quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012




Ferreira On 2/29/2012 03:32:00 AM Comentarios LEIA MAIS

   Ao iniciarmos o ano de 2012, renovamos a nossa esperança e a nossa fé em um mundo melhor, com paz, harmonia e amor construídos por pequenos gestos de compreensão, solidariedade, respeito, fraternidade e consciência ecológica. O mundo não podemos mudar, mas podemos mudar a nós mesmos. Cada um fazendo a sua parte, teremos um mundo melhor onde a natureza convive em paz com o homem! Que tal começarmos a ter uma maior consciência ecológica? Tudo o que existe foi criado por Deus e entregue ao homem e à mulher. Mas o que a humanidade vem fazendo com a criação de Deus? O que você tem feito de concreto para contribuir com essa campanha de conscientização sobre a importância da preservação do meio ambiente e da saúde pública?
   Deus colocou o homem no mundo como gerente da criação como um todo e, lhe deu algumas ordens: cuidar da criação, de onde tiraria seu sustento, protegê-la e preservá-la, conhecê-la, estudá-la, para assim conhecer melhor a si mesmo e a Deus. O homem não é o soberano senhor, mas o responsável diante de Deus pelo emprego correto dos recursos naturais e pela preservação das demais espécies. Nossa tarefa é contribuir para que a criação seja protegida e, a nossa postura em relação a poluição ambiental, ao uso de agroquímicos, o desflorestamento, o aquecimento global e muito mais, deve ser para agradar a Deus e honrar Ele como criador de todas as coisas. Crer também é cuidar da flora, fauna e recursos naturais! A fé no Deus criador e na criação de Deus deveria, ao natural, nos levar ao engajamento concreto e prático em defesa da vida. Deveríamos ser ecológicos como é o Deus da nossa fé, o criador e defensor da vida. A Terra é a nossa casa comum, é o único lugar que temos para habitar. Mas ela não é somente nossa. É o espaço de muitos povos de hoje e do futuro e de uma infinidade de outras formas de vida.
   Atualmente, o problema da poluição ambiental não está somente nas periferias das grandes cidades, mas também nos que vivem longe delas. O ar tóxico desprendido pelas fábricas entra nas casas de todos, independente de onde foi originada a emissão. A água e o solo contaminados por chorume e agroquímicos (adubos químicos e agrotóxicos), contaminam as fontes de água e os alimentos. Fazer a sua parte e alertar, esclarecer e orientar quem esteja perto é compromisso de todos. A cada ano a igreja católica no Brasil propõe um tema de reflexão para o período da quaresma, através da campanha da fraternidade, no sentido de ser um instrumento de ajuda para cada cristão(a) se preparar melhor para páscoa.
    Neste ano, a campanha da fraternidade, promovida desde 1964 pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), propõe um tema de reflexão para o período da quaresma: "A Fraternidade e Saúde Pública". O lema da campanha "Que a saúde se difunda sobre a terra!" destaca a responsabilidade humana. O objetivo é despertar a solidariedade dos fiéis e de toda a sociedade em relação a um problema concreto que envolve todo o país, buscando uma solução para o mesmo. Saúde não é uma coisa só do corpo, mas do conjunto do ser humano, corpo, alma, mente, afeto, sexualidade e espiritualidade. A igreja deseja sensibilizar a todos sobre a dura realidade das pessoas que não têm acesso à assistência de saúde pública condizente com suas necessidades e dignidade.
   A saúde é um dom de Deus confiado ao ser humano. Quanto mais cada um cuidar de si preventivamente e, dos que convivem com ele, melhor para todos e para o planeta! Cada um de nós precisa fazer a sua parte, preservando e melhorando as condições de vida no planeta, pois consciência ambiental e saúde estão diretamente relacionados. Uma pergunta que não quer calar: Para que utilizar adubos químicos e agrotóxicos na produção de alimentos quando já temos pesquisas comprovando que o adubo natural e os produtos alternativos para o manejo de pragas e doenças (ver matérias já postadas neste blog), produzidos na propriedade são mais baratos, eficientes e, o melhor, proporcionam alimentos mais nutritivos, não oferecem riscos ao meio ambiente e, especialmente à saúde pública?
. A contaminação dos alimentos com agrotóxicos e o uso de herbicidas (capina química) nas cidades são problemas de saúde pública
Pesquisa da ANVISA – em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz – FIOCRUZ – realizada desde 2001 com frutas e hortaliças produzidas com agrotóxicos e adubos químicos, nos maiores centros consumidores do Brasil, comprova que várias espécies cultivadas estão seriamente contaminadas por resíduos de agrotóxicos e, o que é pior, por produtos não autorizados para as culturas. Relatório recente da Anvisa, em 26 estados, pesquisando 18 espécies (frutas e hortaliças) em 2010, a exemplo de 2009, revela que 696 amostras (28%) de um total de 2.488 amostras coletadas em todo o país, estavam contaminadas com resíduos de agrotóxicos, alcançando no pimentão, morango, pepino, alface, cenoura, abacaxi, beterraba, couve e mamão até 91,8; 63,4; 57,4; 54,2; 49,6; 32,8; 32,6; 31,9 e 30,4 % de amostras contaminadas, respectivamente. Os agrotóxicos encontrados nos cultivos são ingredientes ativos com alto grau de toxicidade aguda comprovada e, que causam problemas neurológicos, reprodutivos, de desregulação hormonal e até câncer.
   Os problemas do uso de agrotóxicos não se resumem apenas a contaminação dos alimentos. E muito comum tanto na zona rural como nas cidades o uso de herbicidas para eliminar as "plantas daninhas", "mato ou inços" com graves implicações destes produtos no meio ambiente, pois eles ao serem lixiviados (lavados) pela água das chuvas ou irrigação vão parar nas fontes de água. É a chamada capina química, onde são utilizados os herbicidas com inúmeras conseqüências ao meio ambiente e à saúde das pessoas, especialmente quando não são usados os equipamentos de proteção individual. Além de contaminar o meio ambiente, pode contaminar as pessoas através das poças d'água, inalação e vento. Felizmente, pelo menos em Santa Catarina, existe uma lei estadual que proíbe o uso de herbicidas nas cidades, pois não tem como impedir o trânsito de pedestres no momento da aplicação e, pelo menos 24 horas após. A proibição é para todos os tipos de herbicidas! Não existe herbicida mais ou menos ecológico como alguns estão tentando vender o "Mata-Mato" e outros produtos proibidos para aplicação em zona urbana! Infelizmente, devido a falta de uma consciência ecológica das pessoas e uma maior fiscalização, ainda é prática comum nas cidades, colocando em risco a saúde pública.
Por favor, faça a sua parte! denuncie!
O MEIO AMBIENTE E A SAÚDE PÚBLICA AGRADECEM!
Esta cena não deveria ser mais vista nas cidades em Santa Catarina Figura 1. Lei estadual 6.288/02 aprovada pela câmara dos deputados em 12/08/2009, proíbe capina química em área urbana nas cidades de Santa Catarina. A partir de 15/01/2010, a Anvisa também proibiu a aplicação de herbicidas em área urbana. Além de contaminar o meio ambiente, pode contaminar as pessoas através das poças d'água e vento.

. O uso de agrotóxicos e as consequências para a saúde das pessoas
   Todos os herbicidas causam preocupações em termos de saúde pública. Os principais são: 2,4D, glifosato (round-up) e paraquat (gramoxone). O paraquat provoca, quando absorvido, especialmente por via digestiva, lesões hepáticas e renais e principalmente, fibrose pulmonar irreversível, determinando a morte em cerca de 2 semanas, por insuficiência respiratória; causa lesões na pele (via dérmica); causa lesões graves nas mucosas (via oral), sangramento pelo nariz, mal-estar, fraqueza e até ulcerações na boca; Torna as unhas quebradiças; produz conjuntivite ou opacidade da córnea (contato com os olhos). O 2,4D é bem absorvido pela pele, via digestiva e inalação, determinando de forma aguda, alterações da glicemia de forma transitória e ainda pode simular um quadro clínico de diabetes, além de alterações neuro-musculares provocando um processo inflamatório dos nervos longos dos membros inferiores e superiores. O Glifosato (round-up) causa problemas dermatológicos, principalmente dermatite de contato. Além disso, é irritante de mucosas, principalmente da mucosa ocular. Em relação aos agrotóxicos utilizados no controle de pragas e doenças das culturas, os principais sinais e sintomas de envenenamento são: irritação ou nervosismo; ansiedade e angústia;  tremores no corpo;  indisposição, fraqueza e mal estar, dor de cabeça, tonturas, vertigem, náuseas, vômitos, cólicas abdominais;  alterações visuais; respiração difícil, com dores no peito e falta de ar;  queimaduras e alterações da pele; dores pelo corpo inteiro;  irritação de nariz, garganta e olhos; urina alterada; convulsões ou ataques; desmaios, perda de consciência e até o coma.

. Intoxicações e mortes causadas pelos agrotóxicos em Santa Catarina
   Um exemplo das sérias conseqüências à saúde humana do uso crescente e abusivo de agrotóxicos são os casos de intoxicação e mortes registradas no Centro de Informações Toxicológicas – CIT (UFSC), em Florianópolis, SC. No período de 1984 a 2010, o CIT detectou 11.801 intoxicações de agricultores e 263 mortes em Santa Catarina (Fonte: www.cit.sc.gov.br). Segundo os técnicos, isto representa apenas uma pequena parte da realidade; os números são, na verdade, bem maiores. Estima-se que, para cada caso registrado, existam mais 10 que não são registrados devido à dificuldade no diagnóstico correto. Tendo em vista o aumento significativo na última década nos casos de intoxicação de pessoas por agrotóxicos em Santa Catarina em até 70% (década de 90 - 350 pessoas intoxicadas registradas por ano, enquanto que na última década chegou a 600 pessoas intoxicadas por ano), apelamos para que as pessoas denunciem para a vigilância sanitária de seu município, quando houver aplicação de herbicidas em sua cidade.

. O que pode ser feito pelo consumidor para diminuir a ingestão de agrotóxicos?
   Optar por alimentos certificados como, por exemplo, os orgânicos, e por alimentos da época, que a princípio necessitam de uma carga menor de agrotóxicos para serem produzidos. A orientação é procurar produtos com a origem identificada (nas feiras, por exemplo, é possível conversar diretamente com o produtor) pois, isto aumenta o comprometimento dos produtores em relação à qualidade dos alimentos, com a adoção das boas práticas agrícolas. Outra opção, a ideal, para quem dispor de pequena área (10 m2 é suficiente para produzir as principais hortaliças de ciclo curto para uma família) é ter sua própria horta orgânica, pois é fácil, mais barato, os alimentos são mais nutritivos, podem ser colhidos próximo a hora de consumir (frescos), além de ser uma boa oportunidade de fazer exercícios ao ar livre e, o melhor, não oferece riscos à saúde das pessoas e ao meio ambiente. O CAPS – Centro de Atenção Psicossocial da secretaria de saúde de Urussanga, SC, está fazendo a sua parte; desde outubro/2010 mais de 20 hortaliças foram colhidos na horta orgânica conduzida por pacientes e voluntários. Além de produzir hortaliças frescas e saudáveis, a horta serve como terapia ocupacional, é uma forma de economizar e, o mais importante, não coloca em risco o tratamento das pessoas através de uma série de medicamentos utilizados, pois os alimentos contaminados podem interagir com estes e comprometer ainda mais a saúde destas pessoas. Nas instituições que tratam as pessoas doentes, já com a saúde debilitada, é fundamental que os alimentos sejam saudáveis.
   É importante lembrar que a lavagem dos alimentos contribui para a retirada de apenas parte dos agrotóxicos, ou seja, os produtos chamados de contato (que agem externamente). Para os agrotóxicos sistêmicos, ou seja, aqueles que, quando aplicados nas plantas, circulam através da seiva por todos os tecidos vegetais, de forma a se distribuir uniformemente e ampliar o seu tempo de ação, não adianta lavar os alimentos, pois os resíduos de agrotóxicos foram absorvidos pelos tecidos internos da plantas. A água sanitária não remove resíduos de agrotóxicos dos alimentos. Soluções de hipoclorito de sódio (água sanitária ou solução) devem ser usadas para a higienização dos alimentos na proporção de uma colher de sopa para um litro de água com o objetivo apenas de matar agentes microbiológicos que possam estar presentes nos alimentos.
. Os efeitos dos adubos químicos no meio ambiente e na saúde das pessoas
   A maioria dos adubos químicos utilizados atualmente, além de acidificar o solo, tornando a prática da calagem necessária, são altamente solúveis e, por isso, contaminam os rios devido à erosão e, o que é pior, juntamente com os agrotóxicos, contaminam o meio ambiente. Os adubos químicos são hidrossolúveis (dissolvem-se na água), sendo que: 1) uma parte é rapidamente absorvida pelas raízes das plantas; 2) a maior parte é lixiviada, ou seja, é lavada pelas águas das chuvas e regas, indo poluir rios, lagos, poços e lençóis freáticos; 3) há ainda uma terceira parte que se evapora, como no caso dos adubos nitrogenados (como a uréia) que sob a forma de óxido nitroso contribui para destruir a camada de ozônio da atmosfera, sendo uma das causas do aquecimento global. Os agroquímicos deixam as plantas mais suculentas para as doenças e pragas e, o que é pior, destroem os inimigos naturais (seres que se alimentam das doenças e insetos-pragas) e ainda prejudicam a vida do solo. Com o tempo, os agrotóxicos matam as doenças e insetos-pragas mais fracos e vão ficando só os mais fortes e, em consequência, devido à seleção natural, ficam resistentes aos agrotóxicos e, por isso, as empresas que produzem tem que descobrir novos produtos, cada vez mais perigosos, para serem aplicados na agricultura.      
   Dessa forma, alguns insetos que não eram pragas passam a atacar os cultivos. O revolvimento intenso do solo com máquinas e equipamentos, favorecendo a erosão, faz com que se utilize cada vez mais adubos químicos, exigidos em quantidades cada vez maiores pelas cultivares modernas criadas e, em conseqüência do desequilíbrio nutricional do solo, as plantas tornam-se mais susceptíveis às pragas e doenças, exigindo cada vez mais agrotóxicos. O uso de adubos químicos faz com que os aminoácidos (proteínas) se apresentem em forma livre, ao contrário da adubação orgânica onde os aminoácidos formam cadeias complexas, não estando disponível às pragas. Os problemas do uso dos adubos químicos na produção de alimentos, não param por aí!    O uso de adubos nitrogenados, especialmente a uréia, provoca o acúmulo de nitratos e nitritos nos tecidos das plantas. O nitrato ingerido passa a corrente sanguínea e reduz-se a nitritos que, combinado com aminas, forma as nitrosaminas, substâncias cancerígenas. O aumento rápido do teor de nitrato nas plantas é a conseqüência mais conhecida do crescente uso de adubos químicos nitrogenados, utilizados na agricultura convencional, para aumentar rapidamente a produtividade de hortaliças de folhas como a alface, couve, agrião, chicória etc. Porém, o uso excessivo deste fertilizante associado à irrigação freqüente, faz com que ocorra acúmulo de nitrato (NO3-) e nitrito (NO2-) nos tecidos de plantas. Resultados de pesquisa em alface revelaram que no cultivo orgânico, cultivo convencional e hidropônico (cultivo de plantas sem solo) são acumulados 565,4; 2782,1 e 3.093,4 mg/kg de nitrato, respectivamente. Segundo a FAO - Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação, o índice máximo de ingestão diária admissível de nitratos é de 5 mg/kg de peso vivo e 0,2 mg/kg para nitritos. Ou seja: uma pessoa de 70 kg comendo entre 4 e 9 folhas de alface hidropônica, por 1 dia, já estará atingindo a dose máxima de nitratos permitida. Já no sistema orgânico esta mesma pessoa poderia comer mais de 50 folhas, sem riscos para a saúde.
. De que forma podemos substituir os adubos químicos? A adubação orgânica substitui com inúmeras vantagens os adubos químicos pois, além de ser mais barata, ainda melhora a qualidade dos alimentos, sem riscos para a saúde das pessoas.
   A agricultura orgânica é a saída, pois ao contrário da agricultura convencional, trata o solo como um "organismo vivo", ou seja, revolvendo o solo o mínimo possível, sem uso de agroquímicos e priorizando a adubação orgânica, rotação e consorciação de culturas, cultivo mínimo, plantio direto e outras, que favorecem os cultivos e, desfavorecem as pragas e doenças. A ocorrência de insetos-pragas e doenças são a conseqüência e não a causa do problema. Por isso, em agricultura orgânica tratam-se as causas para que os resultados sejam os mais duradouros e equilibrados possíveis. De maneira simples, pode-se dizer que a matéria orgânica é a parte do solo que já foi ou ainda é viva. É a matéria orgânica que dá a cor escura aos solos; em solo muito claro, aparentemente sem vida, "fraco", é provável que o teor de matéria orgânica seja muito baixo (Figura 2). A vida do solo depende da matéria orgânica que mantém a sua estrutura porosa (fofa), sem compactação, proporcionando a vida vegetal graças à entrada de ar, água e nutrientes. Além de estimular a saúde natural das plantas, aumentando a resistência às doenças, pragas e ao "mato" e, ao clima adverso e, especialmente melhorando a vida no solo, a adubação orgânica diminui o custo de produção dos cultivos e, ainda reduz a acidez do solo. Além disso a adubação orgânica aumenta a penetração das raízes e a oxigenação do solo. Possui macronutrientes (Nitrogênio, Fósforo e Potássio - NPK, Cálcio, Magnésio e Enxofre) e micronutrientes em quantidades bem equilibradas, que as plantas absorvem conforme a necessidade, em quantidade e qualidade. Por outro lado, nas inúmeras fórmulas de adubos químicos só existem os macronutrientes NPK – nitrogênio, fósforo e potássio que, ao serem aplicados de forma exagerada, ainda contribuem para acidificar e salinizar o solo. Na adubação orgânica, as perdas dos nutrientes com as chuvas intensas e frequentes são bem menores, quando comparado a adubação química (altamente solúvel). Mas as vantagens da adubação orgânica não param por aí ! ela melhora também a qualidade dos alimentos, tornando-os mais ricos em vitaminas, aminoácidos, sais minerais, matéria seca e açúcares, além de serem mais aromáticos, saborosos e de melhor conservação pós-colheita. Outra vantagem da adubação orgânica é a oportunidade de fazer a compostagem (adubo natural), especialmente nas cidades, reduzindo pela metade o lixo e, diminuindo o trabalho e, o mais importante, poluindo menos o meio ambiente. Todos ganham com a transformação dos resíduos domésticos em composto orgânico, ou seja, adubo natural! As prefeituras, os recolhedores do lixo, a população que terá uma cidade mais limpa e com menos cheiro desagradável, a horta, o jardim e até as plantas ornamentais, pois terão um adubo de ótima qualidade e barato feito em casa, sem poluir o meio ambiente. Em matérias já publicadas neste blog, mostramos, passo a passo, como fazer a compostagem e utilizar a adubação verde.
Figura 2. Representação de um solo cultivado no sistema convencional (com revolvimento excessivo do solo, compactado e com alto grau de erosão) e um solo orgânico (solo tratado como "organismo vivo").

. O uso de raticidas é um problema de saúde pública
  
 Inundações, enchentes, terremotos, secas, deslizamentos, tsunamis… Até que ponto os recentes desastres ocorridos no planeta podem ser considerados apenas acaso da natureza? Qual a responsabilidade e interferência do ser humano sobre os últimos acontecimentos? Quanto maior a consciência ambiental, melhor será a saúde das pessoas. No mundo há tantas doenças devido aos produtos químicos, que são utilizados de forma exagerada, irresponsável e inadequada, contaminando e poluindo o ar, as fontes de água e, principalmente os alimentos.
   Dentre os roedores, os ratos são os que mais causam prejuízos às pessoas tanto na agricultura como nas residências e, o que é pior, podem transmitir doenças tais como a leptospirose. É uma doença infecciosa causada por uma bactéria chamada Leptospira presente na urina do rato. Em situações de enchentes e inundações, a urina dos ratos, presente em esgotos e bueiros, mistura-se à enxurrada e à lama das enchentes. Qualquer pessoa que tiver contato com a água ou lama contaminadas poderá se infectar. A Leptospira penetra no corpo pela pele, através de algum ferimento ou arranhão. Na época de seca, a bactéria oferece riscos à saúde humana através do contato com água ou lama de esgoto, lagoas ou rios contaminados e terrenos baldios onde existem ratos. O controle dos ratos mais conhecido é através de raticidas, embora eficientes, são substâncias químicas de alta periculosidade. O problema é a contaminação do meio ambiente e das pessoas e, especialmente, crianças que não tem noção do perigo e animais. No Centro de Intoxicações Toxicológicas – CIT, do Hospital Universitário da UFSC (www.cit.sc.gov.br), verifica-se mensalmente um elevado número de intoxicações de pessoas com raticidas e, o que é pior, o número de casos está aumentando. Comparando-se os registros no período de 1984/1988 (130 pessoas intoxicadas e 7 animais intoxicados) em relação ao período de 2004/2008 (1.423 pessoas e 79 animais intoxicados), verifica-se um aumento de 1.094 e 1.128%, respectivamente
Controle ecológico de ratos com feijão cru moído
Como fazer: pegue uma xícara de qualquer feijão cru (sem lavar mesmo), coloque no multiprocessador, ou liquidificador (SEM ÁGUA) e triture até virar uma farofinha bem fininha, mas sem virar totalmente pó.
Onde colocar: coloque em montinhos (uma colher de chá) nos cantos do chão, perto das portas, e janelas (sim, eles as escalam), atrás da geladeira, atrás do fogão, atrás de tudo!
O que acontece: o rato come essa farofinha, mas ele não tem como digerir o feijão (cru), por falta de substâncias que digerem feijão cru, causando assim um envenenamento natural por fermentação. Os ratos morrem em até 3 dias. E o mais importante, não tem contra-indicação: ao contrário dos tradicionais venenos, o rato morre e não contamina animais de estimação que por sua vez morreriam por terem comido o rato envenenado. E a quantidade de feijão que ele ingeriu e morreu é insuficiente para matar um cão ou gato, mesmo porque estes gostam de MATAR pra comer... mas morto eles não os comem. Se tiver crianças pequenas (bebês) num período que ainda engatinham, fase que colocam tudo na boca, não faz mal algum, pois o feijão para o ser humano, mesmo cru é digerido.
Controle de ratos com ratoeira ecológica
Como fazer (Figura 3): basta uma lata, um arame grosso, uma espiga de milho e água. Enche-se meia lata com água e coloca-se o arame transpassando a espiga, depois se coloca um suporte (ripa) para que os ratos possam chegar até a borda da lata. Quando eles forem comer o milho, escorregam, pois a espiga rola, e eles ficam presos na água. A armadilha também pode ser feita com garrafa pet para controlar camundongos em residências.
Por favor, repassem a todos! Faça a sua parte!
O MEIO AMBIENTE E A SAÚDE DE TODOS NÓS AGRADECEM!
 Figura 3. Ratoeira ecológica (foto de Hernandes Werner)
Ferreira On 2/29/2012 02:36:00 AM Comentarios LEIA MAIS

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012



Verdade: a agricultura orgânica procura imitar a floresta, enquanto que a convencional ou "moderna" prioriza a monocultura, o uso de adubos químicos e agrotóxicos e o revolvimento do solo

   O uso crescente dos adubos químicos e agrotóxicos possibilitou a simplificação dos sistemas agrícolas, de forma que apenas uma cultura pudesse ser cultivada em determinada região para atender as necessidades locais ou as exigências de mercado. Esse modelo permitiu o aparecimento de pragas, doenças, plantas invasoras especializadas e uma série de outros problemas para essas culturas. A manutenção da fertilidade do solo e a sanidade dos cultivos depende de rotações de culturas, da reciclagem de biomassa e, principalmente, da diversidade biológica, principal pilar da agricultura orgânica a contribuir para a manutenção do equilíbrio do sistema e, consequentemente, do solo e da cultura. Portanto, o equilíbrio biológico e ambiental, bem como a fertilidade do solo, não podem ser mantidos com monoculturas. O sistema orgânico de produção de alimentos, por sua vez, prioriza a adição e a manutenção da matéria orgânica, a cobertura e o revolvimento mínimo do solo.
A importância da floresta para o meio ambiente
  As florestas podem serem consideradas os termostatos naturais: A planta transpira, perdendo água para o ar em forma de vapor; na passagem da fase líquida à gasosa refrigera a superfície da folha e ao mesmo tempo transforma a floresta no maior termostato que possuímos. Quando a temperatura sobe, a água transpirada aumenta igualmente, retirando calor do ar. Por isso, não existem os extremos de temperaturas conhecidos nos desertos, onde durante o dia chega até 50ºC e a noite baixa até -1ºC. A explicação para este fato é a falta de água que pudesse ser transpirada e, mais exatamente, a falta de florestas ou represas ou lagos que atuassem como termostatos. Portanto, onde as florestas ainda permanecem intatas, as temperaturas são muito mais amenas. A Amazônia equatorial possui uma temperatura média de 24ºC, oscilando entre 21 e 28ºC. No Brasil 87% da população vivem em centros urbanos. O clima urbano difere consideravelmente do ambiente natural. As cidades distanciam-se cada vez mais da natureza, utilizando materiais como ferro, aço, amianto, vidro, piche, entre outros. Estes materiais geralmente são refletores e contribuem para a criação de ilhas ou bolsões de calor nas cidades. Em função disso, o clima é semelhante ao do deserto, quente e seco durante o dia e frio durante a noite. A impermeabilização dos solos causa grandes problemas também na medida que evitam ou impedem a infiltração da água, forçando-a para a calha dos rios, muitas vezes causando enchentes, já que os rios não conseguem absorver um volume tão grande de água num curto espaço de tempo.
 
 Figura 1. As florestas são essenciais para o meio ambiente, especialmente por funcionar como termostatos naturais
Benefícios da arborização
    Os benefícios advindos da arborização urbana promovem a melhoria da qualidade de vida e o embelezamento da cidade. Essa arborização depende do clima, tipo de solo, do espaço livre e do porte da árvore para se obter sucesso nas cidades. Além da função paisagística, a arborização proporciona à população proteção contra ventos, diminuição da poluição sonora, absorção de parte dos raios solares, sombreamento, atração e ambientação de pássaros, absorção da poluição atmosférica, neutralizando os seus efeitos na população, valorização da propriedade pela beleza, higienização mental e reorientação do vento. A floresta, quando em equilíbrio, reduz ao mínimo a saída de nutrientes do ecossistema. O solo pode manter o mesmo nível de fertilidade ou até melhorá-lo ao longo do tempo. Uma floresta não perturbada apresenta grande estabilidade, isto é, os nutrientes introduzidos no ecossistema pela chuva e o intemperismo geológico estão em equilíbrio com os nutrientes perdidos por lixiviação para os rios ou lençol freático. A floresta deve ser apreciada como uma atividade agrícola qualquer, que visa à produção de biomassa com intenção de obter algum lucro. Assim, além do consumo de água, devemos contabilizar a sua qualidade, o regime de vazão e a saúde do ecossistema aquático. Possibilita também uma visão mais abrangente sobre a relação do uso da terra, seja na produção florestal, agrícola, pecuária, abertura de estradas, urbanização, enfim, toda e qualquer alteração antrópica na paisagem e a conservação dos recursos hídricos.
   Pelos resultados das pesquisas percebe-se que as florestas são importantes por vários fatores, mas principalmente em relação aos recursos hídricos, pois interceptam a água das chuvas, reduzindo o risco de erosão, aumentam a capacidade de infiltração da água no solo tornando-o mais poroso e a estabilidade do sistema ou microssistema funcionando com tampão, isto é, liberando ou retendo água.
  O organismo humano está bem mais protegido da poluição quando perto de árvores localizadas em parques do que ao lado daquelas que ficam foram deles. É o que diz a tese de doutorado defendida no Laboratório de Poluição Atmosférica da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. O estudo mostra que a concentração de metais pesados e gases poluentes no ar é maior nos trechos de áreas verdes próximos a avenidas do que no meio dos parques. O que provoca isso é uma espécies de "filtro antipoluição", que é formado pelas árvores que ficam em volta dos parques. É como se elas sequestrassem e absorvessem nas cascas os poluentes, impedindo-os de avançar para o interior dessas áreas. A constatação foi feita pela engenheira florestal Ana Paula Martins, que estudou por quatro anos amostras de cascas de árvores de cinco parques de São Paulo. De acordo com o trabalho, nenhum dos locais está imune a pelo menos 11 metais, mas a concentração varia conforme a localização. Para chegar aos índices, a pesquisadora coletou amostras de cascas da camada externa das árvores retiradas a 1,5 m de distância do solo. A pesquisadora diz que escapamento, freada e arranque de veículos, que soltam pedaços de pneu, são responsáveis por liberar partículas de metais: "zinco, chumbo e cobre são provenientes da poluição veicular". Embora não haja um padrão dos níveis saudáveis desses elementos, especialistas afirmam que inalar metais pesados como bário, bromo e cobalto, entre outros, pode trazer, a longo prazo, problemas à saúde. "Encapar as avenidas com cobertura vegetal pode diminuir o impacto da poluição na saúde, além de aumentar a qualidade do ar", explica Paulo Saldiva, pesquisador do Laboratório de Poluição da USP e orientador da tese.
. Organização da propriedade visando o sucesso na agricultura orgânica
    Na agricultura orgânica, a propriedade rural é considerada um agroecossistema, que se traduz num sistema agrícola baseado na biodiversidade do local. Depende das interações e dos ciclos biológicos das espécies vegetais e animais e da atividade biológica do solo, do uso mínimo de produtos externos à propriedade e do manejo de práticas que restauram, mantêm e promovem a harmonia ecológica do sistema. Portanto, o sucesso e a sustentabilidade dos sistemas orgânicos dependem da integração de todos os recursos internos da propriedade, buscando-se o equilíbrio ente os recursos naturais, as plantas cultivadas, a criação de animais e o próprio homem. Ao passo que no sistema convencional uma lavoura é tratada de forma individualizada e com a maioria dos insumos de alto custo energético vindos de fora da propriedade, no sistema orgânico procura-se explorar ao máximo os fatores inerentes ao ambiente e os recursos internos à propriedade.
. Como é feita a diversificação do sistema na produção orgânica de alimentos?
   A produção orgânica exige a reformulação da organização da propriedade, que diverge bastante da disposição adotada no sistema convencional. O aspecto mais importante é a subdivisão da propriedade em talhões que no caso das hortaliças, não deve ultrapassar 1.000 m2, visando facilitar a administração e as atividades de produção. A disposição dos talhões e da infra-estrutura na propriedade deve reduzir as necessidades de transporte e de mão-de-obra para execução dos trabalhos, tendo em vista que na produção de hortaliças é intenso a utilização de insumos e mão-de-obra.
    As condições climáticas interferem sobremaneira na produção de hortaliças. Extremos de temperatura, umidade e excesso de ventos podem comprometer a produção da maioria das hortaliças. Por isso, os talhões de cultivo através de cordões de contorno ou cercas vivas, uso de cobertura morta de solo com restos de gramíneas e/ou leguminosas e até plantas espontâneas, plantio direto sobre palhadas e plantios consorciados, utilizando espécies de retorno econômico e também adubos verdes são muito importantes. A cerca viva que pode ser plantas ornamentais e, especialmente de capim elefante, funciona como um quebra-vento, reduzindo o impacto dos ventos frios ou quentes e a movimentação de algumas pragas e doenças dentro e fora da propriedade. Além disso, a cerca viva, serve para sombrear um pouco a área, especialmente no verão; no inverno, especialmente se for capim elefante, pode servir para fazer a compostagem e, desse modo, evitando o problema de sombreamento na área cultivada.
Os cordões de contorno ou faixas de vegetação, além de servir para dividir os talhões de cultivo, são úteis para circundar a propriedade e permitir o isolamento das áreas de cultivo convencional de propriedades vizinhas. Em propriedades integradas com produção animal, o que é muito interessante devido principalmente a produção de esterco, essas áreas podem contribuir para a produção de alimentos para os animais e, ainda, favorecer a rotação de culturas com as gramíneas, espécies muito recomendadas devido a resistência às pragas e doenças. Outra possibilidade é a utilização nos cordões de contorno, os adubos verdes para produzir biomassa visando à obtenção de composto orgânicos, pois estas espécies tem boa capacidade de extração de nutrientes e/ou fixação de nitrogênio que podem ser incorporados no solo ou como cobertura morta, ao serem roçados, e até como coberturas vivas nas áreas de cultivo. Portanto, a instalação dessas faixas de vegetação permite a criação de condições climáticas favoráveis à redução do estresse sofrido pelas plantas e são essenciais para o manejo fitossanitário da propriedade orgânica; também são importantes para fazer o histórico das áreas, especialmente ao adotar a prática da rotação de culturas, princípio fundamental para o sucesso da agricultura orgânica. No esquema de rotação é importante evitar o plantio de espécies da mesma família em sucessão ou nas faixas adjacentes; espécies de hortaliças pertencentes às famílias botânicas das solanáceas (batata, tomate, pimentão, pimenta e berinjela) brássicas (repolho, couve-flor, couve e brócolis) e cucurbitáceas (melancia, melão, abóbora, abobrinha, moranga e pepino) possuem as mesmas pragas e doenças.
    Outra preocupação que o produtor deve ter na organização de sua propriedade visando o cultivo orgânico de alimentos é a preservação de áreas de refúgio. O que são áreas de refúgio? são áreas de vegetação para preservação e atração de inimigos naturais de pragas e pequenos predadores que auxiliam no controle de pragas. Essas áreas servem de refúgio para diversos insetos benéficos que se alimentam de fungos ou para organismos que, sem seus inimigos naturais, poderiam acabar com a plantação. Esses nichos são formados pelas reservas de vegetação nativa, pelas faixas de cercas vivas ou cordões de contorno que circundam as áreas de cultivos ou com plantas espontâneas. As áreas de refúgio garantem a preservação da fauna silvestre e a diversidade é essencial para o equilíbrio de várias espécies, contribuindo muito para o equilíbrio de várias espécies, contribuindo muito para o equilíbrio do sistema como um todo.
    É importante também o produtor ter em mente as áreas de pousio. O que são áreas de pousio? Como o próprio nome sugere, são áreas que garantem o "descanso" do solo, após cultivo intensivo, para reconstituir e conservar suas propriedades químicas, físicas e biológicas. As áreas em pousio devem permanecer cobertas com alguma vegetação, que pode ser adubos verdes ou a vegetação natural da área. Essas áreas são muito importantes para garantir a manutenção da vida no solo.
    O produtor orgânico deve se preocupar prioritariamente com a diversificação da paisagem geral de sua propriedade de forma a restabelecer o equilíbrio entre todos os seres vivos da cadeia alimentar, desde microrganismos até pequenos animais, pássaros e outros predadores. A introdução de espécies vegetais com múltiplas funções no sistema produtivo é a base do (re)estabelecimento do equilíbrio da propriedade, incluindo-se espécies de interesse econômico, adubos verdes, arbóreas, atrativas, ornamentais e até plantas espontâneas.
Ferreira On 2/17/2012 09:36:00 AM Comentarios LEIA MAIS

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012



Prezado Diretor de Redação,


Referentemente à matéria de Veja, da edição de 04 de janeiro/2012, sobre o tema dos agrotóxicos, chamou-nos primeiramente a atenção o tratamento parcial e tendencioso dado ao assunto, uma vez que se trata de um tema controverso, mesmo nos meios científicos, e que recebeu apenas o veredito de profissionais com legitimidade e isenção questionáveis, considerando que é possível que alguns representem, eles próprios, um comprometimento com a indústria de agrotóxicos, a qual é, obviamente, parte interessada na venda desses produtos. Segundo, soa como prepotente, para dizer o mínimo, a Revista tentar apresentar-se como dona da verdade em um tema sensível e controverso como esse. Por uma questão de imparcialidade e ética, o que se esperaria é que a matéria desse também amplo espaço para o contraditório.

Da mesma forma, foi visível a falta de senso crítico das jornalistas, que não questionaram os “conceitos” que alguns entrevistados convenientemente tentaram afirmar como sendo “modernos”, como ocorreu, já no início da matéria, em relação ao nome “Defensivos Agrícolas” em vez de agrotóxicos. Cabe esclarecer que o termo agrotóxico é definido de acordo com a LEI Nº 7.802, DE 11 DE JULHO DE 1989, que considera “agrotóxicos e afins:


a) os produtos e os agentes de processos físicos, químicos ou biológicos, destinados ao uso nos setores de produção, no armazenamento e beneficiamento de produtos agrícolas, nas pastagens, na proteção de florestas, nativas ou implantadas, e de outros ecossistemas e também de ambientes urbanos, hídricos e industriais, cuja finalidade seja alterar a composição da flora ou da fauna, a fim de preservá-las da ação danosa de seres vivos considerados nocivos;



b) substâncias e produtos, empregados como desfolhantes, dessecantes, estimuladores e inibidores de crescimento.” Fica claro que o termo adequado, definido por lei, para referir-se a quaisquer dos produtos acima mencionados é agrotóxico, ainda que a indústria e as entidades que representam seus interesses insistam em usar, eufemisticamente, o termo defensivos agrícolas. Inseticidas, fungicidas, herbicidas, formicidas, etc, já carregam em seus nomes o princípio básico de sua ação: a função “cida”, sufixo originário do latim, caedere que significa matar. Não é toa que quase todos levam em seus rótulos uma CAVEIRA com as tíbias cruzadas e a inscrição "VENENO".

Sobre a afirmação de que “o Brasil é um dos países mais rigorosos no processo de registro de agrotóxicos” e que “os produtos disponíveis no mercado são seguros", não é isso que se constata na prática, uma vez que existem diversos casos em que formulações de agrotóxicos que são proibidos em dezenas de países, permanecem, no entanto, com seu uso liberado no Brasil, como é o caso do Endossulfan, do Metamidofós e do Acefato, encontrados pela Anvisa em vários alimentos, como o pepino, pimentão, tomate, alface, cebola e cenoura. Cabe registrar e reconhecer o esforço realizado pela Anvisa para monitorar os resíduos de agrotóxicos nos alimentos, além de fiscalizar os abusos cometidos na comercialização e uso desses produtos.

No caso do Endossulfan, trata-se de um princípio ativo proibido em mais de 50 países, inclusive nos 27 da Comunidade Européia, na qual está proibido desde dezembro de 2005 e continua sendo comercializado livremente no Brasil (embora tenha tido sua fabricação proibida recentemente no Brasil desde 12-09-2010, a sua comercialização está permitida até 2012). A proibição de seu uso nos outros países deve-se ao fato do mesmo apresentar graves riscos ao meio ambiente e à saúde humana, podendo causar, entre outros, efeitos carcinogênicos, imunotoxidade e neurotoxidade. Além destas, outros produtos são causadores de patologias de pele, teratogênese, desregulação endócrina, efeitos na reprodução humana e no sistema imunológico.

A reportagem afirma, de forma irresponsável, que “não existe comprovação científica de que o consumo a longo prazo ... provoque problemas graves em seres humanos”. Segundo Faria et al. (2007)1 publicações da Organização Internacional do Trabalho/ Organização Mundial da Saúde (OIT/OMS) estimam que, entre trabalhadores de países em desenvolvimento, os agrotóxicos causam anualmente 70 mil intoxicações agudas e crônicas que evoluem para óbito, e pelo menos 7 milhões de casos com doenças agudas e crônicas não-fatais. Isso representa, sem dúvida, elevados custos para a saúde humana e ambiental. Segundo Rigotto (2011)2, ainda segundo a OMS, para cada caso de intoxicação por agrotóxicos diagnosticado e notificado existem pelo menos 50 casos não notificados.

Apesar de vários produtos serem proibidos em diversos países, há fortes pressões do agronegócio para mantê-los autorizados no Brasil e, embora estejam em reavaliação, continuam sendo importados em larga escala pelo país. A questão do estabelecimento de limites permitidos de resíduos de agrotóxicos em alimentos é bastante complexa. Sabemos que o estabelecimento de “níveis seguros” de venenos que poderíamos ingerir todos os dias é uma falácia. Nenhum estudo laboratorial pode comprovrar com toda certeza que determinado nível de veneno é inócuo para a saúde das pessoas. Estudos feitos com cobaias sugerem que certos níveis de resíduo parecem não produzir efeitos colaterais, até que o surgimento de técnicas mais modernas ou novas evidências científicas provem o contrário. Para alguns especialistas, a determinação de limites aceitáveis de resíduos representa, na verdade, a “legalização da contaminação”.

O lobby das empresas produtoras de agrotóxicos é evidente, como se pode perceber pelo gritante exemplo da alteração do limite permitido de resíduos de glifosato para que a CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança) pudesse liberar a soja transgênica no Brasil. Em 1998 a Anvisa alterou o limite permitido de resíduos de glifosato em soja, aumentando-o em 10 vezes! Ele passou de 0,2 ppm (partes por milhão) para 2,0 ppm. Mas em 2004 o limite do veneno na soja aumentou ainda mais: foi para 10 ppm, ou seja, 50 vezes maior que o limite inicialmente permitido. Os níveis de contaminação por agrotóxicos vão muito além dos registros de resíduos em alimentos. As águas dos rios e aquíferos estão contaminadas por venenos agrícolas. Na Chapada do Apodi no Ceará, a água que sai das torneiras tem até 12 tipos de veneno. O aquífero Jandaíra, localizado sob parte do Ceará e do Rio Grande do Norte está sendo contaminado pelos venenos utilizados na produção de banana e abacaxi. O famoso aquífero Guarani está também sendo contaminado por agrotóxicos.Os alimentos, o ar, as chuvas e até mesmo o leite materno estão contaminados de venenos provenientes das aplicações maciças nas regiões onde o agronegócio impera, como ficou constatado no Mato Grosso. Em março de 2011 foi divulgada amplamente a contaminação em leite materno com agrotóxicos, no município de Lucas do Rio Verde, no Mato Grosso, região dominada pela produção de soja e do milho transgênicos 3.

A reportagem também erroneamente afirma: “período de carência é o intervalo mínimo entre o uso do pesticida e a colheita”, no entanto, a definição correta de período de carência ou intervalo de tempo, em dias, é o tempo que deve ser observado entre a aplicação do agrotóxico e a colheita do produto agrícola para que o alimento colhido não possua resíduos dos agrotóxicos em níveis superiores aos limites máximos estabelecidos pela ANVISA. Continua a reportagem: “tempo em que o defensivo se degrada e perde sua toxicidade para os seres humanos”. Isto é uma inverdade. A pressuposta degradação ou ausência de agrotóxicos nos alimentos não significa que os problemas tenham desaparecido, pois existem os metabólitos que podem estar presentes. As conseqüências ambientais e para a saúde, em função de uma aplicação quedeixou residual, podem permanecer por muito tempo. Segundo Spadotto & Gomes 4 “determinados produtos químicos são rapidamente decompostos no solo, enquanto outros não são degradados tão facilmente. Algumas moléculas são moderadamente persistentes e seus resíduos podem permanecer no solo durante um ano inteiro, outras podem persistir por mais tempo. No ambiente aquático, além da hidrólise e da fotólise, os agrotóxicos podem também sofrer a degradação biológica e, ainda, a bioacumulação e a biomagnificação (bioacumulação em níveis elevados da cadeia trófica), diferenciando apenas os microrganismos nesse ambiente em relação àqueles presentes no solo”. E mais, advertem que além dos riscos da molécula original, os metabólitos ou produtos de degradação dos agrotóxicos apresentam toxicidade e ecotoxicidade com enormes diferenças em relação à molécula-mãe.

Alguns destes produtos de degradação podem ser inclusive muito mais tóxicos que o ingrediente-ativo original. A título de exemplo, pode ser citado o glifosato, que produz o ácido aminometil fosfônico (AMPA) como primeiro metabólito, que por sua vez produz outros que ainda não são investigados e que podem ser mais tóxicos para a cadeia trófica. Além desse, há o exemplo clássico do DDT que ao perder uma molécula de HCl, por degradação biológica ou ambiental, forma o metabólito conhecido como DDE, que é ainda mais resistente às degradações que o DDT. Cabe lembrar que não é por acaso que o Brasil é considerado o campeão mundial de consumo de agrotóxicos, atingindo a incrível marca de 5,7 litros por habitante/ano. Esse dado foi, estranhamente, esquecido ou, o que é mais grave, ignorado intencionalmente pelas jornalistas, que conseguiram fazer uma matéria que destacou apenas um lado da questão, o dos “benefícios”supostamente decorrentes do uso de agrotóxicos. Lamentamos essa postura, profundamente comprometedora para uma revista que se pretende séria e, ironicamente, se intitula como “indispensável”. Perdem com isso os leitores da revista e perde, ainda mais, a sociedade brasileira, pelo nível superficial, pouco sério e, sobretudo, tendencioso como um tema tão importante como esse foi tratado na referida matéria. 


Atenciosamente, 

Associação Brasileira de Agroecologia

REFERÊNCIAS 
1
Ciência & Saúde Coletiva, 12(1):25-38, 2007.
2
Raquel Rigotto, entrevista a Caros amigos, dezembro de 2011.
3
Fonte: LONDRES, F. e MONTEIRO, D. Agrotóxicos no Brasil: um guia para ação em defesa da vida. RJ, 2011.
4
Em: Agência de Informação Embrapa, Agricultura e Meio Ambiente. Qualidade Dinâmica e Riscos de Contaminação.
Ferreira On 2/14/2012 09:13:00 AM 2 comments LEIA MAIS

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012



Verdade: Alimentos contaminados com agrotóxicos estão chegando à mesa dos consumidores

     A ANVISA - Agência Nacional de Vigilância Sanitária divulgou no dia 7/12/2011 o relatório de 2010 sobre os resultados do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos - PARA, realizado nos principais centros consumidores de 26 estados do Brasil. A exemplo do relatório de 2009 do PARA – Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos (Figura 2), os resultados referentes ao ano de 2010 (Figura 1), são muito preocupantes, pois mostram que em 28% das amostras de alimentos analisadas de dezoito diferentes culturas, havia excesso de agrotóxicos ou agrotóxicos não autorizados para aquela cultura, o que pode representar um risco maior à saúde. É importante ressaltar que nos dois relatórios, as amostras das hortaliças pimentão, pepino, morango, alface, couve, beterraba e cenoura e, as frutas abacaxi e o mamão, foram as mais contaminadas por agrotóxicos. Segundo o levantamento de 2010, um grupo de compostos químicos conhecido como "organofosforados" está presente em mais da metade das amostras irregulares detectadas; essas substâncias podem destruir células musculares e comprometer o sistema nervoso, provocando problemas cardiorrespiratórios. O "Carbendazim", outra substância usada no controle de pragas, foi detectada de forma irregular em 176 amostras, sendo que 90 delas em pimentão; recentemente, foi noticiado pelo Jornal Nacional que resíduos deste agrotóxico foi encontrado no suco brasileiro exportado para os Estados Unidos e, por isso, a partida deste produto não foi aceito. Observou-se a presença de agrotóxicos proibidos ou acima do limite permitido de resíduos em vários alimentos, ou seja, estes estão chegando à mesa dos consumidores contaminados por agrotóxicos; segundo a ANVISA, os alimentos com maior número de amostras contaminadas no levantamento de 2010, são: pimentão (92%), morango (63%), pepino (75%), alface (54%), cenoura (50%), beterraba, couve e abacaxi (32%) e mamão (30%), . O assunto foi destaque no jornal nacional veiculado nos dias 06, 07 e 08/12/2011; as reportagens foram postadas na íntegra, neste blog nos dias 07 e 12/12/2011.
                             Figura 1. Amostras de alimentos contaminadas por agrotóxicos em 2010
Figura 2. Amostras de alimentos contaminadas por agrotóxicos em 2009
  

   A ANVISA têm por objetivo principal a promoção da saúde através do consumo de alimentos de qualidade e a prevenção das Doenças Crônicas Não Transmissíveis - DCNT secundárias à ingestão cotidiana de quantidades perigosas de agrotóxicos. As doenças crônicas não transmissíveis constituem um dos maiores problemas mundiais de saúde pública, comprometendo o desenvolvimento humano de todos os países. Estimativas da Organização Mundial de Saúde -OMS, baseadas na declaração dos Estados membros, avaliam que as DCNT são responsáveis por 63% das 57 milhões de mortes declaradas no mundo em 2008, e por 45,9% do volume global de doenças. A Organização prevê, ainda, um aumento significativo dos óbitos por esta causa, de 15% entre 2010 e 2020. No Brasil, as DCNT teriam causado 893.900 mortes em 2008, correspondendo a mais importante causa de óbito no país, posto que seriam responsáveis por 74% das mortes ocorridas nesse ano. Em torno de 30% dos casos, afetariam pessoas com menos de 60 anos.

    Levantamento realizado em Santa Catarina referente as intoxicações e mortes registradas devido aos agrotóxicos no hospital universitário da UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina, revelam que no período de 1984 a 2010 houveram 11.801 pessoas intoxicadas e 263 mortes. Analisando-se os casos registrados anualmente verificou-se também que na década de 1991 a 2000 ocorreram, em média, 350 casos de pessoas intoxicadas por ano, enquanto que de 2001 a 2010 houveram 600 casos de pessoas intoxicadas por ano, ou seja, um aumento de 70% (Fonte: extraído do site www.cit.sc.gov.br ).

. Principais sinais e sintomas de envenenamento por agrotóxicos: irritação ou nervosismo; ansiedade e angústia;  tremores no corpo;  indisposição, fraqueza e mal estar, dor de cabeça, tonturas, vertigem, náuseas, vômitos, cólicas abdominais;   Alterações visuais; respiração difícil, com dores no peito e falta de ar;  queimaduras e alterações da pele;   Dores pelo corpo inteiro;  irritação de nariz, garganta e olhos; urina alterada; convulsões ou ataques; desmaios, perda de consciência e até o coma.

. O que pode ser feito pelo consumidor para diminuir a ingestão de agrotóxicos? optar por alimentos certificados como, por exemplo, os orgânicos, e por alimentos da época, que a princípio necessitam de uma carga menor de agrotóxicos para serem produzidos. A orientação é procurar fornecimento de produtos com a origem identificada, pois isto aumenta o comprometimento dos produtores em relação à qualidade dos alimentos, com a adoção das boas práticas agrícolas. Além disso, a opção pelo consumo de alimentos produzidos com técnicas de manejo integrado de pragas, que recebem uma carga menor de produtos químicos, e sempre que possível de baixa toxicidade, contribuem para a manutenção de uma cadeia de produção ambientalmente mais saudável. Outra opção, a ideal, para quem dispor de pequena área ( 10 m2 é suficiente para produzir as principais hortaliças de menor ciclo para uma família ) é ter sua própria horta orgânica, pois é fácil, mais barato, os alimentos são mais nutritivos, podem ser colhidos próximo a hora de consumir (frescos), além de ser uma ótima terapia ocupacional e uma boa oportunidade de fazer exercícios ao ar livre e, o melhor, não oferece riscos à saúde das pessoas e ao meio ambiente.

. Ao lavar os alimentos, os agrotóxicos são retirados dos alimentos? NÃO COMPLETAMENTE: O processo de lavagem dos alimentos contribui para a retirada de parte dos agrotóxicos. Os agrotóxicos podem ser divididos quanto ao modo de ação entre sistêmicos e de contato. Os sistêmicos são aqueles que, quando aplicados nas plantas, circulam através da seiva por todos os tecidos vegetais, de forma a se distribuir uniformemente e ampliar o seu tempo de ação. Os de contato são aqueles que agem externamente no vegetal, tendo necessariamente que entrar em contato com o alvo biológico. E mesmo estes são também, em boa parte, absorvidos pela planta, penetrando em seu interior através de suas porosidades. Uma lavagem dos alimentos em água corrente só poderia remover parte dos resíduos de agrotóxicos presentes na superfície dos mesmos. Os agrotóxicos sistêmicos e uma parte dos de contato, por terem sido absorvidos por tecidos internos da planta, caso ainda não tenham sido degradados pelo próprio metabolismo do vegetal, permanecerão nos alimentos mesmo que esses sejam lavados. Neste caso, uma vez contaminados com resíduos de agrotóxicos, estes alimentos levarão o consumidor a ingerir resíduos de agrotóxicos.

. Água sanitária remove agrotóxicos dos alimentos? até o momento a ANVISA não tem conhecimento de estudos científicos que comprovem a eficácia da água sanitária ou do cloro na remoção ou eliminação de resíduos de agrotóxicos nos alimentos. Soluções de hipoclorito de sódio (água sanitária ou solução) devem ser usadas para a higienização dos alimentos na proporção de uma colher de sopa para um litro de água com o objetivo apenas de matar agentes microbiológicos que possam estar presentes nos alimentos.
. Quando o relatório diz que os resultados do PARA são insatisfatórios, não representam riscos à saúde dos consumidores? nas 2.488 amostras analisadas em 2010, em 37% delas, não foram detectados resíduos; 35% apresentaram resíduos abaixo do LMR (Limite Máximo de Resíduos) estabelecido; e 28% foram consideradas insatisfatórias por apresentarem resíduos de produtos não autorizados ou, autorizados, mas acima do LMR. Os resultados encontrados pela ANVISA dividem-se em duas categorias:
  1. Resíduos que podem causar dano à saúde porque excederam os limites máximos estabelecidos em legislação;
  2. Resíduos que podem causar dano à saúde porque são agrotóxicos não autorizados para aquele determinado alimento.
     No primeiro caso, que representa 1,7% do total dos resultados insatisfatórios (abacaxi e o mamão tiveram 8,2 e 6,8% das amostras contaminadas e acima do permitido), o uso abusivo dos agrotóxicos, em desrespeito às indicações da bula de cada produto e, ainda a negligência ao intervalo de segurança (tempo entre a última aplicação e colheita dos alimentos) levam à presença de resíduos nos alimentos superiores àqueles estabelecidos em legislação e reconhecidos como seguros, expondo a população a possíveis agravos à saúde. É importante ressaltar ainda que, além do risco à saúde da população em geral, representado pela ingestão prolongada desses alimentos com agrotóxicos acima do LMR permitido, estes resultados sugerem que as Boa Práticas Agrícolas não estão sendo respeitadas. O segundo caso, referente aos produtos Não Autorizados (NA), representa aproximadamente 24,3% dos resultados insatisfatórios. os resultados insatisfatórios devido à utilização de agrotóxicos não autorizados resultam de dois tipos de irregularidades:
.seja porque foi aplicado um agrotóxico não autorizado para aquela cultura, mas cujo IA- Ingrediente Ativo está registrado no Brasil e com uso permitido para outras culturas;
.seja porque foi aplicado um agrotóxico banido do Brasil ou que nunca teve registro no país, logo, sem uso permitido em nenhuma cultura.

  Dentre os produtos não autorizados para uma determinada cultura, destacou-se o carbendazim com 176 amostras apresentando resíduos desse agrotóxicos, das quais 90 são provenientes da cultura do pimentão e o restante em outras sete culturas agrícolas: abacaxi, alface, beterraba, couve, mamão, morango e repolho. Outros ingredientes ativos, do grupo químico organofosforado, tiveram também elevado número de ocorrências: o clorpirifós, o metamidofós e o acefato, contribuindo com 154, 125 e 76 resultados de amostras insatisfatórias, respectivamente.

. Quais as consequências de se ingerir agrotóxicos? de acordo com os conhecimentos científicos atuais, se ingerirmos quantidades dentro dos valores diários aceitáveis (IDA – Ingestão Diária Aceitável) não sofreremos nenhum dano à saúde; é a quantidade máxima de agrotóxicos que podemos ingerir por dia, durante toda a nossa vida, sem que soframos danos à saúde por esta ingestão. Existem estudos que indicam que, se ultrapassarmos essas quantidades, as conseqüências poderão variar desde sintomas como dores de cabeça, alergia e coceiras até distúrbios do sistema nervoso central ou câncer, nos casos mais graves de exposição, como é o caso dos trabalhadores rurais.
   Em geral, esses sintomas são pouco específicos, não sendo possível determinar a causa baseado apenas na avaliação clínica. Tudo isso vai variar de acordo com diversos fatores, tais como o tipo de agrotóxico que ingerimos, o nível de exposição a estas e outras substâncias químicas, a idade, o peso corpóreo, tabagismo, etc.
Para o registro de agrotóxicos no país, é exigida pelas autoridades regulatórias uma série de estudos com o objetivo de definir o grau de relevância toxicológica do agrotóxico em relação ao uso, aos limites de resíduos e ao consumo diário. O Limite Máximo de Resíduo (LMR) permitido é expresso em mg/kg da cultura e a quantidade diária segura para o consumo (Ingestão Diária Aceitável-IDA) é expressa em mg/kg de peso corpóreo. Os dados para cada ingrediente ativo estão publicados no link http://www.anvisa.gov.br/toxicologia/monografias/index.htm.
Exemplificando: se um determinado ingrediente ativo contido em um agrotóxico tiver uma IDA igual a 0,05 mg/kg, significa que uma pessoa de 60 kg, por exemplo, poderia ingerir uma quantidade máxima de 3,0 mg, diariamente, sem riscos à saúde. Esses valores são definidos com uma margem boa de segurança para o consumidor.

Fonte: Extraído do Relatório da ANVISA de 2010 www.anvisa.gov.br
Ferreira On 2/07/2012 02:45:00 AM Comentarios LEIA MAIS

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Hino da Campanha da Fraternidade 2012 - Hino CF 2012




A fé, a vida no planeta, fraternidade e saúde pública


   Ao iniciarmos o ano de 2012, renovamos a nossa esperança e a nossa fé em um mundo melhor, com paz, harmonia e amor construídos por pequenos gestos de compreensão, solidariedade, respeito, fraternidade e consciência ecológica. O mundo não podemos mudar, mas podemos mudar a nós mesmos. Cada um fazendo a sua parte, teremos um mundo melhor onde a natureza convive em paz com o homem! Que tal começarmos a ter uma maior consciência ecológica? Tudo o que existe foi criado por Deus e entregue ao homem e à mulher. Mas o que a humanidade vem fazendo com a criação de Deus? O que você tem feito de concreto para contribuir com essa campanha de conscientização sobre a importância da preservação do meio ambiente e da saúde pública?
   Deus colocou o homem no mundo como gerente da criação como um todo e, lhe deu algumas ordens: cuidar da criação, de onde tiraria seu sustento, protegê-la e preservá-la, conhecê-la, estudá-la, para assim conhecer melhor a si mesmo e a Deus. O homem não é o soberano senhor, mas o responsável diante de Deus pelo emprego correto dos recursos naturais e pela preservação das demais espécies. Nossa tarefa é contribuir para que a criação seja protegida e, a nossa postura em relação a poluição ambiental, ao uso de agroquímicos, o desflorestamento, o aquecimento global e muito mais, deve ser para agradar a Deus e honrar Ele como criador de todas as coisas. Crer também é cuidar da flora, fauna e recursos naturais! A fé no Deus criador e na criação de Deus deveria, ao natural, nos levar ao engajamento concreto e prático em defesa da vida. Deveríamos ser ecológicos como é o Deus da nossa fé, o criador e defensor da vida. A Terra é a nossa casa comum, é o único lugar que temos para habitar. Mas ela não é somente nossa. É o espaço de muitos povos de hoje e do futuro e de uma infinidade de outras formas de vida.
   Atualmente, o problema da poluição ambiental não está somente nas periferias das grandes cidades, mas também nos que vivem longe delas. O ar tóxico desprendido pelas fábricas entra nas casas de todos, independente de onde foi originada a emissão. A água e o solo contaminados por chorume e agroquímicos (adubos químicos e agrotóxicos), contaminam as fontes de água e os alimentos. Fazer a sua parte e alertar, esclarecer e orientar quem esteja perto é compromisso de todos. A cada ano a igreja católica no Brasil propõe um tema de reflexão para o período da quaresma, através da campanha da fraternidade, no sentido de ser um instrumento de ajuda para cada cristão(a) se preparar melhor para páscoa.
    Neste ano, a campanha da fraternidade, promovida desde 1964 pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), propõe um tema de reflexão para o período da quaresma: "A Fraternidade e Saúde Pública". O lema da campanha "Que a saúde se difunda sobre a terra!" destaca a responsabilidade humana. O objetivo é despertar a solidariedade dos fiéis e de toda a sociedade em relação a um problema concreto que envolve todo o país, buscando uma solução para o mesmo. Saúde não é uma coisa só do corpo, mas do conjunto do ser humano, corpo, alma, mente, afeto, sexualidade e espiritualidade. A igreja deseja sensibilizar a todos sobre a dura realidade das pessoas que não têm acesso à assistência de saúde pública condizente com suas necessidades e dignidade.
   A saúde é um dom de Deus confiado ao ser humano. Quanto mais cada um cuidar de si preventivamente e, dos que convivem com ele, melhor para todos e para o planeta! Cada um de nós precisa fazer a sua parte, preservando e melhorando as condições de vida no planeta, pois consciência ambiental e saúde estão diretamente relacionados. Uma pergunta que não quer calar: Para que utilizar adubos químicos e agrotóxicos na produção de alimentos quando já temos pesquisas comprovando que o adubo natural e os produtos alternativos para o manejo de pragas e doenças (ver matérias já postadas neste blog), produzidos na propriedade são mais baratos, eficientes e, o melhor, proporcionam alimentos mais nutritivos, não oferecem riscos ao meio ambiente e, especialmente à saúde pública?
. A contaminação dos alimentos com agrotóxicos e o uso de herbicidas (capina química) nas cidades são problemas de saúde pública
Pesquisa da ANVISA – em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz – FIOCRUZ – realizada desde 2001 com frutas e hortaliças produzidas com agrotóxicos e adubos químicos, nos maiores centros consumidores do Brasil, comprova que várias espécies cultivadas estão seriamente contaminadas por resíduos de agrotóxicos e, o que é pior, por produtos não autorizados para as culturas. Relatório recente da Anvisa, em 26 estados, pesquisando 18 espécies (frutas e hortaliças) em 2010, a exemplo de 2009, revela que 696 amostras (28%) de um total de 2.488 amostras coletadas em todo o país, estavam contaminadas com resíduos de agrotóxicos, alcançando no pimentão, morango, pepino, alface, cenoura, abacaxi, beterraba, couve e mamão até 91,8; 63,4; 57,4; 54,2; 49,6; 32,8; 32,6; 31,9 e 30,4 % de amostras contaminadas, respectivamente. Os agrotóxicos encontrados nos cultivos são ingredientes ativos com alto grau de toxicidade aguda comprovada e, que causam problemas neurológicos, reprodutivos, de desregulação hormonal e até câncer.
   Os problemas do uso de agrotóxicos não se resumem apenas a contaminação dos alimentos. E muito comum tanto na zona rural como nas cidades o uso de herbicidas para eliminar as "plantas daninhas", "mato ou inços" com graves implicações destes produtos no meio ambiente, pois eles ao serem lixiviados (lavados) pela água das chuvas ou irrigação vão parar nas fontes de água. É a chamada capina química, onde são utilizados os herbicidas com inúmeras conseqüências ao meio ambiente e à saúde das pessoas, especialmente quando não são usados os equipamentos de proteção individual. Além de contaminar o meio ambiente, pode contaminar as pessoas através das poças d'água, inalação e vento. Felizmente, pelo menos em Santa Catarina, existe uma lei estadual que proíbe o uso de herbicidas nas cidades, pois não tem como impedir o trânsito de pedestres no momento da aplicação e, pelo menos 24 horas após. A proibição é para todos os tipos de herbicidas! Não existe herbicida mais ou menos ecológico como alguns estão tentando vender o "Mata-Mato" e outros produtos proibidos para aplicação em zona urbana! Infelizmente, devido a falta de uma consciência ecológica das pessoas e uma maior fiscalização, ainda é prática comum nas cidades, colocando em risco a saúde pública.
Por favor, faça a sua parte! denuncie!
O MEIO AMBIENTE E A SAÚDE PÚBLICA AGRADECEM!
Esta cena não deveria ser mais vista nas cidades em Santa Catarina Figura 1. Lei estadual 6.288/02 aprovada pela câmara dos deputados em 12/08/2009, proíbe capina química em área urbana nas cidades de Santa Catarina. A partir de 15/01/2010, a Anvisa também proibiu a aplicação de herbicidas em área urbana. Além de contaminar o meio ambiente, pode contaminar as pessoas através das poças d'água e vento.

. O uso de agrotóxicos e as consequências para a saúde das pessoas
   Todos os herbicidas causam preocupações em termos de saúde pública. Os principais são: 2,4D, glifosato (round-up) e paraquat (gramoxone). O paraquat provoca, quando absorvido, especialmente por via digestiva, lesões hepáticas e renais e principalmente, fibrose pulmonar irreversível, determinando a morte em cerca de 2 semanas, por insuficiência respiratória; causa lesões na pele (via dérmica); causa lesões graves nas mucosas (via oral), sangramento pelo nariz, mal-estar, fraqueza e até ulcerações na boca; Torna as unhas quebradiças; produz conjuntivite ou opacidade da córnea (contato com os olhos). O 2,4D é bem absorvido pela pele, via digestiva e inalação, determinando de forma aguda, alterações da glicemia de forma transitória e ainda pode simular um quadro clínico de diabetes, além de alterações neuro-musculares provocando um processo inflamatório dos nervos longos dos membros inferiores e superiores. O Glifosato (round-up) causa problemas dermatológicos, principalmente dermatite de contato. Além disso, é irritante de mucosas, principalmente da mucosa ocular. Em relação aos agrotóxicos utilizados no controle de pragas e doenças das culturas, os principais sinais e sintomas de envenenamento são: irritação ou nervosismo; ansiedade e angústia;  tremores no corpo;  indisposição, fraqueza e mal estar, dor de cabeça, tonturas, vertigem, náuseas, vômitos, cólicas abdominais;  alterações visuais; respiração difícil, com dores no peito e falta de ar;  queimaduras e alterações da pele; dores pelo corpo inteiro;  irritação de nariz, garganta e olhos; urina alterada; convulsões ou ataques; desmaios, perda de consciência e até o coma.

. Intoxicações e mortes causadas pelos agrotóxicos em Santa Catarina
   Um exemplo das sérias conseqüências à saúde humana do uso crescente e abusivo de agrotóxicos são os casos de intoxicação e mortes registradas no Centro de Informações Toxicológicas – CIT (UFSC), em Florianópolis, SC. No período de 1984 a 2010, o CIT detectou 11.801 intoxicações de agricultores e 263 mortes em Santa Catarina (Fonte: www.cit.sc.gov.br). Segundo os técnicos, isto representa apenas uma pequena parte da realidade; os números são, na verdade, bem maiores. Estima-se que, para cada caso registrado, existam mais 10 que não são registrados devido à dificuldade no diagnóstico correto. Tendo em vista o aumento significativo na última década nos casos de intoxicação de pessoas por agrotóxicos em Santa Catarina em até 70% (década de 90 - 350 pessoas intoxicadas registradas por ano, enquanto que na última década chegou a 600 pessoas intoxicadas por ano), apelamos para que as pessoas denunciem para a vigilância sanitária de seu município, quando houver aplicação de herbicidas em sua cidade.

. O que pode ser feito pelo consumidor para diminuir a ingestão de agrotóxicos?
   Optar por alimentos certificados como, por exemplo, os orgânicos, e por alimentos da época, que a princípio necessitam de uma carga menor de agrotóxicos para serem produzidos. A orientação é procurar produtos com a origem identificada (nas feiras, por exemplo, é possível conversar diretamente com o produtor) pois, isto aumenta o comprometimento dos produtores em relação à qualidade dos alimentos, com a adoção das boas práticas agrícolas. Outra opção, a ideal, para quem dispor de pequena área (10 m2 é suficiente para produzir as principais hortaliças de ciclo curto para uma família) é ter sua própria horta orgânica, pois é fácil, mais barato, os alimentos são mais nutritivos, podem ser colhidos próximo a hora de consumir (frescos), além de ser uma boa oportunidade de fazer exercícios ao ar livre e, o melhor, não oferece riscos à saúde das pessoas e ao meio ambiente. O CAPS – Centro de Atenção Psicossocial da secretaria de saúde de Urussanga, SC, está fazendo a sua parte; desde outubro/2010 mais de 20 hortaliças foram colhidos na horta orgânica conduzida por pacientes e voluntários. Além de produzir hortaliças frescas e saudáveis, a horta serve como terapia ocupacional, é uma forma de economizar e, o mais importante, não coloca em risco o tratamento das pessoas através de uma série de medicamentos utilizados, pois os alimentos contaminados podem interagir com estes e comprometer ainda mais a saúde destas pessoas. Nas instituições que tratam as pessoas doentes, já com a saúde debilitada, é fundamental que os alimentos sejam saudáveis.
   É importante lembrar que a lavagem dos alimentos contribui para a retirada de apenas parte dos agrotóxicos, ou seja, os produtos chamados de contato (que agem externamente). Para os agrotóxicos sistêmicos, ou seja, aqueles que, quando aplicados nas plantas, circulam através da seiva por todos os tecidos vegetais, de forma a se distribuir uniformemente e ampliar o seu tempo de ação, não adianta lavar os alimentos, pois os resíduos de agrotóxicos foram absorvidos pelos tecidos internos da plantas. A água sanitária não remove resíduos de agrotóxicos dos alimentos. Soluções de hipoclorito de sódio (água sanitária ou solução) devem ser usadas para a higienização dos alimentos na proporção de uma colher de sopa para um litro de água com o objetivo apenas de matar agentes microbiológicos que possam estar presentes nos alimentos.
. Os efeitos dos adubos químicos no meio ambiente e na saúde das pessoas
   A maioria dos adubos químicos utilizados atualmente, além de acidificar o solo, tornando a prática da calagem necessária, são altamente solúveis e, por isso, contaminam os rios devido à erosão e, o que é pior, juntamente com os agrotóxicos, contaminam o meio ambiente. Os adubos químicos são hidrossolúveis (dissolvem-se na água), sendo que: 1) uma parte é rapidamente absorvida pelas raízes das plantas; 2) a maior parte é lixiviada, ou seja, é lavada pelas águas das chuvas e regas, indo poluir rios, lagos, poços e lençóis freáticos; 3) há ainda uma terceira parte que se evapora, como no caso dos adubos nitrogenados (como a uréia) que sob a forma de óxido nitroso contribui para destruir a camada de ozônio da atmosfera, sendo uma das causas do aquecimento global. Os agroquímicos deixam as plantas mais suculentas para as doenças e pragas e, o que é pior, destroem os inimigos naturais (seres que se alimentam das doenças e insetos-pragas) e ainda prejudicam a vida do solo. Com o tempo, os agrotóxicos matam as doenças e insetos-pragas mais fracos e vão ficando só os mais fortes e, em consequência, devido à seleção natural, ficam resistentes aos agrotóxicos e, por isso, as empresas que produzem tem que descobrir novos produtos, cada vez mais perigosos, para serem aplicados na agricultura.      
   Dessa forma, alguns insetos que não eram pragas passam a atacar os cultivos. O revolvimento intenso do solo com máquinas e equipamentos, favorecendo a erosão, faz com que se utilize cada vez mais adubos químicos, exigidos em quantidades cada vez maiores pelas cultivares modernas criadas e, em conseqüência do desequilíbrio nutricional do solo, as plantas tornam-se mais susceptíveis às pragas e doenças, exigindo cada vez mais agrotóxicos. O uso de adubos químicos faz com que os aminoácidos (proteínas) se apresentem em forma livre, ao contrário da adubação orgânica onde os aminoácidos formam cadeias complexas, não estando disponível às pragas. Os problemas do uso dos adubos químicos na produção de alimentos, não param por aí!    O uso de adubos nitrogenados, especialmente a uréia, provoca o acúmulo de nitratos e nitritos nos tecidos das plantas. O nitrato ingerido passa a corrente sanguínea e reduz-se a nitritos que, combinado com aminas, forma as nitrosaminas, substâncias cancerígenas. O aumento rápido do teor de nitrato nas plantas é a conseqüência mais conhecida do crescente uso de adubos químicos nitrogenados, utilizados na agricultura convencional, para aumentar rapidamente a produtividade de hortaliças de folhas como a alface, couve, agrião, chicória etc. Porém, o uso excessivo deste fertilizante associado à irrigação freqüente, faz com que ocorra acúmulo de nitrato (NO3-) e nitrito (NO2-) nos tecidos de plantas. Resultados de pesquisa em alface revelaram que no cultivo orgânico, cultivo convencional e hidropônico (cultivo de plantas sem solo) são acumulados 565,4; 2782,1 e 3.093,4 mg/kg de nitrato, respectivamente. Segundo a FAO - Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação, o índice máximo de ingestão diária admissível de nitratos é de 5 mg/kg de peso vivo e 0,2 mg/kg para nitritos. Ou seja: uma pessoa de 70 kg comendo entre 4 e 9 folhas de alface hidropônica, por 1 dia, já estará atingindo a dose máxima de nitratos permitida. Já no sistema orgânico esta mesma pessoa poderia comer mais de 50 folhas, sem riscos para a saúde.
. De que forma podemos substituir os adubos químicos? A adubação orgânica substitui com inúmeras vantagens os adubos químicos pois, além de ser mais barata, ainda melhora a qualidade dos alimentos, sem riscos para a saúde das pessoas.
   A agricultura orgânica é a saída, pois ao contrário da agricultura convencional, trata o solo como um "organismo vivo", ou seja, revolvendo o solo o mínimo possível, sem uso de agroquímicos e priorizando a adubação orgânica, rotação e consorciação de culturas, cultivo mínimo, plantio direto e outras, que favorecem os cultivos e, desfavorecem as pragas e doenças. A ocorrência de insetos-pragas e doenças são a conseqüência e não a causa do problema. Por isso, em agricultura orgânica tratam-se as causas para que os resultados sejam os mais duradouros e equilibrados possíveis. De maneira simples, pode-se dizer que a matéria orgânica é a parte do solo que já foi ou ainda é viva. É a matéria orgânica que dá a cor escura aos solos; em solo muito claro, aparentemente sem vida, "fraco", é provável que o teor de matéria orgânica seja muito baixo (Figura 2). A vida do solo depende da matéria orgânica que mantém a sua estrutura porosa (fofa), sem compactação, proporcionando a vida vegetal graças à entrada de ar, água e nutrientes. Além de estimular a saúde natural das plantas, aumentando a resistência às doenças, pragas e ao "mato" e, ao clima adverso e, especialmente melhorando a vida no solo, a adubação orgânica diminui o custo de produção dos cultivos e, ainda reduz a acidez do solo. Além disso a adubação orgânica aumenta a penetração das raízes e a oxigenação do solo. Possui macronutrientes (Nitrogênio, Fósforo e Potássio - NPK, Cálcio, Magnésio e Enxofre) e micronutrientes em quantidades bem equilibradas, que as plantas absorvem conforme a necessidade, em quantidade e qualidade. Por outro lado, nas inúmeras fórmulas de adubos químicos só existem os macronutrientes NPK – nitrogênio, fósforo e potássio que, ao serem aplicados de forma exagerada, ainda contribuem para acidificar e salinizar o solo. Na adubação orgânica, as perdas dos nutrientes com as chuvas intensas e frequentes são bem menores, quando comparado a adubação química (altamente solúvel). Mas as vantagens da adubação orgânica não param por aí ! ela melhora também a qualidade dos alimentos, tornando-os mais ricos em vitaminas, aminoácidos, sais minerais, matéria seca e açúcares, além de serem mais aromáticos, saborosos e de melhor conservação pós-colheita. Outra vantagem da adubação orgânica é a oportunidade de fazer a compostagem (adubo natural), especialmente nas cidades, reduzindo pela metade o lixo e, diminuindo o trabalho e, o mais importante, poluindo menos o meio ambiente. Todos ganham com a transformação dos resíduos domésticos em composto orgânico, ou seja, adubo natural! As prefeituras, os recolhedores do lixo, a população que terá uma cidade mais limpa e com menos cheiro desagradável, a horta, o jardim e até as plantas ornamentais, pois terão um adubo de ótima qualidade e barato feito em casa, sem poluir o meio ambiente. Em matérias já publicadas neste blog, mostramos, passo a passo, como fazer a compostagem e utilizar a adubação verde.
Figura 2. Representação de um solo cultivado no sistema convencional (com revolvimento excessivo do solo, compactado e com alto grau de erosão) e um solo orgânico (solo tratado como "organismo vivo").

. O uso de raticidas é um problema de saúde pública
  
 Inundações, enchentes, terremotos, secas, deslizamentos, tsunamis… Até que ponto os recentes desastres ocorridos no planeta podem ser considerados apenas acaso da natureza? Qual a responsabilidade e interferência do ser humano sobre os últimos acontecimentos? Quanto maior a consciência ambiental, melhor será a saúde das pessoas. No mundo há tantas doenças devido aos produtos químicos, que são utilizados de forma exagerada, irresponsável e inadequada, contaminando e poluindo o ar, as fontes de água e, principalmente os alimentos.
   Dentre os roedores, os ratos são os que mais causam prejuízos às pessoas tanto na agricultura como nas residências e, o que é pior, podem transmitir doenças tais como a leptospirose. É uma doença infecciosa causada por uma bactéria chamada Leptospira presente na urina do rato. Em situações de enchentes e inundações, a urina dos ratos, presente em esgotos e bueiros, mistura-se à enxurrada e à lama das enchentes. Qualquer pessoa que tiver contato com a água ou lama contaminadas poderá se infectar. A Leptospira penetra no corpo pela pele, através de algum ferimento ou arranhão. Na época de seca, a bactéria oferece riscos à saúde humana através do contato com água ou lama de esgoto, lagoas ou rios contaminados e terrenos baldios onde existem ratos. O controle dos ratos mais conhecido é através de raticidas, embora eficientes, são substâncias químicas de alta periculosidade. O problema é a contaminação do meio ambiente e das pessoas e, especialmente, crianças que não tem noção do perigo e animais. No Centro de Intoxicações Toxicológicas – CIT, do Hospital Universitário da UFSC (www.cit.sc.gov.br), verifica-se mensalmente um elevado número de intoxicações de pessoas com raticidas e, o que é pior, o número de casos está aumentando. Comparando-se os registros no período de 1984/1988 (130 pessoas intoxicadas e 7 animais intoxicados) em relação ao período de 2004/2008 (1.423 pessoas e 79 animais intoxicados), verifica-se um aumento de 1.094 e 1.128%, respectivamente
Controle ecológico de ratos com feijão cru moído
Como fazer: pegue uma xícara de qualquer feijão cru (sem lavar mesmo), coloque no multiprocessador, ou liquidificador (SEM ÁGUA) e triture até virar uma farofinha bem fininha, mas sem virar totalmente pó.
Onde colocar: coloque em montinhos (uma colher de chá) nos cantos do chão, perto das portas, e janelas (sim, eles as escalam), atrás da geladeira, atrás do fogão, atrás de tudo!
O que acontece: o rato come essa farofinha, mas ele não tem como digerir o feijão (cru), por falta de substâncias que digerem feijão cru, causando assim um envenenamento natural por fermentação. Os ratos morrem em até 3 dias. E o mais importante, não tem contra-indicação: ao contrário dos tradicionais venenos, o rato morre e não contamina animais de estimação que por sua vez morreriam por terem comido o rato envenenado. E a quantidade de feijão que ele ingeriu e morreu é insuficiente para matar um cão ou gato, mesmo porque estes gostam de MATAR pra comer... mas morto eles não os comem. Se tiver crianças pequenas (bebês) num período que ainda engatinham, fase que colocam tudo na boca, não faz mal algum, pois o feijão para o ser humano, mesmo cru é digerido.
Controle de ratos com ratoeira ecológica
Como fazer (Figura 3): basta uma lata, um arame grosso, uma espiga de milho e água. Enche-se meia lata com água e coloca-se o arame transpassando a espiga, depois se coloca um suporte (ripa) para que os ratos possam chegar até a borda da lata. Quando eles forem comer o milho, escorregam, pois a espiga rola, e eles ficam presos na água. A armadilha também pode ser feita com garrafa pet para controlar camundongos em residências.
Por favor, repassem a todos! Faça a sua parte!
O MEIO AMBIENTE E A SAÚDE DE TODOS NÓS AGRADECEM!
 Figura 3. Ratoeira ecológica (foto de Hernandes Werner)

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Agricultura orgânica X agricultura convencional: Mitos e verdades Parte X



Verdade: a agricultura orgânica procura imitar a floresta, enquanto que a convencional ou "moderna" prioriza a monocultura, o uso de adubos químicos e agrotóxicos e o revolvimento do solo

   O uso crescente dos adubos químicos e agrotóxicos possibilitou a simplificação dos sistemas agrícolas, de forma que apenas uma cultura pudesse ser cultivada em determinada região para atender as necessidades locais ou as exigências de mercado. Esse modelo permitiu o aparecimento de pragas, doenças, plantas invasoras especializadas e uma série de outros problemas para essas culturas. A manutenção da fertilidade do solo e a sanidade dos cultivos depende de rotações de culturas, da reciclagem de biomassa e, principalmente, da diversidade biológica, principal pilar da agricultura orgânica a contribuir para a manutenção do equilíbrio do sistema e, consequentemente, do solo e da cultura. Portanto, o equilíbrio biológico e ambiental, bem como a fertilidade do solo, não podem ser mantidos com monoculturas. O sistema orgânico de produção de alimentos, por sua vez, prioriza a adição e a manutenção da matéria orgânica, a cobertura e o revolvimento mínimo do solo.
A importância da floresta para o meio ambiente
  As florestas podem serem consideradas os termostatos naturais: A planta transpira, perdendo água para o ar em forma de vapor; na passagem da fase líquida à gasosa refrigera a superfície da folha e ao mesmo tempo transforma a floresta no maior termostato que possuímos. Quando a temperatura sobe, a água transpirada aumenta igualmente, retirando calor do ar. Por isso, não existem os extremos de temperaturas conhecidos nos desertos, onde durante o dia chega até 50ºC e a noite baixa até -1ºC. A explicação para este fato é a falta de água que pudesse ser transpirada e, mais exatamente, a falta de florestas ou represas ou lagos que atuassem como termostatos. Portanto, onde as florestas ainda permanecem intatas, as temperaturas são muito mais amenas. A Amazônia equatorial possui uma temperatura média de 24ºC, oscilando entre 21 e 28ºC. No Brasil 87% da população vivem em centros urbanos. O clima urbano difere consideravelmente do ambiente natural. As cidades distanciam-se cada vez mais da natureza, utilizando materiais como ferro, aço, amianto, vidro, piche, entre outros. Estes materiais geralmente são refletores e contribuem para a criação de ilhas ou bolsões de calor nas cidades. Em função disso, o clima é semelhante ao do deserto, quente e seco durante o dia e frio durante a noite. A impermeabilização dos solos causa grandes problemas também na medida que evitam ou impedem a infiltração da água, forçando-a para a calha dos rios, muitas vezes causando enchentes, já que os rios não conseguem absorver um volume tão grande de água num curto espaço de tempo.
 
 Figura 1. As florestas são essenciais para o meio ambiente, especialmente por funcionar como termostatos naturais
Benefícios da arborização
    Os benefícios advindos da arborização urbana promovem a melhoria da qualidade de vida e o embelezamento da cidade. Essa arborização depende do clima, tipo de solo, do espaço livre e do porte da árvore para se obter sucesso nas cidades. Além da função paisagística, a arborização proporciona à população proteção contra ventos, diminuição da poluição sonora, absorção de parte dos raios solares, sombreamento, atração e ambientação de pássaros, absorção da poluição atmosférica, neutralizando os seus efeitos na população, valorização da propriedade pela beleza, higienização mental e reorientação do vento. A floresta, quando em equilíbrio, reduz ao mínimo a saída de nutrientes do ecossistema. O solo pode manter o mesmo nível de fertilidade ou até melhorá-lo ao longo do tempo. Uma floresta não perturbada apresenta grande estabilidade, isto é, os nutrientes introduzidos no ecossistema pela chuva e o intemperismo geológico estão em equilíbrio com os nutrientes perdidos por lixiviação para os rios ou lençol freático. A floresta deve ser apreciada como uma atividade agrícola qualquer, que visa à produção de biomassa com intenção de obter algum lucro. Assim, além do consumo de água, devemos contabilizar a sua qualidade, o regime de vazão e a saúde do ecossistema aquático. Possibilita também uma visão mais abrangente sobre a relação do uso da terra, seja na produção florestal, agrícola, pecuária, abertura de estradas, urbanização, enfim, toda e qualquer alteração antrópica na paisagem e a conservação dos recursos hídricos.
   Pelos resultados das pesquisas percebe-se que as florestas são importantes por vários fatores, mas principalmente em relação aos recursos hídricos, pois interceptam a água das chuvas, reduzindo o risco de erosão, aumentam a capacidade de infiltração da água no solo tornando-o mais poroso e a estabilidade do sistema ou microssistema funcionando com tampão, isto é, liberando ou retendo água.
  O organismo humano está bem mais protegido da poluição quando perto de árvores localizadas em parques do que ao lado daquelas que ficam foram deles. É o que diz a tese de doutorado defendida no Laboratório de Poluição Atmosférica da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. O estudo mostra que a concentração de metais pesados e gases poluentes no ar é maior nos trechos de áreas verdes próximos a avenidas do que no meio dos parques. O que provoca isso é uma espécies de "filtro antipoluição", que é formado pelas árvores que ficam em volta dos parques. É como se elas sequestrassem e absorvessem nas cascas os poluentes, impedindo-os de avançar para o interior dessas áreas. A constatação foi feita pela engenheira florestal Ana Paula Martins, que estudou por quatro anos amostras de cascas de árvores de cinco parques de São Paulo. De acordo com o trabalho, nenhum dos locais está imune a pelo menos 11 metais, mas a concentração varia conforme a localização. Para chegar aos índices, a pesquisadora coletou amostras de cascas da camada externa das árvores retiradas a 1,5 m de distância do solo. A pesquisadora diz que escapamento, freada e arranque de veículos, que soltam pedaços de pneu, são responsáveis por liberar partículas de metais: "zinco, chumbo e cobre são provenientes da poluição veicular". Embora não haja um padrão dos níveis saudáveis desses elementos, especialistas afirmam que inalar metais pesados como bário, bromo e cobalto, entre outros, pode trazer, a longo prazo, problemas à saúde. "Encapar as avenidas com cobertura vegetal pode diminuir o impacto da poluição na saúde, além de aumentar a qualidade do ar", explica Paulo Saldiva, pesquisador do Laboratório de Poluição da USP e orientador da tese.
. Organização da propriedade visando o sucesso na agricultura orgânica
    Na agricultura orgânica, a propriedade rural é considerada um agroecossistema, que se traduz num sistema agrícola baseado na biodiversidade do local. Depende das interações e dos ciclos biológicos das espécies vegetais e animais e da atividade biológica do solo, do uso mínimo de produtos externos à propriedade e do manejo de práticas que restauram, mantêm e promovem a harmonia ecológica do sistema. Portanto, o sucesso e a sustentabilidade dos sistemas orgânicos dependem da integração de todos os recursos internos da propriedade, buscando-se o equilíbrio ente os recursos naturais, as plantas cultivadas, a criação de animais e o próprio homem. Ao passo que no sistema convencional uma lavoura é tratada de forma individualizada e com a maioria dos insumos de alto custo energético vindos de fora da propriedade, no sistema orgânico procura-se explorar ao máximo os fatores inerentes ao ambiente e os recursos internos à propriedade.
. Como é feita a diversificação do sistema na produção orgânica de alimentos?
   A produção orgânica exige a reformulação da organização da propriedade, que diverge bastante da disposição adotada no sistema convencional. O aspecto mais importante é a subdivisão da propriedade em talhões que no caso das hortaliças, não deve ultrapassar 1.000 m2, visando facilitar a administração e as atividades de produção. A disposição dos talhões e da infra-estrutura na propriedade deve reduzir as necessidades de transporte e de mão-de-obra para execução dos trabalhos, tendo em vista que na produção de hortaliças é intenso a utilização de insumos e mão-de-obra.
    As condições climáticas interferem sobremaneira na produção de hortaliças. Extremos de temperatura, umidade e excesso de ventos podem comprometer a produção da maioria das hortaliças. Por isso, os talhões de cultivo através de cordões de contorno ou cercas vivas, uso de cobertura morta de solo com restos de gramíneas e/ou leguminosas e até plantas espontâneas, plantio direto sobre palhadas e plantios consorciados, utilizando espécies de retorno econômico e também adubos verdes são muito importantes. A cerca viva que pode ser plantas ornamentais e, especialmente de capim elefante, funciona como um quebra-vento, reduzindo o impacto dos ventos frios ou quentes e a movimentação de algumas pragas e doenças dentro e fora da propriedade. Além disso, a cerca viva, serve para sombrear um pouco a área, especialmente no verão; no inverno, especialmente se for capim elefante, pode servir para fazer a compostagem e, desse modo, evitando o problema de sombreamento na área cultivada.
Os cordões de contorno ou faixas de vegetação, além de servir para dividir os talhões de cultivo, são úteis para circundar a propriedade e permitir o isolamento das áreas de cultivo convencional de propriedades vizinhas. Em propriedades integradas com produção animal, o que é muito interessante devido principalmente a produção de esterco, essas áreas podem contribuir para a produção de alimentos para os animais e, ainda, favorecer a rotação de culturas com as gramíneas, espécies muito recomendadas devido a resistência às pragas e doenças. Outra possibilidade é a utilização nos cordões de contorno, os adubos verdes para produzir biomassa visando à obtenção de composto orgânicos, pois estas espécies tem boa capacidade de extração de nutrientes e/ou fixação de nitrogênio que podem ser incorporados no solo ou como cobertura morta, ao serem roçados, e até como coberturas vivas nas áreas de cultivo. Portanto, a instalação dessas faixas de vegetação permite a criação de condições climáticas favoráveis à redução do estresse sofrido pelas plantas e são essenciais para o manejo fitossanitário da propriedade orgânica; também são importantes para fazer o histórico das áreas, especialmente ao adotar a prática da rotação de culturas, princípio fundamental para o sucesso da agricultura orgânica. No esquema de rotação é importante evitar o plantio de espécies da mesma família em sucessão ou nas faixas adjacentes; espécies de hortaliças pertencentes às famílias botânicas das solanáceas (batata, tomate, pimentão, pimenta e berinjela) brássicas (repolho, couve-flor, couve e brócolis) e cucurbitáceas (melancia, melão, abóbora, abobrinha, moranga e pepino) possuem as mesmas pragas e doenças.
    Outra preocupação que o produtor deve ter na organização de sua propriedade visando o cultivo orgânico de alimentos é a preservação de áreas de refúgio. O que são áreas de refúgio? são áreas de vegetação para preservação e atração de inimigos naturais de pragas e pequenos predadores que auxiliam no controle de pragas. Essas áreas servem de refúgio para diversos insetos benéficos que se alimentam de fungos ou para organismos que, sem seus inimigos naturais, poderiam acabar com a plantação. Esses nichos são formados pelas reservas de vegetação nativa, pelas faixas de cercas vivas ou cordões de contorno que circundam as áreas de cultivos ou com plantas espontâneas. As áreas de refúgio garantem a preservação da fauna silvestre e a diversidade é essencial para o equilíbrio de várias espécies, contribuindo muito para o equilíbrio de várias espécies, contribuindo muito para o equilíbrio do sistema como um todo.
    É importante também o produtor ter em mente as áreas de pousio. O que são áreas de pousio? Como o próprio nome sugere, são áreas que garantem o "descanso" do solo, após cultivo intensivo, para reconstituir e conservar suas propriedades químicas, físicas e biológicas. As áreas em pousio devem permanecer cobertas com alguma vegetação, que pode ser adubos verdes ou a vegetação natural da área. Essas áreas são muito importantes para garantir a manutenção da vida no solo.
    O produtor orgânico deve se preocupar prioritariamente com a diversificação da paisagem geral de sua propriedade de forma a restabelecer o equilíbrio entre todos os seres vivos da cadeia alimentar, desde microrganismos até pequenos animais, pássaros e outros predadores. A introdução de espécies vegetais com múltiplas funções no sistema produtivo é a base do (re)estabelecimento do equilíbrio da propriedade, incluindo-se espécies de interesse econômico, adubos verdes, arbóreas, atrativas, ornamentais e até plantas espontâneas.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

CARTA DA ABA - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE AGROECOLOGIA DIRIGIDA A REDAÇÃO DA REVISTA VEJA



Prezado Diretor de Redação,


Referentemente à matéria de Veja, da edição de 04 de janeiro/2012, sobre o tema dos agrotóxicos, chamou-nos primeiramente a atenção o tratamento parcial e tendencioso dado ao assunto, uma vez que se trata de um tema controverso, mesmo nos meios científicos, e que recebeu apenas o veredito de profissionais com legitimidade e isenção questionáveis, considerando que é possível que alguns representem, eles próprios, um comprometimento com a indústria de agrotóxicos, a qual é, obviamente, parte interessada na venda desses produtos. Segundo, soa como prepotente, para dizer o mínimo, a Revista tentar apresentar-se como dona da verdade em um tema sensível e controverso como esse. Por uma questão de imparcialidade e ética, o que se esperaria é que a matéria desse também amplo espaço para o contraditório.

Da mesma forma, foi visível a falta de senso crítico das jornalistas, que não questionaram os “conceitos” que alguns entrevistados convenientemente tentaram afirmar como sendo “modernos”, como ocorreu, já no início da matéria, em relação ao nome “Defensivos Agrícolas” em vez de agrotóxicos. Cabe esclarecer que o termo agrotóxico é definido de acordo com a LEI Nº 7.802, DE 11 DE JULHO DE 1989, que considera “agrotóxicos e afins:


a) os produtos e os agentes de processos físicos, químicos ou biológicos, destinados ao uso nos setores de produção, no armazenamento e beneficiamento de produtos agrícolas, nas pastagens, na proteção de florestas, nativas ou implantadas, e de outros ecossistemas e também de ambientes urbanos, hídricos e industriais, cuja finalidade seja alterar a composição da flora ou da fauna, a fim de preservá-las da ação danosa de seres vivos considerados nocivos;



b) substâncias e produtos, empregados como desfolhantes, dessecantes, estimuladores e inibidores de crescimento.” Fica claro que o termo adequado, definido por lei, para referir-se a quaisquer dos produtos acima mencionados é agrotóxico, ainda que a indústria e as entidades que representam seus interesses insistam em usar, eufemisticamente, o termo defensivos agrícolas. Inseticidas, fungicidas, herbicidas, formicidas, etc, já carregam em seus nomes o princípio básico de sua ação: a função “cida”, sufixo originário do latim, caedere que significa matar. Não é toa que quase todos levam em seus rótulos uma CAVEIRA com as tíbias cruzadas e a inscrição "VENENO".

Sobre a afirmação de que “o Brasil é um dos países mais rigorosos no processo de registro de agrotóxicos” e que “os produtos disponíveis no mercado são seguros", não é isso que se constata na prática, uma vez que existem diversos casos em que formulações de agrotóxicos que são proibidos em dezenas de países, permanecem, no entanto, com seu uso liberado no Brasil, como é o caso do Endossulfan, do Metamidofós e do Acefato, encontrados pela Anvisa em vários alimentos, como o pepino, pimentão, tomate, alface, cebola e cenoura. Cabe registrar e reconhecer o esforço realizado pela Anvisa para monitorar os resíduos de agrotóxicos nos alimentos, além de fiscalizar os abusos cometidos na comercialização e uso desses produtos.

No caso do Endossulfan, trata-se de um princípio ativo proibido em mais de 50 países, inclusive nos 27 da Comunidade Européia, na qual está proibido desde dezembro de 2005 e continua sendo comercializado livremente no Brasil (embora tenha tido sua fabricação proibida recentemente no Brasil desde 12-09-2010, a sua comercialização está permitida até 2012). A proibição de seu uso nos outros países deve-se ao fato do mesmo apresentar graves riscos ao meio ambiente e à saúde humana, podendo causar, entre outros, efeitos carcinogênicos, imunotoxidade e neurotoxidade. Além destas, outros produtos são causadores de patologias de pele, teratogênese, desregulação endócrina, efeitos na reprodução humana e no sistema imunológico.

A reportagem afirma, de forma irresponsável, que “não existe comprovação científica de que o consumo a longo prazo ... provoque problemas graves em seres humanos”. Segundo Faria et al. (2007)1 publicações da Organização Internacional do Trabalho/ Organização Mundial da Saúde (OIT/OMS) estimam que, entre trabalhadores de países em desenvolvimento, os agrotóxicos causam anualmente 70 mil intoxicações agudas e crônicas que evoluem para óbito, e pelo menos 7 milhões de casos com doenças agudas e crônicas não-fatais. Isso representa, sem dúvida, elevados custos para a saúde humana e ambiental. Segundo Rigotto (2011)2, ainda segundo a OMS, para cada caso de intoxicação por agrotóxicos diagnosticado e notificado existem pelo menos 50 casos não notificados.

Apesar de vários produtos serem proibidos em diversos países, há fortes pressões do agronegócio para mantê-los autorizados no Brasil e, embora estejam em reavaliação, continuam sendo importados em larga escala pelo país. A questão do estabelecimento de limites permitidos de resíduos de agrotóxicos em alimentos é bastante complexa. Sabemos que o estabelecimento de “níveis seguros” de venenos que poderíamos ingerir todos os dias é uma falácia. Nenhum estudo laboratorial pode comprovrar com toda certeza que determinado nível de veneno é inócuo para a saúde das pessoas. Estudos feitos com cobaias sugerem que certos níveis de resíduo parecem não produzir efeitos colaterais, até que o surgimento de técnicas mais modernas ou novas evidências científicas provem o contrário. Para alguns especialistas, a determinação de limites aceitáveis de resíduos representa, na verdade, a “legalização da contaminação”.

O lobby das empresas produtoras de agrotóxicos é evidente, como se pode perceber pelo gritante exemplo da alteração do limite permitido de resíduos de glifosato para que a CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança) pudesse liberar a soja transgênica no Brasil. Em 1998 a Anvisa alterou o limite permitido de resíduos de glifosato em soja, aumentando-o em 10 vezes! Ele passou de 0,2 ppm (partes por milhão) para 2,0 ppm. Mas em 2004 o limite do veneno na soja aumentou ainda mais: foi para 10 ppm, ou seja, 50 vezes maior que o limite inicialmente permitido. Os níveis de contaminação por agrotóxicos vão muito além dos registros de resíduos em alimentos. As águas dos rios e aquíferos estão contaminadas por venenos agrícolas. Na Chapada do Apodi no Ceará, a água que sai das torneiras tem até 12 tipos de veneno. O aquífero Jandaíra, localizado sob parte do Ceará e do Rio Grande do Norte está sendo contaminado pelos venenos utilizados na produção de banana e abacaxi. O famoso aquífero Guarani está também sendo contaminado por agrotóxicos.Os alimentos, o ar, as chuvas e até mesmo o leite materno estão contaminados de venenos provenientes das aplicações maciças nas regiões onde o agronegócio impera, como ficou constatado no Mato Grosso. Em março de 2011 foi divulgada amplamente a contaminação em leite materno com agrotóxicos, no município de Lucas do Rio Verde, no Mato Grosso, região dominada pela produção de soja e do milho transgênicos 3.

A reportagem também erroneamente afirma: “período de carência é o intervalo mínimo entre o uso do pesticida e a colheita”, no entanto, a definição correta de período de carência ou intervalo de tempo, em dias, é o tempo que deve ser observado entre a aplicação do agrotóxico e a colheita do produto agrícola para que o alimento colhido não possua resíduos dos agrotóxicos em níveis superiores aos limites máximos estabelecidos pela ANVISA. Continua a reportagem: “tempo em que o defensivo se degrada e perde sua toxicidade para os seres humanos”. Isto é uma inverdade. A pressuposta degradação ou ausência de agrotóxicos nos alimentos não significa que os problemas tenham desaparecido, pois existem os metabólitos que podem estar presentes. As conseqüências ambientais e para a saúde, em função de uma aplicação quedeixou residual, podem permanecer por muito tempo. Segundo Spadotto & Gomes 4 “determinados produtos químicos são rapidamente decompostos no solo, enquanto outros não são degradados tão facilmente. Algumas moléculas são moderadamente persistentes e seus resíduos podem permanecer no solo durante um ano inteiro, outras podem persistir por mais tempo. No ambiente aquático, além da hidrólise e da fotólise, os agrotóxicos podem também sofrer a degradação biológica e, ainda, a bioacumulação e a biomagnificação (bioacumulação em níveis elevados da cadeia trófica), diferenciando apenas os microrganismos nesse ambiente em relação àqueles presentes no solo”. E mais, advertem que além dos riscos da molécula original, os metabólitos ou produtos de degradação dos agrotóxicos apresentam toxicidade e ecotoxicidade com enormes diferenças em relação à molécula-mãe.

Alguns destes produtos de degradação podem ser inclusive muito mais tóxicos que o ingrediente-ativo original. A título de exemplo, pode ser citado o glifosato, que produz o ácido aminometil fosfônico (AMPA) como primeiro metabólito, que por sua vez produz outros que ainda não são investigados e que podem ser mais tóxicos para a cadeia trófica. Além desse, há o exemplo clássico do DDT que ao perder uma molécula de HCl, por degradação biológica ou ambiental, forma o metabólito conhecido como DDE, que é ainda mais resistente às degradações que o DDT. Cabe lembrar que não é por acaso que o Brasil é considerado o campeão mundial de consumo de agrotóxicos, atingindo a incrível marca de 5,7 litros por habitante/ano. Esse dado foi, estranhamente, esquecido ou, o que é mais grave, ignorado intencionalmente pelas jornalistas, que conseguiram fazer uma matéria que destacou apenas um lado da questão, o dos “benefícios”supostamente decorrentes do uso de agrotóxicos. Lamentamos essa postura, profundamente comprometedora para uma revista que se pretende séria e, ironicamente, se intitula como “indispensável”. Perdem com isso os leitores da revista e perde, ainda mais, a sociedade brasileira, pelo nível superficial, pouco sério e, sobretudo, tendencioso como um tema tão importante como esse foi tratado na referida matéria. 


Atenciosamente, 

Associação Brasileira de Agroecologia

REFERÊNCIAS 
1
Ciência & Saúde Coletiva, 12(1):25-38, 2007.
2
Raquel Rigotto, entrevista a Caros amigos, dezembro de 2011.
3
Fonte: LONDRES, F. e MONTEIRO, D. Agrotóxicos no Brasil: um guia para ação em defesa da vida. RJ, 2011.
4
Em: Agência de Informação Embrapa, Agricultura e Meio Ambiente. Qualidade Dinâmica e Riscos de Contaminação.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Agricultura orgânica X agricultura convencional: Mitos e verdades Parte IX



Verdade: Alimentos contaminados com agrotóxicos estão chegando à mesa dos consumidores

     A ANVISA - Agência Nacional de Vigilância Sanitária divulgou no dia 7/12/2011 o relatório de 2010 sobre os resultados do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos - PARA, realizado nos principais centros consumidores de 26 estados do Brasil. A exemplo do relatório de 2009 do PARA – Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos (Figura 2), os resultados referentes ao ano de 2010 (Figura 1), são muito preocupantes, pois mostram que em 28% das amostras de alimentos analisadas de dezoito diferentes culturas, havia excesso de agrotóxicos ou agrotóxicos não autorizados para aquela cultura, o que pode representar um risco maior à saúde. É importante ressaltar que nos dois relatórios, as amostras das hortaliças pimentão, pepino, morango, alface, couve, beterraba e cenoura e, as frutas abacaxi e o mamão, foram as mais contaminadas por agrotóxicos. Segundo o levantamento de 2010, um grupo de compostos químicos conhecido como "organofosforados" está presente em mais da metade das amostras irregulares detectadas; essas substâncias podem destruir células musculares e comprometer o sistema nervoso, provocando problemas cardiorrespiratórios. O "Carbendazim", outra substância usada no controle de pragas, foi detectada de forma irregular em 176 amostras, sendo que 90 delas em pimentão; recentemente, foi noticiado pelo Jornal Nacional que resíduos deste agrotóxico foi encontrado no suco brasileiro exportado para os Estados Unidos e, por isso, a partida deste produto não foi aceito. Observou-se a presença de agrotóxicos proibidos ou acima do limite permitido de resíduos em vários alimentos, ou seja, estes estão chegando à mesa dos consumidores contaminados por agrotóxicos; segundo a ANVISA, os alimentos com maior número de amostras contaminadas no levantamento de 2010, são: pimentão (92%), morango (63%), pepino (75%), alface (54%), cenoura (50%), beterraba, couve e abacaxi (32%) e mamão (30%), . O assunto foi destaque no jornal nacional veiculado nos dias 06, 07 e 08/12/2011; as reportagens foram postadas na íntegra, neste blog nos dias 07 e 12/12/2011.
                             Figura 1. Amostras de alimentos contaminadas por agrotóxicos em 2010
Figura 2. Amostras de alimentos contaminadas por agrotóxicos em 2009
  

   A ANVISA têm por objetivo principal a promoção da saúde através do consumo de alimentos de qualidade e a prevenção das Doenças Crônicas Não Transmissíveis - DCNT secundárias à ingestão cotidiana de quantidades perigosas de agrotóxicos. As doenças crônicas não transmissíveis constituem um dos maiores problemas mundiais de saúde pública, comprometendo o desenvolvimento humano de todos os países. Estimativas da Organização Mundial de Saúde -OMS, baseadas na declaração dos Estados membros, avaliam que as DCNT são responsáveis por 63% das 57 milhões de mortes declaradas no mundo em 2008, e por 45,9% do volume global de doenças. A Organização prevê, ainda, um aumento significativo dos óbitos por esta causa, de 15% entre 2010 e 2020. No Brasil, as DCNT teriam causado 893.900 mortes em 2008, correspondendo a mais importante causa de óbito no país, posto que seriam responsáveis por 74% das mortes ocorridas nesse ano. Em torno de 30% dos casos, afetariam pessoas com menos de 60 anos.

    Levantamento realizado em Santa Catarina referente as intoxicações e mortes registradas devido aos agrotóxicos no hospital universitário da UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina, revelam que no período de 1984 a 2010 houveram 11.801 pessoas intoxicadas e 263 mortes. Analisando-se os casos registrados anualmente verificou-se também que na década de 1991 a 2000 ocorreram, em média, 350 casos de pessoas intoxicadas por ano, enquanto que de 2001 a 2010 houveram 600 casos de pessoas intoxicadas por ano, ou seja, um aumento de 70% (Fonte: extraído do site www.cit.sc.gov.br ).

. Principais sinais e sintomas de envenenamento por agrotóxicos: irritação ou nervosismo; ansiedade e angústia;  tremores no corpo;  indisposição, fraqueza e mal estar, dor de cabeça, tonturas, vertigem, náuseas, vômitos, cólicas abdominais;   Alterações visuais; respiração difícil, com dores no peito e falta de ar;  queimaduras e alterações da pele;   Dores pelo corpo inteiro;  irritação de nariz, garganta e olhos; urina alterada; convulsões ou ataques; desmaios, perda de consciência e até o coma.

. O que pode ser feito pelo consumidor para diminuir a ingestão de agrotóxicos? optar por alimentos certificados como, por exemplo, os orgânicos, e por alimentos da época, que a princípio necessitam de uma carga menor de agrotóxicos para serem produzidos. A orientação é procurar fornecimento de produtos com a origem identificada, pois isto aumenta o comprometimento dos produtores em relação à qualidade dos alimentos, com a adoção das boas práticas agrícolas. Além disso, a opção pelo consumo de alimentos produzidos com técnicas de manejo integrado de pragas, que recebem uma carga menor de produtos químicos, e sempre que possível de baixa toxicidade, contribuem para a manutenção de uma cadeia de produção ambientalmente mais saudável. Outra opção, a ideal, para quem dispor de pequena área ( 10 m2 é suficiente para produzir as principais hortaliças de menor ciclo para uma família ) é ter sua própria horta orgânica, pois é fácil, mais barato, os alimentos são mais nutritivos, podem ser colhidos próximo a hora de consumir (frescos), além de ser uma ótima terapia ocupacional e uma boa oportunidade de fazer exercícios ao ar livre e, o melhor, não oferece riscos à saúde das pessoas e ao meio ambiente.

. Ao lavar os alimentos, os agrotóxicos são retirados dos alimentos? NÃO COMPLETAMENTE: O processo de lavagem dos alimentos contribui para a retirada de parte dos agrotóxicos. Os agrotóxicos podem ser divididos quanto ao modo de ação entre sistêmicos e de contato. Os sistêmicos são aqueles que, quando aplicados nas plantas, circulam através da seiva por todos os tecidos vegetais, de forma a se distribuir uniformemente e ampliar o seu tempo de ação. Os de contato são aqueles que agem externamente no vegetal, tendo necessariamente que entrar em contato com o alvo biológico. E mesmo estes são também, em boa parte, absorvidos pela planta, penetrando em seu interior através de suas porosidades. Uma lavagem dos alimentos em água corrente só poderia remover parte dos resíduos de agrotóxicos presentes na superfície dos mesmos. Os agrotóxicos sistêmicos e uma parte dos de contato, por terem sido absorvidos por tecidos internos da planta, caso ainda não tenham sido degradados pelo próprio metabolismo do vegetal, permanecerão nos alimentos mesmo que esses sejam lavados. Neste caso, uma vez contaminados com resíduos de agrotóxicos, estes alimentos levarão o consumidor a ingerir resíduos de agrotóxicos.

. Água sanitária remove agrotóxicos dos alimentos? até o momento a ANVISA não tem conhecimento de estudos científicos que comprovem a eficácia da água sanitária ou do cloro na remoção ou eliminação de resíduos de agrotóxicos nos alimentos. Soluções de hipoclorito de sódio (água sanitária ou solução) devem ser usadas para a higienização dos alimentos na proporção de uma colher de sopa para um litro de água com o objetivo apenas de matar agentes microbiológicos que possam estar presentes nos alimentos.
. Quando o relatório diz que os resultados do PARA são insatisfatórios, não representam riscos à saúde dos consumidores? nas 2.488 amostras analisadas em 2010, em 37% delas, não foram detectados resíduos; 35% apresentaram resíduos abaixo do LMR (Limite Máximo de Resíduos) estabelecido; e 28% foram consideradas insatisfatórias por apresentarem resíduos de produtos não autorizados ou, autorizados, mas acima do LMR. Os resultados encontrados pela ANVISA dividem-se em duas categorias:
  1. Resíduos que podem causar dano à saúde porque excederam os limites máximos estabelecidos em legislação;
  2. Resíduos que podem causar dano à saúde porque são agrotóxicos não autorizados para aquele determinado alimento.
     No primeiro caso, que representa 1,7% do total dos resultados insatisfatórios (abacaxi e o mamão tiveram 8,2 e 6,8% das amostras contaminadas e acima do permitido), o uso abusivo dos agrotóxicos, em desrespeito às indicações da bula de cada produto e, ainda a negligência ao intervalo de segurança (tempo entre a última aplicação e colheita dos alimentos) levam à presença de resíduos nos alimentos superiores àqueles estabelecidos em legislação e reconhecidos como seguros, expondo a população a possíveis agravos à saúde. É importante ressaltar ainda que, além do risco à saúde da população em geral, representado pela ingestão prolongada desses alimentos com agrotóxicos acima do LMR permitido, estes resultados sugerem que as Boa Práticas Agrícolas não estão sendo respeitadas. O segundo caso, referente aos produtos Não Autorizados (NA), representa aproximadamente 24,3% dos resultados insatisfatórios. os resultados insatisfatórios devido à utilização de agrotóxicos não autorizados resultam de dois tipos de irregularidades:
.seja porque foi aplicado um agrotóxico não autorizado para aquela cultura, mas cujo IA- Ingrediente Ativo está registrado no Brasil e com uso permitido para outras culturas;
.seja porque foi aplicado um agrotóxico banido do Brasil ou que nunca teve registro no país, logo, sem uso permitido em nenhuma cultura.

  Dentre os produtos não autorizados para uma determinada cultura, destacou-se o carbendazim com 176 amostras apresentando resíduos desse agrotóxicos, das quais 90 são provenientes da cultura do pimentão e o restante em outras sete culturas agrícolas: abacaxi, alface, beterraba, couve, mamão, morango e repolho. Outros ingredientes ativos, do grupo químico organofosforado, tiveram também elevado número de ocorrências: o clorpirifós, o metamidofós e o acefato, contribuindo com 154, 125 e 76 resultados de amostras insatisfatórias, respectivamente.

. Quais as consequências de se ingerir agrotóxicos? de acordo com os conhecimentos científicos atuais, se ingerirmos quantidades dentro dos valores diários aceitáveis (IDA – Ingestão Diária Aceitável) não sofreremos nenhum dano à saúde; é a quantidade máxima de agrotóxicos que podemos ingerir por dia, durante toda a nossa vida, sem que soframos danos à saúde por esta ingestão. Existem estudos que indicam que, se ultrapassarmos essas quantidades, as conseqüências poderão variar desde sintomas como dores de cabeça, alergia e coceiras até distúrbios do sistema nervoso central ou câncer, nos casos mais graves de exposição, como é o caso dos trabalhadores rurais.
   Em geral, esses sintomas são pouco específicos, não sendo possível determinar a causa baseado apenas na avaliação clínica. Tudo isso vai variar de acordo com diversos fatores, tais como o tipo de agrotóxico que ingerimos, o nível de exposição a estas e outras substâncias químicas, a idade, o peso corpóreo, tabagismo, etc.
Para o registro de agrotóxicos no país, é exigida pelas autoridades regulatórias uma série de estudos com o objetivo de definir o grau de relevância toxicológica do agrotóxico em relação ao uso, aos limites de resíduos e ao consumo diário. O Limite Máximo de Resíduo (LMR) permitido é expresso em mg/kg da cultura e a quantidade diária segura para o consumo (Ingestão Diária Aceitável-IDA) é expressa em mg/kg de peso corpóreo. Os dados para cada ingrediente ativo estão publicados no link http://www.anvisa.gov.br/toxicologia/monografias/index.htm.
Exemplificando: se um determinado ingrediente ativo contido em um agrotóxico tiver uma IDA igual a 0,05 mg/kg, significa que uma pessoa de 60 kg, por exemplo, poderia ingerir uma quantidade máxima de 3,0 mg, diariamente, sem riscos à saúde. Esses valores são definidos com uma margem boa de segurança para o consumidor.

Fonte: Extraído do Relatório da ANVISA de 2010 www.anvisa.gov.br
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