas e eficientes no manejo destes fungos.


Colheita

     O ponto de colheita é indicado pelo amarelecimento e secamento das folhas e brotos. O gengibre deve ser colhido de 7 a 10 meses, o que ocorre entre junho e agosto. As raízes são extraídas da terra, manualmente, com enxada ou enxadão e lavadas cuidadosamente para evitar ferimentos, pois podem ser porta de entrada de patógenos. O uso de estrados de bambú para colocar as raízes, utilizando-se jatos d’água no próprio campo, é uma das formas simples de lavagem logo após a colheita.





Nabo

O nabo (Brassica rapa L.) da família das brássicas, assim como o repolho, couve, couve-flor, brócolis e rabanete, é uma planta herbácea, bienal cultivada como anual, onde a raiz é a parte comestível. O sistema radicular do nabo é carnudo e pode assumir diversas formas e ter coloração uniforme ou ser bicolor, sendo o branco e o roxo as mais comuns (Figura 3). Alguns têm raízes compridas, outros redondas e há ainda outros de forma achatada. As folhas dos Nabos são de cor verde médio a escuro, rugosas, ásperas, pubescentes e dispostas em roseta durante a fase vegetativa do ciclo. As flores são amarelas, agrupadas numa haste floral. O fruto dos nabos é uma síliqua, característica da brássicas. Nativo da Europa e Ásia Central, o nabo foi cultivado pela primeira vez no Oriente Médio há 4.000 anos. O nabo, assim como os outros membros do gênero Brassica, foi introduzido no Brasil pelos colonizadores portugueses. Desde então, tem sido parte da alimentação dos brasileiros por ser um alimento saboroso e nutritivo. Uma das vantagens de se cultivar esta espécie é a possibilidade de aumentar a renda durante o tempo transcorrido entre duas outras culturas de ciclo mais longo (consórcio), pois além de ser relativamente rústica, apresenta ciclo muito curto (cerca de 30 dias), com retorno rápido.



Figura 3. Raízes e folhas de nabo redondo



Uso culinário, propriedades nutricionais e terapêuticas

     É cultivado devido às raízes, que são comestíveis, mas suas folhas também podem ser utilizadas para saladas e sopas. As raízes de nabo são conhecidos pelo sabor característico levemente amargo, porém refrescante, apreciado na culinária de vários países, principalmente em saladas. A maioria das pessoas serve os nabos frescos ou cozidos, mas eles também podem ser assados e cozidos no vapor ou fritos. Por sua versatilidade e pelo sabor doce e ao mesmo tempo picante, o nabo pode ser usado em saladas, cozidos, sopas e pratos de legumes. As raízes de nabo são ricas em vitamina C, fibras e sais minerais como o potássio, sódio, cálcio e fósforo. Por conter baixas calorias (100 gramas possui apenas 35 calorias), o nabo é muito indicado em dietas de restrições calóricas, por ser leve e ainda ajudar no processo de digestão. As folhas de nabo também são comestíveis e seu sabor é semelhante ao de mostarda. Mais nutritivas do que as raízes, as folhas de nabos são uma excelente fonte de beta-caroteno (Vitamina A), contêm boas doses de vitaminas K e C, folatos e cálcio. Uma xícara de folhas cozidas fornece 40 mg de vitamina C, aproximadamente 200 mg de cálcio e quase 300 mg de potássio. 


     O nabo (raiz) também serve como uma excelente fonte de cálcio e, um maior consumo deste importante mineral tem sido associado com uma diminuição significativa no risco de cancro do cólon e reto. O teor de fibra dietética das raízes aumenta ainda mais a sua capacidade de oferecer proteção contra o cancro colorrectal. É também uma boa fonte de fibras solúveis que ajudam a controlar os níveis de colesterol no sangue. Além disto, as folhas possuem uma substância chamada luteína, um poderoso antioxidante carotenóide. O beta-caroteno das folhas de nabo é importante porque os baixos níveis de vitamina A, que pode ser formada no organismo, a partir de beta-caroteno, são associados com artrite reumatóide O nabo possui ainda outras propriedades medicinais: é diurético, expectorante, purificador do sangue, emoliente, antipirético, alcalinizante e possui um leve efeito laxativo. No entanto, nas raízes também são encontradas quantidades mensuráveis de oxalatos, substâncias que se excessivamente concentrada nos fluidos corporais podem se cristalizar e causar sérios danos a saúde. O nabo é uma brássica (família de vegetais que inclui o repolho, c. flor, brócolis e o rabanete) que contém compostos sulfurosos que protegem contra certos tipos de câncer. No entanto, como outros vegetais desta família botânica, pode provocar gases e distensão abdominal.


Cultivo 

A cultura prefere climas frescos e úmidos e suporta geadas ligeiras. Em regiões ou épocas do ano quentes e secas, a produtividade é reduzida e a qualidade das raízes é afetada. As temperaturas ótimas situam-se entre os 15 a 20 Cº.


Época de plantio: O plantio na Região Sul e Sudeste é entre fevereiro e novembro e para as demais regiões entre maio e julho. 

Solos: Os nabos preferem solos de textura média (textura franco-arenosa), ricos em matéria orgânica (entre 2 a 4%), com pH entre 6,0 e 7,5, bem drenados e com boa capacidade de retenção de água durante a fase de crescimento. 

Cultivares: Existem os híbridos, com raízes compridas, chamados de Natsu Minouwas e as variedades Tokinashi Kokabu, Purple Topwhite Globe, Chato Francês, Shogoin, Snowball e outras. As melhores variedades são: Chato Francês, “Snowball”, Purple Top e Comprido Japonês (Figura 4).



Figura 4. Nabo japonês e nabo redondo



Irrigação: O nabo é muito exigente em água, principalmente na fase de engrossamento das raízes. 

Plantio e espaçamento: A semeadura é feita no local definitivo, depois de preparar o terreno e adubá-lo, conforme análise do solo. O espaçamento mais recomendado é de 30 x 10cm ou 40 x 15 cm, dependendo da variedade cultivada. Deve-se utilizar na semeadura, sementes na proporção de 3 kg/ha, sendo que um grama contém cerca de 70 sementes. Semear numa profundidade de 1 cm e regar.

Tratos culturais: resumem-se em desbaste (raleio), deixando um intervalo de 10 a 15 cm entre plantas, capinas e escarificações.

Manejo de doenças e pragas: É uma planta muito resistente e não costuma apresentar problemas com pragas e doenças, no cultivo orgânico, mas pode sofrer algum ataque de fungo e pragas como pulgões e as lagartas. Para os pulgões diversos preparados de plantas são eficientes tais como o extrato de pimenta e preparado de cebola (ver matérias postadas em 01, 16 e 27/09/2011 e 21 e 26/10/2011: “Manejo ecológico de insetos-pragas”) No manejo das lagartas, o uso de Baccilus thurigiensis (controle biológico) como o Dipel (produto comercial) e outros é eficiente. A adubação orgânica equilibrada, com base na análise do solo, e a rotação e consorciação de culturas que não pertencem a mesma família botânica (brássicas) são práticas preventivas muito eficientes no manejo de pragas e doenças, além de melhorar a fertilidade e as características físicas e biológicas do solo.



Colheita

O ciclo cultural tem a duração de cerca de 40 a 60 dias na primavera e verão e 90 a 100 dias no inverno. O ciclo do nabo comprido, também conhecido como nabo japonês é de 60 dias no verão e 80 dias no inverno. 





Rabanete
O rabanete (Raphanus sativus L.) é uma raiz tuberosa, originária da região Mediterrânea, apreciada pela polpa crocante e sabor picante. Pertence à familia Brassicaceae, a mesma da couve, couve-flor, repolho, nabo e brócolis. Era uma hortaliça muito apreciada no antigo Egito, Assíria, Grécia e Roma. No Egito, os construtores das pirâmides consumiam grandes quantidades de rabanete, juntamente com cebola e alho. A raiz tuberosa apresenta grande variação de tamanho e de forma, podendo ser redonda, oval ou alongada, sendo a cor da casca branca, vermelha ou vermelha e branca, enquanto que a polpa é sempre branca. O rabanete redondo de casca vermelha é o preferido no mercado brasileiro (Figura 5). Os melhores preços são alcançados de julho a outubro.




Figura 5. Raízes de rabanete


Uso culinário, propriedades nutricionais e terapêuticas

     Atualmente o rabanete é muito consumido na cozinha asiática. Suas qualidades ainda são pouco conhecidas pelos brasileiros que o consomem em pequena quantidade. O rabanete é uma excelente alternativa para diversificar a dieta. O uso mais comum é na forma crua, em saladas. Devido à sua cor e formato, ajuda a decorar a salada quando cortado em rodelas e servido com tomate, aipo e pepino, estimulando assim o consumo de outras hortaliças. Quando grandes, podem ser consumidos cozidos ou como picles. Quando cozidos, o sabor é menos picante. Podem ser combinados com recheios e molhos de acordo com a preferência. O rabanete não precisa ser descascado para ser consumido. A folha do rabanete (Figura 1) pode ser aproveitada para preparar sopas, refogados ou recheio de tortas e bolinhos. O rabanete é um ótimo estimulante do apetite; consuma-o com pouco sal, antes das refeições. Os temperos que combinam são: limão, sal, cheiro-verde, vinagre e azeite. Possui poucas calorias, sendo portanto recomendado para pessoas que querem emagrecer. É uma boa fonte de vitamina C, fósforo e fibras, além de conter pequenas quantidades de ferro, potássio e folato. Suas folhas são excelente fonte de cálcio, ferro e de vitaminas A e C. 


     No rabanete estão presentes compostos sulfurosos que podem proteger contra o câncer. Popularmente, acredita-se que o rabanete tem propriedades diuréticas e laxativas e que seu suco atua de forma eficaz no tratamento de urticária e na eliminação de catarro dos pulmões. Como outros vegetais da família das brássicas, os rabanetes também podem causar distensão abdominal e flatulência em algumas pessoas.



Cultivo

O rabanete é uma cultura de ciclo curto e o ambiente exerce grande interferência na qualidade de suas raízes. Variações nas condições de temperatura e umidade do solo durante o desenvolvimento das plantas podem prejudicar a produtividade e a qualidade das raízes. O rabanete é uma planta muito fácil de cultivar e de ciclo rápido, por isso, um método interessante para se cultivar o rabanete é o consórcio com outras culturas de maiores espaçamentos O rabanete adapta-se melhor a regiões de clima frio ou temperado, o que torna a região Sul a mais propícia para o seu plantio. As melhores temperaturas para o seu desenvolvimento ficam entre 10º e 20 ºC. 


Solo e época de plantio: Os solos mais indicados são os areno-argilosos e o plantio pode ser feito em qualquer época do ano em regiões de clima ameno. Porém, nas demais regiões do Brasil, onde o verão é sempre quente e chuvoso, recomenda-se que seja feito de abril a junho. Deve ser cultivado sob sol pleno, em solo fértil, drenável, enriquecido com matéria orgânica e irrigado regularmente. Cultivares, semeadura e espaçamento: Multiplica-se facilmente por sementes. A semeadura deve ser realizada diretamente no local definitivo, em canteiros bem preparados e destorroados, na quantidade de 0,3 g de sementes por m2. As sementes germinam em 4 a 10 dias. O espaçamento mais recomendado é o de 15 x 8 para a variedade Early Scarlet Globe. Para as demais variedades pode-se utilizar o espaçamento de 25 cm entre fileiras por 10cm entre plantas. 

Irrigação: O principal cuidado a ser tomado com o cultivo do rabanaete é manter uma irrigação constante, que deve ser feita diariamente para proporcionar um crescimento rápido. 

Tratos culturais: Recomenda-se a retirada de plantas espontâneas (“mato”) através de capinas manuais e uma escarificação no início do desenvolvimento das plantas. 

Manejo de doenças e pragas: Por se tratar de uma cultura bem resistente e de ciclo rapidíssimo, o rabanete não sofre muito com infestações de pragas e doenças. No entanto, deve-se manter atenção com relação à presença de grilos e pulgões que podem serem manejados com preparados de plantas ((ver matérias postadas em 01, 16 e 27/09/2011 e 21 e 26/10/2011: “Manejo ecológico de insetos-pragas”). Medidas preventivas tais como adubação orgânica equilibrada, com base na análise do solo e a rotação e consorciação de culturas utilizando espécies que não sejam da família das brássicas, são importantes para reduzir as doenças e pragas do rabanete.



Colheita 

Os rabanetes podem ser colhidos em cerca de 33 dias. Não deve-se realizar a colheita tardiamente sob pena de ter apenas rabanetes fibrosos e secos. Em geral, as raízes são vendidas em maços, de cerca de 800g. As folhas devem estar com aspecto de produto fresco, com cor verde brilhante. As raízes devem ter a casca com cor uniforme, ser firmes e lisas, sem pontos escuros ou rachaduras. Quando passadas, por terem sido colhidas tardiamente ou por estarem há muito tempo na gôndola do supermercado, as raízes ficam duras e esponjosas. O rabanete redondo, mais comum no mercado brasileiro, tem em média 3 cm de diâmetro; raízes maiores têm maior probabilidade de ser esponjosas. Os rabanetes murcham rapidamente, por isso devem ser mantidos preferencialmente em geladeira, dentro de sacos de plástico perfurados. Caso seja preciso lavar os rabanetes antes de armazená-los na geladeira, seque-os superficialmente.


















quinta-feira, 4 de julho de 2013

Algumas práticas não sustentáveis adotadas na agricultura “moderna”



     O conceito de agricultura mais sustentável envolve o manejo adequado dos recursos naturais, evitando a degradação do ambiente de forma a permitir a satisfação das necessidades humanas das gerações atuais e futuras. O conceito absoluto de agricultura sustentável pode ser impossível de ser obtido na prática, entretanto é função das empresas de pesquisa e extensão rural de todo o Brasil, oferecer opções para que sistemas “mais sustentáveis” sejam adotados na agricultura.


Revolvimento e uso inadequado do solo 
     Em regiões de clima tropical e subtropical, predominantes no Brasil, a utilização intensiva e exagerada de máquinas e equipamentos pesados (trator equipado com arado, grade, escarificador e, principalmente a enxada rotativa), contribuem para desagregar e compactar cada vez mais o solo (Figuras 1 e 2), causando rápida decomposição da matéria orgânica em quantidades maiores do que a reposição e, em consequência, diminuindo a produtividade. Além disso, as chuvas intensas e frequentes, cada vez mais comum, associada aos declives dos terrenos e, especialmente o preparo do solo “morro abaixo”, causam grande perdas de solo (erosão) assoreando os rios e, contribuindo para as enchentes. O manejo inadequado do solo torna as lavouras cada vez mais exigentes em insumos e, em geral menos produtivas e, o que é pior, com alto custo de produção, pois a maioria dos agroquímicos são importados. Em outras palavras, o revolvimento do solo não combina com o uso sustentável da terra em nosso país; somente se justifica em algumas situações específicas para algumas culturas mais exigentes no preparo do solo e, principalmente, quando houver a necessidade de corrigir a acidez e a fertilidade do solo e, especialmente, em países onde o solo permanece coberto por neve em longos períodos do ano. 


Figura 1. A compactação do solo impede o desenvolvimento normal das raízes das plantas. O preparo do solo com máquinas e implementos pesados, especialmente em áreas de declive acentuado, provocam a erosão e a compactação do solo.



Figura 2. Pé-de-arado ou pé-de-grade: Camada de solo compactada que se desenvolve abaixo da camada superficial, devido às frequentes arações, gradeações e uso de enxadas rotativas.


     Outro problema é o uso incorreto do solo para o cultivo de determinadas espécies. Em solos com declividade acentuada não recomenda-se o plantio de espécies anuais. Havendo alguma declividade, deve-se utilizar práticas que visem a conservação do solo, tais como o plantio em curva de nível, plantio direto, construção de terraços e outras. Para mais informações sobre as práticas de conservação dos solos, sugiro acessar o seguinte endereço: http://catuaba.cpafac.embrapa.br/pdf/doc90.pdf


     No cultivo orgânico o solo é tratado como um “organismo vivo”, ou seja, priorizando a manutenção de cobertura vegetal, a adubação orgânica e o revolvimento mínimo do solo, entre outras práticas (Figura 3). O manejo adequado do solo proporciona o aumento da resistência das culturas às pragas, doenças e adversidades climáticas (estiagens e chuvas intensas). A vida do solo depende da matéria orgânica (solo sadio). Por outro lado, o revolvimento exagerado do solo, associado à utilização indiscriminada de agroquímicos, tem provocado, cada vez mais, a compactação do solo (Figuras 1, 2 e 3), o surgimento de doenças e pragas e, o que é pior, a contaminação de alimentos, solo e água, bem como a intoxicação de consumidores, agricultores e da fauna (solo doente). A verdadeira fertilidade é resultado da interação entre os aspectos químicos, físicos e biológicos do solo, sendo que a intensa atividade biológica no solo, determinará melhorias duradouras em suas qualidades químicas e físicas. 

Figura 3.Solo degradado (doente);        Solo orgânico (sadio)



Uso indiscriminado e exagerado de agrotóxicos e fertilizantes químicos
     Boa parte dos agrotóxicos aplicados no campo é perdida. Estima-se que cerca de 90% dos agrotóxicos aplicados não atingem o alvo, sendo dissipados para o ambiente e tendo como ponto final reservatórios de água e, principalmente, o solo. As perdas se devem, de forma geral, à aplicação inadequada, tanto em relação à tecnologia quanto ao momento de aplicação; em alguns casos, porque a aplicação foi feita para dar proteção contra uma praga ou patógeno que não estão presentes na área. Isso ocorre porque ainda são realizadas pulverizações baseadas em calendários e não na ocorrência do problema.

     A agricultura “moderna” está baseada no uso intensivo de insumos. A adoção do sistema de monoculturas, o uso desequilibrado e altas doses de fertilizantes químicos e os agrotóxicos favoreceram a ocorrência de epidemias causadas por doenças e pragas em plantas. Os adubos químicos solúveis, especialmente os nitrogenados como a ureia e, os agrotóxicos, através do estímulo a um processo chamado proteólise, promovem a formação de substância orgânicas simples na seiva das plantas, tornando-as mais vulneráveis e atrativas às pragas e doenças. Para reduzir as perdas provocadas pelas doenças e pragas, o controle químico através da aplicação de agrotóxicos foi a principal ferramenta utilizada durante muitos anos. No entanto, a partir da publicação do livro Primavera Silenciosa, de Rachel Carson, em 1962, os cientistas e a sociedade perceberam a necessidade de buscar alternativas para eliminar os agrotóxicos na agricultura. Os agrotóxicos são apontados como formulações potencialmente perigosas, pois deixam resíduos nos alimentos, além de contaminar a água, o solo e os agricultores. Os agrotóxicos podem apresentar uma eficiência reduzida por ser afetados por inúmeros fatores (condições climáticas, especialmente no momento da aplicação e o local a ser protegido), além de selecionar populações resistentes de plantas espontâneas, pragas e microrganismos. 

     Além dos agrotóxicos serem perigosos para a saúde humana e para o meio ambiente, as medidas para o uso seguro destas substâncias, não são seguidas (Figura 4). Raquel Rigotto, professora do Departamento de Saúde Comunitária da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), em entrevista, ela defende o debate sobre uso de agrotóxicos como um tema estratégico e critica a ideia de que é possível utilizá-los de forma segura, devido aos seguintes fatores:

     O receituário não funciona. Pode-se chegar numa agropecuária e comprar um veneno e usar conforme as instruções; Há pouquíssimos laboratórios para análises (contaminação da água e pessoas); 450 ingredientes ativos de agrotóxicos registrados no Brasil em mais de 5.000 municípios; Assistência técnica deficiente: 5 milhões de estabelecimentos agrícolas (16 milhões de trabalhadores rurais, inclusive crianças com escolaridade baixa), conforme censo; maior assistência é feita em propriedades maiores de 200 ha; Fiscalização deficiente: Como fiscalizar a forma correta de aplicar, o uso de EPI, a carência dos agrotóxicos e, o que é pior, aqueles não registrados e proibidos num país continental?


Figura 4. O desconhecimento sobre os riscos no uso dos agrotóxicos e a falta de proteção na aplicação agrava ainda mais a contaminação dos trabalhadores rurais, consumidores e meio ambiente.



    A utilização dos adubos químicos, dos agrotóxicos e das sementes híbridas, além de tornar os agricultores dependentes destes insumos, aumentando ainda mais o custo de produção (grande parte são importados), forma um círculo vicioso e insustentável, interessante apenas para as multinacionais da agroindústria que visam o lucro, sem nenhuma preocupação com o meio ambiente. As sementes melhoradas necessitam mais adubação para se desenvolverem; a utilização do adubo químico torna as plantas mais fracas e mais suscetíveis ao ataque de pragas e doenças e, por isso, se tem que utilizar cada vez mais adubos químicos, inseticidas e fungicidas para manter o nível desejável de produção. Os problemas causados pelos adubos químicos não param por aí: acidificam o solo, tornando a prática da calagem necessária, no mínimo a cada 5 anos, aumentando ainda mais o custo de produção dos alimentos.




As queimadas das matas, bosques, capoeiras e restos culturais e as capinas químicas

     Estas práticas, comuns na agricultura “moderna” com o objetivo de limpar o terreno e facilitar o preparo do solo e o plantio (Figura 5), são totalmente contrárias ao desenvolvimento sustentável, pois além de contaminar o meio ambiente e retirar a cobertura do solo, favorecendo a erosão, ainda desperdiça a matéria orgânica, essencial para a nutrição das plantas e reduz a biodiversidade (nº de espécies), que pode servir de abrigo e alimento aos inimigos das pragas dos cultivos. Em consequência, o produtor terá que gastar mais para a aquisição de insumos visando manter a produtividade dos cultivos. 


Figura 5. Devastação de florestas: além de causar a erosão do solo, reduz a biodiversidade, essencial, para o equilíbrio ecológico.



     É importante ressaltar que ao mesmo tempo que uma planta espontânea (“mato”) indica um problema, também ajuda a solucioná-lo, pois estas plantas indesejáveis ajudam a cobrir o solo, reduzindo a erosão e o aquecimento superficial. A competição por água e nutrientes exercida pelas plantas espontâneas é uma preocupação para o hemisfério norte, onde a estação de crescimento é fria, única e curta. Nas condições tropicais e subtropicais, clima predominante no Brasil, esta competição é menos problemática do que a falta de cobertura do solo; ao reduzir a erosão e o aquecimento superficial, contribuem para melhorar a disponibilidade de água e a absorção de nutrientes pelas raízes, as quais paralisam esta atividade quando o solo atinge temperaturas acima de 32ºC. As plantas espontâneas aumentam a densidade e a diversidade radicular, contribuem para a reciclagem de nutrientes e para melhorar as características físicas, químicas e biológicas do solo. São fontes de biomassa, produzem flores que atraem insetos predadores e podem servir de alimento preferencial para pragas das culturas. Por isso, as plantas espontâneas não merecem ser chamadas de “daninhas” e sim, ser consideradas, como uma reação da natureza à falta de cobertura do solo. 

     Na agricultura orgânica as plantas espontâneas (“mato”) são consideradas “amigas” das plantas cultivadas e, por isso, não devem ser totalmente eliminadas. Ocorre um mecanismo de sucessão natural de espécies numa determinada área e, por isso, a intervenção deverá ser no sentido de auxiliar a natureza para que este processo ocorra ao longo do tempo, para que a população de plantas espontâneas mais “agressivas” seja reduzida a níveis toleráveis, cedendo espaço para as mais “comportadas” e de mais fácil manejo. O crescimento das plantas espontâneas ao redor dos cultivos ou o estabelecimento de áreas ou faixas de vegetação espontânea fora da área cultivada tem a vantagem de assegurar maior estabilidade do sistema produtivo, reduzindo os problemas com pragas e doenças e aumentando a atividade dos inimigos naturais das pragas. 



Redução da biodiversidade através do monocultivo e da extinção de matas, bosques, capoeiras e faixas de contorno

     A diversificação da paisagem geral da propriedade é muito importante, pois restabelece o equilíbrio entre todos os seres vivos da cadeia alimentar, desde microrganismos até pequenos animais, pássaros e outros predadores. A introdução de espécies vegetais com múltiplas funções no sistema produtivo é a base do (re)estabelecimento do equilíbrio da propriedade, incluindo-se espécies de interesse econômico, adubos verdes, arbóreas, atrativas, plantas medicinais, ornamentais e até plantas espontâneas. A preservação de bosques, cercas vivas e até capoeiras, próximos da área cultivada é muito importante para servir como abrigo e alimento de inimigos naturais e, até como quebra-ventos. Recomenda-se incluir nas lavouras faixas de adubos verdes e até deixar refúgios de plantas espontâneas ao redor dos cultivos, pois favorecem os inimigos naturais das pragas que atacam as culturas.

     O cultivo de apenas uma espécie de planta (monocultivo) na mesma área, além de reduzir a biodiversidade, favorece o desequilíbrio nutricional do solo(esgotamento e excesso de alguns nutrientes) e aumenta o número e intensidade das pragas e doenças.
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